O nome Guerras Secretas surgiu de uma pesquisa do departamento de marketinga da Marvel. |
Eu leio quadrinhos desde que me entendo por
gente. Quando criança, lia Turma da Mônica e Disney. Depois, numa fila de
banco, descobri os quadrinhos da Marvel e virei fã. Passei a colecionar
Superaventuras Marvel. Mas no ano de 1986 eu parei de ler tudo. A razão foi a
minissérie Guerras Secretas, publicada pela Abril naquele ano.
Para quem não sabe, Guerras Secretas era uma
minissérie em 12 capítulos nos quais os principais heróis e vilões da Marvel
eram enviados a um planeta distante e colocados para lutar. Como dizia o
roteirista Jim Shooter, a ideia era fazer uma HQ que mostrasse aos meninos como
brincar com os bonecos dos personagens Marvel. Aliás, o próprio nome da série e
dos brinquedos veio do departamento de marketing: uma pesquisa descobriu que “Gerras”
e “secretas” eram as palavras que mais vendiam produtos para meninos.
Essa série
estava muito além da cronologia da Abril, mas a editora resolveu publicar
porque os brinquedos iam ser fabricados no Brasil pela Gulliver e a empresa
precisava do apoio dos quadrinhos para aumentar as vendas.
A Abril precisava lançar o gibi para ajudar a vender os bonecos. |
Eu, que na época não sabia que aquilo era só
uma jogada de marketing, comprei desde o primeiro número. No número 11, na última
página, havia uma prévia do que aconteceria no final da saga.
Nessa época um amigo que cuja família tinha
casa em Mosqueiro me convidou para passar uma semana com ele lá. Mosqueiro é
região de praia, próximo a Belém. Na época só havia uma banca no local e o dono
praticava os preços que queria, já que não havia concorrência. E não adiantava
argumentar que a revista tinha o preço na capa.
- Vá comprar em outra banca, então! – respondia
ele, com desdém.
A revista que me fez parar de ler quadrinhos. |
E Guerras Secretas 12 saiu exatamente quando eu
estava em Mosqueiro. E o dono da banca, percebendo que a procura daquele gibi
específico era grande, simplesmente dobrou o preço. Ainda assim eu comprei. Quando
finalmente consegui ler, percebi que o final tinha sido completamente
modificado (a Abril fez isso para adequar a série à cronologia da editora). Mesmo
não tendo a revista original, era fácil perceber isso porque nada batia com a
prévia que eles mesmos tinham publicado na 11.
Resultado: fiquei tão revoltado por ter pagado
o dobro do preço numa revista totalmente adulterada que simplesmente parei de
ler quadrinhos.
No ano seguinte, quando saiu Cavaleiro das
Trevas, de Frank Miller, arrisquei comprar, afinal todo mundo estava falando
bem daquela série. Não só gostei como voltei a ler quadrinhos.
Anos depois eu voltei a ler Guerras Secretas na
versão sem as mudanças da Abril. E cheguei à conclusão de aquilo era de fato
muito ruim com ou sem mudanças. Provavelmente eu só tinha gostado daquilo
graças ao desenho do Mike Zeck.
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