Em 1970, Jack Kirby foi contratado como estrela pela National (hoje DC
Comics) com liberdade total para criar. Na década de 1960 ele, juntamente com
Stan Lee haviam transformado a Marvel (principal rival da DC) na editora mais
revolucionária dos quadrinhos americanos num movimento que a fez dominar o
mercado de super-heróis, domínio esse
que dura ate hoje.
Kirby estreou num titulo autoral chamado Novos Deuses. Ele ficara famoso
na Marvel ao desenhar principalmente o Thor, então o título era um recado: os
velhos deuses da Marvel estavam mortos. Agora a supremacia seria dos novos. O
texto de abertura do gibi era quase uma declaração nesse sentido: “Chegou o
tempo em que os velhos deuses morreram! O corajoso pereceu com o ardiloso! O
nobre definhou, aprisionado na batalha devido ao mal desencadeado! Foi o último
dia para eles! Uma era antiga terminara com um feroz holocausto!”.
O texto demonstrava muito da mágoa de Kirby com a Marvel. Ele sentia que
sua importância na reformulação da editora havia sido diminuída pelo excesso de
exposição de Stan Lee, que sempre foi ótimo em marketing pessoal e era constantemente
entrevistado pelos jornalistas que queriam falar dos novos quadrinhos Marvel,
que haviam conquistado a nova geração, inclusive de intelectuais.
Na DC, Kirby, criativo com sempre (o roteirista Alan Moore diz que
conseguia criar um mundo antes do café da manhã), queria criar toda uma saga
que passaria pelas revistas Novos Deuses, Forever People e Mister Milagre... A
ideia era posteriormente reunir essas narrativas, que ficaram conhecidas como
Quarto Mundo, numa série de livros em capa-dura.
A saga contava a história de Nova Gênesis, um lar de deuses, em sua luta
contra Apokolips, dominada pelo terrível Darkseid. Ambos os planetas ficam na dimensão conhecida
como o Quarto Mundo, a maneira mais segura
de se chegar a essa dimensão é através de Tubos de Explosão.
Kirby criou todo um universo, e, a despeito do pouco sucesso e do
cancelamento dos títulos de forma precoce, Os Novos Deuses foram incorporados à cronologia do universo DC e têm
participação importante em varias sagas cósmicas da editora.
Jack Kirby criou vários outros personagens, como Etrigan, o demônio,
Kamandi e Omac. Também fez o Super-homem, mas como seu traço diferia muito do
estilo dos outros desenhistas do homem de aço, o rosto do personagem era feito
pelos outros artistas. Essa foi a gota d´água no já estremecido relacionamento
do “Rei” com a DC comics .
Pouco tempo depois, Kirby acabou voltando para a Marvel, onde criou os
Eternos (Fruto das suas leituras de Eram os deuses Astronautas de Eric Von
Danikem) Embora seu trabalho na DC fosse
totalmente inovador e de ótima qualidade, faltava humanidade para os
personagens. Nas histórias de deuses e criaturas super-poderosas faltava
justamente aquilo que Stan Lee colocava nas histórias: o lado humano.
Mesmo não tendo feito grande sucesso de público, o Quarto Mundo
redefiniu o universo DC. Para começar, a editora finalmente ganhou um vilão
sério, alguém que se poderia temer. Antes dele, o melhor que a DC havia chegado
em termos de vilões eram o palhaço Coringa e o cientista louco Lex Luthor.
A criação de Kirby ecoa até hoje nos quadrinhos da DC Comics. A editora
foi marcada definitivamente pelas mãos do rei dos quadrinhos.
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