No ano de 1982, Frank Miller publicou, em Daredevil 191, aquela que é, com certeza uma das melhores, senão a melhor história do Demolidor de todos os tempos.
Chamada de Roleta Russa, a história mostra o Demolidor visitando o Mercenário no hospital. O vilão havia ficado paralítico no confronto com o herói logo após a morte de Elektra.
“Você deve estar se perguntando por que eu vim aqui, não, Mercenário? Por que o Demolidor, o homem-sem-medo, ídolo de milhões, quis passar uma linda noite de outono em companhia de seu maior inimigo. A resposta é muito simples... eu estou aqui para jogar com você. O jogo se chama Roleta Russa”, diz o texto, representando o pensamento do personagem.
O Demolidor joga roleta russa com um de seus maiores inimigos. |
E, na sequência, o Demolidor atira em si e no vilão, alternadamente, testando a sorte (na roleta russa há apenas uma bala no cilindro) e contando a história que o levou até ali.
A trama em flash back é sobre um menino que é fã do Demolidor, o que poderia gerar uma bela história emocionante. Mas Miller transforma isso num conto ácido e violento quando o garoto vê o Demolidor, seu ídolo, atacando o próprio pai (um corrupto sem escrúpulos) e atira num colega de escola.
Tudo nessa história é revolucionário, a começar por fugir do maniqueísmo das histórias de super-heróis. O demolidor é realmente um herói? Suas ações são sempre acertadas? Até mesmo a relação com o pai é colocada em dúvida. Depois de chamar o pai de um homem de verdade, Matt Murdock se lembra de quando este bateu nele após reagir a garotos que rasgaram seu livro de estudos.
A diagramação era inovadora. |
Do ponto de vista narrativo, a história era ainda mais revolucionária. Miller quebrava uma imagem em vários quadros, simulando o passar do tempo com o texto, alternava closes com planos gerais, fazia quadros enormes com uma imagem pequena. Era um tipo de diagramação muito inovadora para a época (o ápice do estilo que Miller vinha construindo), e que reforçava em muito o forte teor emocional da história.
E tinha os pensamentos do personagem expressos como balão legenda, que davam uma outra dinâmica para os quadrinhos. A influência disso foi tão grande que os balões de pensamento foram praticamente aposentados na década de 80 (vale lembrar que Alan Moore, a outra grande estrela do período também preferia usar balões-legenda ao invés de balões de pensamento, o que reforçava esse novo estilo).
No Brasil essa história foi publicada em Superaventuras Marvel 44 e teve um impacto enorme junto aos leitores.
Uma curiosidade sobre essa HQ é que essa foi uma das poucas dessa fase de Miller no Demolidor que não contou com arte-final de Klaus Jason, o eterno parceiro de Miller. A honra coube a Terry Austin.
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