Vivemos em um mundo em que a separação entre as coisas vai,
aos poucos, se diluindo. Casa, trabalho, diversão e informação são instâncias
que se misturam na era da informação. Da mesma forma, a separação entre os
meios perde cada vez mais valor, num fenômeno que os estudiosos chamam de
convergência de mídias.
Para entender esse fenômeno, é necessário associá-lo à
sociedade em redes que surge em oposição à era das massas.
No período dominado pelos MCM, o esquema era um para muitos.
Um único produtor confeccionava a mensagem e a transmitia para uma grande
legião de receptores. A estes, só restava consumir ou não. A única outra forma
possível de feedback eram as respostas a pesquisas de opinião.
A internet mudou completamente esse esquema. Agora todos
querem ser produtores, todos querem participar e interagir, daí o sucesso de
redes sociais, como o Facebook e o Twitter. Até mesmo os políticos, normalmente
pouco afeitos a abrirem um canal de retroação com seus eleitores, foram
obrigados adotar a lógica interativa. É bastante conhecido o uso do Twitter
como elemento importante na campanha de Obama à presidência dos EUA. No Brasil
vários políticos estão adotando o Twitter como forma de divulgar suas ações e
conversar com os eleitores. Entretanto, aqueles que entraram na rede, mas se
recusaram a interagir, revelando um desconhecimento do funcionamento das novas
mídias, foram bloqueados pela maioria das pessoas.
Essa postura interativa das novas gerações leva a uma
cultura de convergência. Os jovens antenados assistem à notícia na TV, procuram
mais informações em blogs e comentam o assunto no Twitter. Muitos nem usam mais
a TV, preferindo aparelhos celulares, ou o Youtube.
Para que essa cultura de convergência são necessários dois
fatores: a digitalização crescente de conteúdos e a disponibilização dos mesmos
na rede mundial de computadores.
A digitalização nem sempre é feita pelos produtores, muitos
dos quais se recusam a aceitar a nova realidade do cibermundo, mas pelos
próprios consumidores.
Castells, no livro A
sociedade em rede, diz que a origem universitária da internet faz com que ela
adote como lema: todos contribuem com todos. Nessa nova realidade, o status é
dado pela capacidade colaborativa. Quem mais transmite e difunde informações
ganha seguidores e respeito. Exemplo disso são os blogs de scans, cujos autores
escaneiam suas coleções, disponibilizando histórias em quadrinhos, muitas das
quais raras, ou que nunca seriam lançadas no Brasil.
Essa cultura de compartilhamento faz com que programas de TV
estejam disponíveis no Youtube ou em outros sites pouco depois de sua
exibição. Alguns programas tentam lutar
contra essa tendência, outros se aproveitam disso para aumentar sua audiência,
como o CQC e Lost.
O caso do Proteste Já Barueri é exemplo disso. No ano de 2010, o CQC doou uma televisão de
plasma à prefeitura de Barueri para ser usada em uma escola pública. O aparelho
foi desviado para a casa de uma funcionária. A matéria foi proibida pela
justiça e o anúncio da proibição fez aumentar os comentários no Twitter, em
tempo real, sobre o caso. A tag #cqc logo se transformou numa das mais
populares e permaneceu assim durante toda a semana seguinte, num movimento
virtual pela liberação da reportagem.
A exibição o programa na semana seguinte se beneficiou desse
viral. Curiosamente, muitos dos que comentaram o assunto não haviam assistindo
na televisão, mas no Youtube.
O assuntou ganhou novo fôlego na rede com a divulgação de um
vídeo amador no qual a filha do secretário de educação de Barueri aparecia
ameaçando expulsar um colega de turma da faculdade. Como uma bola de neve, que
se auto-alimenta, o vídeo aumentou a procura pela reportagem do CQC na internet
e estimulou a audiência do programa. Por outra vez, os integrantes do programa,
também contribuíram para aumentar a visibilidade do vídeo.
Outros exemplos de estratégias de convergência são o filme
Matrix e o seriado Lost. Matrix usou os filmes, jogos, histórias em quadrinhos
e até contos para contar a história.
Lost foi chamado pela revista Superinteressante como a série
que marcou o fim da TV como a conhecemos hoje. Seriado da era da convergência,
Lost teve parte de sua história contada em episódios para celular e as mais diversas
informações espalhadas pela internet. O enredo complexo justifica essa busca e
levou até à criação de uma Lostpedia por parte dos fãs.
Nesse contexto, os fabricantes buscam a criação de um
aparelho que resuma essa convergência. Em aparelhos celulares já é possível
assistir à televisão, ouvir rádio, fazer ligações, mandar mensagens, entrar na
internet, jogar e entrar na internet para interagir com outras pessoas através
das redes sociais. O sucesso dos smartphones é sinal claro da tendência do mercado
a procurar aparelhos convergentes.
O recente sucesso dos tablets também é demonstração da busca
por uma unimídia, um aparelho que faça a convergência pela qual anseia a nova
geração. Da mesma forma, o anúncio do Google TV, versão do mecanismo de busca
para a televisão digital indica outra possibilidade nesse sentido.
Qualquer que seja o futuro das comunicações, ela será focada
busca de uma mídia que reúna em si todas as outras. A convergência parece ser
um fenômeno irreversível.
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