terça-feira, novembro 03, 2020

Epicuro: a filosofia do prazer

 


Na Grécia antiga, a filosofia epicurista tentou entender como o homem pode ser feliz

No ano de 306 a.c. o filósofo grego Epicuro, então com 36 anos, abriu sua escola em Atenas. Epicuro comprara para tal uma casa com jardim e, ao invés de trancafiar-se em uma sala com os alunos, preferia ficar ao ar livre, conversando com seus eles. Observadores da época diziam que não parecia um mestre rodeado de alunos, mas sim um grupo de amigos que filosofavam juntos. Aquele sábio simpático e hospitaleiro se debruçou sobre uma pergunta que inquieta o homem há séculos: como podemos ser mais felizes? Sua resposta: através do prazer. Essa filosofia do prazer influenciou diretamente não só a sociedade grega, mas principalmente a romana e chegou a ser deturpada ao ser vista como uma busca irrefletida do prazer carnal. Também teve grande influência sobre a ciência moderna ao estabelecer os alicerces do que seria a teoria atômica.

Vida

Epicuro nasceu em janeiro de 341 a.C, na ilha de Samos. Sua família fazia parte da nobreza falida de Atenas e viajara para Samos na qualidade de colonos. Seu pai, Néocles, era mestre escola e sua mãe, Querestrata, era curandeira e adivinhava o futuro. Ele costumava a ir com a mãe à casa de pessoas doentes para afastar o mau-olhado e curar doenças. Essa experiência infantil lhe deu uma boa ideia das crenças e superstições dos gregos, que ele iria criticar duramente em sua filosofia.
Desde pequeno, Epicuro se destacava pela inteligência e pelo espírito indagador. Aos 14 anos, quando o professor lhe ensinava o verso de Hesíodo segundo o qual no princípio de todas as coisas vieram do caos, ele perguntou: “E o casos, de onde veio?”, O professor, aturdido, não soube o que fazer e respondeu que esse tipo de pergunta deveria ser feita diretamente aos filósofos.
E foi o que Epicuro fez. Estudou vários sistemas filosóficos, entre eles os de Platão e o de Aristóteles, mas sem se deixar influenciar por eles e sem aprofundá-los. Com o tempo, sua inteligência foi reunindo em torno de si um grupo de discípulos que o seguiam como a um mestre e o acompanharam quando ele foi para Atenas. Acredita-se, inclusive, que o dinheiro para comprar o jardim que o tornaria conhecido veio de um aluno.
Epicuro não gostava de trancar-se com seus alunos em uma sala e preferia dar suas lições ao ar livre, razão pela qual sua instituição ficou conhecida como escola do jardim. Também não havia um horário para as aulas, já que a qualquer momento ele podia ser visto lá, ou cuidando das plantas, ou conversando com seus discípulos.
A personalidade de Epicuro foi fundamental para fazer com que o grupo permanecesse unido (tanto que mesmo os inimigos do epicurismo admitiam que a escola nunca teve cisões ou brigas). Segundo relatos da época, o mestre era caridoso com os irmãos, brando para com os escravos e procedia com afeto para com todas as pessoas.
Uma das questões principais que ocupavam o tempo desse grupo de amigos era a felicidade. É compreensível que essa fosse uma preocupação principal numa cidade que já fora gloriosa e que na época vivia em decadência, devastada por guerras.
Uma outra escola, o estoicismo, já se ocupava do mesmo assunto.  Segundo os estóicos, o mundo era governado por um determinismo implacável do qual não se podia fugir e a receita da felicidade estava em aceitar o que a vida nos dava. Uma anedota ajuda a compreender esse ponto de vista. Dizem que Zenão, criador do estoicismo, castigava um escravo por sua falta quando este argumentou que não tinha culpa, pois, segundo a filosofia de seu senhor, ele estava condenado, por toda a eternidade, a cometer aquela falta. Zenão replicou que, da mesma forma, ele estava destinado a bater no escravo.
Epicuro discordaria dessa visão determinística e argumentaria que nós mesmos somos guias de nosso destino, pois podemos formá-lo com nosso raciocínio.


Prazer

Para Epicuro, o segredo da felicidade estava na busca do prazer, pois só o prazer pode levar à felicidade. Mais tarde, em Roma, sua filosofia seria deturpada, configurando-se como uma busca desenfreada de prazer sensual e bebedeiras, também conhecida como hedonismo. Mas, na filosofia de Epicuro, o prazer é configurado como ausência de dor. Aquilo que nos dá prazer momentâneo, mas posteriormente provoca dor, em nós ou em outros, não é o prazer verdadeiro, pois só podemos tirar prazer da paz de espírito, a hedoné .. Exemplo disso é uma bebedeira, que provoca prazer momentâneo, mas depois ocasiona a ressaca.  
Além disso, buscar o prazer não significava ser dominado pelos desejos. Segundo Epicuro, devemos fruir o prazer de cada situação, sem nos preocuparmos com o que não temos. “Não deves corromper o bem presente com o desejo daquilo que não tens; antes deves considerar que aquilo que agora possuis se encontrava no número dos teus desejos”, dizia.
Essa visão do prazer está resumida no programa da escola, que, dizem, era gravado no pórtico de entrada: “Estrangeiro, aqui te encontrarás bem: aqui reside o prazer, o bem supremo. Encontrarás nesta casa um mestre hospitaleiro, humano e gracioso, que te receberá com pão branco e te servirá abundantemente água clara dizendo-te: Não foste bem tratado? Estes jardins não foram feitos para irritar a fome, mas para a apaziguar, não foram feitos para aumentar a sede com a própria bebida, mas para a curar por um remédio natural e que nada custa. Eis aqui a espécie de prazer em que tenho vivido e em que envelheci”.
Epicuro viveu de acordo com essa filosofia, comendo e bebendo sem excessos, tirando grande alegria da conversa com seus discípulos.

Átomos

Um aspecto importante na teoria epicurista e na sua noção de felicidade é a teoria atômística. Epicuro percebeu que um dos aspectos que impedem as pessoas de serem felizes é o medo da morte e dos deuses. Sua experiência infantil com a mãe curadeira havia lhe ensinado como as pessoas temiam a morte, agarrando-se à vida e a superstições.
Epicuro defendia que todas as coisas são feitas de átomos. Os átomos, em número infinito, estão em constante movimento. A junção e o movimento dos átomos é que fazem com que as coisas sem diferentes. Assim, tanto um homem como uma pedra são formados de átomos, mas configurados de forma diferente. Como são eternos, os átomos apenas mudam de lugar e se unem em outros corpos. Pela teoria epicurista, que seria resgatada pela ciência moderna, quando morremos, nossos átomos se espalham pelo universo e se transformam em material para criação de outros organismos.
Como, na teoria epicurista, tanto o corpo quanto a alma são feitos de átomos, não há possibilidade de existência no além, de modo que não há razão para temer a morte, pois aquilo que se dissolveu em suas partes não possui mais sensações. Epicuro dizia que a morte é o fim de todas as sensações e temê-la é bobagem, pois quando nós existimos, a morte não existe e, quando a morte chegar, nós não mais existiremos como pessoa. Seremos apenas átomos sem sensações, que se unirão com outros para formarem outros corpos.
Com a teoria atômica, Epicuro tirou de seus discípulos o medo da morte.
O temor dos deuses também seria destruído pela filosofia do jardim. Epicuro não negava a existência dos deuses, mas para ele, eles eram seres tão perfeitos que não se incomodavam com os humanos. Viviam num estado de total imperturbabilidade, num espaço entre os cosmos. Como seres perfeitos e inatingíveis, eles não recompensavam nem puniam os homens, cujo destino estava nas próprias mãos.
Dessa forma, Epicuro não só tirava o poder das mãos dos sacerdotes, que já não podiam ameaçar os homens com a fúria das divindades, como dava ao homem a responsabilidade sobre seu destino e sua felicidade.
Livre do medo da morte e dos deuses, o epicureu deveria viver uma vida racional, justa e venturosa, não prejudicando os interesses de outros e, principalmente, seguindo as leis.

Mulheres

Enquanto estava vivo, Epicuro ensinou todos os dias, em qualquer horário, recebendo tanto homens quanto mulheres. A forma avançada como as mulheres eram encaradas no epicurismo causou escândalo na sociedade machista moderna, quando a obra do filósofo foi recuperada. De fato, muitas mulheres tiveram papel essencial na difusão do epicurismo. Contrariando costumes da época, até escravos eram admitidos entre os epicuristas.
Mesmo sofrendo uma doença que lhe provocava dores terríveis, Epicuro não se deixava abater e perseverava em sua serenidade. “Durante minhas doenças”, escreveu ele “não falava a ninguém do que sofria no meu miserável corpo; não tinha essa espécie de conversação com aqueles que vinham me visitar: não falava com eles senão daquilo que desempenha na natureza o primeiro papel. Procurava sobretudo fazer-lhes ver que a nossa alma, mesmo sem ser insensível às perturbações da carne, podia no entanto mater-se isenta de cuidados e no gozo pacífico dos bens que lhe são próprios. Mesmo nesse tempo eu vivia tranqüilo e feliz”.
No dia em que morreu, ele escreveu a um amigo: “Este é o último dia de minha vida, ainda assim é um dia feliz”.
Com a morte de Epicuro, seus discípulos se mantiveram unidos e perseverantes em sua doutrina. Essa docilidade tem gerado alguma das principais críticas ao epicurismo. Dizem que lembravam do mestre como um deus e que a filosofia não se aperfeiçoou pelo extremo respeito que tinham pelas palavras do fundador. De fato, mesmo com o tempo, o epicurismo continuou o mesmo.
Poucas escolas filosóficas foram atacadas tão furiosamente. Os principais ataques vinham dos estóicos, provavelmente por inveja, já que os modos austeros de sua doutrina arregimentava poucos adeptos, enquanto que os seguidores do epicurismo aumentavam a olhos vistos. De fato, além da população de forma geral, muitas personalidades adotaram o epicurismo como modo de vida. Em Roma, o poeta Lucrécio ficou famoso ao cantar as ideias de Epicuro em verso e até mesmo o famoso orador Cícero, embora fosse influenciado pelo platonismo, tinha grande respeito pelos epicuristas. Os dois maiores poetas romanos, Virgílio e Horácio foram influenciados pelo epicurismo.
Em todo o mundo helênico, muitos homens e mulheres tornaram-se adeptos do epicurismo. Muitos não entenderam corretamente a filosofia de Epicuro e converteram-na em uma busca desenfreada pelo prazer sexual em meio a bebedeiras. Estes, segundo a maioria dos autores, não eram epicuristas, já que essa licenciosidade fugia da ideia de felicidade epicurista, que era, essencialmente, a paz de espírito.

Influência

A influência epicurista nessa época era tão grande que Diógenes Laércio, ao escrever a biografia dos filósofos, dedicou todo o capítulo 10 a Epicuro.
Entretanto, nem mesmo esse sucesso garantiu que a vasta obra escrita de Epicuro sobrevivesse. A maioria dos escritos se perdeu nos primeiros séculos da era cristã, até por conta da luta entre cristãos e pagãos. O epicurismo sobreviveu graças ao poema Da natureza, de Lucrécio e de trechos citados em outras obras. Diogenes Laércio teve a felicidade de incluir na biografia do filósofo quatro pequenos manuscritos.
Na época do Renascimento esses escritos foram redescobertos, especialmente por causa de Poggio. O trabalho do professor Pierre Gassendi, que usou o atomismo para atacar o cartesianismo, também ajudou a divulgar o epicurismo.
A filosofia epicurista também ganhou um impulso no ocidente da partir do ano 1738, quando foi encontrada a cidade de Herculano, que havia sido soterrada pela erupção do vulcão Vesúvio no ano 79 d.C. Na cidade havia uma biblioteca com vasta obra de Epicuro. A maioria das obras havia sido carbonizada pela lava, mas o pouco que restou causou grande impacto sobre a intelectualidade.
No século 19, a teoria atômica foi definitivamente resgatada e serviu de base para boa parte da física moderna.


Aforismos

A maior parte do pensamento de Epicuro sobreviveu graças aos aforismos, pequenas frases que resumem sua filosofia. Conheça alguns dos aforismos epicuristas.
 “Há também mundos infinitos, ou semelhantes a este ou diferentes. Uma vez que os átomos são infinitos e são levados aos espaços mais distantes, não há nada que impeça a infinidade de mundos.”
“Nem a posse de riquezas, nem a abundância de coisas, nem a obtenção de cargos ou poder produzem a felicidade e a bem-aventurança; produzem-na a ausência de dores, a moderação dos afetos e a disposição de espírito que se mantenha nos limites impostos pela natureza.”
“Se queres enriquecer Pítocles, não lhe acrescentes riquezas: diminui-lhe os desejos.”.
“Encontro-me cheio de prazer corpóreo quando vivo a pão e água e cuspo sobre os prazeres da luxúria, não por si próprios, mas pelos inconvenientes que os acompanham.”
“A quem não basta pouco, nada basta.”
“A justiça não tem existência por si própria, mas sempre se encontra nas relações recíprocas, em que exista um pacto de não produzir ou sofrer dano.”
“As leis não existem para os sábios, mas para impedir que estes recebam injustiça.”
“De todas as coisas que nos oferece a sabedoria para a felicidade de toda a vida, a maior é a aquisição da amizade.”
“O justo é sumamente sereno; o injusto, cheio da maior perturbação.”

Direto da estante: Batman 1a série da Abril

 


Batman sempre foi um dos personagens mais populares da DC Comics. Na editora Abril isso fez com que a revista ganhasse várias versões, zerando as numerações. A primeira série surgiu em 1984 e teve 10 números (acima meus exemplares dessa coleção). Posteriormente, a Abril lançou uma revista mais grossa, Superamigos, e colocou o Batman nela para aumentar as vendas, descontinuando a revista do personagem. O encapuzado só voltaria a ter revista própria em 1987, no rastro do sucesso de Cavaleiro das trevas, de Frank Miller e publicando Batman, ano um, também de Miller. 

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Informação: o universo relacional

 



              No universo relacional, predominam as interações mútuas entre as coisas. Assim, a guerra é aquilo que acaba com a paz. A paz é aquilo que acaba com a guerra.
              No universo classificador a pergunta básica é “O que é isso?”. No relacional a pergunta básica é “Como isso se relaciona com as outras coisas?”.
              As coisas e fenômenos são vistos como parte de um sistema de inter-relações.
              No universo classificador, o gato é definido como um animal mamífero, vertebrado, felídeo etc...
              No universo relacional, o gato é o animal que come o rato.
              Na nossa cultura, a informação relacional tem sido mais valorizada pelos artistas.
              Ao olhar para um gato e uma cadeira, o pintor vê uma relação entre eles: o gato sobre a cadeira pode resultar em uma bela composição.
              O universo relacional pode ser também encontrado em um  passeio descompromissado pela net

              Começo pesquisando Edgar Alan Poe. Em um dos sites encontro que esse autor influenciou o argentino Jorge Luis Borges. Vou à página sobre Borges e encontro a informação de que o autor de O Alpeh era fanático por tigres. Acabo minha pesquisa em uma página sobre tigres (ou posso continuar infinitamente, seguindo o rastro das relações entre as coisas).

O Cabano

 


O Cabano é meu novo personagem e a mais nova atração da revista Mestres do Terror. Ilustrada pelo incrível Juliano Kaapora, a série vai explorar toda a mitologia amazônica. Provavelmente em nenhum lugar do mundo existe uma mitologia tão rica em personagens de horror: Curupira, Cobra Grande, Matinta Pereira... Qualquer pessoa que já tenha entrado na floresta amazônica conhece o clima de mistério e assombramento que caracteriza a atmosfera desse local.

A história se passa logo depois da Cabanagem ter sido derrotada em Belém, o que obrigou os revoltosos a se espalharem pela região, e é focada e um valente guerreiro que se embrenha na mata sendo perseguido pelas forças policiais e, no caminho, se deparada com um mundo de visagens e encantarias. É o mais puro horror misturado à mais pura fantasia numa versão amazônica do gênero espada e magia.

O personagem irá estrear na revista Metres do Terror 75 em agosto do próximo ano. Enquanto isso, fiquem com essa belíssima ilustração do Kaapora (que, não bastasse ser um tremendo desenhista, ainda tem o nome perfeito para a série).

O surgimento da Marvel

Em 1961, uma partida de golfe mudaria a história dos quadrinhos de super-heróis. Os jogadores eram Martin Goodman, da Atlas (atual Marvel) e Jack Liebowitz, da National (atual DC Comics). Liebowitz comentou que a revista da Liga da Justiça, recentemente lançada, era um sucesso entre os leitores.
Goodman despediu-se e foi para a editora, pedir a Stan Lee que criasse uma cópia da Liga para aproveitar aquele interesse dos leitores por heróis clássicos reunidos num grupo.
Acontece que Stan Lee já estava de saco cheio daquilo. Ele se sentia mal, num campo editorial enfraquecido pela concorrência da televisão e perseguido por pais e professores. Além disso, queria fazer algo diferente. Ele tinha algumas idéias em mente, mas tinha medo de apresentá-las. Foi sua esposa que o convenceu que aquela era uma oportunidade de fazer o que queria: ¨Querido, se não der certo, o pior que pode acontecer será Goodman demiti-lo¨.
Então, ao invés de promover uma reunião de personagens clássicos, como Namor e o Capitão América, ele propôs algo completamente diferente. O novo grupo era um quarteto de astronautas que, ao fazer uma viagem espacial, foram bombardeados por raios cósmicos e ganharam incríveis poderes: o Quarteto Fantástico! O grupo era composto por um cientista que conseguia se esticar como elástico, uma moça que podia se tornar invisível, um rapaz que pegava fogo e virava uma tocha humana e um ser grotesco, o Coisa. Esse último personagem foi o mais diferente, e logo cativou os leitores. Até então, os heróis pareciam muito felizes com seus poderes, mas Bem Grimm não. Os raios cósmicos o haviam transformado num monstro de pedra. Inconformado, ele vivia resmungando pelos cantos e comprando brigas com os outros.
Isso era uma novidade: até então os heróis pareciam coroinhas ou escoteiros: todos muito bonzinhos e afáveis. Um herói ranzinza e um grupo que se parecia mais com uma família (inclusive com suas brigas) foi algo que provocou estranhamento, mas logo conquistou os leitores. Além disso, as histórias começaram a apresentar uma cronologia. Até então as histórias eram sempre isoladas e não havia uma continuidade. Nas histórias do Quarteto, se um personagem pegava uma gripe numa história, na história seguinte ele continuaria gripado. Para arrematar, Lee deu a seus heróis um caráter humano que permitia uma identificação dos leitores: os heróis Marvel, a despeito de seus incríveis poderes, eram pessoas normais, que levavam fora das namoradas, sentiam ciúmes, eram esnobados, ficavam doentes... e até morriam.
A revista do Quarteto Fantástico tinha desenhos de Jack Kirby, o rei dos quadrinhos de super-heróis. Seu traço expressionista influenciou praticamente todos os artistas americanos a partir de então e criou as bases do visual dos super-heróis.
Kirby era um mestre épico, das grandes sagas intergaláticas e dos heróis super-poderosos. Já Lee era o mestre do lado humano, dos dramas e comédias da vida normal. Os leitores se identificavam com a humanidade colocada nas histórias por Lee e se projetavam no grandioso, especialidade de Kirby.
Stan Lee era um roteirista e editor querido por todos os artistas. Era um um gente-boa, que dava liberdade criativa para seus artistas e conseguia deles o seu melhor. Ele também usava e abusava da promoção pessoal, colocando em destaque o seu nome e o dos artistas nas páginas das revistas.  Além disso, ele criou o chamado método Marvel de escrever roteiros. Como exercia a função de editor e escrevia diversas revistas, ele não tinha tempo de produzir scripts completos, então fazia apenas um resumo da história e entregava para o desenhista. Este ilustrava, entregando depois para que Lee colocasse os textos e diálogos. Esse aspecto fez com que alguns colocassem em dúvida a verdadeira importância de Stan Lee, mas hoje são poucos os pesquisadores que descartam a relevância desse roteirista para o sucesso da editora que ficou conhecida como ¨A casa das idéias¨.

segunda-feira, novembro 02, 2020

Olympia, de Manet, um dos quadros mais polêmicos de todos os tempos

 


Olympia, de Édouard Manet, é um dos quadros mais polêmicos de todos os tempos. Quando foi exibido pela primeira vez foi considerado um ultraje e provocou a fúria dos conservadores.
A razão disso é a nudez da personagem principal. Sim, sempre existiram obras com nus na história da arte, mas eram de deuses, ninfas, personagens mitológicos.
Giorgione e Ticiano haviam feito pinturas muito parecidas, mas ambas eram protagonizadas pela deusa Vênus. Manet, ao contrário, colocou como personagem de seu quadro uma prostituta, o que foi a origem do escândalo.
O quadro tem vários aspectos simbólicos. Ela traz uma orquídea rosada no cabelo e usa um chinelo solto. A orquídea representa a sexualidade e o chinelo solto simboliza a perda da inocência. Esses indícios e outros adornos, como a gargantilha em forma de laço e o bracelete de ouro a caracterizam como uma cortezã. Ela olha o expectador de frente, em atitude altiva, o que demonstra que ela não se envergonha de sua profissão.
Ao lado dela, totalmente vestida, uma criada negra se inclina, oferecendo um buquê de flores, provavelmente presente de um dos clientes.
Olympia se tornou um ícone da inovação na arte, o que levou a diversas releituras, inclusive de Paul Gauguin.
Atualmente o quadro está exposto no Museu d'Orsay, em Paris.  

Marshal Law

 

Entre os vários artistas que passaram pea revista 2000 AD, dois dos mais anárquicos eram o roteirista Pat Mills e o desenhista Kevin O´Neill.
Em Marshal Law, publicado em 1987 pelo selo Epic da Marvel, os dois mostraram que podiam usar esse espírito para subverter o gênero super-heróis. E o que fizeram lembra muito a hoje famosa série The Boys, da Amazon. Muitos dos principais conceitos, como super-heróis drogados já estava ali.
Na história, um cientista descobre um meio de transformar fetos, dando-lhes poderes. O resultado disso é uma quantidade enorme de superes. Quando explode uma guerra na América do Sul, eles são enviados para ela, e muitos deles retornam completamente malucos.
Imagine veteranos do Vietnã com super-poderes. É por aí.
A coisa se torna ainda pior em São Francisco: um terremoto destrói boa parte da cidade e o local é tomado pelos super-seres, que vêem ali a chance de poderem exercer seus super-poderes para benefício próprio em uma terra sem lei. Para combatê-los surgem policiais especiais, com super-poderes, o mais famoso deles Marshal Law, um homem que se veste com roupas do universo sadomasoquista e que em sua identidade secreta, namora uma garota que considera que os super-heróis, em especial Marshal Law, são fascistas.
Pela sinopse acima dá para perceber o quanto a série virava o universo dos heróis de cabeça para baixo. Mas o quadrinho ia muito além, a começar pelo desenho nada convencional de Kevin O´Neill e as mensagens de fundo, as brincadeiras visuais incluídas por ele na história. Há de tudo: de aviões com Jesus desenhado na lataria a pichações contra pichações.
A minissérie era totalmente subversiva. 


Os exemplos de heróis mostram o quanto duas mentes criativas e dispostas a virar tudo do avesso poderiam ir. Há, por exemplo, Hitler Hernandez, descendente de criminosos nazistas, que se dedica a eliminar índios. Ou O Traidor, um índio branco que considera a traição uma virtude – quando tiveram contato com o evangelho, passaram a idolatrar Judas ao invés de Jesus. Ou O Bode expiatório, que tem dificuldade para sentir sensações e faz de tudo para sentir dor.
Tudo isso é entremeado com uma trama policial: um dos super-heróis está matando mulheres vestidas como a super-heroina Celeste. Marshal Law acredita que o responsável é Espírito Público, um dos primeiros e mais famosos heróis.
Marshal Law poderia ser apenas um quadrinho que subverte o gênero super-heróis. Mas Mills e O´Neil dominam bem a narrativa e fazem um quadrinho gostoso de ler, fluído, divertido pacas.
A história original foi publicada pela Abril em 1991 em uma minissérie em seis partes e uma edição especial. Este ano a Panini publicou um encadernando, juntando as duas histórias.

FUTURO USADO: A Estética Que Mudou A Ficção Científica

Como fazer bolo de cenoura

 


  • 1/2 xícara (chá) de óleo
  • 3 cenouras médias raladas
  • 4 ovos
  • 2 xícaras (chá) de açúcar
  • 2 e 1/2 xícaras (chá) de farinha de trigo
  • 1 colher (sopa) de fermento em pó

Agora que os os outros já foram, o tema real deste post: 

Eu mesmo já cansei de tirar dinheiro do bolso para realizar atividades com meus alunos: desde data-show próprio até xerox e livros de reportagens que compro e levo para emprestar para meus alunos de redação.

Álbum de figurinhas Marvel 80 anos


Este ano a Marvel completa 80 anos. Para comemorar, a Panini lançou um álbum de figurinhas que é, desde já, item de colecionador.

Álbuns de figurinhas de quadrinhos não são novidade. Da Marvel muito menos. Lembro de pelo menos dois. Mas a maioria era apenas ilustrações, a maioria contemporâneas, de personagens da editora. O diferencial deste é que ele é praticamente um documento histórico. Embora de maneira bastante sucinta, os textos contam a história da editora, desde Marvel Comics número 1, que trouxe Namor e Tocha Humana, os primeiros heróis da editora, até os dias atuais, passando por fases pouco conhecidas da editora pelos leitores atuais, como quando a editora se especializou em histórias de terror, monstros, faroeste e até românticas.

Uma das atrações é a reprodução das capas originais.

A grande atração aqui são as reproduções das capas originais em figurinhas com borda metalizada.

Ao final há uma história em quadrinhos com quadros que precisam ser completados com figurinhas com o Capitão América, uma escolha mais do que acertada, já que o personagem foi um dos primeiros sucessos da Marvel e continua relevante até os dias atuais. É um pequeno conto sobre uma garota que ajuda o Capitão e precisa de sua ajuda para convencer sua mãe sobre os rumos de sua vida. Infelizmente a HQ não é creditada.

Ah, o álbum traz também cards desenhados por gente do calibre de Alex Ross e Mike Deodato Jr.

É uma boa oportunidade para apresentar a história da Marvel para as novas gerações. Eu comprei para montar com meu neto.

domingo, novembro 01, 2020

A guerra dos mundos

 


H.G. Wells é um dos fundadores da ficção científica. Alguns dos temas mais caros do gênero surgiram de sua imaginação, assim como algumas das obras mais perturbadoras. Dentre elas, merece destaque A guerra dos mundos, lançado no Brasil pela Suma.
A edição, em capa dura, tem prefácio de Bráulio Tavares, introdução de Brian Aldiss e ilustrações de 1906, de Henrique Alvim Corrêa. Além disso, traz uma entrevista com Wells e Orson Welles, o diretor que comandou a versão radiofônica do livro, tida por muitos como verdadeira e que provocou verdadeiro pânico ao ser transmitida nos EUA, em 1939. Tudo isso fazem dessa uma edição imperdível.
Mas mesmo sem tudo isso, já valeria a pena. Wells não escreveu um simples relato de invasão extraterrestre: ele fez uma obra que nos faz pensar: da denúncia do imperialismo ao futuro da humanidade.
Wells constrói sua obra em capítulos curtos e maneja bem o suspense, viciando o leitor que vira página após página seja para descobrir o destino do protagonista, seja para acompanhar uma explicação sobre os extraterrestres (a maior parte das quais amparada na teoria da evolução). A narrativa de Wells é simples, sem floreios, mas poderosa. A cada frase percebemos que estamos diante de uma mente brilhante.
Como muitas outras obras de ficção ou fantasia, A guerra dos mundos é uma metáfora: neste caso do colonialismo europeu. Os marcianos que lançam seus ataques, destruindo cidades inteiras e matando indiscriminadamente são como os europeus, sedentos por riquezas devastando os países conquistados e reduzindo sua população à escravidão (vale lembrar o domínio da Bélgica sobre o Congo, em que os trabalhadores que não cumpriam sua cota tinham suas mãos cortadas). Para tornar essa metáfora ainda mais poderosa e impactante, Wells faz com que seus marcianos se alimentassem do sangue humano.
O momento em que a invasão de fato ocorre, com os marcianos saindo de suas naves em seus mecanismos tripoides são o grande momento do livro – e o ponto em que o autor mostra o poder de suas palavras: “Ao ver aquelas estranhas, velozes e terríveis criaturas, a multidão à beira do rio pareceu por um momento paralisada de terror. Não houve gritos ou berros, mas silêncio. Em seguida, um murmúrio rouco, um movimento de pés, um jorro d´água”.
Outro grande trunfo é a narrativa em mosaico, em que um acontecimento grande é mostrado através de pequenos fatos. Wells usa esse recurso para humanizar a narrativa, mostrar que são pessoas reais ali, no meio da confusão e da carnificina: na fuga um homem com uma perna enrolada em trapos é ajudado por amigos, um velho com bigode militar sai mancando, depois para, senta-se ao lado de um sifão, tira a bota manchada de sangue, remove uma pedrinha e sai de novo capengando, uma criança grita: “Não consigo continuar, não consigo!”.
Filosofia, ciência, crítica social e uma imaginação poderosa de um homem a frente de seu tempo. O resultado é um clássico absoluto da ficção científica, uma obra que demonstra o quanto o gênero pode ir muito além da simples diversão. 

Heróis da TV 40

 

Publicada em outubro de 1982, a revista Heróis da TV 40 trazia como principal atração a origem de Conan por Roy Thomas e Barry Windor-Smith. Essa história é considerada fraca até mesmo pelos autores, então a editora havia introduzido o personagem com histórias melhores e só depois publicou sua origem com uma capa que não era a original. Conan se tornaria o personagem mais popular dessa fase da Marvel na Abril. Essa edição ficou marcada com uma das melhores capas da revista em todos os tempos.

Jornada nas estrelas – a licença

 


A licença é um dos episódios menos lembrados da primeira geração de Jornada nas Estrelas. Entretanto, é um dos exemplos de como a série criada por Gene Roddenbery podia abordar todo tipo de trama sem fugir do padrão de qualidade.
Na história, McCoy percebe que a tripulação da Enterprise apresenta sinais de stress e aconselha uma licença em um planeta paradisíaco. O local  não tem animais e nenhum tipo de perigo: apenas uma bela vegetação. Parece o planeta ideal para relaxar.
Entretanto, coisas estranhas começam a acontecer ao grupo de reconhecimento e, quando Kirk desce, o teletransporte deixa de funcionar, assim como as comunicações como a nave.
Os fatos bizarros se sucedem: magro vê o coelho e a garota de Alice no país das maravilhas, Sulu encontra um revólver, uma antiga namorada de Kirk surge do nada.
Emily Banks interpretou o par romântico de McCoy. 

Essa é a típica história em que o encanto está em tentar entender o que está acontecendo. É um episódio leve, com toques de humor e um bom contraponto ao tenso episódio anterior, O equilíbrio do terror.
O episódio dá a entender que há algum tipo de envolvimento amoroso entre McCoy e a ordença Barrows (interpretada pela linda Emily Banks), algo que provavelmente foi esquecido por outros escritores da série. Uma pena, já que o casal parecia ter química.

Fundo do baú - Logan´s run / Fuga das estrelas


Logan's run (Fuga do século 23) foi um filme de 1976, dirigido por Michael Anderson, que contava a história de uma cidade futurista governada por robôs, a cidade dos domos, protegida da radiação após uma guerra nucelar. Logan's run conta a história de uma cidade hermeticamente fechada onde as pessoas vivem para o prazer. Mas há um porém. Ao chegarem aos 30, todos precisam ser "renovados". A renovação acontece durante um evento chamado carrossel em que as pessoas, flutuando no ar, são atingidas por raios que supostamente teriam a capacidade de renová-los. Na verdade, as pessoas são mortas para dar lugar a crianças e sua carne é serve de comida para os habitantes dos domos.
Para cada criança que nasce, uma pessoa deve morrer. A estratégia é uma forma de controle populacional imposto pelas máquinas que governam a cidade e convencem os cidadãos de que 30 anos é idade máxima que se pode viver. Logan é um patrulheiro, uma das pessoas que perseguem e matam os que tentam fugir da renovação no carrossel.
Dois habitantes fogem e são perseguidos pelos policiais. Essa distopia fez tanto sucesso  no cinema que os produtores do seriado As panteras resolveram transformar a história em uma série, que no Brasil se chamou Fuga das   estrelas para aproveitar o sucesso de Guerra nas estrelas. O seriado se focava na fuga e tinha um personagem a mais, o androide REM, criado também para aproveitar a popularidade de star wars, mas que criava uma tensão interessante, já que os dois protagonistas estão fugindo de robôs e o possível aliado pode ser um espião.
O seriado, que tinha roteiros de gente como DC Fontana e Harlan Elisson, estava muito além da compreensão do público da época e durou apenas 14 episódios. No Brasil fez um sucesso relativo passando à tarde, na Band. 

Fanzine da Gibiteca de Belém


Fanzine era uma publicação da Gibiteca da Biblioteca Pública Arthur Viana criada por mim no período em que trabalhei lá, entre os anos de 1993 e 1994. Nele publicávamos a programação da Gibiteca (tinha palestras, lançamentos e até cursos), além de histórias em quadrinhos metalinguísticas, sempre sobre um determinado quadrinistas com leves toques de humor – influência de Will Eisner. O roteiro era meu e os desenhos de João Bento. A publicação era impressa em xerox e distribuída entre os usuários. Depois que saí da Gibiteca ainda continuou sendo publicado, mas não sei exatamente por quantos números.

X-men – para salvar a terra selvagem

 


Em 1978, graças à parceria de Chris Claremont no roteiro e John Byrne no desenho, o título dos X-men estavam em plena ascenção em uma escalada constante de qualidade que faria com que a revista se tornasse uma das mais empolgantes do mercado de super-heróis.

Uma representação perfeita desse momento é a saga dos mutantes na Terra Selvagem, uma trama que veio logo depois de outro momento empolgante: o confronto com Magneto. Na história, a fortaleza de Magneto é destruída, Fênix e Fera conseguem escapar graças ao poder da primeira e o restante dos X-men escapam em decorrência da ação conjunta de Ororo e Banshee. Salvos, cada grupo acha que o outro morreu. Essa trama de enganos tornou-se tão emblemática que seria repetida diversas outras vezes no futuro.

Resumo da ópera: Cíclope, Banshee, Noturno, Colossus, Ororo e Wolverine vão parar na Terra selvagem, um ambiente tropical em plena Antártida, e a partir daí é ação pura. Para começar são atacados por um pterodátilo. Depois, Sauron suga o poder de Tempestade e se torna extremamente poderoso a ponto de controlar Wolverine, depois os mutantes precisam enfrentar um deus de pedra que está construindo uma cidade que irá destruir a terra selvagem.

Essa saga demonstrava os motivos pela qual a série era tão revolucionária na época. Para começar, o desenho de Byrne em perfeita sintonia com a arte-final de Terry Austin criava imagens grandiosas, como a primeira visão da terra selvagem ou a splash page em que os heróis estão escalando uma montanha gelada no número 116 ou a splash de Sauron, ameaçador, segurando Ororo pelos cabelos sob o olhar assustado de Cíclope. Além disso, Byrne era ótimo em retratar o grupo, com imagens vistas de baixo para cima dos personagens reagindo a situações chave.

Por outro lado, Chris Claremont conseguia desenvolver os personagens e aprofundar suas personalidades mesmo em plena ação. As motivações dos heróis são muito claras, assim como suas reações aos acontecimentos são totalmente verossímeis e de acordo com a personalidade de cada um. Se Wolverine simplesmente matava sem remorsos (algo totalmente inédito nos comics americanos – nessa época super-heróis não matavam nem morriam), Ororo se sentia depressiva quando não conseguia salvar alguém, mesmo que fosse um vilão.

Essa história foi publicada pela rge no almanaque do Hulk 8 e pela panini no álbum magneto triunfa. A RGE anunciou a história como a “maior aventura dos X-men”. Até aquele momento era mesmo.