quinta-feira, dezembro 08, 2005

Internet e educação


O surgimento da internet tem um impacto fundamental sobre a educação, independente da escola querer isso ou não.
Segundo McLuhan, a forma como o homem se comunica, a tecnologia usada para essa comunicação, molda o pensamento do homem.
Assim, a comunicação na época da aldeia era uma comunicação oral, na qual emissor e receptor estavam em pé de igualdade. O discurso não era unidirecional, mas bidirecional, com dois interlocutores assumiam tanto o papel de emissores quanto de receptores. A comunicação era vinculada à prática. Enquanto ouvia o pai explicar como se pescava, o menino via o pai pescando. Em uma sociedade como essa, a tribo ia até onde podia chegar a voz do seu líder, razão pela qual as comunidades eram pequenas, ligadas quase sempre por laços familiares.
A invenção da escrita mudou tudo. Com a escrita, era possível ao Rei ter controle sobre um amplo domínio e as cidades se tornaram grandes, surgiu a burocracia o discurso começou a se desvincular da prática. A invenção da imprensa, foi outra revolução não só na maneira de se comunicar, mas também na forma de pensar.
O pensamento escolástico da Idade Média deu lugar ao pensamento cartesiano, mais adequado a uma época em que uma grande quantidade de pessoas podia ter acesso fácil a informações que antes eram restritas a um pequeno grupo. A imprensa moldou o pensamento para a linearidade, distanciamento físico entre emissor e receptor, feedback passivo. Também deu ensejo à moda de categorizar as coisas, naquilo que os cibernéticos chamaram de informação classificadora. Da mesma forma que os livros em uma biblioteca, as coisas devem ser classificadas em categorias mutuamente excludentes.
McLuhan alertou, na década de 60, que esse mundo criado por Gutemberg, estava sendo substituído por outro, em que havia uma volta aos tempos de aldeia. Mas não era mais a mesma aldeia, era uma aldeia global.
A aldeia global, que era apenas entrevista na década de 60, é uma realidade hoje, com milhões de pessoas conectadas em tempo real. Anacronicamente, a escola é uma ilha, onde ainda prevalece a Galáxia de Gutemberg, com disciplinas isoladas, conteúdos apresentados de forma linear em que sobra pouco espaço para a imaginação e a curiosidade do aluno. E essa curiosidade vai ser satisfeita na internet, numa leitura de hipertexto com links e mais links que são acessados ao sabor do momento. Assim, se pesquiso sobre Edgar Alan Poe, descubro que esse autor norte-americano influenciou Jorge Luís Borges e logo estou numa página sobre Borges. Em Borges, descubro que uma das obsessões do escritor argentino eram os tigres e logo estou em um texto sobre esses felinos.
Como a escola pode se adaptar a essa situação? Primeiro, é necessário admitir que não é fácil. A grande maioria dos professores ainda não tem sequer e-mail. Iniciativas governamentais de informatização das escolas seria um excelente primeiro passo, inclusive há uma proposta do Ministério da Educação de distribuir notebooks a preços baixos a alunos das escolas públicas.
Entretanto, pouco adianta informatizar escolas e alunos se o paradigma, o modo como visualizamos o mundo, não muda. Não adianta o professor usar computador em suas aulas se ele ainda o faz com a lógica da Galáxia de Gutemberg. Vale lembrar também que tecnologias valem muito pouco sem conteúdo. Infelizmente, a experiência tem demonstrado que mudar paradigmas é muito difícil. Muitos professores irão morrer sem serem capazes de usar as novas tecnologias na sala de aula. Outros se sentirão angustiados diante de alunos que têm informações atualizadas sobre o assunto de sua disciplina. Duas ferramentas interessantes, que podem ser de grande valia para o professor nesse processo são os blogs e as enciclopédias on-line, cujo melhor exemplo é a Wikipédia.

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