A ficção científica é o gênero perfeito para
metáforas sociais. Ao simular locais e tempos distantes, os autores conseguem refletir
com perfeição sobre os tempos em que vivemos. Nenhuma série explorou tão bem
esses recursos quanto Valerian, de Christin e Meziéres. E um dos álbuns mais
felizes nessa representão foi “Os pássaros do mestre’, publicada no volume dois
da edição brasileira.
Na história, Valerian e Laureline caem um asteroide.
Lá encontram diversas outras naves atraídas pela armadilha. Ao serem socorridos
por um barco descobrem o fim de todos os náufragos estelares: tornam-se
escravos de uma figura misteriosa chamada O mestre. A população intereira do
astro trabalha todo o tempo possível para produzir alimentos para O mestre. De todos
os cantos surgem pessoas com frutas, verduras, animais, algas para o mestre. Os
esfomeados escravos comem as sobras do mestre.
Os que ousam desafiar esse estado de coisas são
chamados de loucos e apartados dos outros no fundo de um poço.
Claro que Valerian e Laureline não se conformam
e vão empreender uma jornada para descobrir quem é o mestre e como derrotá-lo.
Christin e Meziéres misturam essa viva crítica
social com uma aventura repleta de ação e de sense of wonder. Uma obra-prima
numa série repleta de obras-primas.
As críticas,
aliás, surgem em diversos momentos, a exemplo da fala final de Laureline. Após
derrotar o mestre, ela diz: “Como seu poder se alimenta da resignação dos
outros, ele não vai ter nenhuma dificuldade em encontrar lugares onde amem a
autoridade! Astucioso, esse glutão!”. De fato, parece que em todos os locais as
pessoas estão loucas por encontrarem um mestre, uma autoridade que lhes diga o
que fazer. Esse álbum é mais atual do que nunca.
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