A ABD Amapá divulgou um manifesto intitulado Farinha pouco, meu pirão primeiro, assinado pelos principais realizadores de audio-visual do Estado. Eu assino o manifesto e aproveito para divulgar.
Concordo plenamente com o protesto. É complicado políticos do Amapá conseguirem recursos para realizadores de outros estados e não conseguirem nada para a cultura do Amapá.
Será que vamos ter que sair do Estado para que os parlamentares que representam o Amapá consigam dinheiro para financiar nossos projetos? É a famosa história de "O que é bom vem lá de fora", que já ouvi milhares de vezes (e que não é uma exclusividade do Amapá).
O meu amigo e compadre Bené Nascimento, quando trabalhava para o Brasil, era um desconhecido e não conseguia publicar nas grandes editoras. Aí começou a trabalhar para os EUA, desenhando Homem-aranha, Capitão América, começou a assinar Joe Bennett, e virou estrela. A Editora Abril, por exemplo, o publicou com toda pompa.
O mesmo, pelo jeito, vai ter que acontecer com os realizadores amapaenses: vamos todos ter que trocar de nome, mudar para o sudeste para conseguir recursos públicos amapanenses.
Farinha pouca, meu pirão primeiro
O audiovisual é um forte instrumento de resgate e de acervo de uma realidade histórica e social. É através dele que documentamos a trajetória de um povo e suas conquistas.
O mundo tem muito que conhecer e reconhecer a partir de suas inúmeras possibilidades. E esse nosso gigante lençol verde que é a Amazônia tem uma gama infindável de temas a mostrar. O problema é que o olhar de quem aqui vive e reconhece a importância desses focos nunca é valorizado por quem detém o poder das políticas públicas. Elegemos os nossos representantes e estes elegem outros realizadores para filmar em nosso quintal e levar a pouca verba que também deveria servir aos nossos propósitos documentais. Nada contra esses realizadores. Que bom que eles nos prestigiem mostrando nossa gente e nossas belezas naturais.
O senador José Sarney abre as burras e saca dois milhões, a deputada federal Dalva Figueiredo comparece com trezentos mil e a cineasta Tizuka Yamazaki filma parte de seu longa-metragem Amazônia Caruana lá pros lados do Araguari. Que bom mesmo! Ela trouxe a sua equipe e somente meia-dúzia de gatos pingados daqui irão participar, carregando equipamentos na locação. Quem sabe poderão aprender com eles alguma nesga de suas experiências? Agora, perguntamos: será que isso está certo?
E o nosso pirão? Quem nos dera ter pelo menos um pouco do cuí dessa farinha! Uns poucos e minúsculos bagos, mesmo que fosse a sobra do fundo da saca. Somos nós que trabalhamos por este lugar e elegemos os representantes legais e são outros que levam a saca cheia? Esperamos que a nossa tribo esteja inserida no projeto Tainá III anunciado por seus produtores e pelo Governo do Estado. Tomara que possamos participar do processo e não nos deixem de fora, com nossas bundas ao alcance de suas lentes refinadas e com cara de quem está feliz com essa patuscada oficial.
Um dia, um amigo chegou à conclusão de que a “política é para quem tem coragem”. Aviso aos navegantes: quando nos pintamos para a guerra, nossos irmãos tucujus se vestem dessa mesma coragem. Decência e bom senso é que cobramos nessa batalha. Achamos que, em vez de ignorados, deveríamos ser olhados como o que somos: aliados e principais interessados na batalha pelo audiovisual.
Temos consciência do nosso valor e queremos o diálogo.
Não queremos guerra, mas estamos lutando pelo espaço a que temos direito.
ABDeC / AP
Associação Brasileira de Documentaristas
e Curtametragistas do Amapá
1 comentário:
Tô levando para também divulgar no meu blog
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