Filmes sobre artes marciais fizeram enorme sucesso na década de 1970, mas em 1984 um filme revitalizou o interesse pelo assunto ao focar menos nas lutas e muito mais no treinamento e na relação entre professor e aluno. Além disso, surpreendentemente, apresentava um mestre de Karatê pacifista. Seu nome? Karatê Kid.
Na trama, Daniel Larusso se mudou com sua mãe de Nova York para o Vale do São Francisco, na Califórnia. Daniel não aceita a mudança, considerando que não irá se encaixar na nova cidade. Tudo muda quando ele conhece uma garota, Ali, e se apaixona por ela. Mas a garota tinha um namorado campeão de karatê, Johnny Laurence, que não aceita a separação e irá enfernizar a vida de Daniel.
Numa das situações em que está apanhando do grupo liderado por Laurence, Daniel é salvo por senhor Miyagi, aparentemente apenas alguém que vive de pequenos serviços. Mas o japonês na verdade é um mestre de karatê. A contragosto ele aceita ensinar Daniel a lutar, com a ressalva de que Karatê é apenas para defesa. O objetivo é participar do campeonato local, onde ele deverá enfrentar Johnny Laurence.
A trama em si é interessante e chamaria a atenção dos adolescentes da década de 80, até pela escolha da ótima trilha sonora. Mas o que eleva esse filme acima da média de filmes adolescentes é o processo de treinamento de Daniel, uma mistura de humor, filosofia oriental e situações inusitadas.
A sequência em que o senhor Miyagi coloca Daniel para lavar carros, lixar assoalho e pintar a cerca é antológica: o expectador é levado a acreditar que o velhinho na verdade está se aproveitando do rapaz, forçando-o a fazer serviços em sua casa ao invés de ensiná-lo artes marciais.
Quando fica claro que tudo aquilo fazia parte do treinamento, o expectador se sente maravilhado (eu assisti no cinema, na época e lembro da reação entusiasmada da plateia). Em meio a isso, situações de humor (o senhor Miyagi tentando pegar um mosca com palitinhos, vendo Daniel conseguir isso de primeira e comentando: sorte de principiante!) e a relação terna entre os dois. Soma-se a isso uma trilha sonora característica da década de 80.
Não bastasse, quando finalmente o combate acontece, é apoteótico. Como um herói clássico da jornada do herói, Daniel tem tudo contra si: é o único contra uma academia de fortões, sofre uma lesão na perna, depois outra, mas no final consegue superar as dificuldades e ganhar o torneio com um golpe inusitado.
Todos os elementos se encaixam tão bem, de uma forma tão fluída que não é de surpreender que o filme tenha se tornado um sucesso estrondoso, dando origem a duas continuações e atualmente a uma série de sucesso, Cobra Kai. Aliás, é curioso que em Cobra Kai a situação tenha se invertido: no seriado é Johnny Laurence que exerce a função do sensei que ensina seus alunos com métodos inusitados em meio a situações de humor.
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