Os roteiristas de Wakanda Forever, Joe Robert Cole e Ryan Coogler (que também é diretor) tinham dois abacaxi para descascar.
O primeiro deles se referia ao próprio protagonista. Chadwick Boseman, que interpretava o personagem, morreu de câncer pouco depois do primeiro filme. E da família real só sobrara sua mãe e sua irmã nerd. Como fazer um segundo filme do Pantera Negra sem o Pantera Negra?
O segundo diz respeito ao desejo da Marvel de introduzir Namor no seu universo cinematográfico.
Namor é um personagem muito mais antigo e muito mais interessante que Aquaman. Enquanto Aquaman pode ser definido, basicamente, como um herói bobinho que fala com peixes (no filme é um herói bobinho bombadinho), Namor oscila entre herói e vilão – alguém de uma ética inabalável para com seu povo, mas, ao mesmo tempo, alguém que quer acabar com o povo da superfície. Aquaman copiou de Namor até mesmo o reino de Atlântida.
Mas acontece que nos cinemas Aquaman veio primeiro – e para a maioria do público, as pessoas que não lêm quadrinhos, Namor seria apenas mais um personagem aquático que reina em Atlântida. Seria uma imitação de Aquaman.
A solução dos roteiristas foi transformar a ausência do Pantera Negra em drama – pela primeira vez em sua história o reino de Wakanda não tem um guardião – e mudar a origem de Namor.
Originalmente a Atlântida de Namor foi construída em cima dos gregos e romanos. Namor é um anagrama de Roma. Para distanciar o personagem de Aquaman, os roteiristas deram a ele uma nova origem, ligada aos povos meso-americanos, e, junto com essa origem, deram também uma motivação para ódio pela humanidade. O novo Namor é descedente de astecas que passaram a viver no mar fugindo da escravidão trazida pelos espanhóis. O ódio do Namor pelo povo da superfície é o ódio de quem ainda se ressente de ver seu povo escravizado por colonizadores. Isso o coloca muito próximo de wakanda, um reino que vem sendo ameaçado por grandes potências, cobiçosas do metal vibranium.
Mas, de possível aliados, os dois reinos acabam se tornando inimigos, criando o conflito que move o filme.
O visual de Namor tem sido muito criticado, mas funciona no filme e faz sentido dentro da perspectiva de que ele é descendente dos astecas – embora talvez haja um exagero de adornos. Kukulkan, a forma como Namor é chamado no filme, era o deus serpente emplumada reverenciada pelos astecas. Ele, portanto, não é um rei, mas um deus – algo, aliás, que pode ser um tiro no pé, pois tira do personagem todas as possíveis tramas palacianas, comuns nos quadrinhos.
No geral é o filme mais adulto da Marvel até o momento, um filme repleto de drama e com personagens dúbios, que oscilam entre sentimentos positivos e negativos. A trama é bem desenvolvida, mas poderia ser mais condensada: o filme tem 2:40 h.
Em tempo: não deixem de assistir a cena pós-crédito. Ao contrário de outros filmes da Marvel, em que as cenas pós-créditos trazem prévias de outros filmes, esta é uma continuação importante da última cena.
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