Homem-animal foi um
super-herói secundário criado na década de 1960 na revista Strange Adventures.
Depois de criado, passou anos no limbo até ser resgatado e se tornar um dos
quadrinhos mais importantes e revolucionários da década de 1980. O responsável
por isso foi um escritor escocês denominado Grant Morrison.
Morrison foi para a DC em
1987. Na época, Alan Moore havia transformado o Monstro do Pântano de uma
revista prestes a ser cancelada em um campeão de público e crítica. E a DC
despachou editores para a Grã-Bretanha em busca de outros talentos no que viria
a ser conhecida como invasão britânica dos comics americanos.
Morrisson, que já vinha se
destacando por alguns trabalhos inovadores, como Zenith, foi um dos convidados,
mas não tinha a menor ideia de que personagem pegar. A DC não pretendia colocar
suas galinhas dos ovos de ouro, como Super-homem e Batman nas mãos de
desconhecidos, então só restavam os secundários.
Morrison lembrou-se do
Homem-animal, um herói desconhecido e pouco explorado e percebeu que havia
potencial ali. E bolou a história de um super-herói de terceira, casado, com
filhos, desempregado, que se envolve na defesa dos direitos dos animais.
Na primeira saga, o herói é
chamado pelo diretor de um instituto de pesquisas para investigar uma invasão e
acaba descobrindo que no local são feitas experiências científicas cruéis com
animais.
O trabalho revolucionário de
Morrison na série já ficava óbvio no início do terceiro número quando o herói,
após perder o braço, consegue acessar uma minhoca e usar sua habilidade de
regeneração para fazer nascer um novo braço. Ali ficava claro que a abordagem
da série seria totalmente radical e original.
A ideia era fazer uma
minissérie em quatro capítulos, mas os editores gostaram do resultado e pediram
que a história fosse transformada em uma revista mensal.
Morrison não sabia o que
fazer e foi salvo por uma história singela, mas revolucionária, que marcou os
quadrinhos da época: O evangelho do Coiote.
A história mostrava o Coiote
das histórias do Papa-léguas caindo no deserto e sendo perseguido por um
caminhoneiro que acredita que ele é um demônio. Como nos desenhos animados,
nada é capaz de matá-lo, nem mesmo tiros, pedras imensas ou quedas. Mas ele
sofre cada pseudo-morte, cada dor.
No final, o Coiote entrega
ao herói um manuscrito, o “Evangelho segundo o Ardiloso” (ou o Evangelho do
Coiote). O que se segue é uma narrativa de fábula sobre um mundo de desenho
animado, em que animais matavam animais em mortes cruéis e sem sentido.
Cansado disso, o Coiote vai
até Deus, representado como um desenhista. “Deus” decide que manterá os animais
em paz, mas em punição o Coiote será transportado para nossa realidade, onde
deveria morrer de formas terríveis e dolorosas e sempre voltar. O final,
igualmente metalinguístico, mostrava uma mão pintando o último quadro.
A história foi
revolucionária ao mesclar o contexto realista comum na época (as mortes do
coiote são descritas de maneira extremamente detalhada) com a metalinguagem.
Isso, em conjunto com a questão
da defesa dos animais, deu o tom da série e transformou o antes desconhecido
Homem-animal em um dos heróis mais queridos da DC Comics (contribuiu também as
fantásticas capas de Brian Bolland para a revista).
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