OS TIPOS DE ROTEIRO
Se fôssemos dividir os tipos de roteiro, encontraríamos duas modalidades principais. A primeira é aquela que chamamos de roteiro e nos EUA é denominado de full script. A outra é o argumento, ou Marvel Way.
O argumento ou Marvel way
Se fôssemos dividir os tipos de roteiro, encontraríamos duas modalidades principais. A primeira é aquela que chamamos de roteiro e nos EUA é denominado de full script. A outra é o argumento, ou Marvel Way.
O argumento ou Marvel way
Na década de 60 Stan Lee era um cara muito ocupado. Ele escrevia uma série de personagens: Capitão América, Homem-aranha, Homem de ferro, Doutor Estranho, Hulk, Surfista Prateado, Demolidor, Quarteto Fantástico, Os Vingadores e mais algumas bobagens.
Qualquer um que já se aventurou a escrever um roteiro de quadrinhos deve se perguntar: afinal de contas, como ele conseguia escrever tantos títulos e ainda ser editor das revistas?
A resposta é o marvel way, ou argumento. Stan, esperto, não fazia o roteiro descriminando tudo que aconteceria na história. Ele entregava ao desenhista apenas uma sinopse e, depois de desenhada a história, colocava o texto.
O método Stan Lee era algo mais ou menos assim:
O tocha humana foge do Quarteto Fantástico e os outros integrantes começam a procurá-lo pela cidade. Ele, vestido como uma pessoa normal, entra em uma pocilga e lá encontra com Namor, que está desmemoriado. O Tocha joga o coitado no mar e ele recupera a memória e decide se vingar dos humanos convocando um monstro marinho. O Coisa resolve o conflito entrando com uma bomba nuclear dentro do bicho e explodindo-a lá dentro.
Eis o roteiro de uma revista inteira! Não admira que Stan Lee escrevesse tantos títulos...
Atualmente o método Marvel, chamado no Brasil de argumento, evoluiu para algo um pouco mais descritivo. Os roteiristas costumam descrever a ação da página como um todo, mas deixando para o desenhista a escolha sobre quantos quadrinhos usar e como dispô-los na página.
Algo mais ou menos assim:
Página 2
O Coisa, O Doutor Fantástico e a Mulher Invisível saem no Fantasticarro para procurar o Tocha. Sue fica invisível e caminha entre as pessoas. Ela entra em um bar e toma um suco em um bar. Um homem vê e corre assustado.
O leitor deve estar se perguntando quais as vantagens e desvantagens do método Marvel. A primeira vantagem, claro, é que ele permite ao roteirista escrever muitas revistas ao mesmo tempo. E, se o desenhista for muito bom, permite que ele solte sua imaginação.
Mas as desvantagens são maiores.
Se o desenhista não for bom e experiente como era Jack Kirby, o principal parceiro de Stan Lee, ele provavelmente vai estragar a sua história. Vai fazer dela algo tão pavoroso que nem você terá coragem de ler.
Por outro lado, o método Marvel faz com que o estilo do desenhista se sobreponha ao do roteirista. Não é a toa que Jack Kirby dizia ser autor de todas as histórias feitas por ele na Marvel. Afinal, o trabalho duro era todo dele... O roteirista só precisava ter uma idéia básica e depois colocar o texto sobre o desenho já pronto.
Faça uma experiência. Pegue histórias dos X-Men de vários desenhistas, mas todas escritas por Chris Claremont. As histórias desenhadas por John Byrne são completamente diferentes daquelas desenhadas por Bill Sienkiewicz. Parece que são escritas por pessoas diferentes. Fica difícil olhar e dizer: “Esta é uma história do Claremont”. O estilo do roteirista fica apagado diante da estética do desenhista, algo que já não acontece quando se usa um roteiro full script.
Roteiro full script
Nesse caso, o roteirista descreve detalhadamente cada quadro de cada página, inclusive com os textos e os diálogos. O objetivo é passar ao desenhista todas as informações sobre como o roteirista pensa a história e convencê-lo a seguir os passos indicados pelo roteiro (regra básica de um roteiro: nunca seja chato).
Além da descrição objetiva da cena, o full script pode fazer considerações psicológicas sobre os personagens. Sua motivação na cena, por exemplo.
Um full script padrão seria algo mais ou menos assim:
Página 1
Quadro 1 – João está andando na rua de uma grande cidade. Ele é alto, magro e branco. João parece estar triste e algumas pessoas olham para ele, comovidas com seu sofrimento.
Texto: Hoje não foi um bom dia.
João: Preciso melhorar a minha vida!
O full script pode evoluir para um texto “à prova de desenhista”. Isso significa que, independente da qualidade ou do estilo do ilustrador, o resultado será semelhante. Os mestre dos roteiros à prova de desenhista são Alan Moore e Neil Gaiman.
Os roteiros de Moore são tão detalhados que torna-se impossível o desenhista “escorregar”, ou seja, fazer alguma besteira.
Nessa modalidade descreve-se tudo, até a angulação a partir da qual vemos a (de cima para baixo, de lado) e até as roupas dos personagens.
Veja como seria a versão à prova de desenhista, feita pelo roteirista ABS Moraes:
Página 1
Painel 1- Externa, dia, plano geral, altura normal. Em primeiro plano vemos: João,o protagonista da história que aparece neste painel, está andando pelacalçada de uma avenida da cidade grande. Ele é mostrado de frente nesteprimeiro momento pra que o leitor, posteriormente, tenha familiaridadebastante com sua aparência pra reconhecê-lo de imediato. É alto, mas nãotão alto, mais como uma pessoa que ultrapassou um pouco a estatura médiado brasileiro comum, digamos que 1.80 m.; branco, não pálido; magro, massem ossos pronunciados. Background: prédios de escritórios, lojas dedepartamento, lanchonetes e afins podem ser vistos de ambos os lados darua. Carros passam zunindo pela rua em altas velocidades. Pessoas nascalçadas de ambos os lados da rua observam enquanto João passa e nãopodem deixar de se compadecer com o sofrimento e angústia que eledemonstra. Sua expressão deve transmitir os sentimentos acimamencionados, não esqueça.Texto: Hoje não foi um bom dia.João: Preciso melhorar a minha vida!
Como se vê, há uma grande quantidade de detalhes que orientam o desenhista e garantem que ele faça exatamente o que o roteirista pensou para a cena. Isso faz com que o escritor, embora não seja o responsável pelo resultado final, tenha total controle sobre ele.
Como se vê, há uma grande quantidade de detalhes que orientam o desenhista e garantem que ele faça exatamente o que o roteirista pensou para a cena. Isso faz com que o escritor, embora não seja o responsável pelo resultado final, tenha total controle sobre ele.
2 comentários:
Apesar do método Stan Lee favorecer os espertalhões e preguiçosos uma coisa deve ser dita. Os quadrinhos na américa são uma industria, e eles se referem a si mesmos dessa maneira.
Na linha de montagem dessa industria muitas coisas são feitas as pressas.
O Ideal é que os roteiristas e desenhistas tenham algum contato, troquem algumas idéias e estejam em sincronia pra a coisa fluir legal.
Mas na linha de montagem, as pessoas participantes não se encontram e nem se conhecem. Não há cooperação e sim tarefas a serem feitas e isso com certeza compromete a qualidade do trabalho final. A meu ver, o full script é um jeito de burlar isso, dando menos margem ao desenhista a se desviar do assunto.
PORÉM, ouvi de alguns profissionais que alguns roteiristas ABUSAM disso. O roteiro se dá dessa forma :
Pagina 1 , contém vinte quadros.
quadro 1: Uma multidão persegue o herói, pelas ruas de uma grande cidade. Há carros, postes prédios.
Quadro 2: Ele entra em um shopping cheio de gente. ( ênfase nas lojas, tem um Mac donald, Uma lojas americanas, Uma casas Bahia bem claras aparecendo)
Quadro 3: No banheiro ele atravessa portal e chega num país maia com arquitetura diversa. Há um grande prédio em forma de peão. Cercado por outros 20 menores.
Quadro 4:...
Isso levou um segundo pro roteirista escrever , vai demorar uma semana pro desenhista fazer. Acrescente aí detalhes que roteiristas adoram colocar tipo, o terceiro homem da esquerda pra direita manca de uma perna e tem uma barba branca.
Resumindo, ambos os métodos podem ser enganosos. O roteirista pode até se sentir seguro, e pode parecer que houve mais elaboração de trabalho com o full script. Mas eles podem levar um pobre desenhista a loucura. Parece que a palavras preferidas de roteiristas são detalhes, multidões, prédios ( plural reforçado)!
Meu Nome não é Jonnhy
Como desenhista posso dizer que já peguei vários tipos de roteiros (menos aquela bem resumida do stan lee)e tudo depende de cada roteirista e desenhista.
Não faço questão do "estilo inglês" e o argumento de pagina por pagina.
Pra mim o importante é ter uma boa história pra desenhar.
Agora não adianta pegar uma história toda detalhada quadro por quadro e rica em detalhes visuais e for muito pobre no sentido geral da trama, conceito, enredo e narrativa.
Alguns anos recebi um roteiro que mais parecia um livro e ele me disse que ali tinha pra quadrinhos uma base de 48 paginas.
Foi tão bem escrito, que as imagens vinham na minha mente quando eu lia.
Há também o outro lado das limitações de um desenhista.
Alguns não gostam do estilo Moore, pois não tem liberdade pra criar do jeito deles.
E outros não gostam do estilo pagina por pagina, pois não tem criatividade pra cenas sequencias (se podemos chamar assim) e precisam de mais informações pra cada cena.
Procure descobrir o lado forte e fraco de cada desenhista.
Conversem bastante entre si e vejam o que é melhor pra história.
E você desenhista, procure não ficar limitado no que faz.
Procure novos desafios na maneira de contar um boa história.
Nos quadrinhos é importantíssimo ter conhecimento em narrativa.
E independente como escrevam, criem boas histórias.
Porque não existe um "estilo oficial" de escrever quadrinhos.
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