quinta-feira, julho 01, 2021

A Salamanca do Jarau

 


À primeira vista, título e capa de A Salamanca do Jarau podem assustar os leitores de quadrinhos. Afinal, o que é Salamanca? O que é jarau? E a capa não nos dá muitas pistas sobre o conteúdo. Entretanto, quem se aventurar a comprar essa graphic novel de Kipper (baseada na obra homônima de Simões Lopes Neto), editada pela editora Estronho, vai se surpreender com o que pode ser um dos melhores lançamentos do ano.
Kipper é um veterano dos quadrinhos (em 1991 ele fez a capa do volume Zona do Crepúsculo, com histórias minhas em parceria com o compadre Joe Bennett). Entre seus trabalhos mais famosos estão a revista Front.
Simões Lopes Neto é um dos grandes folclorista do Rio Grande do Sul, tendo reunido em sua literatura os causos e o modo de falar do gaúcho.
A Salamanca do Jarau narra uma história longa e complexa, que reúne a mitologia indígena do sul com as lendas europeias, em especial da moura encantada, princesas míticas que guardavam tesouros.
Blau Nunes, um típico gaúcho procura um velho mágico, conhece a história da Moura e passa por sete provas, ao final ganhando um prêmio que se revela uma maldição.
A linguagem do álbum é tanto mérito quanto dificuldade. Mérito porque dá o tom correto narrativa, dificuldade porque exige do leitor muita atenção para entender o que está sendo dito. Logo de entrada, temos: “Um dia, um gaúcho pobre, Blau de nome, guasca de bom porte. Mas que só tinha de seu um cavalo gordo, o facão afiado e as estradas reais. Estava conchavado de posteiro. Ali na estrada do rincão. E nesse dia andava campeando um boi barroso”.
Felizmente há um glossário no final do volume, que torna menos dificultosa a tarefa de entender o dialeto gaúcho.
Kipper é um quadrinista que une o talento sequencial ao melhor das artes plásticas.
Ou seja: é um volume lindo de ver e interessante de ler.
De negativo apenas o balonamento. O álbum lembra muito os quadrinhos europeus e ficaria com um ar ainda mais interessante se seguisse os tipos usados na Europa, ao invés da tipologia americana utilizada.

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