segunda-feira, junho 24, 2024

Antropofagia, de Tarsila do Amaral

 


Em 1924 o casal Oswald de Andrade de Tarsila do Amaral acompanhou o escritor franco-suíço Blaise Cendrars às cidades históricas de Minas Gerais. O escritor ficou encantando com o que viu, o que despertou no casal o interesse pela cultura brasileira. Artistas como Aleijadinho haviam se apropriado do barroco europeu e transformado em outra coisa, com formas únicas e anjinhos mulatos.
Essa experiência marcou profundamente Oswald e Tarsila e, quatro anos depois, levou-os a criar o movimento antropofágico, segundo o qual a característica de nossa cultura é exatamente essa: pegar o que vem de fora, devorar e transformar em algo diferente.
Entre as obras que marcaram essa fase está Antropofagia, de 1929.  O quadro remete diretamente ao famoso Abapuru com suas formas distorcidas, pés enormes e cores fortes. Mas aqui há mais fatores: o enorme seio da mulher, que se sobressai na imagem e o fundo de vegetação exuberante – em contaste com a paisagem agreste de Abapuru. Sobre as cores, Tarsila certa vez declarou: “Encontrei em Minas as cores que adorava em criança. Ensinaram-me depois que eram feias e caipiras. Segui o ramerrão do gosto apurado... Mas depois vinguei-me da opressão, passando-as para minhas telas: azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante”.

Superaventuras Marvel 25: a primeira revista Marvel que comprei

 

Superaventuras Marvel 25 foi a primeira revista que comprei em banca. É uma edição "morna", especialmente a história dos X-men, que apresenta um interlúdio entre a saga de Protheus e a saga da Fênix. Mesmo assim tinha uma boa história de Kull. E foi o suficiente para me conquistar. Nas edições seguintes seriam publicadas algumas das melhores histórias Marvel já lançadas no brasil. A capa seguia o modelo de capas da Abril: uma junção de mais de uma capa americana, ou de desenhos internos. Mas aqui temos um caso em que esse trabalho bem feito. A figura de Ororo em especial domina a capa, chamando atenção para seus olhos expressivos, no traço de John Byrne.

Rocketman

 


O cinema britânico tem, na maioria das vezes, um humor muito próprio, sutil e ao mesmo tempo exagerado, irônico. Enquanto o cinema americano geralmente constrói a verossimilhança através da seriedade, o cinema britânico o faz rindo de si mesmo. E essa é a maior qualidade Rocketman, cinebiografia de Elton John dirigida por Dexter Fletcher.
A estrutura ajuda muito a narrativa: Elton é mostrado saindo na direção de um show, com uma espalhafatosa fantasia de diabo, mas ao final, acaba adentrando uma sala dos AA. Ali ele começa a falar de sua vida – e essa narrativa costura os fatos.
Por si só isso já deixaria o filme mais interessante, mas a forma como isso é feito deixa o filme absolutamente delicioso, mesmo para quem nunca foi fã de Elton John, como é o meu caso.
O próprio fato dele entrar na sala vestido de forma espalhafatosa e – vestido assim, começar a terapia, já mostra a pegada de humor britânico da produção. Além disso, em vários momentos a narrativa é entremeada por números musicais. Isso é feito com uma ponta de humor que parece dizer ao expectador: “Ei, isso é um filme, podemos fazer o que quisermos!”.  
Uma das sequências mais interessantes mostra o período em que, deslumbrado com a fama e com a fortuna, Elton John se entrega a excessos. Em determinado ponto ele passa por diversos quadros famosos e mal olha para eles – e só sabemos que ele os comprou porque garotas, que, em uma coreografia divertida, colocam nos quadros adesivos de vendido.
Rocketman é uma boa surpresa.

domingo, junho 23, 2024

Revista Imaginário traz artigo de Gian Danton sobre a evolução do texto nos quadrinhos americanos

 


 
A revista Imaginário é uma das mais importantes publicações acadêmicas do Brasil sobre quadrinhos e cultura pop. No número 21 ela trouxe um artigo meu, escrito em parceria com Rodrigo Bandeira, sobre como texto evoluiu nos quadrinhos americanos, indo desde a abordagem redundante em que texto e desenhos competiam para transmitir as mesmas informações, até o uso criativo e revolucionário do texto. 


O texto é resultado de mais de 30 anos lendo e estudando quadrinhos. Quando comecei a escrever roteiros, uma das coisas que percebi é que, para ter bons textos, precisa saber "ler" as HQs. Isso significava uma leitura mais apurada, em que eu procurava distinguir os elementos do roteiro, em termos de estrutura e de texto. Quando gostava de algo, eu me perguntava: o que faz disso uma obra tão boa? Quais as caracteríticas do texto que fazem com que ele seja uma leitura tão agradável? 

Com o tempo essa leitura mais apurada foi se transformando em textos e artigos. Esse artigo em especial é meio que um resumo do que descobri nesses 30 anos a respeito de como os quadrinistas foram melhorando a parte textual dos quadrinhos. 

Uma curiosidade é que o artigo foi escrito durante a pandemia, enquanto eu estava convalescendo de covid-19. Rodrigo Bandeira, que aparece como co-autor, me ajudou bastante, conseguindo informações, imagens, dando ideias. 

Leia mais sobre essa edição: 

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O dia em que Loki roubou o martelo de Thor

 


Após criar o poderoso Thor, Stan Lee e Jack Kirby foram cuidar de outros títulos – em especial o Quarteto Fantástico, a vaca leiteira da Marvel à época. Quem ficou responsável pelo deus do trovão foi Robert Bernstein no roteiro (a partir de história de Stan Lee) e Joe Sinott nos desenhos.

Exemplo do trabalho dessa dupla criativa foi a história publicada em Jorney in to Mistery 92. A trama já é resumida na capa, com Loki quebrando grilhões e se vangloriando: “Eu consegui! Roubei o martelo do Thor! Agora o deus do trovão está à minha mercê!”. Caído no chão, o cabeludo herói estica a mão para sua arma e pensa: “Não consigo alcançá-lo! Dentro de alguns segundos, todos os meus superpoderes terão sumido para sempre!”.

Loki desvia o mortelo, fazendo com que ele o liberte. 


Na verdade, o que acontecia no miolo não era exatamente isso. Ao participar das filmagens de um longa metragem, Thor lança seu martelo, mas Loki consegue desviá-lo para Asgard, fazendo com que ele se choque contra os grilhões que o prendem. Isso também faz com que o martelo fique perdido. Mas em nenhum momento o deus do trovão corre o risco de perder seus poderes para sempre, afinal, ele pede ajuda Odin, que o leva de volta a Asgard, local em que a condição na qual ele se transforma no médico aleijado não existe.

A história gira em torno de Thor tentando encontrar o seu martelo e as estratégias usadas por Loki para impedi-lo. Nesse meio tempo, o deus do trovão faz martelos substitutos com madeira e até com rocha, que ele cava com as próprias mãos.

Thor cria um martelo de madeira. 


O curioso é que, embora a ideia fosse de Stan Lee e usasse um dos personagens mais famosos da Marvel, essa parece uma história da DC. O ritmo é lento, arrastado, com enfoque muito maior nas estratégias dos personagens do que na ação. Faltava algo nos diálogos e faltava principalmente o talento de kirby, cujas imagens eram verdadeiras explosões de ação.

Shazam e a sociedade dos monstros

 


Jeff Smith é um dos grandes nomes do quadrinho alternativo norte-americano. Seu personagem Bone foi publicada por 13 anos e ganhou diversos prêmios. Fortemente influenciado por quadrinistas com uma pegada cartunística, como Walt Kelly, de Pogo, ele parecia a pessoa perfeita para trazer de volta o herói Capitão Marvel, o personagem de maior sucesso da era de ouro dos super-heróis.
Smith simplesmente acerta em tudo: da representação visual dos personagens ao roteiro inteligente e, ao mesmo tempo simples, quase ingênuo.
Na história, Billy Batson recebe os poderes que o transformam no poderoso Capitão Marvel, mas, inadevertidamente, traz para nossa realidade um perigo terrível: o poderoso Cérebro e três robôs gigantes cujo objetivo é destruir a humanidade.
O traço cartunesco de Jeff Smith ajuda no clima da história. 


Smith consegue emular perfeitamente o traço de CC Beck (o desenhista original do Capitão Marvel) em sua simplicidade e elegância. A pegada cartunistica do autor ajuda muito nessa hora, inclusive quando aparecem personagens como crocodilos humanizados.
No roteiro, ele mantém muito dos elementos da história original, mas modifica outros: Malhado passa a ser um homem que tem poder de se transformar em felino, Dr. Silvana torna-se um político corrupto e o Senhor Cérebro deixa de ser uma minhoca para se tornar uma cobra.
A junção de tudo isso é uma HQ terna, divertida e, ao mesmo tempo, empolgante.

Fundo do baú - Túnel do tempo

 


The Time Tunnel (no Brasil, O Túnel do Tempo) foi um seriado de TV realizado por Irwin Allen nos anos 60, que mostrava as viagens no tempo de dois cientistas: (Robert Colbert, como Doug Phillips, e James Darren, como Tony Newman).
Eles eram monitorados por uma equipe que permanecia no laboratório e os acompanhavam em seus deslocamentos no tempo através de imagens que recebiam pelo Túnel do Tempo. A equipe estava sempre tentando encontrar um meio de trazê-los de volta, ou então tentavam ajudá-los por intermédio dos recursos de que dispunham, como precárias transmissões de voz ou envio de armas ou equipamentos, quando possível. Quando tudo falhava, tiravam-nos de uma época e os enviavam para alguma outra data incerta do passado ou do futuro, dando início a um novo episódio.
Os personagens viajavam pelos mais diferentes períodos históricos, indo parar até mesmo no Titanic pouco antes dele afundar.  
Nos episódios eram utilizados imagens de arquivo de filmes da Fox, como O Mundo perdido, Príncipe Valente e até do seriado viagem ao fundo do mar. A regra da televisão na época era: lavou, tá novo.

Devido ao elevado custo de produção, esse seriado durou apenas uma temporada, com 30 episódios.

Mais forte que a vingança - o filme que serviu de inspiração para Ken Parker

 

O faroeste humano influenciou a série Ken Parker.


Mais forte que a vingaça (Jeremiah Johnson no original) não é só uma boa obra cinematográfica, mas um filme que tem uma atração a mais para os fãs de quadrinhos: foi ele que serviu de inspiração para a série de faroeste Ken Parker. Inclusive a fase inicial na revista o personagem é exatamente igual a Robert Redford, como aparece no filme.
A produção reúne nomes de peso: Na direção, Sydney Pollack e no roteiro, Edward Anhalt e John Milius, este último seria o direitor da versão cinematográfica de Conan, em 1982.
Nas primerias histórias de Ken Parker ele era muito parecido visualmente com o protagonista do filme.

Na história, um veterano da guerra entre México e EUA resolve abandonar a sociedade e se internar nas montanhas, transformando-se em um caçador de peles (para quem leu desde os primeiros números, essa era a profissão de Ken Parker no início). No caminho, ele conhece um velho e divertido caçador, que o ensina os segredos da caçada. Depois encontra uma família que foi assassinada e só sobraram a mulher enlouquecida e o filho. Sem alternativa, leva o menino consigo. Ele acaba se casando com uma índia e a nova família fixa residência próximo a um rio. Mas esse idílio irá logo ter um fim: ao ser convocado pelo exército para ser guia de uma expedição que irá salvar colonos, ele acaba passando pelo meio de um cemitério indígena. Como vingança, os nativos exterminam sua família.
O filme passa longe de ser um faroeste clássico. Ao contrário: tem todo o clima de drama humano que ficaria tão famoso em Ken parker. Os índios também não são mostrados como simples vilões unidimensionais, como na maioria dos faroestes. Suas crenças, costumes e variedade de etnias são retratados no filme. E a relação de Jeremiah Johnson com sua esposa índia é mostrada de forma terna e poética.
Ajuda muito no clima do filme a ótima trilha. Há cenas inteiras que são narradas apenas com imagens e músicasvisualmente e musicalmente e são boa parte do charme da produção.
Esse é, portanto, um faroeste da década de 1970, quando muitos dos cânones do gênero foram colocados em xeque e diretores trouxeram uma nova sensibilidade.

Bruxaria, de James Robinson

 



O sucesso de Sandman fez com que surgissem várias séries derivadas, com personagens secundários da série. Entre as melhores, sem dúvida, está Bruxaria, de James Robinson.

As protagonistas da história são as três bruxas (também conhecidas como moiras ou hecatae) em uma jornada de vingança.

Na época do império romano, um ritual em homenagem à deusa que é três é interrompido por uma horda de bárbaros, que violentam e matam as mulheres. Uma delas, Ursula, faz uma oração implorando por vingança: “Ele vai tirar minha vida... esta vida. Mas haverá outras vidas quando eu poderei obter minha vingança”.

Teddy Kristiansen é responsável pelas sequências com as bruxas. 


A trama gira, então, em torno das reencarnações de Ursula e Cooth, na Idade Média, no século XIX e no século XX.

O interessante do roteiro é a forma como James Robinson usa o tema da reencarnação como motor dramático. Também curioso o uso da ironia do destino: sempre acontece algo que priva Ursula de sua vingança.

Uma das especialidades de Robinson era explorar a ironia entre texto e imagem. 


Aliás, Robinson é um mestre do uso inteligente da ironia, como nas sequências em que o texto, colocado num quadro de impacto, diz o oposto do que é mostrado no desenho. À certa altura, por exemplo, a protagonista está se referindo ao convento no qual passou a infância e adolescência: “Ah, a paz. Vou ter saudades disso também... a quietude e a tranquilidade”. A última parte do texto vem sobre uma página dupla na qual diversos homens invadem o convento e matam as freiras.

Cada parte da história é ilustrada por um desenhista. 


A série, em três partes, é ilustrada por diversos artistas: Peter Snejbjerg no primeiro número, Michael Zulli no segundo e Steve Geowell no terceiro. Teddy Kristiansen fica responsável por todas as sequências nas quais aparecem as três bruxas. A escolha dos artistas não é aleatória. Peter Snejbjerg é perfeito para a sequência da Idade Média com seu traço limpo e repleto de sombras. Michael Zulli em seu traço rebuscado e cheio de hachuras lembra as litografias do século XIX. E, finalmente, Steve Geowell dá um ar moderno para a terceira parte.

Outro aspecto digno de nota são as capas, de Michael Kaluta. Cada uma delas é focada em uma das três bruxas. Colocadas lado a lado, formam uma imagem só.

Em outras palavras, Bruxaria é uma daquelas séries em que tudo funciona bem, da capa ao roteiro, passando pelos desenhos.

Perry Rhodan – O caso Columbus


O número 88 da série Perry Rhodan apresenta um dos maiores perigos enfrentados pela humanidade: a invasão dos Druufs.

No número anterior, As cavernas do sono, descobrimos que os descendentes de insetos tinham conseguido criar na Terra uma ponta de lança da invasão atrás de uma empresa que prometia adormecer pessoas, mas na verdade os enviava para a dimensão dos druufs, trocando seus corpos por corpos de jovens alienígenas. A partir daí era só uma questão de tempo para descobrirem a localização de nosso planeta e começarem o ataque – por alguma razão, nessa época, todo mundo queria atacar nosso planeta.

Seria um volume empolgante, especialmente por ser escrito por K. H. Scheer, um especialista em descrições de batalhas. Acontece que Scheer usa todo o primeiro terço do volume para ou rememorar fatos passados, ou introduzir diálogos irrelevantes entre os personagens, ou descrever detalhes técnicos da preparação para a guerra. Nesse sentido, vale a comparação com os primeiros livros escritos por William Voltz, que tinham ação desde a primeira página.


Há um momento interessante dessa parte de “preparação”, que é quando os druffs, depois de irem parar em Capela achando que era o sistema solar, conseguem descobrir de fato a localização da Terra graças à mensagem de uma nave. O capítulo é todo focado no Capitão Carl Lister. Lister, embora fosse um homem corajoso e agradável, era um azarado, o que arruinou sua carreira na Frota Espacial. Isso faz com que ele desista da frota e se coloque como comandante de um velho cruzador agora usado para transporte de cargas e passageiros. E é o azarado Lister que comete o erro que revela a posição da Terra, em uma sequência tragicômica.

Em tempo: o título em português O caso Columbus não faz o menor sentido, pois dá a entender que se trata de uma história policial. Pelo que pesquisei, em uma tradução literal, o título Der fall Kolumbus ficaria como A queda Kolumbus. Creio que um título mais adequado seria O alerta Columbus ou O plano Columbus.

sábado, junho 22, 2024

Surge o Quarteto Fantástico!

 


O lançamento do primeiro número do Quarteto Fanstástico, em novembro de 1961, mudou para sempre o mercado de quadrinhos norte-americanos. De uma editora decadente, que se resumia a Stan Lee e uma secretária, a Marvel (que na época não se chamava Marvel), começou uma caminhada que a transformaria na grande estrela do mercado, superando a gigante DC ainda na década de 60.

A leitura desse primeiro gibi (disponível no número dois da Coleção Clássicos Marvel), permite observar alguns segredos desse sucesso, a começar pela impressionante capa de Jack Kirby com o quarteto envolvido numa luta contra um monstro que surge das profundezas. A capa inteira é um exemplo perfeito de composição em que tudo funciona harmonicamente, com os elementos muito bem distribuídos, incluindo os balões de diálogos. “Eu não consigo ficar invisível rápido o bastante! Como vamos deter essa criatura, Tocha?”, pergunta Sue, enquanto seu irmão responde: “Espere e verá, irmã! O Quarteto Fantástico só começou a lutar!”.

Aqui temos várias inovações. Entre elas, o sentido de família, que iria ser a principal característica do título em todo esse tempo. Ao contrários de outros grupos de heróis, que se encontram aleatoriamente, os quatro vivem juntos, são uma família e enfrentam todos os problemas relacionados a isso, o que era uma tremenda novidade na época. Dá para imaginar a sensação que essa capa causou entre os garotos do início da década de 60.

Os autores criam mistério para instigar a curiosidade do leitor. 


O miolo também não deixa por menos. Os personagens são apresentados de forma a instigar a curiosidade do leitor. Reed atira um sinalizador, chamando o restante da família para o edifício Baxter, mas não vemos seu rosto. Então acompanhamos cada membro do quarteto vendo o sinal e respondendo ao chamado. Eles são apresentados de forma a instigar ainda mais o leitor, muitas vezes com toque de humor. Sue, por exemplo, fica invisível para pegar um taxi invisível, deixando o taxista aturdido.

Só quando atendem o chamado é que a narrativa paralisa e nos é contada a origem do grupo. E aqui mais uma inovação: a história é dividida em capítulos, sempre iniciados com uma imagem de impacto (posteriormente Jack Kirby usaria splash pages).

A demonstração dos poderes dos personagens é bem-humorada. 


A razão pela qual foram chamados: monstros estão surgindo das profundezas e destruindo usinas nucleares, um enredo que remetia diretamente aos gibis de monstros da Atlas na década de 50, versões suaves dos quadrinhos de terror.

Então, o Quarteto não só era uma família, era também um título que unia super-heróis, terror e ficção científica!

O vilão, o Toupeira, é apresentado como alguém rejeitado pela sociedade em razão de sua feiúra, que indo para o centro da terra se torna cego. Já ali observamos algo que caracterizaria os vilões da Marvel: nenhum deles era mal por ser. Todos eles tinham uma motivação, uma razão para suas ações.

Tirando um outro deslize (à certa altura o Sr. Fantástico tira de ação, jogado no mar, um monstro que tem asas!), é uma edição deliciosa de ler e totalmente inovadora.

A noite do jogo

 


A noite do jogo conta a história de um casal apaixonado por jogos. Eles se conheceram em um jogo, o pedido de casamento foi feito durante um jogo – e o casamento foi um jogo. Mas um dia, quando o marido recebe o convite de seu irmão para participar de um jogo em sua casa, tudo sai errado. O que era para ser apenas um jogo encenado se transforma em um sequestro de verdade – ou não?
É essa dubiedade entre jogo e realidade que permeia A noite do Jogo.
A premissa poderia gerar um belo suspense policial – ou um filme que discutisse as fronteiras entre realidade e ficção no mundo atual.
Mas não era esse o objetivo dos produtores. Desde a primeira cena sabemos que se trata de uma comédia de erros e que todas as situações serão usadas para causar humor – como na cena em que o dono da casa está sendo de fato sequestrado e luta contra seus sequestradores e os demais se deliciam com um queijo e comentam o realismo da encenação.
A noite do jogo é um filme descompromissa cujo objetivo é arrancar risadas – e isso conseguem. Direção-roteiro e atuações formam uma perfeita engrenagem cômica.

Na toca dos leões

 


A W/Brasil é a mais famosa agência de publicidade do Brasil, ganhadora de mais de mil prêmios, nacionais e internacionais. Seu principal acionista, Washington Olivetto, mudou a cara não só da propaganda brasileira, mas até mesmo a própria visão do público a respeito dos publicitários, tornando-se um pop star reconhecido nas ruas e que dá nome a pratos em restaurantes chiques. É a história dessa agência e desse publicitário que Fernando Morais conta em Na toca dos leões (Planeta).
A história começa com jeito de lenda, embora muitos, em especial o protagonista, jurem que é verdade.
No dia 1º de abril de 1971, Washington Olivetto passeava com seu Karmann-Ghia vermelho pela rua Itambé, no bairro de Higienópolis, em São Paulo, quando o pneu furou. Até então, ele era simplesmente um hippie colorido, de cabelos compridos e tamanco. Um aluno medíocre do curso de Publicidade Propaganda da FAAP, que faltava a quase todas as aulas.
Sem ver nenhum borracheiro por perto, o rapaz de 19 anos entrou no escritório da HGP Publicidade, para usar o telefone e chamar um socorro. No último momento, mudou de ideia.  Pediu para falar com o dono.
- Eu sou o dono. – disse Juvenal Azevedo, um dos sócios.
- Olha, eu queria que o senhor me desse uma oportunidade de trabalho aqui. Eu quero trabalhar em publicidade, estou até estudando isso... Acho que posso bolar uns anúncios geniais para o senhor, tenho certeza de que vou ser muito bom nisso. Só entrei aqui porque furou o pneu do meu carro na sua porta. Acho melhor o senhor me dar esse emprego, porque meu pneu não costuma furar duas vezes no mesmo lugar.
O papo convenceu e ele foi aceito como estagiário. Em pouco tempo se destacaria. Um de seus primeiros anúncios foi para a fábrica de televisores ABC, que lhe valeu como prêmio uma garrafa de licor. O colunista Cícero Silveira, do jornal Shopping News costumava premiar a melhor propaganda da semana com a tal garrafa. Veiculado no dia das mães, mostrava uma simpática velhinha ao lado de uma televisão com a legenda: “Dê um televisor ABC para a primeira mulher de sua vida”. Nas semanas seguintes, ele continuou chamando atenção: “podia até faltar água na casa do publicitário. Cointreau, jamais, tal a profusão de garrafas do licor que ele abiscoitou”, conta Morais.
Em menos de um ano, ficou claro que ele era bom demais para a pequena agência. O patrão chamou-o: “É um pecado um cara como você ficar perdido aqui e nós não vamos ter como te segurar”.
 Já em nova agência, ele conseguiria uma façanha incrível, ganhar O Leão de Bronze em Cannes antes mesmo de completar um ano de profissão. O comercial era sobre uma nova torneira, com um processo revolucionário de vedação. Filmado em macro, o anúncio causava impacto ao mostrar uma torneira pingando com uma narração em off: “A Deca está lançando a sua torneira com MVS, mecanismo de vedação substituível, que faz com que sua torneira esteja sempre nova. Por isso, a partir de agora, se a sua torneira Deca vazar, é porque você esqueceu de fechar” e uma mão fechava a torneira, fazendo com que o último pingo fosse chupado para dentro do cano.
Ao saber que tinha ganhado o prêmio mais importante da propaganda mundial, Washington reagiu com incredulidade:
- Mas é o meu primeiro filme e eu só tenho vinte anos! Quem errou: eu ou o júri?
Um começo mais do que promissor para quem pretendia ser o melhor publicitário do Brasil, e provavelmente conseguiu.
Mas o livro, embora seja focado em Washington, também dá destaque a duas outras pessoas que formaram com ele a W/Brasil: Gabriel Zellmeister e Javier Llussá.
O tímido Gabriel vem de uma família judia marcada por tragédias. Sua primeira irmã morreu na Europa, com um mês de vida, enquanto os pais fugiam tanto dos nazistas quanto dos comunistas. A mãe e a avó materna (escaldadas por décadas de progroms e campos de concentração) o criaram com a constante paranóia de que estavam na iminência de uma nova perseguição: “Não se apeguem”, “Não façam amigos”, “Não se vinculem a ninguém, nós podemos ter de fugir”. Com uma criação dessas, é natural que ele fosse tímido e ficasse muito em casa, onde lia o tempo todo, em português, polonês e alemão. Queria ser artista.
Quando começou a crescer, entrou em uma rotina dura: estudava de noite e de dia ganhava alguns trocados desenhando retratos de pessoas. Depois de tentar ser desenhista de livros didáticos, resolveu que ia entrar na publicidade. Conseguiu um estágio numa agência pequena, a Delta. Duas semanas depois de chegar, viu os diretores de arte desenvolvendo uma nova logo para um cliente e perguntou se podia apresentar também uma proposta. No final, foi a sua proposta que foi aceita. A vida, como sempre, era dura. Para concluir o ginasial, ele precisou aderir ao sistema Madureza, que permitia terminar o segundo grau em menos tempo. Como não tinha tempo para o curso preparatório, se arranjou com uma permuta: desenhou um novo logotipo para a escola. Logo se tornaria um dos diretores de arte mais novos e mais criativos do mercado, sendo contratado pela agência Casabranca, onde conheceu Washington Olivetto. O primeiro contato dos dois não foi dos mais amistosos. Expansivo, Olivetto começou tirando um sarro do rapaz magro, que desenhava sem camisa: “Pô, meu, você é um atleta!”.
O catalão Javier Llussá, outro sócio da W/Brasil tem uma história igualmente conturbada. A família praticamente passava fome na Espanha quando o pai decidiu que iam embora. As cartas de um amigo que morava em Araraquara, interior de São Paulo, o convenceu de que aqui era o paraíso. Vieram de navio, com um bilhete de terceira classe, vomitando a maior parte da viagem. Javier foi trabalhar em um laboratório e nas horas vagas varria o chão da fábrica, pintava móveis e fazia pequenos reparos para ganhar mais alguns trocados. Concluiu que a única forma de sair daquela vida era estudar. Trabalhando de dia, estudando de noite e andando horrores para economizar o dinheiro do ônibus, concluiu o ensino técnico de contabalidade e depois começou a faculdade. Um dia viu um anúncio pedindo alguém para trabalhar com Marketing na multinacional Colgate-Palmolive. Sua única exigência nesse e em outros trabalhos era que as férias fossem divididas em dois momentos de 15 dias para lhe permitir estudar para as provas da faculdade.
Na Colgate, Javier revolucionou o departamento de pesquisa de mercado, mapeando São Paulo e Rio quarteirão por quarteirão, dividindo-os por classes sócio-econômicas e sorteando as áreas que seriam pesquisadas. Hoje esse procedimento é padrão em qualquer pesquisa de mercado, mas na época era uma novidade que permitia resultados muito mais precisos. Seu excelente trabalho o levou para a Kibon, para a área de desenvolvimento de novos produtos. Entre suas inovações estão o Ki-suco e o chiclete em tiras.
Ele ainda iria ser sócio da Gelato, uma empresa pequena, que conseguiu fazer  concorrência à poderosa Kibon e criou sucessos, como o sorvete Cornetto antes de se tornar sócio da W/Brasil.
Na comparação com a biografia dos sócios, Washington Olivetto parece não ter muitos dramas pessoais, o que não é verdade. O drama passado pelo sócio majoritário da W/Brasil é narrado num dos momentos mais fortes do livro de Fernando Morais. Em dezembro de 2001 ele foi vítima de um seqüestro que duraria 53 dias e mobilizaria toda a opinião pública.
Se nos capítulos anteriores a principal atração do livro é acompanhar a trajetória vitoriosa de Olivetto e a forma como ele criava seus comerciais (era como ver Pelé jogando na sua frente, declarou um cliente, referindo-se aos momentos em que Olivetto propunha idéias para propagandas), na parte final, o livro toma ares de romance policial.
Na toca dos leões não desaponta. Deve agradar principalmente profissionais de marketing, ou estudantes da área. Mas é indicado para qualquer um que goste de boas biografias.

O Museu dos inválidos

 


 Não se engane com o nome. O Museu dos inválidos é um museu militar, um dos mais completos do mundo, tendo desde armaduras e espadas da antiguidade até um míssel da segunda guerra mundial, passando por uma enormidade de armaduras medievais.
O nome se deve ao hospital instalado por Luís XIV para abrigar os soldados feridos em suas muitas guerras. Era também uma hospedaria. Após curados, os soldados poderiam continuar morando ali. Hoje, embora ainda exista o hospital, a maior parte do prédio é destinado ao Museu, chamado de Museu das Armas, mas todos em Paris ainda conhece o local como Museu dos Inválidos.
Nesse local foram enterrados alguns dos grandes militares da França, a exemplo de Napoleão Bonaparte. 


Cavalos também tinham armaduras. 

Um dos primeiros canhões. 

Tanque da I Guerra Mundial. 





Um míssel da II Guerra Mundial é exibido no espaço entre os andares. 


Túmulo de Napoleão. 

A frente do Museu. 
Um capacete e pontas de lanças da antiguidade clássica. 



Há uma quantidade enorme de armaduras no museu. 

As pessoas na Idade Média deviam ser bem pequenas.