sexta-feira, dezembro 31, 2010
Gian Carlo?
Ainda sobre o meu pseudônimo, uma curiosidade. Dia desses minha mãe me contou que meu nome deveria ser Gian Carlo. Mas, nos últimos momentos, ela acabou escolhendo Ivan. Tempos depois, eu escolhi Gian como pseudônimo (em homenagem ao artista barroco Gian Lorenzo Bernini) sem saber que esse era mesmo para ser o meu nome de batismo.
quinta-feira, dezembro 30, 2010
Gian Lorenzo Bernini
Uma pergunta comum é de onde tirei o meu pseudônimo, Gian Danton. Danton vem da revolução francesa, um dos momentos históricos que mais me interessam. E Gian vem de Gian Lorenzo Bernini, talvez o artista mais completo do Barro, da mesma forma que fora Leonardo Da Vinci na Renascença. Na época em que eu procurava um nome para complementar o Danton, encontrei na biblioteca da UFPA um livro sobre ele e me encantei. Abaixo um interessante documentário sobre esse gênio italiano.
quarta-feira, dezembro 29, 2010
Baghavad
Gostaria de apresentar a vocês uma de minhas mais novas produções, a HQ Baghavad, com arte do espetacular Nemo. Coloco aqui apenas uma página, mas você pode conferir o restante da história clicando aqui. Essa história faz parte de uma sequência de quatro HQs sobre o tema humanidade. Além disso, todas têm como título uma obra de literatura, nesse caso, um dos livros mais importantes do hinduismo. A primeira HQ da série foi uma adaptação do livro Coração das Trevas, de Joseph Conrad (que deu origem ao filme Apocalipse Now). Você pode ler Coração das Trevas (com arte de Jean Okada) abaixo. Outra sequência dessa série de contos foi Caninos Brancos, desenhado pelo Guilherme Silveira, que você lê clicando aqui.
terça-feira, dezembro 28, 2010
A incendiária
Acabei de ler A incendiária, livro de Stephen King escrito em 1980.
A trama gira em torno de uma experiência governamental com alucinógenos, que provocam poderes paranormais. Duas das cobaias na experiência acabam se casando e gerando uma menina com o poder de provocar incêndios. A menina e os pais passam a ser monitorados por uma agência governamental chamada A oficina, mas tudo foge ao controle quando a menina vai passar alguns dias na casa de uma amiga e a Oficina acha que os pais estão tentando escondê-la. Após assassinarem a mãe, sequestram a menina, que acaba sendo resgatada pelo pai. Começa então uma perseguição que é o eixo da trama.
Quem está acostumado com os livros mais recentes de King, com uma escrita mais solta, irá estranhar: A incendiária é um livro com narrativa mais técnica, um típico triller de suspense escrito de acordo com a cartilha. Mesmo assim King consegue dar um toque pessoal ao fazer uma narrativa cheia de flash backs e cinematográfica.
O livro virou filme em 1984, dirigido por Mark L. Lester, com Drew Barrymore no papel principal, e é surpreendente que não tenha se tornado um sucesso, já que o texto é quase um roteiro cinematográfico. Em tempo: no Brasil o filme foi lançado como Chamas da Vingnaça.
Em todo caso, embora A incendiária não seja muito parecido com Carrie (e, na comparação, sai perdendo), é um bom livro, que empolga lá pela metade, mas empolga. Para os fãs de quadrinhos e FC, parece um bom episódio de X-men ou de Perry Rhodan na fase em que os mutantes eram mais relevantes. Abaixo, um trailer do filme.
segunda-feira, dezembro 27, 2010
Filmes baseados em obras de Stephen King
Este final de semana assistimos A janela secreta (David Koepp, 2004), ótimo filme estrelado por Jhonny Depp. Um ótimo exemplo de filme carregado nas costas por uma excelente atuação (como Jodie Foster em Plano de Vôo). Minha mulher se espantou ao descobrir que era baseado em um conto de Stephen King.
Para os que, como ela, não costumam ligar o filme à obra original, coloco abaixo uma relação de algumas das melhores adaptações de obras de King.
Carrie, a estranha - Obra-prima de Brian De Palma, um verdadeira aula de cinema. Numa época em que os efeitos especiais estava só engatinhando, o diretor consegue provocar medo apenas com um ótimo uso da linguagem de cinema. Além da memorável cena do sangue de porco caindo em Carrie, atenção para um momento no final: Carrie chega em casa, entra no banheiro para se lavar. Quando abre a porta, sua mãe aparece das trevas.
O iluminado - King nunca gostou dessa versão de Kubrick, especialmente por causa da interpretação de Jack Nicholson, que deixa claro desde o primeiro minuto quem é o vilão da história. Mesmo assim, é uma adaptação fenomenal e um dos melhores filmes de terror de todos os tempos.
Um sonho de liberdade - O diretor predileto de King, Frank Darabont, fez um dos melhores filmes sobre penitenciárias que já assisti, com final surpreendente. Foi um fiasco nos cinemas, mas se tornou um clássico nas locadoras, o que deu a Darabont liberdade para dirigir mais um grande filme baseado em um texto de King: à espera de um milagre.
À espera de um milagre - Mais um ótimo filme de prisão. Um homem negro, enorme, é preso pelo assassinato de duas garotas, mas o policial responsável pelo corredor da morte descobre que ele tem o dom de curar doenças. Na minha opinião, é o melhor texto de King e Darabont não decepciona. Atuação fenomenal de Tom Hanks.
O nevoeiro - outra ótima adaptação de Darabont, sobre um escritor que acaba ficando preso em um supermercado quando um nevoeiro assassino toma conta da cidade. Nem de longe é tão bom quanto os dois filmes anteriores, mesmo assim, é um ótimo filme de terror.
Conta comigo - de Rob Reiner, um dos filmes mais sensíveis baseados em uma obra meio auto-biográfica de King sobre um grupo de garotos que vai atrás do cadáver de um menino. Uma ótima metáfora sobre o processo de amadurecimento de um rapaz e sobre a amizade. Foi um dos campeões da Sessão da tarde nos anos 1990 e muita gente assistiu diversas vezes. Chegou a influenciar seriados como Anos Incríveis e Simpsons, que apresentaram episódios com histórias semelhantes.
1408 - filme de Mikael Hafstrom baseado em um conto de King sobre um escritor cético que, para esccrever um livro, se hospeda em um quarto mal-assombrado e só percebe o que realmente está acontecendo quando é tarde demais. Deu um ótimo filme, com John Cusack dominando a interpretação como Johnny Depp fizera em Janela Secreta. É um belo exemplo de terror psicológico.
Essa é uma pequena relação de algumas das adaptações que mais gostei. Certamente os leitores devem ter outros exemplos, afinal foram mais de 100 filmes baseados em textos de King. Deixe nos comentários suas sugestões para essa lista.
Capa do Prismarte Faroeste
Já foi divulgada a capa do Prismarte especial, apenas com histórias dedicadas ao velho oeste. Além de várias HQs, o especial também um artigo meu sobre o personagem Jonah Hex.
sexta-feira, dezembro 24, 2010
Soldado colorido - Mini Box Lunar
Soldado colorido foi a música que me fez apaixonar pelo Mini Box Lunar, um grupo amapaense com letras e melodias psicodélicas na melhor tradição dos Mutantes.
Assim, surgiu a ideia de fazer um clipe em stop motion como um pequeno clipe. O vídeo foi feito por mim e pelo meu filho, Alexandre Magno.
A ideia era capturar o sentido anárquico e de brincadeira de criança da música com um clipe caseiro e meio tosco. Para isso, resolvemos usar bonecos simples, comprados em importadora. Como não são bonecos próprios para stop motion, foi um desafio animá-los, mas o resultado ficou divertido.
A primeira versão foi feita dentro de casa, o que ocasionou alguns problemas, como diferenças e foco e de luz. Refizemos a sequência principal ao ar livre, o que permitiu um melhor foco e uma luz mais uniforme, mas não gostamos da cor e da própria textura das imagens. No fundo, as fotos feitas dentro de casa, mesmo com seus problemas, transmitiam melhor o clima odílico que pretendíamos.
A linha tênue entre realidade e imaginação sempre foi um dos meus temas prediletos e é também a base desse clipe. Para não perder esse sentido, usamos apenas a primeira parte da música.
Espero que gostem do resultado.
quinta-feira, dezembro 23, 2010
História de Natal
“Imagine there’s no countries
It isn?t hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion too
Imagine all the people
Living life in peace”
Imagine - John Lennon
Estavam em guerra.
Durante anos a humanidade havia percorrido o universo em busca de outras civilizações, em busca da constatação de que não estamos sozinhos. Então encontraram os gafanhotos. Claro, eles não se chamavam gafanhotos. Mas as pernas e os braços compridos, além da pele na forma de couraça davam-lhe o aspecto de gafanhotos e era natural que os humanos os chamassem assim, por analogia.
No começo as relações foram bastante amistosas. Afinal, era a primeira forma de vida inteligente que o homem encontrava em seu caminho pelas estrelas.
Os problemas começaram a ocorrer quando as viagens de turismo ao planeta dos gafanhotos se tornaram freqüentes. Ficou claro, então, que havia séria diferenças culturais. Ocorre que todo o planeta era repleto de pequenos e incômodos insetos. Os turistas humanos usavam contra eles inseticidas e repelentes.
Entretanto, os gafanhotos consideravam os insetos sagrados, pois Deus os criara à Sua imagem e semelhança.
Os teólogos humanos acharam a idéia ridícula. Que tipo de Deus teria a aparência de um inseto? Afinal, a Bíblia deixava claro que Deus criara o homem à Sua imagem e semelhança. A religião dos gafanhotos foi considerada uma heresia.
O que era uma simples diferença teológica tornou-se um problema diplomático quando os gafanhotos começaram a matar humanos acusados de exterminar insetos.
Foi o início da guerra.
José lembrava-se de tudo isso enquanto olhava o céu repleto de estrelas. Uma estrela cadente fez com que ele atentasse para a data. Eram 24 de dezembro. Véspera de natal. Estavam tão preocupados com inimigo que nem ao menos haviam percebido.
O rapaz tentou lembrar o capitão, mas não conseguiu. Estavam todos ocupados demais com os preparativos para a batalha. Dizia-se que os gafanhotos preparavam um ataque surpresa e a ordem era contra-atacar com todas as forças.
José encostou a cabeça na parede da trincheira e dormiu. O cheiro de excrementos e dos cadáveres era tão forte que dominou seus sonhos. Acordou com um outro soldado empurrando-o.
- Acorde! O ataque vai começar!
José olhou para o relógio. Eram quase meia-noite.
De repente veio a ordem. O sargento berrava como um louco e empurrava os soldados para fora da trincheira.
- Atacar!
José avançou com os outros. Uma bomba explodiu, levantando uma densa cortina de fumaça e pó que desorientava os soldados.
Mísseis silvavam no ar, luminosos e terríveis, prestes a cair no campo de batalha. Eram máquinas de morte, ceifadora de vidas, incapazes de distinguir um amigo de um inimigo.
Mas não caíram. Algo aconteceu antes. Explodiram no ar, formando belos desenhos de luz. O som cessou. O barulho incessante das metralhadoras cessou. A respiração ofegante dos guerreiros. Tudo parou. Até mesmo o tempo. Uma forte luz branca tomou conta do campo de batalha, parecendo vir de todos os lugares e de lugar nenhum.
Então surgiu um menino. Surgiu no céu, e todos os olhares de voltaram para ele. Enquanto falava, os soldados largavam as armas e choravam.
- Hoje não haverá mortes. Não haverá guerras em meu nome. Nada de armas, sangue ou gritos de desespero. Paz. Apenas paz.
Do outro lado aconteceu algo semelhante, mas o que apareceu para os gafanhotos não foi um menino. Foi um inseto. Um ser de pernas e braços compridos e pele em forma de couraça. Ele falou com eles, da mesma forma que o menino falou com os humanos.
Depois disso inimigos se abraçaram.
O campo desapareceu e junto com ele os mortos, os ratos, as doenças e o cheiro pestilento. Humanos e gafanhotos não conseguiam entender porque estavam brigando antes e isso não interessava.
No dia seguinte o rádio guinchou dos dois lados, proferindo ordens de morte. Ninguém atendeu. E nem atenderia. Afinal, era natal...
Um Natal de Perry Rhodan
O Dio, do fã-clube de Perry Rhodan, deixou para mim um cartão de Natal com um dos personagens da série: o rato-castor Gucky. Obrigado.
Mais um cartão de Natal
Agora de autoria do Cerito, do blog Mensagens do Hiperespaço. O Cerito é uma das grandes figuras da ficção científica nacional. e vale a pena conhecer o blog dele.
O belicista e o pacifista
O Delgado publicou em seu blog um interessante artigo comparando os dois mais importantes autores da série Perry Rhodan: K. H. Scheer e William Voltz. Scheer era da juventude hitlerista, serviu na II Guerra Mundial e imprimiu um ar militarista à série. Já Voltz era um pacifista que se recusou a prestar serviço militar. No entanto, os dois contribuiram para elaborar a mitologia dessa que é a mais importante série de FC do mundo. Vale conferir.
quarta-feira, dezembro 22, 2010
terça-feira, dezembro 21, 2010
Editora tailandesa divulga resumos de seus livros em senhas de espera
A editora tailandesa A Book está usando o tempo de espera dos seusconsumidores em potencial para vender seus títulos. A empresa iniciou uma campanha que atinge esse público enquanto ele está ocioso aguardando em filas e salas de espera.
A primeira inovação foi inserir resumos dos seus livros mais recentes nas senhas que as pessoas precisam pegar para serem atendidas. A empresa fez o mesmo com jogos americanos de restaurantes, que têm forma de um livro aberto e resumos das obras. Leia mais
A primeira inovação foi inserir resumos dos seus livros mais recentes nas senhas que as pessoas precisam pegar para serem atendidas. A empresa fez o mesmo com jogos americanos de restaurantes, que têm forma de um livro aberto e resumos das obras. Leia mais
segunda-feira, dezembro 20, 2010
O gabinete do Dr. Caligari
Recentemente, o grupo DOMO lançou em banca a coleção de DVDs Clássicos do Terror. No primeiro número, tivemos duas obras-primas do expressionismo alemão: Nosferatu, uma sinfonia de horror e O Gabinete do Dr. Caligari.
Pouco conhecido no Brasil, O Gabinete do Dr. Caligari é uma das mais importantes obras do cinema mundial. Antes dele, o cinema era diversão das classes pobres, algo a ser totalmente ignorado pelas camadas mais intelectualizadas da população. Ao definir uma nova relação entre o cinema comercial e as vanguardas artísticas, Caligari chamou atenção de todos aqueles que até então desprezavam essa nova linguagem. Para a Alemanha, a importância foi ainda maior. Depois da I Guerra Mundial, o cinema germânico enfrentava um bloqueio cultural das outras nações. Foi Caligari que rompeu esse bloqueio e abriu caminho para grandes cineastas, como Fritz Lang conquistarem fama internacional.
A origem do filme foi o roteiro escrito por Hans Janowitz e Carl Mayer. Janowitz nasceu em Podebrand, Boêmia, em 1890 e passou a infância em praga. Talento precoce, ele era escritor e crítico de teatro. Muito cedo travou conhecimento com o expressionismo, colaborando com a revista Arkadia, de Max Brod. Em 1914 ele alistou-se como voluntário no exército, chegando ao posto de capitão. Mas essa experiência só contribuiu para lhe insuflar uma feroz aversão à guerra. Em 1918 foi apresentado por um amigo de infância a Carl Mayer. Este era filho de um homem rico que perdera toda a fortuna no jogo e despejou os filhos na rua, com uma pequena quantia.
Quando a guerra eclodiu, Mayer começou uma batalha com o psiquiatra do exército, pois não queria lutar numa guerra que considerava criminalmente insana. Para não lutar, ele argumentava que era mentalmente desarranjado. Mesmo assim, o psicólogo tentou de todas as formas levá-lo a lutar. Mesmo sendo dispensado por causa de uma lesão no pé, a má experiência o marcou profundamente. O psiquiatra representava a pressão autoritária que era aplicada sobre os jovens alemães e serviria de modelo para Caligari.
Pouco conhecido no Brasil, O Gabinete do Dr. Caligari é uma das mais importantes obras do cinema mundial. Antes dele, o cinema era diversão das classes pobres, algo a ser totalmente ignorado pelas camadas mais intelectualizadas da população. Ao definir uma nova relação entre o cinema comercial e as vanguardas artísticas, Caligari chamou atenção de todos aqueles que até então desprezavam essa nova linguagem. Para a Alemanha, a importância foi ainda maior. Depois da I Guerra Mundial, o cinema germânico enfrentava um bloqueio cultural das outras nações. Foi Caligari que rompeu esse bloqueio e abriu caminho para grandes cineastas, como Fritz Lang conquistarem fama internacional.
A origem do filme foi o roteiro escrito por Hans Janowitz e Carl Mayer. Janowitz nasceu em Podebrand, Boêmia, em 1890 e passou a infância em praga. Talento precoce, ele era escritor e crítico de teatro. Muito cedo travou conhecimento com o expressionismo, colaborando com a revista Arkadia, de Max Brod. Em 1914 ele alistou-se como voluntário no exército, chegando ao posto de capitão. Mas essa experiência só contribuiu para lhe insuflar uma feroz aversão à guerra. Em 1918 foi apresentado por um amigo de infância a Carl Mayer. Este era filho de um homem rico que perdera toda a fortuna no jogo e despejou os filhos na rua, com uma pequena quantia.
Quando a guerra eclodiu, Mayer começou uma batalha com o psiquiatra do exército, pois não queria lutar numa guerra que considerava criminalmente insana. Para não lutar, ele argumentava que era mentalmente desarranjado. Mesmo assim, o psicólogo tentou de todas as formas levá-lo a lutar. Mesmo sendo dispensado por causa de uma lesão no pé, a má experiência o marcou profundamente. O psiquiatra representava a pressão autoritária que era aplicada sobre os jovens alemães e serviria de modelo para Caligari.
Em 1918, Mayer apresentou Janowitz à atriz Gilda Langer, que serviria de inspiração para personagem Jane. Gilda sugeriu que os dois trabalhassem juntos num roteiro cinematográfico, que seria estrelado por ela. Na mesma época eles consultaram uma cartomante que predisse que Janowitz voltaria vivo da guerra, mas que Gilda morreria. As duas previsões se realizaram, mais um acontecimento que teria influência sobre a elaboração do roteiro de Caligari.
Os dois escritores começaram a trabalhar no texto em 1918. A história partiria de duas premissas: 1) a atmosfera de mistério de Praga, cidade em que Janowitz cresceu; 2) um incidente que este observara em uma feira.
O roteirista estava em uma feira em Holstenwal quando viu uma jovem muito bonita e se apaixonou por ela, seguindo-a. Quando ela entrou num bosque, ele acabou perdendo-a de vista, mas não antes de ver que ela era seguida por um burguês. No dia seguinte, leu no jornal que a jovem havia sido morta. Ao comparecer ao seu enterro, viu o burguês escondendo-se atrás de uma coluna. Quando o viu, o homem fugiu. Era o assassino. O personagem Cesare teria sido inspirado num espetáculo assistido em Berlin pela dupla, no qual um homem hipnotizado demonstrava extrema força e fazia previsões sobre o futuro de pessoas da platéia.
Esses dois eventos montaram a espinha dorsal do texto. Mas faltava um nome para o vilão da história. Este surgiu das páginas de um livro raro de Stendhal, no qual ele afirmava ter conhecido um oficial italiano de nome Caligari.
O roteiro contava a história de um hipnotizador, Caligari, que comete vários crimes usando para isso o sonâmbulo Cesare. Mas Cesare apaixona-se por uma de suas vítimas, Jane, e morre por conta disso. No final, descobria-se que Caligari era o diretor de um hospital psiquiátrico, revelando-se assim a face ditatorial e perniciosa da autoridade.
Os dois tinham pressa de vender o roteiro, pois estavam sem dinheiro. A situação era tão ruim que eles tiveram de empenhar suas cigarreiras de prata para poder comer.
Por intermédio do cineasta Fritz Lang, Janowitz conhecera Erich Pommer, chefe de produção da produtora independente Decla Bioscop. Janowitz e Mayer bateram à sua porta e resistiram a todas as tentativas que este fez para se livrar deles. Como não teve êxito, Pommer pediu que eles deixassem o roteiro com ele. Os dois recusaram, insistindo para que o texto fosse lido ali mesmo, por Mayer.
Pommer ficou tão impressionado que decidiu assinar um contrato na hora. Os dois roteiristas tinham decidido que o preço seria 10 mil marcos, mas acabaram aceitando quatro mil. Os dois estavam entusiasmados com as qualidades estéticas da história, mas o produtor ficou mais interessado no fato de que a produção seria barata e chamaria atenção por seu ar gótico.
Fritz Lang (Metropolis) foi o primeiro diretor escalado para o projeto, e, de fato, chegou a trabalhar numa segunda versão do roteiro, mas logo precisou abandonar o Caligari para se dedicar à segunda parte de seu seriado Die Spinnen. Robert Wiene, cujo roteiro para Satanás, deMurnau, já havia demonstrado uma predileção para o fantástico, assumiu a direção.
Se por um lado o produtor via em Caligari uma produção barata com grande chance de se tornar um sucesso, por outro incomodava-se com o fato do filme ser uma denúncia da autoridade. Assim, ele encomendou uma mudança no roteiro. A solução encontrada foi colocar uma moldura, na qual o personagem Francis (namorado de Jane) aparece contando a história para um homem. No final do filme, voltamos à moldura e se revela que o narrador na verdade é um louco. Essa mudança foi feita por Fritz Lang, pouco antes deste abandonar o projeto. Os roteiristas não gostaram da alteração, que exaltava quem deveria denunciar (a autoridade, simbolizada por Caligari) e condenava o seu antagonista como um demente. Eles protestaram abertamente e chegaram a orientar seus advogados a tomar as medidas cabíveis.
Essa moldura é um dos aspectos mais discutidos e criticados emCaligari.
O historiador Kracauer, no livro De Caligari a Hitler, afirmou que ela deformou completamente o sentido do roteiro. Mas muitos autores chamaram a atenção para o fato de que os cenários deformados, símbolos da loucura, não voltam ao normal ao se revelar que Francis é louco. Falha da produção ou não, o fato é que isso dá abertura para outras leituras, entre elas a de que Caligari é, de fato, um tirano. Além disso, a moldura, ao invés de acomodar a o espectador, incomoda-o, pois este perde a principal referência de uma história, o fato do narrador estar contando uma história verdadeira. Em uma história, o narrador é a autoridade em quem se deve acreditar e o narrador louco de Caligariperturba as certezas do receptor. Nesse sentido, a moldura é absolutamente revolucionária ao mostrar uma realidade imaginária. É surpreendente que, em 1919, ainda na aurora da criação da linguagem cinematográfica, um filme mostrasse não um mundo objetivo, mas uma realidade subjetiva. Além disso, o roteiro inovava ao apresentar pelo menos duas estratégias narrativas totalmente inovadoras. A moldura apresenta um insert imaginativo que só se tornou comum muito recentemente. Além disso, mesmo sem a moldura, o filme apresenta umflashback, na cena em que vemos a chegada de Cesare ao hospital e a alegria de Caligari ao recebê-lo. Essa junção de estratégias narrativas cria uma história que foge completamente da narrativa cinematográfica da época.
Tal estratégia revolucionária só poderia acontecer em um filme expressionista e, nesse sentido, a atuação dos atores, cenários e até as roupas são essenciais. Esses elementos em conjunto fizeram com que o filme se transformasse numa pintura expressionista em movimento.
Os cenários pintados em pano e madeira criavam um clima onírico de pesadelo, colocando em prática a ideia expressionista de ultrapassar os limites de realidade, tornando-se expressão pura da subjetividade psicológica e emocional.
Depois do sucesso do filme, todos quiseram ser autores da proposta, até mesmo o produtor, que, segundo a maioria dos relatos, havia sido contra os cenários pintados. Janowitz sempre afirmou que os cenários expressionistas faziam parte da proposta do filme desde o roteiro. Outros creditam a ideia dos cenários ao diretor, e outros, finalmente, ao cenarista-chefe da Decla, Herman Warm.
A quantidade de supostos pais mostra a importância do cenário para esse filme clássico e uma mudança de paradigma: até então os cenários eram apenas um enfeite sem importância narrativa. Caligari mostrou que os cenários eram parte da linguagem do cinema e podiam ser usados para ajudar a contar a história.
Outro fator que salta aos olhos de um observador mais atento é a interpretação expressionista dos atores, em especial dos personagens principais, Caligari (Werner Krauss) e Cesare (Conrad Veidt). Os dois já tinham aparecido no palco juntos no drama expressionista Seeschlacht, dirigido por Reinhard Goering.
Quando chegou para o primeiro dia de filmagem, Krauss se reuniu com os atores e disse: "Temos de usar outra maquiagem. Olhem os cenários!". Assim, ele pediu ao maquiador que fizesse uma linha grossa debaixo de cada olho.
Havia uma loja na cidade, num porão, onde vendiam roupas velhas. Krauss comprou um cobre-nuca e uma cartola, além de uma bengala com punho de marfim, tudo fora de moda e estranho.
Tal estratégia revolucionária só poderia acontecer em um filme expressionista e, nesse sentido, a atuação dos atores, cenários e até as roupas são essenciais. Esses elementos em conjunto fizeram com que o filme se transformasse numa pintura expressionista em movimento.
Os cenários pintados em pano e madeira criavam um clima onírico de pesadelo, colocando em prática a ideia expressionista de ultrapassar os limites de realidade, tornando-se expressão pura da subjetividade psicológica e emocional.
Depois do sucesso do filme, todos quiseram ser autores da proposta, até mesmo o produtor, que, segundo a maioria dos relatos, havia sido contra os cenários pintados. Janowitz sempre afirmou que os cenários expressionistas faziam parte da proposta do filme desde o roteiro. Outros creditam a ideia dos cenários ao diretor, e outros, finalmente, ao cenarista-chefe da Decla, Herman Warm.
A quantidade de supostos pais mostra a importância do cenário para esse filme clássico e uma mudança de paradigma: até então os cenários eram apenas um enfeite sem importância narrativa. Caligari mostrou que os cenários eram parte da linguagem do cinema e podiam ser usados para ajudar a contar a história.
Outro fator que salta aos olhos de um observador mais atento é a interpretação expressionista dos atores, em especial dos personagens principais, Caligari (Werner Krauss) e Cesare (Conrad Veidt). Os dois já tinham aparecido no palco juntos no drama expressionista Seeschlacht, dirigido por Reinhard Goering.
Quando chegou para o primeiro dia de filmagem, Krauss se reuniu com os atores e disse: "Temos de usar outra maquiagem. Olhem os cenários!". Assim, ele pediu ao maquiador que fizesse uma linha grossa debaixo de cada olho.
Havia uma loja na cidade, num porão, onde vendiam roupas velhas. Krauss comprou um cobre-nuca e uma cartola, além de uma bengala com punho de marfim, tudo fora de moda e estranho.
Os papéis secundários também revelam detalhes expressionistas, como o secretário da Câmara Municipal em seu tamborete alto, ou os guardas que se movimentam sempre em estranha simetria. Os criados de Jane, ao acordar com seus gritos na cena em que ela é raptada por Cesare, também revelam uma perfeita sincronização, acordando e levantando ao mesmo tempo (um detalhe curioso é que as camas dos dois não estão paralelas, mas inclinadas uma na direção da outra, de forma a destacar o efeito estranho).
Mesmo os personagens mais "certinhos", como Alan (Hans-Heinz Von Twardowski) e Francis (Friedrich Feher) revelam aspectos curiosos de interpretação. Twardowski interpretou seu personagem com rosto estranho e atormentando e Feher fazia movimentos amplos e angulares.
A influência de Caligari pode ser vista até o dias de hoje, em filmes como os de Tim Burton e nas histórias em quadrinhos de terror.
domingo, dezembro 19, 2010
As montanhas da lua
Uma vez eu e Bené Nascimento (Joe Bennett) conversávamos sobre cinema e ele defendia que, num bom filme de aventura, era impossível aprofundar os personagens. Para provar o contrário, eu citei o filme As Montanhas da Lua, de Bob Rafelson.
O filme conta a história de Richard Burton e sua busca da fonte do Nilo, uma das descobertas científicas mais importantes do século XIX. O filme é uma grande aventura, mas o ponto alto é a relação de Burton com John Speke, que oscila entre a amizade e a inimizade, passando por uma possível relação homossexual, apenas insinuada.
Bob Rafelson foi um dos diretores que abriram caminho para a geração anos 70, que revolucionou Hollywood e a escolha do tema e do protagonista certamente não foi por acaso. Hippie, Rafelson devia se sentir entre os executivos da indústria como o revolucionário Burton na sociedade vitoriana.
Diplomata, explorador, espião, escritor e tradutor Burton foi responsável, por exemplo, por uma polêmica tradução das Mil e uma noites (com notas de rodapé sobre sexo) outro da Kama Sutra, que escandalizou a sociedade da época.
Ou seja: é um personagem que por si só vale um filme. Feito por um grande diretor como Rafelson, torna-se obrigatório.
A propósito, sobre aquela discussão, o Bené acabou concordando comigo: É possível sim fazer um grande filme de aventura e aprofundar os personagens.
O filme conta a história de Richard Burton e sua busca da fonte do Nilo, uma das descobertas científicas mais importantes do século XIX. O filme é uma grande aventura, mas o ponto alto é a relação de Burton com John Speke, que oscila entre a amizade e a inimizade, passando por uma possível relação homossexual, apenas insinuada.
Bob Rafelson foi um dos diretores que abriram caminho para a geração anos 70, que revolucionou Hollywood e a escolha do tema e do protagonista certamente não foi por acaso. Hippie, Rafelson devia se sentir entre os executivos da indústria como o revolucionário Burton na sociedade vitoriana.
Diplomata, explorador, espião, escritor e tradutor Burton foi responsável, por exemplo, por uma polêmica tradução das Mil e uma noites (com notas de rodapé sobre sexo) outro da Kama Sutra, que escandalizou a sociedade da época.
Ou seja: é um personagem que por si só vale um filme. Feito por um grande diretor como Rafelson, torna-se obrigatório.
A propósito, sobre aquela discussão, o Bené acabou concordando comigo: É possível sim fazer um grande filme de aventura e aprofundar os personagens.
sábado, dezembro 18, 2010
Deleuze e Cinema- Palestra de Herbert Emanuel
Herbert Emanuel, integrante do PIUM FILMES, é palestrante da última semana do FIM (Festival Imagem-Movimento). Hoje, a partir das 19h30min, o poeta e professor de Filosofia explanará sobre as múltiplas relações da Filosofia Deleuziana com a Sétima Arte. Imperdível!
Posthuman Tantra
O amigo Edgar Franco está fazendo um tour de apresentações por universidades e eventos acadêmicos de sua performance Posthuman Tantra, com grande sucesso.
Edgar é autor da teoria de que a humanidade estará cada vez mais inserida na tecnologia, seja com próteses avançadas ou a transferência de consciência para o meio virtual. Essa teoria foi a base da minha novela O Anjo da morte, escrita anos antes de Matrix e que acabou antecipando esse filme.
Abaixo, um pequeno resumo enviado pelo Edgar:
Depois de uma recente apresentação bem sucedida no 9º Encontro Internacional de Arte e Tecnologia que aconteceu no Museu Nacional em Brasília, o Posthuman Tantra se apresentou em 2 outros eventos.
O 16º Goiânia Noise Festival, um dos festivais independentes mais importantes do país que este ano contou com atrações do calibre de John Ulhoa (Pato Fu), Musica Diablo ( banda de Derrick Green do Sepultura), Otto, Cólera, Krisiun, The Mummies, Macaco Bong & Gilberto Gil. Além dos habituais vídeos e efeitos em realidade aumentada coordenados pelos VJs Gabriel Lyra e Luciana Hidemi, a apresentação do Posthuman Tantra contou com a participação de dois performers convidados, Thaís Oliveira e Flávio Takeshi, que criaram uma performance exclusiva para o evento.
Depois da apresentação no Goiânia Noise, o Posthuman Tantra seguiu para o nordeste, onde se apresentou no evento "10 Dimensões da Arte e Tecnologia", organizado pela UFRN, UFPB e IFRN, com patrocínio da CAPES e MINC - Programa Pró-cultura. A performance aconteceu na Universidade Federal da Paraíba em João Pessoa.
Com essas apresentações o Posthuman Tantra reafirma a singularidade de sua proposta através de seu trânsito entre o universo da música independente - se apresentando em festivais alternativos, e o mundo acadêmico -marcando presença em eventos organizados por Universidades e programas de pós-graduação em arte.
Os dilemas da globallização
A globalização é um dos temas mais importantes e controversos da atualidade. Aplaudida por alguns e criticada por outros, ela é um fenômeno complexo que, se por um lado, rompe as fronteiras, por outro, estimula o ultra-nacionalismo; se por um lado cria padrões de beleza, por outro lado permite a emergência de pessoas e fatos que fogem do padrão.
O conceito surgiu na década de 1960, fruto das reflexões de Marshall McLuhan. O filósofo percebeu que o mundo estava se transformando numa espécie de aldeia em decorrência do desenvolvimento dos meios de comunicação de massa.
Segundo McLuhan, a aldeia é um agrupamento de pessoas limitado pelo alcance da voz do líder. Os fatos importantes eram sabidos imediatamente e havia um grande envolvimento com eles, já que geralmente tratavam de pessoas conhecidas.
O desenvolvimento das mídias audiovisuais estavam criando condições para que todo o mundo se transformasse numa aldeia, já que o discurso de um líder poderia ser ouvido e visto não só em um país, mas no mundo todo.
Por outro lado, a TV e as canções populares estavam devolvendo às pessoas o envolvimento com os fatos. Os protestos, nos EUA, contra a guerra do Vietnã são exemplo disso. A imagem, de forte carga simbólica, da jovem hippie colocando uma flor no cano do rifle do soldado que fora reprimir a manifestação pacifista é uma metáfora do novo mundo em que problemas locais (como a guerra em um pequeno país da Ásia) estavam se tornando cada vez mais globais.
O conceito, inaugurado por McLuhan, foi resgatado pelos economistas da década de 1980 no que ficou conhecida como globalização.
Trata-se de uma visão econômica e administrativa em que as empresas funcionam em rede, com as sedes servindo à matriz e a matriz servindo às sedes.
O lema dessa estratégia administrativa foi resumida no neologismo "glocal": pensar globalmente e agir localmente. Dois princípios básicos nortearam essa estratégia: a padronização e a segmentação por interesses.
A padronização é uma forma de aproveitar a economia de escala. Exemplo disso foram os personagens de quadrinhos, agora migrando para o cinema. O Super-Hombre do México e o Super-Homem do Brasil passam a ser chamados de Superman, o que economiza na produção de material publicitário e fortalece a marca.
Essa padronização se reflete no consumo e até mesmo na questão estética.
Pessoas, no Brasil, Índia e China usam as mesmas roupas, tomam Coca-Cola e comem no McDonald's . E a maioria delas tem os mesmos ídolos, lançados pela indústria da moda e cinema, que divulgam um padrão estético de mulheres magras, de pele branca sem defeitos.
O outro ponto é o da segmentação. Antigamente, o elemento mais importante na hora de segmentar um público era sua proximidade geográfica. Hoje, esse fator é pouco importante diante do crescimento da segmentação psicográfica. Os consumidores são vistos como grupos de interesses. As pessoas preocupadas com saúde consomem Activia em São Paulo, Macapá ou Curitiba e são alvos das mesmas estratégias de marketing.
Nessa nova realidade, ser cidadão é equivalente a ser consumidor. Ter liberdade significa ser livre para escolher seu produto predileto.
O dinheiro no mundo global é migrante, saindo rapidamente de um local onde os lucros tornaram-se baixos na direção de maiores lucros.
Esse conjunto de fatores cria um novo tipo de imperialismo. Se até a década de 1970 o colonialismo cultural era no sentido Norte-sul (como EUA-América Latina), hoje ele se dá muitas vezes de forma regional, com centros de produção audiovisual, como São Paulo, impondo suas culturas a locais periféricos. Até mesmo a cultura dos locais periféricos deve ser mostrada do ponto de vista das sedes. Essa situação foi denunciada no Amapá em 2009 pelo movimento Farinha pouca, meu pirão primeiro, que protestava contra a transferência de recursos para que cineastas do eixo Rio-São Paulo viessem filmar no Amapá, sendo que o Estado não conta nem mesmo com um edital de incentivo à produção local.
O sociólogo Armand Martellart resumiu essa situação na frase: "o sul encontrou seus nortes e o norte encontrou seus suis".
Mas a globalização é um fenômeno complexo. Se por um lado ela impõe uma padronização cultural, por outro lado ela permite a emergência de culturas locais e de fatos que não se encaixam no padrão estabelecido. O recente sucesso de Susan Boyle é um exemplo disso. Outro exemplo é o recente interesse pela cultura do Afeganistão e sucesso de livros como O caçador de pipas. As mesmas mídias que permitem a padronização, dão voz a protestos anti-globalização e anti-consumo, como o grupo Adbusters, que faz protestos e ridiculariza anúncios mostrando o vazio e o perigo da lógica do consumo sem controle.
Num mundo em que tudo interessa a todos, os protestos são globais. Na época da guerra do Iraque, a Coca-Cola e o McDonald's, símbolos máximos dos EUA e da globalização, foram alvos de manifestações, algumas violentas, por parte de pessoas que discordavam da guerra.
Nessa aldeia global, até mesmo o trabalho rompe as fronteiras. O brasileiro Carlos Saldanha dirigindo desenhos animados de sucesso nos EUA é exemplo disso, mas talvez a melhor metáfora do novo tipo de trabalho seja o paraense Bené Nascimento, que, morando na cidade nova, na região metropolitana de Belém, desenha alguns dos mais importantes heróis da DC, em especial da Liga da Justiça.
Mas se permite a emergência de artistas locais se destacando na produção cultural mundial, como nos casos acima, a mesma realidade cria uma legião de trabalhadores genéricos importantes no conjunto, mas descartáveis individualmente. Para esses, sobram baixos salários e exploração. A fábrica chinesa responsável pela produção do iPhone, por exemplo, já registrou 10 tentativas de suicídio apenas este ano.
Se, por um lado, a globalização acaba com as fronteiras entre os países, por outro lado ela estimula o nacionalismo, como tem acontecido na Bolívia e na Venezuela. Curiosamente, esse novo tipo de nacionalismo muitas vezes usa os mecanismos da comunicação global, como o fez o comandante Marcos no México na década de 1990. Sintomático o fato do presidente Hugo Chaves, da Venezuela, ter criado uma conta no Twitter.
Texto originalmente publicado no Digestivo Cultural
O conceito surgiu na década de 1960, fruto das reflexões de Marshall McLuhan. O filósofo percebeu que o mundo estava se transformando numa espécie de aldeia em decorrência do desenvolvimento dos meios de comunicação de massa.
Segundo McLuhan, a aldeia é um agrupamento de pessoas limitado pelo alcance da voz do líder. Os fatos importantes eram sabidos imediatamente e havia um grande envolvimento com eles, já que geralmente tratavam de pessoas conhecidas.
O desenvolvimento das mídias audiovisuais estavam criando condições para que todo o mundo se transformasse numa aldeia, já que o discurso de um líder poderia ser ouvido e visto não só em um país, mas no mundo todo.
Por outro lado, a TV e as canções populares estavam devolvendo às pessoas o envolvimento com os fatos. Os protestos, nos EUA, contra a guerra do Vietnã são exemplo disso. A imagem, de forte carga simbólica, da jovem hippie colocando uma flor no cano do rifle do soldado que fora reprimir a manifestação pacifista é uma metáfora do novo mundo em que problemas locais (como a guerra em um pequeno país da Ásia) estavam se tornando cada vez mais globais.
O conceito, inaugurado por McLuhan, foi resgatado pelos economistas da década de 1980 no que ficou conhecida como globalização.
Trata-se de uma visão econômica e administrativa em que as empresas funcionam em rede, com as sedes servindo à matriz e a matriz servindo às sedes.
O lema dessa estratégia administrativa foi resumida no neologismo "glocal": pensar globalmente e agir localmente. Dois princípios básicos nortearam essa estratégia: a padronização e a segmentação por interesses.
A padronização é uma forma de aproveitar a economia de escala. Exemplo disso foram os personagens de quadrinhos, agora migrando para o cinema. O Super-Hombre do México e o Super-Homem do Brasil passam a ser chamados de Superman, o que economiza na produção de material publicitário e fortalece a marca.
Essa padronização se reflete no consumo e até mesmo na questão estética.
Pessoas, no Brasil, Índia e China usam as mesmas roupas, tomam Coca-Cola e comem no McDonald's . E a maioria delas tem os mesmos ídolos, lançados pela indústria da moda e cinema, que divulgam um padrão estético de mulheres magras, de pele branca sem defeitos.
O outro ponto é o da segmentação. Antigamente, o elemento mais importante na hora de segmentar um público era sua proximidade geográfica. Hoje, esse fator é pouco importante diante do crescimento da segmentação psicográfica. Os consumidores são vistos como grupos de interesses. As pessoas preocupadas com saúde consomem Activia em São Paulo, Macapá ou Curitiba e são alvos das mesmas estratégias de marketing.
Nessa nova realidade, ser cidadão é equivalente a ser consumidor. Ter liberdade significa ser livre para escolher seu produto predileto.
O dinheiro no mundo global é migrante, saindo rapidamente de um local onde os lucros tornaram-se baixos na direção de maiores lucros.
Esse conjunto de fatores cria um novo tipo de imperialismo. Se até a década de 1970 o colonialismo cultural era no sentido Norte-sul (como EUA-América Latina), hoje ele se dá muitas vezes de forma regional, com centros de produção audiovisual, como São Paulo, impondo suas culturas a locais periféricos. Até mesmo a cultura dos locais periféricos deve ser mostrada do ponto de vista das sedes. Essa situação foi denunciada no Amapá em 2009 pelo movimento Farinha pouca, meu pirão primeiro, que protestava contra a transferência de recursos para que cineastas do eixo Rio-São Paulo viessem filmar no Amapá, sendo que o Estado não conta nem mesmo com um edital de incentivo à produção local.
O sociólogo Armand Martellart resumiu essa situação na frase: "o sul encontrou seus nortes e o norte encontrou seus suis".
Mas a globalização é um fenômeno complexo. Se por um lado ela impõe uma padronização cultural, por outro lado ela permite a emergência de culturas locais e de fatos que não se encaixam no padrão estabelecido. O recente sucesso de Susan Boyle é um exemplo disso. Outro exemplo é o recente interesse pela cultura do Afeganistão e sucesso de livros como O caçador de pipas. As mesmas mídias que permitem a padronização, dão voz a protestos anti-globalização e anti-consumo, como o grupo Adbusters, que faz protestos e ridiculariza anúncios mostrando o vazio e o perigo da lógica do consumo sem controle.
Num mundo em que tudo interessa a todos, os protestos são globais. Na época da guerra do Iraque, a Coca-Cola e o McDonald's, símbolos máximos dos EUA e da globalização, foram alvos de manifestações, algumas violentas, por parte de pessoas que discordavam da guerra.
Nessa aldeia global, até mesmo o trabalho rompe as fronteiras. O brasileiro Carlos Saldanha dirigindo desenhos animados de sucesso nos EUA é exemplo disso, mas talvez a melhor metáfora do novo tipo de trabalho seja o paraense Bené Nascimento, que, morando na cidade nova, na região metropolitana de Belém, desenha alguns dos mais importantes heróis da DC, em especial da Liga da Justiça.
Mas se permite a emergência de artistas locais se destacando na produção cultural mundial, como nos casos acima, a mesma realidade cria uma legião de trabalhadores genéricos importantes no conjunto, mas descartáveis individualmente. Para esses, sobram baixos salários e exploração. A fábrica chinesa responsável pela produção do iPhone, por exemplo, já registrou 10 tentativas de suicídio apenas este ano.
Se, por um lado, a globalização acaba com as fronteiras entre os países, por outro lado ela estimula o nacionalismo, como tem acontecido na Bolívia e na Venezuela. Curiosamente, esse novo tipo de nacionalismo muitas vezes usa os mecanismos da comunicação global, como o fez o comandante Marcos no México na década de 1990. Sintomático o fato do presidente Hugo Chaves, da Venezuela, ter criado uma conta no Twitter.
Texto originalmente publicado no Digestivo Cultural
sexta-feira, dezembro 17, 2010
Novo livro sobre roteiro de histórias em quadrinhos à venda em Macapá
Meu livro O roteiro nas histórias em quadrinhos já está à venda. Para quem mora em Macapá, dá para encontrar nas livrarias Transa Amazônica e Amapaense. E é bom correr, pois, por enquanto, são poucos exemplares e as vendas têm sido boas.
Devir lança novo livro de Jorge Luiz Calife
Jorge Luiz Calife ascendeu ao mapa da ficção científica mundial com o agradecimento
de Arthur C. Clarke às suas sugestões para a continuação de 2001: Uma Odisséia no
Espaço, tornadas concretas com o romance 2010: Uma Odisséia no Espaço II:
“Agradeço ao Sr. Jorge Luiz Calife, do Rio de Janeiro, por uma carta que me fez pensar
seriamente numa possível continuação [de 2001: Uma Odisséia no Espaço].”
Isso abriu as portas também para que ele fosse publicado no Brasil com os três romances
da trilogia “Padrões de Contato”, composta de Padrões de Contato, Horizonte de Eventos e
Linha Terminal, relançados pela Devir em um único volume em 2009.
Calife apresenta agora um novo romance deste universo ficcional: Angela entre dois
Mundos. Escrito ainda antes da trilogia original, o livro nos apresenta o começo da saga
humana que se expandirá galáxia afora, conduzida pela superinteligência da Tríade, e a
partir da perspectiva da bela e imortal Angela Duncan, a escolhida para nos servir de guia
por uma jornada rumo ao desconhecido. É uma aventura de ficção científica hard vibrante e
movimentada que pode ser lida por si mesma, de forma independente.
Título: Angela entre dois Mundos
Autor: Jorge Luiz Calife
Editora: Devir Livraria
Arte de capa: Vagner Vargas
Número de páginas: 214
Formato: 14 x 21 cm
de Arthur C. Clarke às suas sugestões para a continuação de 2001: Uma Odisséia no
Espaço, tornadas concretas com o romance 2010: Uma Odisséia no Espaço II:
“Agradeço ao Sr. Jorge Luiz Calife, do Rio de Janeiro, por uma carta que me fez pensar
seriamente numa possível continuação [de 2001: Uma Odisséia no Espaço].”
Isso abriu as portas também para que ele fosse publicado no Brasil com os três romances
da trilogia “Padrões de Contato”, composta de Padrões de Contato, Horizonte de Eventos e
Linha Terminal, relançados pela Devir em um único volume em 2009.
Calife apresenta agora um novo romance deste universo ficcional: Angela entre dois
Mundos. Escrito ainda antes da trilogia original, o livro nos apresenta o começo da saga
humana que se expandirá galáxia afora, conduzida pela superinteligência da Tríade, e a
partir da perspectiva da bela e imortal Angela Duncan, a escolhida para nos servir de guia
por uma jornada rumo ao desconhecido. É uma aventura de ficção científica hard vibrante e
movimentada que pode ser lida por si mesma, de forma independente.
Título: Angela entre dois Mundos
Autor: Jorge Luiz Calife
Editora: Devir Livraria
Arte de capa: Vagner Vargas
Número de páginas: 214
Formato: 14 x 21 cm
Coletânea Olympus
A editora Literata também está abrindo vagas para a coletânea Olympus, com histórias sobre mitologia grega. Para saber mais informações, clique aqui.
Coletânea Os infiltrados - espiões fantásticos
A editora Literata está aceitando contos para a coletânea Os infiltrados - espiões fantásticos. Para maiores informações, clique aqui.
Aurora
Assisti Aurora, o filme clássico de F.W. Murnau (de Nosferatu) com roteiro de Carl Mayer (Caligari). À primeira vista trata-se de um filme muito bem dirigido, com roteiro óbvio: uma mulher da cidade convence um ingênuo rapaz do interior a matar a esposa e fugir com ela para a metrópole. E a trama parece girar em torno da indecisão do homem de cumprir o que prometeu. O que segura é a direção, absolutamente revolucionária para a época, que deve ter um injetado criatividade expressionista alemã no cinema americano. Numa cena, por exemplo, o protagonista é atormentado pela imagem da mulher sedutora, um espectro que inclusive o abraça (num efeito especial impressionante para a época).
Entretanto, perto do final, o filme apresenta uma virada que transforma a história, tirando dela seu ar ingênuo e introduzindo suspense. Valeu a pena ter ido até o final.
Entretanto, perto do final, o filme apresenta uma virada que transforma a história, tirando dela seu ar ingênuo e introduzindo suspense. Valeu a pena ter ido até o final.
segunda-feira, dezembro 13, 2010
Erros de Marketing
Uma boa dica para quem curte publicidade é o blog Erros de Marketing, que traz os erros cometidos pelas agências (como na propaganda da Skol em que é dia no Ocidente e no Oriente). Uma das curiosidades é essa campanha da D´Uomo, que sugere pedofilia. A dica foi do Diniz Sena.
MSP Novos 50 - divulgados os nomes
O blog Liberdade de Expressão divulgou a lista dos artistas selecionados para o MSP Novos 50. A lista surpreende pela qualidade. Impressionante que depois de dois álbuns ainda tenha tanta gente boa por aí. O novo álbum reúne desde nomes consagrados, como Mike Deodato, até outros relativamente novos, como Carlos Ruas. Para conferir a lista, clique aqui.
FIM - Festival da Imagem em Movimento - programação detalhada
Os organizadores divulgaram a programação detalhadada do VII FIM. Hoje tem Mostra da Escola de Cinema de Cuba. Confira abaixo. Na sexta-feira tem um filme meu (O céu é curitibano) e um do meu filho (A trapaça).
18-19.12 (sábado-domingo):
13.12 (segunda)
Mostra da Escola de Cinema de Cuba 19H30MIN
(auditório do MIS – segundo piso do Teatro das Bacabeiras)
- Chiquera – Portugal;
- Yo no te puedo llamar – Cuba;
- La piedra del pensamento – Puerto Rico
- Naturaleza henry – Chile;
- Un día – Argentina;
- El pan nuestro - Cuba;
- El gato y el martillo – Puerto Rico;
- El Almuerzo - Puerto Rico;
- La plaga de La cereza – Mexico;
- El Bombillo – Colombia;
- La Marea – Cuba;
- La tarea - Perú;
- El silbido del dia - Puerto rico
- Mentiras de blanco – Cuba;
- El Parapeto – Cuba;
- Corazón - Reino Unido;
- Antihéroe – España;
- Memoria de los peces - Porto Rico e Honduras;
- Terra incógnita – Brasil;
- Los minutos, lãs horas - Brasil;
- Experimental: Ceiling lights – Alemanha;
14. 12 (terça):
Abertura do VII FIM 2010 19-23H;
- Cortejo da Imagem, 18h, (Concentração no Teletubes, chegada no Teatro das Bacabeiras);
- Abertura da exposição Cartum em cartaz, 20H, (Hall do Teatro das Bacabeiras);
- Mostra FIM , 21H, (no auditório do MIS, Teatro das Bacabeiras)
FILMES:
01 - É nóis, subindo a ladeira – 2010 - 20min;
02 - Ilha do Jacó – 2010 - 13min;
03 - Cláudia – 2010 – 76min;
04 - Em uma noite escura, as rosas são amarelas – 2010 – 23min;
05 - No baque – 2010 – 4 min;
06 - O inventariante – 2010 – 4 min;
07 - Reset – 2009 - 3 min;
08 - Doc grito – 2010 - 5min
09 - Em espelhos: aqui 2010 – 8min
15.12 (quarta):
Mostra Acervo FIM nos Bairros 15-18H;
- Pedrinhas
FILMES:
10 - A onda, festa na pororoca;
11 - Menino Urubu;
12 - O rapto do peixe boi;
13 - Meu tempo menino;
14 - Mostra DIA infantil;
Mostra Primeiros Olhares 16-18H30MIN
(auditório do MIS – segundo piso do Teatro das Bacabeiras)
15 - Serra do Navio, a cidade por trás do mito – 2010 – 8 min;
16 - Paixão Misteriosa – 2010 – 7 min;
17 - Maria vai com as outras – 2010 – 6 min;
18 - Pés com tatos – 2010 – 7 min;
19 - Voltas – 2010 – 7 min;
20 - Pontos de Vista – 2010 – 3 min;
21 - Extensão aquática – 2010 – 6 min;
22 - Biopirataria – 2010 – 6 min;
23 - Coragem e Determinação – 2010 – 5 min;
24 – Deu a louca no boto rosa – 2010 – 10 min
25 - Realidade Cruel – 2010 - 15 min
26 - Curta a vida, não curta as drogas – 2010 – 10min
Mostra FIM 2010 – 19-22H
(auditório do MIS – segundo piso do Teatro das Bacabeiras)
FILMES:
27 - Paredes Pintadas – 2010 – 74min;
28 - Fractais Sertanejos – 2009 – 19 min;
29 - Caça Palavra – 2009 – 20 min;
30 - O filho – 2010 – 17 min;
31 - Vôo em volta 2010 – 1 min
32 - ARANCELES – 2009 – 15 min
16.12 (quinta)
Mostra FIM 2010 – 19-22H
Muralhas da Fortaleza (lado da entrada)
FILMES:
33 - Navegantes do Velho Chico – 2010 – 15 min;
34 - Leônia: uma cidade invisível – 2009 – 14 min;
35 - A morta – 2010 – 14 min;
36 - Urbano – 2010 – 4 min;
37 - Amor puro e simplesmente – 2010 – 4 min;
38 - Cordel – 2009 – 3 min;
17.12 (sexta)
Palestra 18H-19H30MIN
Tema: Vídeo-arte, com Cristiana Nogueira (UNIFAP)
(auditório do MIS – segundo piso do Teatro das Bacabeiras)
Mostra FIM 2010 20-23H
(auditório do MIS – segundo piso do Teatro das Bacabeiras)
FILMES:
39 - Cinema Vale dos sonhos – 2010 – 73 min;
40 - A cultura do repente – 2010 – 15 min;
41 - A chave da Maré – 2010 – 15min;
42 – Me dá um abraço – 2010 – 14 min
(Conversa com o Roteirista e Diretor, Regis Cavaleiro)
43- A trapaça – 2010 - 2 min;
44 - O céu curitibano – 2009 – 4 min;
45 - Teu Canto de Praia – 2010 – 60 min;
46 - A saga de um corno – 2010 – 12 min;
18-19.12 (sábado-domingo):
Palestra 02 - 19-20H30MIN
Tema: Deleuze e o Cinema, com Herbert Emanuel (UEAP), no Auditório da Fortaleza
Mostra Acervo FIM no Pacoval
Virada Audiovisual, 22H
A Festa do FIM, Arena Paint Ball
O FIM acaba quando vem a luz!
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