domingo, fevereiro 02, 2020

War - histórias de guerra

Sempre fui fã de Eugênio Colonnese, um dos maiores desenhistas da era clássica dos quadrinhos nacionais. Assim, considerei uma honra quando o editor Franco de Rosa, da Opera Graphica, me convidou para reescrever os textos de algumas das histórias de guerra da década de 1960 desenhadas pelo Colonnese. 
Além disso, eu iria escrever uma história inédita dele. “O gato e o rato” se passava na guerra do Iraque e era centrada em um soldado americano, mesclando os acontecimentos presentes com flash backs. 
O desenhista fez a história toda em lápis, sem arte-final em um trabalho espetacular.

sábado, fevereiro 01, 2020

Cosplay é uma arte














Museu dos Beatles em Buenos Aires

Um dos pontos turísticos menos conhecidos, mas mais interessantes é O Museu dos Beatles. Ele reúne a maior coleção sobre o quarteto do mundo. Foi criado por um fã, Rodolfo Valquéz, que tem mais de 8 mil itens sobre o grupo. É simplemente a melhor coleção sobre Beatles do mundo. Além de toda a discografia original, há todo tipo de itens relacionados, desde bonecos e cofrinhos. Cada sala é dedicada a um disco e, além dos itens, há televisões passando clipes, entrevistas, filmes. Uma verdadeira viagem psicodélica e musical e uma ótimo exemplo de como usar bem os recursos audio-visuais. 
No local também fica o Cavern Café e pequenos teatros batizados com nome de cada um dos integrantes da banda.. O Museu fica Centro Cultural Paseo La Plaza, na rua Corriente 1660 (mas a entrada é pela rua de baixo). O ingresso para ver o museu custa algo em torno de 40 reais.  Clique aqui para conhecer o site do museu. 




















A arte fantástica de Carl Barks, o homem dos patos

Carl Barks foi o quadrinista que melhor sintetizou a magia dos quadrinhos Disney, além de ter sido responsável por criar praticamente toda a família Pato. Ao final da vida ele começou a pintar quadros com os personagens que o tornaram famoso entre os fãs. Confira algumas dessas imagens aqui.







Bônus sobre a nota: o jeitinho que acaba com a função do SISU



O SISU foi criado na época do governo do PT com uma proposta bem definida: a ideia era usar a nota do Enem para que estudantes pudessem escolher a universidade que iriam cursar. Assim, ao invés de precisar viajar para fazer vestibular em vários locais, o estudante poderia fazer a prova em sua cidade e depois escolher uma das diversas opções. Era uma opção caríssima, com uma grande estrutura, mas que se justificaficava pelo argumento acima, de dar opções e facilitar a vida dos estudantes.
Entretanto, a proposta original do SISU vem sendo deturpada por diversas leis locais, que garantem bônus de 20% para quem fez integralmente o ensino médio em determinado estado.
Exemplo disso foi a Unifap, que acrescentou 20% sobre a nota de quem fez o ensino médio totalmente no Amapá.
A medida, um jeitinho, foi criada para solucionar um problema ocasionada por outro jeitinho: em 2017 a Unifap deu bônus para alunos maranhenses. O resultado é que cursos mais procurados, como Medicina, foram integralmente ocupados por alunos maranhenses, deixando de fora todos os amapaenses.
Mas a Unifap não foi a única. Várias outras universidades estão dando esse bônus de 20%.
O resultado disso que o SISU se tornou um elefante branco: uma estrutura caríssima que acaba não cumprindo função nenhuma, já que a situação volta a ser como era na época do vestibular. Aliás, até pior. Em cursos mais concorridos, como Medicina, um ponto pode ser a diferença entre quem passa e quem não passa. Imagine 20%. O bônus torna praticamente impossível que pessoas de fora sejam aprovadas.
Mas essa situação cria um problema outro problema: gera uma multidão que nunca será aprovada no vestibular por mais que estudem ou se dediquem: a de estudantes que por necessidade, como mudança dos pais para outro estado, fizeram parte do ensino médio em um local e parte em outro.
Além disso, mais um problema: estudantes de estados que não têm determinado curso ficam impossibilitados de cursar a faculdade em outro estado. 
E, em breve, veremos um outro jeitinho, para contornar o jeitinho: pais que enviam seus filhos para estudar o ensino médio em estados onde a nota média é menor.
O Brasil de fato é o país em que se cria um jeitinho para resolver um problema provocado por um jeitinho.

Roteiro de quadrinhos: a narrativa


Skreemer apresenta flash backs de vários personagens
Falaremos agora de um dos temas mais fáceis de serem percebidos e mais difíceis de serem usados numa história em quadrinhos.
                Falo da narrativa. O que é a narrativa? É a maneira como a história se desenrola. Com isso não quero me referir aos diálogos e ao texto, assuntos de que trataremos mais tarde e que pertencem ao mundo da FORMA.
                O tipo mais evidente de narrativa é a linear. Ou seja, é aquela história com início, meio e fim muito bem delineados.
                Por exemplo: um bando de assaltantes resolve roubar um banco. Eles chegam de carro, rendem o gerente, pegam o dinheiro e fogem. É quando aparece o Super-homem e prende todos os malfeitores. Termina a história com os meninos maus atrás das grades e um texto do tipo: "Viram, meninos? O crime não compensa".
                Esse é o tipo de narrativa mais comum de se encontrar nos quadrinhos clássicos (claro que não me refiro a algumas pérolas do roteiro, tais como Príncipe Valente, Spirit ou Capitão César). É o que chamamos de roteiro linear. Há um início, um meio e um fim bem delineados. E também não há complicações no miolo da história. As coisas se resolvem facilmente.
                Imaginemos, no entanto, que o roteirista queira tornar esse roteiro um pouco mais complexo. Ele pode, por exemplo, focar o Super-homem. O homem de aço está numa reunião no Planeta Diário e percebe que o banco está sendo assaltado. Como sair da reunião sem ser notado? Isso pode criar algumas situações interessantes, que vão tirar a atenção do leitor do assunto principal (no caso, o assalto ao banco).
                Isso é bom? Isso é ótimo! O roteirista deve ser, antes de tudo, um sádico. O leitor está louco para saber se o assalto vai se concretizar e você fica enrolando, mostrando Clark  Kent tentando se transformar no homem de aço. Chama-se a isso suspense. Toda boa história tem algum tipo de suspense, mesmo aquelas que fogem do esquema comercial.
                Mas voltemos à nossa história. Imaginemos que os bandidos estão em dois carros. O pessoal de um carro vê o Super-homem interceptando o outro veículo. Eles estão desesperados e tentam fugir. Mas... o destino e o roteirista são cruéis. O carro não pega. O motorista tenta, mas não consegue fazer o motor funcionar.
                Isso vai introduzir um pouco mais de suspense na história e, como já disse, todo suspense é bem-vindo. Podemos, inclusive, melhorar as coisas. Um dos bandidos sai correndo desesperadamente. Ele está  fugindo agora. Está entrando em becos escuros, está pisando em latas de lixo e pulando cercas. Tudo o que ele queria agora era estar em algum lugar seguro...
                O que acharam? Nossa história melhorou um pouco, hein? Mas, apesar de todo o suspense, ainda é uma história linear. Os acontecimentos se sucedem em perfeita ordem cronológica.
                Voltemos ao nosso amigo. Ele corre, fugindo do Super-homem e, enquanto pisa o lixo, pula as cercas e entra nos becos escuros, vai se lembrando do que aconteceu antes. A história é toda contada do ponto de vista das lembranças do personagem. Chama-se a isso flash back. Flash back é tudo aquilo que é contado, mas que aconteceu antes do tempo real da história. É o principal recurso para tornar a história não linear.
Em Piada Mortal os flash backs seguem uma ordem cronológica

                Existem vários tipos de flash backs. No simples, as lembranças do personagem seguem uma seqüência cronológica. Assim, nosso amigo vai se lembrar de quando seus comparsas estavam planejando o roubo para depois se lembrar do roubo em si. Um exemplo de flash back simples é Piada Mortal, de Alan Moore.
                Mas as memórias não precisam, necessariamente, seguir uma ordem. Pelo contrário, elas podem vir embaralhadas, como cartas de um baralho. 
                Certa vez, eu e Joe Bennett (Bené Nascimento) fizemos uma história em que usávamos esse recurso. Ela começava com o Puritano, o personagem principal, sobre uma clarabóia de vidro. Lá embaixo uma garota estava sendo sacrificada num rito satânico. Ele pula e quebra a clarabóia. O tempo real da história se passa em alguns segundo: é o tempo de chegar ao chão. Toda a trama é contada pelas lembranças, tanto de Puritano quanto da moça.
                Poderíamos, claro, ter mostrado primeiro os flash backs da moça e depois os do Puritano. Mas não. Preferimos embaralhar tudo. As lembranças eram mostradas intercalada e numa ordem não cronológica... Outro exemplo de narrativa não-linear é a história Belzebu, escrita por mim e desenhada por Joe Bennett. A história começa do final, e os fatos do passado são narrados como uma lembrança da personagem. No caso dessa história há também uma interessante estrutura de elipse, pois a história começa e termina com um cachorro morto.
Watchmen e o flash back não cronológico

                Um ótimo exemplo de flash back embaralhado é o capítulo quatro (dois no Brasil) de Watchmen, quando Dr. Manhathan está em marte e começa a lembrar do seu passado.
                Outro ótimo exemplo é a mini-série Skreemer, de Peter Millingan. Lá existem tantos flash backs não cronológicos e de tantos personagens que o colorista optou por usar tons pastéis nas cenas de passado. Isso para não confundir o leitor. O resultado é que cada  releitura de Skreemer nos revela novos detalhes da trama. E, falando em detalhes, aí vai um: o tempo real da trama é de 15 minutos, o tempo que Skreemer está esperando para soltar seus balões infectados.
                Um recurso interessante de narrativa que Alan Moore diz ter emprestado de Gabriel Garcia Marques é contar a história através das narrativas de vários personagens. Só que nenhum deles tem a história completa, de modo que o leitor é obrigado a montar a trama  mentalmente, como se montasse um quebra-cabeça.
                O filme Cidadão Kane, de Orson Wells, mostra uma técnica narrativa semelhante. A história é construída através do depoimento de várias pessoas que conheceram Kane e muitas vezes os mesmos fatos são mostrados de maneiras bem diferentes.
                Há um livro da coleção Perry Rhodan que leva ao extremo essa possiblidade narrativa. Dois agentes que se odeiam são mandados para realizar, juntos, uma missão em um planeta distante. A aventura é contada através do relatório dos dois. Acontece que os dois documentos são absolutamente discordantes. Um fato é mostrado como heróico em um dos relatórios e patético em outro. O resultado é muito divertido de se ler.