sábado, novembro 27, 2021

O escaravelho do diabo

 

Um dos livros mais célebres da coleção Vaga-lume era O escaravelho do diabo, de Lúcia Machado de Almeida.

A história foi publicada originalmente em capítulos, no ano de 1953, na revista Cruzeiro. Mas se tornou realmente popular quando foi publicada em 1974 pela editora ática, dentro da coleção vaga-lume. Na década de 1980, auge da coleção, tornou-se um dos títulos mais vendidos.

Na trama, a pequena cidade paulista de Vista Alegre é aterrorizada por uma série de assassinatos. Antes das mortes, o criminoso envia para a vítima um besouro – e o nome científico do mesmo indica como acontecerá o crime. O protagonista é um jovem estudante de medicina, Alberto, cujo irmão é a primeira vítima do assassino. É ele quem descobre a relação entre os besouros e os crimes e é quem passa a ajudar a polícia a decifrar o enigma.

Lúcia Machado de Almeida era uma escritora primorosa, cujo estilo marcou a literatura infanto-juvenil brasileira, influenciado muitos outros autores posteriores. Embora seja uma história de crimes, o livro é contado de maneira leve para agradar o público mais jovem.

Uma curiosidade é que esse livro é, provavelmente, um dos primeiros da literatura nacional a descrever um psicopata: “O assassino, certamente um anormal, raciociona com lucidez e possui inteligência fora do comum. De outro modo, jamais planejaria e levaria a cabo crimes tão perfeitos e que não deixam o menor vestígio. Possivelmente deve ser alguém igual a nós, de comportamente, aparentemente normal, alguém que arquitetou um plano e estudou-o com calma e tempo nos seus mínimos detalhes”.

Escrito na década de 50, a obra tem alguns aspectos que parecem estranhos hoje em dia. Motorista de taxi, por exemplo, é chamado de chofer. Em uma sequência, é necessário ligar para a polícia e não há nenhum telefone em todo o bairro, fazendo com que a pessoa se desloque pessoalmente à delegacia. Ainda assim, é um livro prende a atenção, especialmente pelo suspense criado sobre o que está de fato acontecendo. É uma trama que instiga a imaginação do leitor.

Infelizmente, embora a descrição do perfil psicológico do assassino fosse totalmente inovadora e incrivelmente acertada para a época, a descoberta do assassino e da motivação do caso passava longe disso. Compreensível, considerando-se que na década de 50 a psicologia praticamente desconhecia a psicopatia. É de se imaginar como a autora teria terminado o livro se tivesse acesso ao que se sabe hoje sobre o assunto.

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