terça-feira, dezembro 03, 2024

As duas formas de meditação budista

 


No budismo existem duas formas básicas de meditação.

A primeira delas é a Samatha, também chamada de meditação da tranquilidade, ou meditação dirigida. Esse tipo de meditação é focada em algo, sejam sons, mantras, um objeto, um pequeno texto, uma mensagem que pode ser dita antes ou durante a meditação e até frases/desejos a serem repetidas mentalmente. Esse tipo de meditação conduz à calma e à tranquilidade.

A meditação Samatha já existia muito antes do budismo, e o próprio Buda Shakyamuni a praticou diversas vezes sob a orientação de diversos mestres. Com o tempo, no entanto, Buda percebeu que, embora trouxesse felicidade, era uma felicidade momentânea. Além disso, embora meditasse dessa forma continuamente, ele não conseguia alcançar o estado de iluminação/nirvana.

Esse estado só foi alcançado com um novo tipo de meditação, chamado de Samadhi, ou meditação da atenção plena.

Essa meditação é tão importante para a prática budista que mereceu um sutra apenas para ela, o Satiphattana Sutra. “Este é o caminho para a purificação dos seres, para superar a tristeza e a lamentação, para o desaparecimento da dor e da angústia, para alcançar o caminho verdadeiro, para a realização do nirvana”, diz o sutra.

E no que consiste esse tipo de meditação? Essencialmente, ele é um treinamento para que foquemos no aqui agora, no momento presente, de modo que estejamos totalmente conscientes, despertos para o momento presente, vigilantes a tudo que fazemos e pensamos.

Isso foi resumido no famoso verso do Buda Shakiamuni:

“Não corra atrás do passado

Não busques o futuro

O passado passou

O futuro ainda não chegou.

Vê, claramente, diante de ti, o Agora.

Quando o tiveres encontrado,

Viverás o tranquilo e imperturbável estado mental”

Na maioria das vezes vivemos na ignorância da realidade que nos cerca, num mundo de ilusão que nos fazer sermos dominados pelo apego. Como resultado vivemos uma vida de ódio, desespero, negação, lamentação.

“Somente vivendo com plenitude o momento que passa, conscientes de todas as vivências, será possível seguir o conselho de todos os Budas: Evitar o mal, fazer o bem e purificar a mente”, afirmam Georges da Silva e Rita Homenko no livro livro Budismo, psicologia do autoconhecimento.

E como é feita essa meditação?

“Dirigindo-se à floresta, ou à sombra de uma árvore, ou a um local isolado, senta-se com as pernas cruzadas, mantém o corpo ereto estabelecendo a plena atenção à sua frente, inspira com plena atenção justa, expira com atenção justa. Inspirando ele compreende: Inspiração. Expirando ele compreende: expiração”, ensina o Satipattahana Sutra.

Em outras palavras, a meditação é feita com o foco na atenção plena à respiração. Sinta o ar entrando e o ar saindo dos pulmões. Para isso, como ensina o sutra, ajuda muito pensar em marcas mentais, como entrando, saindo ou inspira/expira.

“Quando meditamos, devemos fazê-lo com a mais despreocupada das intenções, com a naturalidade de um descanso à sombra de uma árvore depois de uma longa caminhada. Sem intenções, sem medos nem pressa, ficaremos apenas como observadores da nossa mente e do nosso corpo, sem aversão ou apego à sensações ou pensamentos agradáveis, desagradáveis ou indiferentes que nela apareçam”, explicam Georges da Silva e Rita Homenko.

Ou seja, apenas observamos nossa mente e nossos pensamentos, assim como nosso corpo e nossas sensações, como um expectador no teatro. Com o tempo nos tornamos cada vez mais conscientes com relação a esses pensamentos e sensações.

Buda aconselha atenção aos quatro fundamentos da doutrina da atenção plena: atenção ao corpo (respiração, postura, movimentos); atenção às sensações (agradáveis, desagradáveis, indiferentes); atenção à mente e aos estados mentais (desejo, apego, sono, raiva, tristeza); atenção ao Dharma (a verdade sobre o nosso ser).  

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