terça-feira, setembro 17, 2024

A louca do sagrado coração – de Jodorowsky e Moebius

 


A louca do sagrado coração, álbum com roteiro de Jodorowsky e desenhos de Moebius, lançado em 2019 pela Veneta, é um daqueles exemplos de HQs que nos surpreendem positivamente.

A história parece apenas uma crítica ácida ao academicismo. Mangel é um professor da Sorbone que carrega ao redor de si uma legião de fãs tão inveterados que todos eles usam roxo, como o mestre, em sinal de concordância com ele.

Mas, se é uma figura eminente, é também um desastre em sua vida pessoal. Sua esposa o troca por outro, depois de oito anos sem atividade sexual, uma vez que ele se transformou em um “monge universitário”. Dono de um controle emocional lendário, ele não sai do sério nem mesmo quando alguns alunos colocam uma réplica de um cervo, com galhos enormes (em referência ao chifre levado por ele). Como sempre, ele responde com citações dos mais diversos filósofos.

Uma das alunas engravida do filósofo acreditando que irá gerar o novo profeta João. 


Essa trama, levemente divertida, com alguns toques de erotimo, não parece sustentar um álbum e de fato não sustenta. A trama começa de fato quando uma aluna decide que ele é a reencarnação do profeta Zacarias, e que deve gerar um novo João Batista. Pior: depois de grávida, ela tem uma visão que coloca um traficante de heroína como o novo São José e a filha de um líder de um cartel de drogas como a Maria que irá gerar o novo Jesus (a nova “Maria” está internada num hospício).

A história foi publicada originalmente em cores. 

Nesse ponto a trama, que parecia lenta, desinteressante e arrastada, torna-se um turbilhão, com reviravoltas se sobrepondo a reviravoltas. Reviravoltas quase surreais, mas que fazem sentido dentro da trama. Nesse ponto é impossível largar a leitura.

Jodorowsky mistura essa trama non-sense isso com crítica social, crítica política, psicologia junguiana e sua visão mística do mundo.

A obra foi originalmente publicada no início da década de 1990, em três partes e colorida. A Veneta preferiu publicar a edição da Les Humanoides Associés, em preto e branco, argumentando que essa opção permite visualizar melhor a arte de Moebius. De fato, em alguns pontos a arte é mais detalhada, mas no geral, é uma arte simples, nitidamente feita para ser aplicada cor. Além disso, o álbum já começa com uma discussão sobre cor, quando uma estudante da Sorbone mostra as roupas íntimas, estimulando outras pessoas a desnudarem os discípulos de Mangel para conferirem se eles de fato usam apenas roupas rouxas.

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