segunda-feira, julho 06, 2020

Dica de roteiro: não tente contar a história do universo


Começar com histórias curtas pode ser a melhor opção para novos escritores e roteiristas

Há algum tempo chegou às minhas mãos uma revista publicada por um coletivo de quadrinistas. Quando faço resenhas procuro sempre destacar algo positivo na obra. Posso até apontar, por exemplo, problemas de anatomia nos desenhos, mas vou destacar a originalidade da história, se for esse o caso. Mas na revista em questão não havia absolutamente nada a se elogiar. A maioria das histórias era uma cópia descarada de outras (uma delas simplesmente havia mixado cenas de Walking Dead, Eu sou a Lenda e As panteras) e muitas começavam e terminavam no meio.
Assim, ao invés de escrever uma resenha, preferi conversar com o grupo, dando sugestões. Achei que seria mais justo. Mas ao conversar com eles, ouvi a desculpa: “É impossível escrever uma boa história em apenas 12 páginas!”.
Alguns dos maiores clássicos dos quadrinhos foram escritos em menos de 12 páginas. O genial Spirit, de Will Eisner, era em apenas seis páginas. Miracleman, de Alan Moore, a história que iria revolucionar o conceito de super-heróis, tinha capítulos fechados de oito páginas. Uma das melhores revistas já lançadas no Brasil foi a Kripta, com material da Warren, e a maioria das histórias tinha menos de 10 páginas.
Aliás, no começo da carreira, quando colaborava com a 2000 AD, Alan Moore tinha dificuldade de conseguir uma série longa exatamente porque suas histórias curtas eram tão boas que os editores não queriam perder esse bom escritor de HQs curtas colocando-o para escrever séries (Essas histórias foram publicadas no Brasil pela Devir com o título de Choques Futuristas). Posteriormente, quando conseguiu fazer histórias longas, Moore fez alguns dos melhores quadrinhos de todos os tempos.
Eu costumo dizer que todo roteirista iniciante deveria começar escrevendo pequenos contos: de cinco a seis páginas.
Primeiro porque é muito mais fácil de publicar uma história de cinco páginas em uma antologia do que uma enorme graphic novel de 500 páginas.
Segundo porque escrever histórias curtas é um enorme aprendizado. Aprende-se a sintetizar, a valorizar cada quadro, a escrever algo que faça sentido em poucas páginas, a evitar diálogos desnecessários ou redundantes. Posteriormente, quando puder escrever uma série em capítulos, por exemplo, o roteirista será capaz de fazer com que cada capítulo faça sentido sozinho, de modo que possa ser lido e entendido, mas que o leitor se interesse por ler o restante.
Ou seja: aprender a ser sintético é essencial para qualquer roteirista.  

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