quarta-feira, janeiro 31, 2018

Resenha do meu livro Grafipar, a editora que saiu do eixo

Livro conta uma parte importante
da história dos quadrinhos no Brasil.
Alexandre Nagado

Para os autores brasileiros de histórias em quadrinhos, o mercado de nosso país sempre foi complicado, ainda mais se levarmos em conta os fatores remuneração e subsistência. Com autores independentes, sem vínculo com estúdios de produção, a situação financeira sempre foi ainda mais delicada. Mas houve um período na História relativamente recente em que houve um lampejo de esperança para criadores mais autorais viverem exclusivamente de seus quadrinhos.

Na época do regime militar, entre o final dos anos 1970 e início da década de 80, uma editora curitibana – portanto, fora do eixo Rio-SP de produção cultural – conquistou espaço nas bancas e ganhou leitores fieis. Com gibis adultos e um erotismo que ia ao encontro dos anseios daquela geração, diversos autores fizeram da Grafipar um espaço forte de publicação de HQs nacionais durante alguns anos.

Sob a supervisão de Cláudio Seto, pioneiro do mangá no Brasil, a Grafipar não só produziu diversas revistas como também atraiu para Curitiba alguns autores como Franco de Rosa,Gustavo Machado e Watson Portela, que formaram uma autêntica “vila de quadrinhistas”, um fenômeno único no mercado de HQs nacional.


Esse rico período foi tema de pesquisa para o roteirista Gian Danton (pseudônimo do professor universitário Ivan Carlo), que coloca a história da Grafipar no contexto histórico em que vivia o Brasil daquela época. Leia mais

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A arte fantástica de Frank Frazetta



Frank Frazetta começou sua carreira no início da década de 1950, fazendo histórias em quadrinhos para a editora EC Comics, onde se destacou por seu traço perfeito para histórias de fantasia e ficção científica. Logo se destacou como ilustrador de capas de livros e cartazes de filmes. Suas capas para Conan foram as principais responsáveis por tornar o personagem famoso antes da versão em quadrinhos. Ele ilustrou também célebres capas de livros de John Carter de Marte e Tarzan. Seu estilo foi fundamental para o sucesso do gênero espada e fantasia, influenciando quase todos os artistas do gênero que vieram depois. 























O que é indução?


Indução é o princípio segundo o qual deve-se partir das partes para o todo. Ou seja, ao fazer uma pesquisa, deve-se  ir coletando casos particulares e, depois de certo número de casos,  pode-se  generalizar, dizendo que sempre que a situação se repetir o resultado será o mesmo.
         Se, por exemplo, eu quero saber a que temperatura a água ferve. Coloco água no fogo e, munido de um termômetro, meço a temperatura. Descubro que a fervura aconteceu a 100 graus centígrados.
         Repito a experiência e chego ao mesmo resultado. Repito de novo e vou repetindo até chegar à conclusão de que a água sempre ferverá a 100 graus centígrados.
         Umberto Eco dá um outro exemplo curioso: os sacos de feijões.

         Vejo um saco opaco sobre a mesa. Quero saber o que tem no mesmo. Uso o método indutivo: vou tirando o conteúdo do saco um a um. Da primeira vez, me deparo com um feijão branco. Na outra tentativa, de novo um feijão branco. Repito a experiência até achar que está bom (ou até acabar a verba). Então extraio uma lei: dentro deste saco só há feijões brancos. 

terça-feira, janeiro 30, 2018

Surfista Prateado: o herói filósofo


Uma das inovações da Marvel era o fato de que vilões poderiam se regenerar e se transformar em heróis, o que de fato, combinava com a proposta de realismo das histórias. A espiã Viúva Negra e o Gavião Arqueiro são exemplos disso, mas o vilão-herói mais famoso da editora seria o Surfista Prateado, um personagem tão bom que virou cult, ganhando a simpatia dos setores mais intelectualizados da população. Afinal, o surfista era um herói filósofo.
            O surfista surgiu na revista Fantastic Four 48, em 1966, no arco conhecido como Trilogia de Galactus. Stan Lee escreveu uma sinopse sobre um ser super-poderoso que vinha à Terra para sugar a energia do planeta e deu para Jack Kirby desenhar. Quando Jack trouxe as páginas para que Lee colocasse os textos e diálogos, havia uma novidade ali, um personagem que não aparecia na sinopse original. Ele justificou dizendo que um ser tão poderoso quanto Galactus deveria ter um arauto, que procurasse mundos a serem devorados. Stan Lee adorou a idéia e o visual do personagem, que parecia ter uma postura nobre: ¨Quando chegou a hora de estabelecer o seu padrão de discurso, comecei a imaginar de que forma um apóstolo das estrelas se expressaria. Parecia haver uma aura biblicamente pura no nosso Surfista Prateado, algo altruísta e magnificamente inocente¨.
            Ao final da trilogia, a editora começou a receber cartas de fãs pedindo uma revista daquele novo personagem, mas Stan Lee e Jack Kirby estavam muito ocupados para pegar mais essa empreitada. Quando Roy Thomas entrou na Marvel como assistente editorial, Lee se viu com tempo para se dedicar ao novo projeto.  A revista estreou em 1968 e foi, aos poucos, contando a história do amargurado herói.
            Assim, o Surfista é Norrin Radd, um jovem cientista do planeta Zenn-La que aceita tornar-se arauto de Galactus afim de que ele poupasse sua terra natal. Ao se voltar contra seu mestre quando ele tentava devorar a Terra, Galactus condena-o a ficar eternamente preso ao nosso planeta. Isso para ele é uma tortura dupla, pois ele não pode voltar ao seu planeta natal, nem rever sua amada Shalla bal. Além disso, vindo de um local mais avançado eticamente e tendo uma alma extremamente nobre, ele sofre ao ser obrigado a conviver com os ambiciosos humanos, que o caçam por ser diferente.
            As aventuras do Surfista permitiram a Stan Lee exercitar o lado humano de seus roteiros ao trabalhar com um personagem angustiado. Para desenhar as histórias ele chamou John Buscema, que era muito influenciado por Jack Kirby, mas tinha uma melhor capacidade para mostrar dramas humanos.
            Os monólogos angustiados do protagonista, geralmente no início das histórias tornaram-se a marca da série. Como esse, publicado no número 6 da revista: ¨Até quando devo continuar aprisionado no selvagem planeta Terra? Não! Este não pode ser meu destino eterno! Não foi para isso que renunciei ao meu mundo, minha vida e meu amor! Por certo, em todo o universo não pode haver ironia mais cruel do destino! Eu, que detenho um poder além da compreensão de qualquer ser humano... estou fadado a viver confinado e sem esperanças... tal qual o mais frágil dos animais! Aqui eu sou odiado... e temido... pelos mesmos seres que meu coração só deseja ajudar! Meu coração! Eu disse... coração? Como poderia ser... se não tenho mais coração? Afinal, eu o abandonei no planeta Zenn-la... a inúmeras galáxias de distância... com aquela a quem amarei para sempre! Zenn-la... onde meu mundo começa e termina... ondeu eu deixei minha amada Shalla Bal!¨. 
            A revista era avançada demais para uma época em que predominavam heróis violentos e fez pouco sucesso, durando poucos números, mas ganhou fãs fervorosos.

            Nos anos 1980 o herói virou cult ao ser citado pelo personagem Richard Gere no filme A Força do amor, refilmagem de Acossado, de Godard. Desde então, críticos e fãs redescobriram o personagem, que acabou sendo a grande estrela do segundo filme do Quarteto Fantástico.  

VOTE EM MIM E NÃO SE PREOCUPE - FALCÃO

Maria Erótica e o clamor do sexo

No ano de 2003, o jornalista baiano Gonçalo Júnior chamou a atenção com um livro essencial para qualquer um que queira entender o mercado editorial brasileiro. A Guerra dos Gibis mostrava como alguns dos principais impérios editoriais haviam sido erguidos a partir das vendas astronômicas dos gibis, em especial nos anos 1940 e 1950. Focado na vida de Adolfo Aizen, o livro contava também a perseguição aos gibis, feita por padres, professores e políticos. Mas, como a narrativa terminava na década de 1960, faltava uma segunda parte. É exatamente a segunda parte dessa epopéia que a editora Peixe Grande está lançando agora, com o livro Maria Erótica e o clamor do sexo (Peixe Grande, 2010, 496 págs). 

Se o primeiro livro tinha como personagem principal o editor Adolfo Aizen (dono da Ebal), este segundo é focado em dois outros personagens: Minami Keizi e Cláudio Seto. Ambos viveram a fase mais difícil dos quadrinhos nacionais, quando a perseguição aos gibis nacionais era institucionalizada e fazia parte do programa da ditadura militar. E ambos revolucionaram a linguagem dos quadrinhos ao introduzir os mangás em nosso país. 

Minami chegou a São Paulo com pouquíssimo dinheiro no bolso, foi rejeitado pela maioria dos editores da época (que estranharam seu traço com fortíssima influência oriental), mas acabou criando uma das melhores editoras de quadrinhos da década de 1970, a Edrel.

Vindo da mesma cidade que Minami, Lins, no interior paulista, Cláudio Seto foi um dos principais e mais revolucionários artistas da Edrel e, posteriormente, comandou o setor de quadrinhos da Grafipar, a maior trincheira dos quadrinhos nacionais no final da década de 1970 e início da década de 1980. Maria Erótica e o clamor do sexo acompanha ora um, ora outro, oscilando entre as histórias desse personagens tão interessantes quanto as histórias que criaram. 

A forma como Minami consegue sair da miséria para se tornar dono de uma editora é digna de nota. Após ter seu trabalho rejeitado, ele investiu seu pouco dinheiro num sistema de venda de livros por reembolso postal (os anúncios do serviço eram conseguidos em publicações em troca de tiras de quadrinhos produzidas por ele) que deu tão certo a ponto de Sebastião Bentivegna, dono da editora Pan-Juvenil, convidá-lo para ser supervisor editorial. Com o tempo, afundado em dívidas com agiotas, Sebastião chamou Minami e o dono da gráfica que fazia fotolitos para a editora, e ofereceu a Pan-Juvenil, de graça, desde que eles assumissem as dívidas. 

Minami investiu em quadrinhos ousados tanto pelo erotismo quanto pelas inovações estéticas, que aproximavam os gibis dos mangás e teve tanto sucesso que a editora, agora chamada Edrel, não só conseguiu quitar seus débitos, como ainda cresceu e chegou a ameaçar as grandes.



Foi nesse momento que começou a calvário de Minami com a ditadura. Felizmente, o editor guardou todo o histórico de correspondências com a censura, o que permitiu a Gonçalo Júnior fazer um raio-x da repressão ditatorial, nos brindando com alguns dos momentos mais interessantes do livro. 

O argumento da ditadura é que, por trás da liberdade sexual, que se mostrava através das publicações da Edrel, escondia-se o comunismo internacional, que pretendia desestabilizar a família brasileira. Curiosamente, o mesmo fenômeno era também combatido na União Soviética como um vício capitalista. 

Gonçalo amplia a investigação sobre a censura na época, abarcando de revistas como Garotas de Piadas da Edrel aos gibis do Pato Donald e Luluzinha, além de revistas de reportagens, como a Realidade. 

Mas a perseguição ao Pato Donald nem se comparava à repressão ao erotismo. Sem querer perder o negócio, Minami procurava se informar sobre como continuar publicando sem ter suas revistas apreendidas. Logo descobriu que não havia parâmetros. Tudo dependia muito da cabeça do censor.

O risco maior não era só a apreensão de revistas: as sedes das editoras poderiam ser invadidas a qualquer momento, e seus funcionários poderiam ser presos. 

O esquema da censura era cruel especialmente para os pequenos editores, com poucas ligações com o poder. Na fase mais cruel da ditadura, as bonecas das revistas tinham de enviadas para Brasília, onde muitas vezes demoravam meses para serem analisadas. Se houvesse algum corte ou pedido de mudança, uma nova boneca deveria ser feita e enviada para Brasília para uma análise igualmente demorada. 

Se a revista focasse em assuntos do momento, esse esquema era morte certa. No final, a repressão levou ao fechamento tanto da Edrel quanto da editora seguinte de Minami, a M&C. 

Para fugir da repressão, Cláudio Seto, escondeu-se no único lugar onde não se esperava encontrar um subversivo: no partido do regime, o Arena, pelo qual foi eleito vereador em Lins. Quando se casou, resolveu pegar a estrada e fazer uma viagem pelo sul do país. Ao chegar em Curitiba, encontrou a cidade envolta pela neve e, encantado, resolveu morar lá. 

Sua ida para Curitiba parece ter sido arquitetada pelo destino, pois na mesma época um editor local pretendia entrar no mercado erótico, aproveitando a abertura da censura e o interesse da população pelo tema. Era o início da Grafipar. Deu tão certo que virou uma verdadeira trincheira do quadrinho nacional, a ponto de alguns dos mais importantes artistas da época se mudarem para a capital do Paraná. 

Mas erros editoriais, perseguição política e a crise econômica selaram o fim da editora, o que não a impediu de deixar uma marca poderosa nos quadrinhos brasileiros.



Maria Erótica e o clamor do sexo se torna ainda mais importante pelo fato de tanto Minami quanto Seto terem morrido recentemente, quase no esquecimento, em especial Minami. Numa época em que os mangás dominam as bancas, poucos se lembram desses grandes artistas e editores que introduziram a linguagem oriental nos quadrinhos nacionais.

Nas palavras de Toninho Mendes, que escreve a orelha da publicação: "Gonçalo Júnior faz ressurgir do limbo um segmento da imprensa nacional quase desconhecido: o dos pequenos editores de revistas e livros de sexo que desafiaram a polícia e os censores com formas criativas de enganar a repressão e fazer o brasileiro participar mais ativamente - em vários sentidos - da revolução sexual, que a ditadura tanto se empenhou por não deixar entrar no país".

Hoje é dia do quadrinho nacional!

Hoje é dia do quadrinho nacional. Parabéns a todos os artistas que contribuem com seu talento e criatividade para tornar mágica a vida de milhares de leitores.

segunda-feira, janeiro 29, 2018

Dia do quadrinho nacional em Macapá - Programação


PROGRAMAÇÃO
LOCAL: BIBLIOTECA PÚBLICA ELCY LACERDA

01/02/2018 - QUINTA-FEIRA
17h00 às 18h30 - Oficina de K-POP com Stefany Monteiro (Professora do Studio de Dança Amitiè - STN).

02/02/2018 - SEXTA-FEIRA
14h00 – Vídeo VHQ – A história do quadrinho paraense.
14h40 – Palestra: Como publicar Quadrinho Nacional, com “Osama” Pro.
15h00 -Palestra: Quadrinhos Nacionais: do século XIX ao século XXI, com Gian Danton.
15h40 – Filme: O gralha, o ovo e a galinha e O gralha e oil man.
16h00 - Palestra: Roteiro para quadrinhos, com Gian Danton.
17h00 - Filme: Turma da Mônica – O casamento do século.
14h00 às 17h00 - Demonstração de  Maquilagem Artística  com Arnanda Oliveira (Creative Makeup).
16h00 às 19h00 - Caricaturas com J.Marcio/CARTUNISTAS AMAPÁ.
18h00 - Apresentação da Cia de Dança Kadosh.
18h10 - Concurso de Cosplay.
18h40 - Apresentação do Grupo Gold Star Dance Cover (Santana).
18h45 - Concurso de K-pop.
14:00 às 18:00 mesas de RPG e jogos de tabuleiro para iniciantes
15h00 às 17h00 - Criação de painéis de História em Quadrinhos (participação popular), sob coordenação da Professora Mariza Pinheiro.
16h00 às 19h00 - Stand de divulgação e vendas da Cia Beco Teatral e Literap.
16h00 às 19h00 - Stand de vendas Jilian Mimi.


Classificação: livre

O círculo de Viena

Essa corrente de pensamento de inspiração positivista surgiu na Europa no início do século XX. Acreditava na possibilidade das ciências humanas e sociais seguirem as mesmas metodologias das ciências naturais.
         O Círculo de Viena estava preocupado em diferenciar o conhecimento científico dos outros tipos de conhecimento. Eles partiam de algumas perguntas básicas: o que é conhecimento científico? Que tipo de conhecimento pode ser caracterizado como científico?
         Eles iniciaram distinguindo dois contextos: o da descoberta e o da verificação.
         O contexto da descoberta é aquele em que o cientista faz sua descoberta. Para o Círculo de Viena, esse era um contexto irrelevante para se definir se esse conhecimento é científico ou não. A descoberta pode ter surgido, por exemplo, de um sonho, de uma alucinação ou simplesmente de uma coincidência...
Para o Círculo de Viena, o que realmente importa na definição do que é científico ou não é o contexto da justificativa. Ou seja, é a forma como o cientista vai explicar sua descoberta aos pares.
         O Círculo de Viena dava grande importância à verificação. Assim, o cientista deveria explicar detalhadamente como chegou aos seus resultados para que outros pesquisadores, repetindo a experiência, pudessem chegar aos mesmos resultados.
         Para evitar equívocos (intencionais ou não) era necessário usar uma linguagem unívoca. Ou seja, cada termo utilizado no trabalho deveria ter uma única interpretação.
         Nas ciências sociais, o pensamento do Círculo de Viena influenciou os pesquisadores a definirem muito bem os termos utilizados.
         Em um trabalho sobre aborto em casos de violência sexual, o que é aborto? O que é violência sexual? Será que uma esposa pode acusar o marido de a tê-la violentado? A definição desses termos, e a utilização dos mesmos com uma única significação ao longo de todo o trabalho, asseguram a interpretação correta e a cientificidade do trabalho.
         O Círculo de Viena também estabeleceu o princípio da verificação. Ou seja, o cientista deve repetir a experiência e verificar se chega sempre ao mesmo resultado antes de divulgar suas tese. Jamais se deve fazer juízos precipitados.

         Essa corrente de pensamento também acreditava que o método cientifico deveria utilizar a indução. 

A belíssima arte de Ivo Milazzo

Ivo Milazzo se tornou mundialmente famoso ao desenhar a história em quadrinhos Ken Parker, com roteiro de Giancarlo Berardi. Ken Parker se destacou ao trazer o humanismo para os quadrinhos de faroeste, com tramas que giravam principalmente em torno dos personagens do período, com uma visão impressionista. O desenho de Milazzo se encaixaram perfeitamente na proposta. Seu traço limpo, quase minimalista era absolutamente perfeito para as histórias diferenciadas do personagem. Nas artes das capas, Milazzo se destacava pelas belíssimas aquarelas. Confira o belíssimo trabalho desse artista.