domingo, julho 28, 2024

Omac – o exército de um homem só

 



Em 1974, Jack Kirby estava na DC Comics e tinha assinado um contrato que o obrigava a fazer 15 páginas de quadrinhos, escritas, desenhadas e editadas por semana. Um número absolutamente bizarro se considerarmos que a maioria dos desenhistas de quadrinhos faz 22 páginas por mês.

Mas outras revistas que ele estava fazendo, como Etrigan, o demônio, tinham sido descontinuadas em decorrência das baixas vendas. O único personagem que vendia relativamente bem era Kamandi, que se passava num futuro distópico. Assim, os executivos da DC pediram que Kirby pensasse num herói futurista para completar a cota de 15 páginas semanais.

O resultado foi, provavelmente, o melhor trabalho de Kirby para a DC e, provavelmente, um dos melhores quadrinhos já feitos pelo rei.

O quadrinho chamava-se Omac e se passava num futuro distópico. Omac é um operativo de paz que combate ditadores e criminosos.

As situações imaginadas por Kirby mostram o quanto ele era visionário e absolutamente criativo.

O mundo de Omac é um local em que ricos podem conseguir tudo, de alugar uma cidade para dar uma festa (e durante a festa tudo que está dentro da cidade pode ser usado por eles) a comprar corpos jovens para transferir suas consciências.

Kirby imagina uma fábrica de bonecas hiper-realistas. 


A primeira história é incrivelmente visionária. Kirby imaginou uma empresa que fabrica “amigas”, bonecas hiper-realistas para consolar pessoas sozinhas (em outras palavras: bonecas sexuais). A situação gira em torno de pessoas dessa empresa que colocam bombas nessas bonecas afim de cometer assassinatos. Hoje em dia bonecas hiper-realistas são uma realidade e podem ser compradas em sites por valores que variam de 2 a 5 mil reais! As mais avançadas já contam até mesmo com inteligência artificial. Se considerarmos que Kirby fez essa história em meados da década de 70, é incrível o quanto ele conseguia antecipar o futuro.  

Kirby imagina a importância que a água teria no futuro e inventa um vilão que manipula átomos para roubar rios e lagos inteiros.

Os milionários podem tudo, inclusive comprar corpos de jovens para transferir suas consciências.


E, quem diria, Kirby, que lutou na segunda Guerra Mundial, é implacável com figuras de autoridades, em especial as militares. Um dos personagens, assistente de um vilão, é o Major Capacho.

Omac é, provavelmente, o melhor exemplo da mente genial e visionária de Jack Kirby, o homem, que, nas palavras de Alan Moore, era capaz de criar um universo antes do café da manhã.

Pena que a capacidade de Kirby com a escrita não acompanhasse toda essa genialidade. Os diálogos são tão impessoais e sem sabor que muitas vezes um personagem completa a fala do outro. Mas a genialidade das histórias aqui é tão grande que esse defeito passa quase batido.

É surpreendente que esse material estivesse inédito no Brasil até este ano de 2021, quando a Panini publicou as histórias num volume de Lendas do Universo DC.

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