segunda-feira, maio 27, 2024

Arsene Lupin – o ladrão de casaca

 


Em 1905, o editor da revista Je Sais Tout pediu ao escritor francês Maurice Leblanc que criasse um personagem para rivalizar com o britânico Sherlock Holmes.

Ao invés de criar um detetive, Leblanc, que era um socialista radical e livre-pensador, criou um sofisticado ladrão que enganava a polícia e conseguia realizar os roubos mais assombrosos, sem no entanto, matar ninguém. Sua inspiração foi o ladrão anarquista Marius Jacob, responsável por 150 assaltos que o fizeram famoso na França.

A primeira história já fugia do que era esperado ao mostrar a... prisão de Lupin!

Já nessa primeira história, o escritor descreve a fama de seu personagem: “O impecável ladrão de quem se contavam as proezas em todos os jornais há meses! A enigmática personagem com que o velho Ganimard, o nosso melhor policial, tinha iniciado um duelo de morte cujas peripécias se desenrolavam de modo tão pitoresco! Arséne Lupin, o ladrão de casaca que só operava nos castelos e salões e que, uma noite em que penetrara na casa do Barão Schormann, saíra de mãos vazias deixando seu cartão com essa tirada ‘Arséne Lupin, cavaleiro furtador, voltará quando os objetos forem autênticos’”.

O que destacava Lupin era sua inteligência e sua capacidade de se fazer passar por outra pessoa, como fica claro nesse primeiro conto. O sucesso foi tão grande que o editor pediu outra história, e outra e outra.

A editora Principis reuniu as primeiras aventuras do anti-herói no volume Arséne Lupin – o ladrão de casaca, um livro de 192 páginas com uma bela capa, que peca apenas pela falta de textos introdutórios.

Na antologia há contos realmente empolgantes, como “A fuga de Arsène Lupin”, que conta a maneira engonhosa como o personagem conseguiu evadir-se da prisão depois de ter sido pego graças à paixão por uma garota. É uma trama realmente bem elaborada, que mexe com as expectativas do leitor, apresentando mais de uma reviravolta. E que se destaca pelas hilárias sequências de humor. À certa altura, por exemplo, Lupin simula uma fuga (que tem como objetivo desnortear seus captores). Depois de passear por Paris, tomar um café, ele volta para a prisão e apresenta-se:

- É aqui o Santé?

- Sim.

- Desejava voltar à minha cela. O carro me abandonou no caminho e não desejo abusar...

Em outra história, Lupin engana a polícia e coloca dois agente para ajudá-lo a pegar de volta o que lhe foi roubado, numa história com fino toque de humor.

Outras histórias são previsíveis e até arrastadas, mas isso é compensado pela narrativa fluída de Leblanc.

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