quinta-feira, dezembro 26, 2013

O homem que inventou o Natal

A imagem que se tem hoje do Natal é nitidamente influenciada pelas histórias de Charles Dickens, em especial nos contos "Os Carrilhões" e "Canção de Natal". 

"Canção de Natal" foi adaptado para todas as mídias possíveis, a exemplo do filme com Jim Carrey no papel principal. Era a história de um homem avaro que, visitado por três fantasmas na noite de Natal - um do passado, outro do presente e um do futuro - acaba descobrindo que o sentido da vida não se limita ao dinheiro. Este conto de terror é um hino sobre o verdadeiro significado do Natal.

A influência dessa história pode ser sentida até nos quadrinhos Disney: o Tio Patinhas é uma versão do personagem. Seu nome em inglês é McScrooge, uma referencia direta ao protagonista de "Canção de Natal". 

Em "Os Carrilhões", um pobre homem de recados é fascinado pelos sinos da igreja (os carrilhões do título) e sente como se eles o estimulassem a continuar vivendo apesar da pobreza e das dificuldades que ele e a filha enfrentam. No período de Natal, ele deixa de acreditar nos sinos e se desespera. Mas serão os sinos que irão lhe mostrar como seria a vida de todos os outros caso ele morresse. Dickens, um cristão convicto, deixa sua mensagem: até o mais humilde dos homens é importante nesse mundo.

O conto, embora não seja creditado, nitidamente serviu de base para "A Felicidade não se Compra", filme de Frank Capra que se tornou símbolo do Natal. Durante anos era uma das atrações obrigatórias na televisão na época das festas. Seu enredo: um homem afundado em dívidas pensa em se matar, mas um anjo lhe mostra que a vida de toda uma cidade estaria muito pior sem ele. Só esses dois exemplos mostram o quanto a obra de Dickens povoou o imaginário ocidental. 

Antes de se tornar um dos maiores escritores ingleses de todos os tempos, Dickens teve uma infância pobre. Seu pai foi preso por dívidas e ele experimentou na pele todas as dificuldades do período da Revolução Industrial na Inglaterra, uma época em que poucas famílias faziam fortuna à custa da miséria de milhões de pessoas, que viviam em condições sub-humanas, trabalhando até 14 horas por dia em troca de um salário que mal dava para a alimentação. 

O rapaz conseguiu sair da miséria graças à sua verve humorística. Depois de ser explorado num trabalho em que sua função era pregar adesivos em latas de graxa, Dickens tentou estudar, mas a péssima condição financeira de sua família o levou a abandonar a escola. Para tentar ganhar um pouco mais de dinheiro, o futuro escritor aprendeu estenografia e passou a trabalhar para o jornal True Sun anotando as reuniões parlamentares e campanhas eleitorais. Era um trabalho difícil, muitas vezes chato, e que o obrigava a viajar pelas cidades do interior e muitas vezes ficar sem comer. Mas Dickens compensava isso anotando casos pitorescos e divertidos. 

Um dia ele tomou coragem e enviou uma crônica humorística anônima ao Monthly Magazine. O texto não só foi publicado, como foi lido com avidez e mostrou que o autor tinha talento. O sucesso fez com que ele escrevesse uma série de outras crônicas para o jornal londrino mais popular da época, o Morning Chronicle. Foi quando um famoso desenhista propôs realizar uma série de desenhos humorísticos satirizando a política local. Os editores lembraram de Dickens para escrever as legendas, mas este propôs que fosse feito o oposto: que os desenhos ilustrassem seus textos. O resultado foi "As Aventuras de Mister Pickwick", uma série que despertou pouco interesse no início, mas virou febre quando Dickens introduziu na história o criado de Pickwick, Samuel Weller. O sucesso é total e representa uma virada na carreira profissional de Dickens.

Contudo, os anos de pobreza permearam quase todo o seu trabalho posterior. "Oliver Twist", um dos seus primeiros sucessos, conta a história de um pobre órfão explorado e maltratado por aquelas pessoas que deveriam cuidar de sua proteção. Emblemática a cena em que ele, no asilo, é sorteado pelas crianças para pedir um pouco mais de comida. O cozinheiro toma o pedido como um desacato, uma insubordinação, pois significa que os cálculos das autoridades sobre quanto cada criança deveria comer estava errado. A ironia de Dickens faz do romance uma obra-prima universal. 

Essa ironia, colocada a serviço da crítica social, está presente em quase toda a sua obra. Em "David Copperfield" são mostrados os maus tratos sofridos pelas crianças e o encarceramento por dívidas. O romance é considerado por muitos como uma espécie de autobiografia romanceada. 

Publicados em folhetins nos jornais londrinos, os textos de Dickens fizeram chorar e rir. Encantaram milhões de pessoas e moldaram o imaginário popular, em especial sobre o Natal. Sua importância pode ser percebida não nos prêmios que recebeu ou nos livros que vendeu, mas numa história singela. Dizem que ao receber a notícia de que o escritor havia morrido, uma pobre menina, vendedora de flores na porta de um teatro, indagou: "Papai Noel também morreu?".

quarta-feira, dezembro 25, 2013

Águia solitária

Charles Lindberg foi um herói dos tempos modernos. Ao fazer o primeiro vôo sem escalas entre Nova York e Paris, ele ultrapassou os limites da natureza usando para isso sua força de vontade, inteligência, a ciência e a tecnologia.
É a história desse herói modern que Billy Wilder conta em Águia Solitária, filme de 1957.
Sabendo que um homem dentro de um avião não sustentaria um longa metragem, Wilder, inteligentemente, dividiu o filme em dois momentos. No primeiro, o aviador está no quarto do hotel, antes da decolagem. Incapaz de dormir, ele relembra os fatos que o levaram até ali, sua experiência como aviador dos correios, sua busca por patrocinadores, a construção do avião, as decisões e indecisões.
No segundo momento, já dentro do aeroplano, Lindberg lida com as adversidades, como o sono, a neve que insiste em se acumular nas asas, as nuvens, entre outros, enquanto relembra passagens de sua vida que ajudarão a compor o personagens.
Wilder joga tanto com o humor - como a passagem de Lindberg comprando um avião sem saber pilotá-lo, como com o suspense, como nos momentos mais tensos da travessia. A decisão de usar flash backs, além de tirar o foco apenas do avião, deu dinamismo à narrativa.
Outro destaque é a genialidade de Wilder de contar a história através de metáforas visuais, como o mapa na lanchonete que o aviador usa para demonstrar seu vôo colocando uma torre Eifel no outro extremo. Esse mapa aparece em dois outros momentos da trama. Quando tudo parece estar dando errado, a torre cai do alfinete e Lindeberg a endireita, numa demonstração visual de sua força de vontade.
Enfim, um clássico, como todos de Wilder.
Em tempo: dá para assistir ao filme on-line aqui: http://filmeonlinetocadoscinefilos.blogspot.com.br/2013/05/aguia-solitaria-1957-direcao-billy.html

Um Natal do barulho

Natal em Macapá é para quem gosta de muvuca. 
O som alto começou na tarde do dia 24 e deve ir até a noite do dia 25. 
Ontem, um vizinho colocou em volume tão alto que se tornou impossível até ouvir a televisão, dentro de casa, com as janelas todas fechadas. Logo outros e outros foram se juntando a ele. Um abaixava, o outro aumentava, um aumentava, o outro também aumentava para competir. Na hora de dormir, mesmo o nosso quarto sendo o mais isolado e com acentral de ar ligada, o som era alto, mesmo com o tampão de ouvido. Ali pelas quatro da manhã o protetor de ouvido começou a incomodar e tive que tirar. Foi nessa hora que um dos vizinhos resolveu aumentar mais volume. 
Foi uma noite de sono entrecortado, em que o barulho se misturava com os sonhos - nos sonhos eu sempre estava em um local barulhento. E, quando começava a dormir mais profundamente, acordava graças a um dos vizinhos que resolvia aumentar o volume acima do babel de músicas altas. 
Não houve trégua nem mesmo quando amanheceu, pois alguns foram dormir e outros se revezaram, ligando seus sons. Agora são dois com som alto e não há o menor sinal de que vão desligar ou baixar. Provavelmente isso vai o dia inteiro, até o final da noite.
Engraçado que nem no carnaval é assim. 
Natal em Macapá é assim.

terça-feira, dezembro 24, 2013

Neurocientista analisa o próprio cérebro e descobre por acidente que é psicopata

O premiado neurocientista James Fallon estava sentado em seu escritório, em outubro de 2005, vasculhando exames de pessoas com graves distúrbios psicológicos quando se deparou com a imagem de um cérebro de psicopta - o seu. Fallon, um professor de psiquiatria e comportamento humano da Universidade da Califórnia em Irvine, nos EUA, viveu os 58 anos de sua vida pensando ser um homem bem ajustado, com uma carreira admirável e uma família amorosa. Ele foi criado por ótimos pais e casou-se com seu primeiro amor, Diane, quem conheceu aos 12 anos e teve três filhos.
(...)
Segundo a teoria de Fallon, sua capacidade de não agir com sua psicopatia está enraizada no amor incondicional que seus pais lhe deram. "Eu tive uma infância encantada, nunca foi abusado. Ninguém fez nada de ruim o suficiente para me transformar em um assassino ", disse ele. "Isso mostra que os genes não são uma sentença de prisão." Leia a matéria completa

Feliz Natal!


Imaginário 5

A Imaginário! é uma revista eletrônica do Grupo de Pesquisa em Humor, Quadrinhos e Games - GP-HQG, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal da Paraíba, que tem como propósito a divulgação dos estudos voltados à Cultura Pop e às Artes Visuais, como História em Quadrinhos, grafite, humor, animação, fanzine e game.
O número 5 acabou de sair com uma ótima seleção de textos, incluindo uma homenagem ao pesquisador Elydio dos Santos Neto, falecido recentemente. 
A revista traz também um artigo meu sobre o roteirista Nelson Padrella, roteirista da editora Grafipar que escrevia histórias em quadrinhos eróticas-poéticas e antecipou no Brasil, o gênero quadrinhos poéticos. 
Para saber mais, clique aqui.  
PlayGay, história com texto de Padrella que explora a poética nos quadrinhos.

segunda-feira, dezembro 23, 2013

Dr. Who na versão Simpsons

Mas sim, se tem algo tão legal quanto Doctor Who e Simpsons é Doctor Who versão Simpsons! E foi exatamente pensando nisso que o artista Dean, do site Springfield Punx tem o WHOsday, um dia onde os posts de suas versões simpsonizadas dos personagens da cultura pop são todos do universo do nosso amado Senhor do Tempo.
Desde seu primeiro post whovian, em 2010, Dean já conseguiu fazer todos os Doutores (incluindo até o Guerreiro) Leia mais

sexta-feira, dezembro 20, 2013

11 coisas que você não sabia sobre o Natal

Fim do ano se aproximando e a data natalícia que tantos gostam, principalmente os católicos, também está chegando. Mas você sabe tudo sobre o Natal? Como ele surgiu? Qual o real significado de um dos feriados mais populares do mundo? Fique atento e confira 10 curiosidades que você não sabia sobre o Natal:

 

10. SAVE THE DATE

Não existem registros bíblicos sobre o exato dia em que Jesus veio ao mundo. Na realidade, o dia 25 foi escolhido para celebrar o nascimento de Jesus somente no século 4, quando, por intermédio do Papa Júlio I, a Igreja Católica reconheceu o nascimento de Jesus como um feriado oficial. No entanto, a data já tinha conotação pagã, nesse dia comemorava-se o “Natalis Solis Invicti” (Nascimento do Sol Invencível). A Igreja aproveitou-se dos festejos pagãos dando-lhe significado cristão, afinal, se “Jesus é a luz do mundo”, nada mais adequado do que nascer no dia do sol invencível, que acontece na Europa no final de dezembro, não exatamente no dia 25, mas entre 22 e 25 do mesmo mês. O Natal seria, portanto, relacionado à tradições pagãs do solstício de inverno, o dia mais curto do ano.

9. ÁRVORE DE NATAL

O pinheiro natalino não possui nada de cristão, acredite, ele também é de origem pagã. Os povos germânicos cultuavam o carvalho sagrado do Deus Odin, o Deus menino. Considerado o demônio do mundo, o Deus Odin, era representado pelos carvalhos e a seus pés eram colocados presentes, para que as crianças pegassem, muito parecido com o que acontece hoje em dia, não acham? A tradição natalina de enfeitar o pinheiro durante o Natal também relaciona-se à Cristo, devido a sua perenidade. O pinheiro é uma árvore de grande resistência, em nenhuma das estações do ano suas folhas caem ou mudam de cor, mantendo-se verde e exuberante por todo o ano, assim como Jesus e sua vida plena e permanente no coração dos cristãos. Leia mais

quinta-feira, dezembro 19, 2013

Dylan Dog


Em 1986, a Itália viu surgir um personagem de quadrinhos que viraria uma verdadeira febre, chegando a vender um milhão de exemplares mensais e sendo republicado duas vezes, ao mesmo tempo que a edição normal. Era Dylan Dog, o detetive do pesadelo.
Dylan foi criação de Tiziano Sclavi, um jornalista e escritor italiano, fã de terror. Sclavi dotou sua série de uma bem elaborada mitologia que conquistou os fãs. Assim, Dylan é um ex-agente da Scotland Yard, ex-alcoólatra, que vive de solucionar casos misteriosos envolvendo vampiros, lobisomens, múmias e mais todo tipo de monstros e pesadelos. Ele usa sempre calça jeans, camisa vermelha e blazer preto, mora em uma casa que tem uma campainha que grita, toca clarinete quando precisa refletir sobre algum caso e faz muito sucesso com as mulheres.
Dylan tem como assistente o piadista Grouxo, baseado no comediante Grouxo Marx, que dá o alívio cômico para a série. Mesmo nos piores momentos, Grouxo tem uma piada na manga. Algumas delas:
“Ontem salvei uma mulher que estava para ser violentada. Bastou eu me controlar.”
“As mulheres são loucas por mim! Ontem à noite uma garota ficou batendo na minha porta durante horas, mas eu não a deixei sair”.
“Sei ficar em silêncio em quinze idiomas”.
“Este papagaio é estraordinário, senhora! Bota ovos quadrados. E sabe falar? Bem, sabe dizer ai”. Quando o desenhista perguntou a Sclavi como deveriam ser as feições do personagem, este respondeu: “Como Rupert Everett”. Fazer personagens como feições de gente famosa não é novidade nos comics italianos. Ken Parker, por exemplo, é a cara de Robert Redford. Esse expediente parece aumentar ainda mais a aura pop dos personagens.
Sclavi juntou tudo num mesmo caldeirão: referências pop, romantismo, humor, terror e até surrealismo. Sim, alguns das melhores histórias do personagem são aquelas em que se perde a referência do real e parece que o leitor entrou num mundo onírico em que qualquer coisa pode acontecer.
O sucesso extraordinário de detetive do pesadelo fez com que a editora Sérgio Bonelli, que publica o personagem, criasse o Dylan Dog Horror Festival, uma exibição de filmes à qual comparecem milhares de pessoas vestidas de monstros ou como personagens da série. Além do festival, Dylan serviu de inspiração para agendas, adesivos, embalagens, jogos, vide-games, campanhas contra as drogas, simpósios e teses acadêmicas. Nas palavras do jornalista Sidney Gusman, Sclavi conseguiu criar uma história em quadrinhos de autor que, ao mesmo tempo, é imensamente popular. No Brasil, Dylan Dog foi publicado primeiramente pela Record, no início dos anos 1990. Mas o personagem que sobrevivera a tantos monstros não conseguiu resistir à crise e acabou sendo cancelado depois de poucos números. Em 2001, a editora Conrad resolveu publicar o fumetti numa série de 6 números com um formato mais alongado, papel de melhor qualidade e capas de Mike Mignola. As vendas não foram as esperadas, e o personagem acabou passando para a Mythos, que já publicava diversos outros quadrinhos da Bonelli, como Tex, Zagor, Ken Parker e Júlia, durando até o número 40.

segunda-feira, dezembro 16, 2013

Galeão - um mistério para desvendar



Cássia Lima 

Existem vários tipos de leituras, umas nos decepcionam no final. Outras são bem previsíveis. Ainda há aquelas que nos surpreendem. E é nesse ultimo estado que termino de ler O Galeão - Gian Danton

Depois de uma noite terrível de tempestade, o dia amanhece em um Galeão no meio do oceano atlântico. Um assassinato inicia a narrativa de maneira provocativa e instigante. Os tripulantes descobrem que estão perdidos no oceano. Passado, presente e futuro se misturam no romance. Flashbacks nos fazem conhecer o passado de personagens mais temer o seu futuro. A comida começa a ser racionada, alguém está cometendo assassinatos e parece que o destino de todos já está traçado. O Tesouro do capitão pode ser o motivo de tudo...

À medida que Gian Danton revela o passado dos personagens, ele nos provoca e instiga a atenção para as próximas páginas. Cada detalhe tem seu valor, lembranças podem ser fantasias e sonhos tornam-se realidade. A narrativa em flashbacks, além de aguçar a curiosidade nos prepara para o próximo acontecimento. 
Cada revelação nos deixa extasiado, cada capítulo nos faz ver a história diante de nossos olhos, o suspense chega a ser doloroso para o leitor. A partir do capítulo 14 as palavras de Gian Danton não permitem que fechemos o livro.

O primeiro romance desse autor além de provocar a leitura, mexe com a nossa percepção de detalhes, nos deixa pensativos sobre o que cada pessoa preserva do seu passado, a riqueza da descrição nos deixa atônito, a mistura de tantas personalidades nos impressiona, e o casal...Bom, vocês só irão saber se lerem, não vou dar spoilers aqui.

Tolkien, criador do O Senhor dos Anéis escreveu sobre Um anel “Um Anel para a todos governar. Um anel para encontrá-los, Um Anel para a todos trazer e na escuridão aprisioná-los”.
Parafraseando Tolkien, a minha definição do Galeão é:


“Um passado para revelar, Um mistério para desvendar e Um tesouro para trazer e na escuridão aprisionar”.
Que reviravolta! Fim surpreendente.

domingo, dezembro 15, 2013

Os quadrinhos impressionistas de Shiko

Desde a década de 1970 não se via no cenário dos quadrinhos paraibanos uma obra tão expressiva quanto à de Shiko. Francisco José de Souto Leite, nascido em Patos, Paraíba, em 24 de março de 1976, apresenta um trabalho inquietante, com histórias que provocam o leitor, levando-o necessariamente à reflexão. Seguindo a mesma trilha dos jovens autores nacionais, Shiko buscou nos fanzines seu próprio espaço pra publicação. A partir de 1997 ele passou a produzir Marginal, do qual saíram oito edições. As HQ deste volume são uma compilação de algumas das melhores histórias publicadas nesse fanzine. Leia mais

sábado, dezembro 14, 2013

Tyrion: um leão com fogo de dragão



Meu aluno Paulo Zab, o maior especialista em Guerra dos Tronos que conheço, ataca de novo. Agora ele me enviou um texto sobre Tyrion Lannister. Confira. 
 
Tyrion Lannister, o Anão também conhecido como Meio-homem, Duende, Yollo e Hugor Hills é um dos personagens preferidos da série. Seu humor negro e sua inteligência notável compensa sua falta de aptidão física para algumas tarefas. Apesar de ser considerado um leão, suas atitudes podem estar sendo influenciadas pelo Sangue e Fogo, símbolo da Casa Targaryen, mas por que?


Relação Aerys e Joana

— E o meu pai? [perguntou Daenerys] Houve alguma mulher que ele amasse mais que à sua rainha?
Sor Barristan mexeu‐se na sela.
— Não… amar não. Desejar talvez seja uma palavra mais correta, mas… foi sómexericos de cozinha, os murmúrios de lavadeiras e moços de estrebaria…
— Quero saber. Nunca conheci o meu pai. Quero saber tudo sobre ele. O bom e… o resto.
— Às vossas ordens. — O cavaleiro branco escolheu as palavras com cuidado.
— O Príncipe Aerys… quando jovem, enamorou‐se de uma certa senhora de Rochedo Casterly, uma prima de Tywin Lannister. Quando ela e Tywin se casaram, o vosso pai bebeu demasiado vinho no banquete de casamento, e ouviram‐no dizer que era uma grande pena que o direito do senhor à primeira noite tivesse sido abolido. Um gracejo ébrio, não passou disso, mas Tywin Lannister não era homem para esquecer tais palavras ou o… excesso de familiaridade que o vosso pai mostrou quando os noivos foram levados para a cama. — A cara de Sor Barristan enrubesceu. — Já disse demasiado, Vossa Graça. Eu…
(A Dança dos Dragões)

Daenarys conversa com Sor Barristan Selmy, que foi cavaleiro da Guarda Real mesmo antes de Aerys, o Louco, assumir o trono. Ele tinha como um de seus juramentos guardar os segredos reais, e pelo seu contato diário com o Rei presenciou histórias que ninguém sabe, mas por ordem de sua nova Rainha, ele acaba revelando coisas que poderiam ser revelados a ela, cujos seus votos a ela pertencem agora. Por mais que tenha ficado desconfortável na situação, ele acaba deixando claro a atração “sexual” por parte do então Príncipe Aerys à prima e esposa de Tywin, Joana Lannister, que é mãe dos gêmeos Jaime e Cersei e de Tyrion, o meio-homem.

Isso é só mais um elemento que nos leva a crer no que vem se tornando cada dia mais óbvio: “Tyrion é um filho bastardo de Aerys Targaryen”.

Aerys deve ter se aproveitado da presença de Tywin em Porto Real quando era Mão ou em outra oportunidade para ter relações com Joana, satisfazendo assim seu desejo. Em alguns momentos da história os guardas afirmam que Aerys, ao queimar alguém, sempre reivindicava a rainha Rhaella e a deixava cheia de hematomas. Ele pode ter tomado Joana a força, gerando assim Tyrion, um anão que pode projetar uma grande sombra e que não para de demonstrar um censo de justiça e de influenciar consideravelmente a situação em sua volta e na história como um todo.

Todo esse impasse pode ter culminado com o pedido de demissão do cargo de Mão. Isso explicaria também a revolta de Tywin com relação ao tratamento com o próprio Tyrion e também em vingança como o saque a Porto Real durante e rebelião. A violação cometida a sua esposa não só gerou um filho bastardo, mas também sua morte durante o parto. Uma grande ofensa à sua honra e um duro golpe em seus sentimentos.


Está nas chamas: Ele é um Dragão

Tyrion acocorou-se na frente dele e aqueceu as mãos contra o frio da noite. Moqorro não reparou nele durante algum tempo. Estava a fitar as chamas trémulas, perdido nalguma visão.
Será que ele vê dias vindouros, como afirma? Se assim fosse, esse seria um dom temível [pensou Tyrion].
Passado algum tempo, o sacerdote ergueu os olhos para cruzar olhares com o anão.
Hugor Hill — disse, inclinando a cabeça num aceno solene. — Vieste rezar comigo?
Alguém me disse que a noite é escura e cheia de terrores. O que vês nestas chamas?
Dragões — disse Moqorro no idioma comum de Westeros. Falava a língua muito bem, quase sem sinal de sotaque. Sem dúvida que essa era uma razão por que o alto sacerdote Benerro o escolhera para levar a fé de R'hllor a Daenerys Targaryen. — Dragões antigos e jovens, verdadeiros e falsos, brilhantes e escuros. E a ti. Um homem pequeno com uma grande sombra, arosnar no meio de tudo.
(A Dança de Dragões)

Moqorro e seu poder como servo de R´hllor acabou enxergando a verdade em suas chamas: “Dragões antigos e jovens, verdadeiros e falsos, brilhantes e escuros” e além destes ainda um tipo diferente de dragão: o próprio Tyrion. Repare que logo no início do discurso Moqorro apenas fala que viu “Dragões” e depois apenas mostra as suas categorias.

Está na profecia de Quaithe

Não. Escutai-me, Daenerys Targaryen. As velas de vidro estão a arder. Em breve, chegará a égua descorada e depois dela virão os outros. Lula gigante e chama escura, leão e grifo, o filho do sol e o dragão do pantomimeiro. Não confieis em nenhum deles.
(A dança de Dragões)
As profecias de Quaithe estão todas se confirmando. Não há motivos pra acreditar que alguma delas seja falsa. Ela prevê a chegada de pessoas importantes que virão visitar a Rainha Dragão. Umas já foram reveladas e outras não são difíceis, vou demonstrar.
A Lula Gigante não pode ser alguém diferente de Victarion Greyjoy (talvez o próprio Olho-De-Corvo?), que está quase aportando no local da batalha em Meereen juntamente com a Frota de Ferro. Já a Chama Escura foi Drogon, que a tentou levar para depois do Mar Dothrak. O Filho do Sol foi para o finado Quentyn Martell. Os que inda não foram revelados foram o Grifo, o Leão e o Dragão do Pantomimeiro.
Em princípio, o Dragão de Pantomimeiro parece ser mesmo o Príncipe Aegon Targaryen, que teria sido mantido por Ilíryo e Varys, ambos eram pantomimeiros, mas as pessoas também esquecem que Tyrion também trabalhou com espetáculos quando criança. Além disso, ele também está sendo enviado para a princesa através de um plano arquitetado por Varys e Illíryo e ainda vem praticando pantomímia com Merreca. Portanto, ao invés de acreditar que o leão se referisse a Tyrion, vejo que a escolha mais provável seria que Quaithe estivesse falando de seu Tio Gerion Lannister, que esta perdido em Essos há mais de três anos quando veio procurar a espada lendária da Casa Lannister em Valíria. Na verdade, vejo que Gerion pode estar infiltrado em uma companhia de mercenário na Bahia dos Escravos. Talvez seja o arqueiro loiro dos Soprados Pelo Vento.
“O grande pavilhão de lona cinzenta a que o Príncipe Esfarrapado gostava de chamar o se ucastelo de tela estava repleto de gente quando os dorneses chegaram. Quentyn precisou apenas de um momento para se aperceber de que a maior parte dos homens ali reunidos provinham dos Sete Reinos, ou se gabavam de possuir sangue de Westeros. Exilados ou filhos de exilados. Dick Straw afirmava que havia três vintenas de homens de Westeros na companhia; um bom terç odeles encontrava-se ali, incluindo o próprio Dick, Hugh Hungerford, a Linda Meris e o louro Lewis Lanster, o melhor arqueiro da companhia.”

Nessa mesma reunião, é falado que a estratégia seria a de deixar todas as entradas abertas. Isso queria dizer que alguns dos soprados, assim como o grupo de Quentyn, iria passar para o lado da rainha.

Outro ponto para ser considerado é o de que Aegon foi para o Poleiro do Griffo em Westeros e não encontrar Daenerys com Quaithe disse que o dragão faria. Isso é um argumento fraco se considerarmos que o Grifo da profecia era Jon Connington, que também foi para Westeros.

Ele tem afinidade com Targaryens
Enquanto Rykker a enchia, BowenMarsh disse:
- Tem uma grande sede para um homem pequeno.
- Ah, eu penso que o Senhor Tyrion é um homem bastante grande - disse Meistre Aemon da ponta mais distante da mesa. Falou em voz baixa, mas todos os grandes oficiais da Patrulha da Noite se calaram para ouvir melhor o que o ancião tinha a dizer. - Penso que é um gigante que surgiu entre nós, aqui no fim do mundo.
Tyrion respondeu com delicadeza.
- Já me chamaram de muitas coisas, senhor, mas gigante raramente foi uma delas.
- Apesar disso - disse Meistre Aemon enquanto seu solhos enevoados, brancos como o leite, se deslocavam para o rosto de Tyrion -, penso que é verdade.
Por uma vez na vida Tyrion Lannister deu por si sem palavras. Só conseguiu inclinar a cabeça polidamente e dizer:
- É bastante amável, Meistre Aemon.
(A Guerra dos Tronos)

Meistre Aemon, que nasceu Targaryan, poderia estar bastante idoso, mas mesmo assim sua mente se mantinha tão sóbria quanto antes. Ao sentir a presença e os posicionamentos de Tyrion, e sem se deixar levar pelas vaidades e preconceitos causadas por sua aparência, acabou reconhecendo seu parente. A afinidade entre os dois, ainda que demonstrada já no primeiro livro, é mais uma dica da paternidade Targaryen do Anão.
Sem pestilências
O fedor do acampamento era tão espantoso que Dany só com dificuldad eevitou vomitar.
Sor Barristan franziu o nariz e disse:
— Vossa Graça não devia estar aqui, a respirar estes humores negros.
— Sou do sangue do dragão — fez‐lhe lembrar Dany. — Alguma vez vistes um dragão com um fluxo? — Viserys afirmara com frequência que os Targaryen não eram tocados pelas pestilências que afligiam os homens comuns e, tanto quanto ela soubesse, era verdade. Conseguia lembrar‐se de ter frio, fome e medo, mas nunca de estar doente.
(A Dança de Dragões)
Os Targaryen não são tocados pelas pestilências que afligem os homens comuns, assim como Tyrion não pegou escamagris mesmo depois, na tentativa de salvar o príncipe, de ter entrado em contato direto com um homem contaminado e caído no Rio. Jon Connington, apesar de apenas ter pulado no rio para salvar o Duende acabou se contaminando. Isso porque ele é um homem comum, mas Tyrion não.
O homem de pedra deitou o archote fora. Ouviu-se um suave silvo quando as águas negras apagaram as chamas. O homem de pedra uivou. Antes fora um ilhéu de verão; o seu queixo emetade do pescoço tinham-se transformado em pedra, mas a pele era negra como a meia-noite onde não era cinzenta. Onde agarrara o archote, a pele rachara e abrira-se. Sangue jorrava dos nós dos seus dedos, embora ele não parecesse senti-lo. Tyrion supunha que isso era uma pequena misericórdia. Embora fosse mortal, pensava-se que a escamagris não era dolorosa.
— Afasta-te! — gritou alguém, muito longe, e outra voz disse: — O príncipe! Protege o rapaz!
— o homem de pedra cambaleou em frente, de mãos estendidas e a tentar agarrar.
Tyrion atirou um ombro contra ele.
Foi como atirar-se contra a parede de um castelo, mas aquele castelo erguia-se sobre umaperna quebrada. O homem de pedra caiu para trás, agarrando em Tyrion quando caiu. Atingiram orio levantando uma monumental quantidade de água, e a Mãe Roine engoliu-os a ambos.
O súbito frio atingiu Tyrion como um martelo. Enquanto se afundava, sentiu uma mão de pedra a apalpar-lhe a cara. Outra fechava-se em volta do seu braço, arrastando-o para as trevas, láem baixo. Cego, com o nariz cheio de rio, sufocado, a afundar-se, esperneou, torceu-se e lutou porlibertar o braço, mas os dedos de pedra não cediam. Ar borbulhou-lhe de entre os lábios. O mundo era negro e estava a tornar-se mais negro. Não conseguia respirar.”
(A Dança dos Dragões)
A criatura estava sangrando e entrou em contato direto com seu rosto. Nada disso o contaminou.
Ele se importa
Os pelos da nuca de Tyrion começaram a pôr-se em pé. O Príncipe Aegon não encontrará aqui nenhum amigo. O sacerdote vermelho falava de uma antiga profecia, de uma profecia que previa a chegada de um herói para arrancar o mundo às trevas. Um herói, não dois. Daenerys tem dragões, Aegon não os tem. O anão não precisava de ser profeta para prever como Benerro e os seus seguidores poderiam reagir a um segundo Targaryen. Griff também compreenderá isso, certamente, pensou, surpreendido por descobrir como aquilo lhe importava.
(A Dança de Dragões)

Não só neste caso, mas Tyrion também se da muito bem com Jon Snow, que também pode ser um Targaryen. O destaque dado ao personagem, apesar de já ter sido colocado em uma das maiores casas dos Sete Reinos ainda pode ser maior, dado o valor de sua influencia na trama. Resta saber como vai ser o desenvolvimento disso, mas pelos elementos e as dezenas de pistas deixadas, acho meio improvável Tyrion ser condenado por ser um assassino de parentes, único crime que realmente pode pesar contra ele. Ele será absolvido já que, afinal de contas, Tywin Lannistter não era o seu verdadeiro pai.
O Dragão tem três cabeças. Resta saber quem são elas. Como disse Illyrio: “Preto ou vermelho, um dragão é um dragão”.