Mundo sem fim é a continuação de Os pilares da terra,
clássico da literatura histórica de autoria de Ken Follett. Da mesma forma que
Os pilares da terra, Mundo sem fim se passa na Idade Média, na imaginária
cidade de Kingsbridge, mas pouco mais de um século depois.
Follett é aquilo que no cinema chamam de artesão competente:
não é genial e nem de longe de propõe a fazer alta literatura, mas tem uma
incrível capacidade de engendrar tramas bem elaboradas, construir bons
personagens e produzir livros em que tudo se encaixa com perfeição, com um
quebra-cabeça.
Se Os pilares da terra já mostravam todas essas
características, elas ficam ainda mais destacadas em Mundo sem fim. A isso
acrescenta-se uma mais elaborada pesquisa histórica e um pano de fundo que por
si só chama a atenção do leitor: a nova história se passar no período da guerra
dos 100 anos entre França e Inglaterra e da peste negra (ou peste bubônica).
Follett conta em detalhes vivos o efeito da devastação da
guerra e evolui para a mortandade absoluta da peste, que dizimou quase metade
da população de algumas cidades. Ninguém sabia o que provocava a doença.
A peste negra colocou em cheque o conhecimento médico da
época, baseado na ideia dos humores, e criou uma cisão entre conservadores e
progressistas (os que acreditavam que a melhor forma de entender as doenças era
observar os doentes e, assim, tentar identificar formas de evitar que doenças
se espalhassem). Mundo sem fim mostra esse conflito, exemplificado entre uma
das personagens, uma freira, que usa máscara para atender os pacientes e lavava
as mãos com vinagre, e os médicos tradicionais que consideravam isso besteira
(e morriam como moscas). Curiosidade: Hoje sabe-se que o vinagre na verdade
afastava as pulgas, que eram provavelmente os vetores da doença.
Aliás, todo o livro, assim como o anterior, parece se
equilibrar na relação conservadores x progressistas ou teóricos x práticos. Tanto
em Os pilares da terra quanto em Mundo sem fim, o foco é a catedral e os homens
visionários que estiveram por trás dela, homens muito além de seu tempo.
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