O termo cultura pop
tem sido usado indiscriminadamente para designar diversos produtos da Indústria
Cultural. Fala-se em música pop, pop rock, quadrinhos pop e, finalmente,
cultura pop.
Mas o que é cultura
pop? O que caracteriza algo como pop? Que tipo de cultura é essa, denominada
pop?
Uma resposta
interessante para a pergunta está no ponto de vista daqueles que colocam a
cultura pop como uma alternativa para a cultura oficial.
Em um virulento
editorial da revista General Visão,
número zero, Rogério de Campos ataca o
imobilismo cultural daqueles que criticam a Indústria Cultural por comodidade:
"Essa revista
surge para, entre outras coisas, chatear essa gente. Nosso objetivo é mergulhar
nas imagens criadas pela tal cultura pop e provocar mais imagens. Desenhos de
shapes de skate, games, ilustrações, brinquedos estranhos, capas de discos,
roupas, flyers, cartazes, filmes, tatuagens, fanzines, desenhos de sites,
desenhos animados, fotografias, histórias em quadrinhos e até pinturas e
esculturas. Criadores que vivem além das fronteiras das imaculadas galerias ou
apenas inconvenientes, fora do lugar "correto", fora do tempo, contraditórias,
infinitas imagens elétricas para ofuscar as imagens oficiais. Não siginifica
ficar deslumbrado pela Indústria Cultural, mas, ao contrário, enfrentá-la com
ações e visões críticas".
Daí percebe-se o
conceito de cultura pop como algo que nasce da Indústria Cultural, mas não se
limita às regras suas acríticas e homogenizantes. Ao contrário, a cultura pop
está muito mais próxima da subversão que da ideologia. Ela, constantemente,
quer incomodar o receptor, ao invés de acomodá-lo.
O trabalho do autor
britânico de histórias em quadrinhos) Alan Moore se encaixa perfeitamente nesse
padrão. Sua produção de quadrinhos tem sido subversiva e inquietante: do
“herói” anarquista em “V de Vingança” à denúncia da moral vitoriana, na
história incrivelmente detalhada de Jack, o Estripador, “Do Inferno”.
Quando achou que os
leitores estavam acomodados à sua produção mais intelectual, Moore, para
provocá-los, dedicou-se a fazer histórias de super-heróis para a editora Image.
Essa produção crítica
e provocadora não se encaixa em absoluto no conceito de Indústria Cultural.
Muito antes de Alan
Moore, a editora americana E.C. Comics já fazia quadrinhos que estavam mais
próximos do conceito de obra aberta do que de Indústria Cultural.
São inúmeros os
outros exemplos (de)produções que estão mais próximas da entropia que da
redundância que, teoricamente, deveria caracterizar a Indústria Cultural.
No cinema, há
diretores como os americanos QuentinTarantino (, de “Cães de Aluguel” e “Tempo
de Violência”) e Terry Gillian e o indiano M. Night
Shyamalan, (de “O Sexto Sentido” e “Corpo Fechado”) que não se encaixam no jeito
americano de fazer filmes.
Na música há bandas
que rompem com os ditames do stablishment:
Beatles e suas experimentações, o incorfomismo de Raul Seixas, Pato Fu e a
crítica à TV (na música “Televisão de Cachorro”)...
Por outro lado, há
toda uma leitura crítica por parte dos receptores que foi totalmente ignorada
pelos frankfurtianos, assustados com a idéia de uma mídia toda-poderosa,
derivada do conceito de agulha hipodérmica.
A leitura de uma
história em quadrinhos, de um seriado de TV, de um filme, pode evoluir desde a
fruição pura e simples até uma análise semiótica aprofundada.
Embora os meios de
comunicação de massa tenham como objetivo a leitura e a fruição rápidas, isso
não significa que todos os leitores estejam “amaldiçoados” a fazerem sempre
leituras superficiais.
Alguns leitores
discutem os quadrinhos da mesma forma que um crítico de arte o faria com um
quadro, ou um crítico literário com um romance.
Por conta dessa
leitura, alguns produtos da indústria cultural acabam se tornando cultura pop.
É o que acontece, por exemplo, com o seriado Jornada nas Estrelas ou com as histórias clássicas de Jack Kirby e
Stan Lee para a Marvel.
Importante notar que,
embora não tenham uma postura tão crítica ou provocadora quanto outros exemplos
de cultura pop, tanto Jornada quanto
as histórias clássicas da editora americana de quadrinhos Marvel (dona do
Homem-Aranha, Capitão América e X-Men) têm duas características em comum:
A.
Eles
apresentam inovações significativas com relação ao modo de fazer as coisas
dentro daquele gênero ou mídia (ou seja, são mais informativos que
redundantes). A Marvel inovava, e muito, ao mostrar o lado humano dos heróis (o
melhor exemplo talvez seja o Homem-aranha,
sempre envolvido com gripes, perseguições da polícia e brigas com a namorada),
sem falar na estética expressionista de Jack Kiby. Jornada nas Estrelas inovava ao introduzir nos seriados de ficção um
vivo manifesto pacifista e ao dar um grande valor aos roteiros bem elaborados.
B.
Eles
se destacam por seu caráter mítico. Não são poucos os autores que admitem o
caráter mítico de Jornada nas Estrelas
e de personagens como o Surfista Prateado.
A mídia estariam, nesse caso, resgatando algo que havia se perdido com a
quase total extinção dos chamados contadores de histórias que, nas sociedades
de desenvolvimento tecnológico menos desenvolvido, são os principais
divulgadores dos mitos.