Em meados da década de 1940 surgiu nas bancas de
Curitiba o que talvez seja o primeiro super-herói brasileiro. Criado por
Francisco Iwerten e usando um bigodinho característico, asas e camisa gola
polo, o Capitão Gralha foi esquecido e redescoberto, marcando para sempre os
quadrinhos nacionais.
O super-herói surgiu após uma viagem aos EUA. Em
plena II Guerra Mundial, os americanos temiam que o Brasil se aliasse ao Eixo e
iniciaram a politica de boa-vizinhança, que tinha como objetivo estreitar as
relações dos Estados Unidos com os países vizinhos. Assim, artistas viajaram
para o Brasil, a exemplo de Disney e Orson Welles, e brasileiros foram levados
a conhecer a terra de Tio Sam, a exemplo de Érico Veríssimo.
Mas os americanos queriam alguém ligado aos
quadrinhos, já que as histórias em
quadrinhos estavam tendo papel fundamental na propaganda de guerra (a maioria
dos heróis dos gibis se engajaram na guerra, a exemplo do Capitão América, que
aparecia socando Hitler na capa de seu primeiro gibi).
O escolhido acabou sendo Francisco Iwerten
especialmente por conta de sua história familiar. Ele fugira da Alemanha
nazista ainda criança e fora adotado por um casal de tios, em Curitiba.
Iwerten ficou maravilhado com o sucesso dos
quadrinhos de super-heróis e mais ainda ao conhecer o estúdio de Bob Kane, que
seria para sempre seu modelo a ser seguido. Ele decidira que o Brasil também
teria seu herói!
O personagem foi criado na viagem de volta e foi de
uma versão inicial que lembrava o herói mitológico Ícaro à ficção científica.
Também surgiu uma curiosa galeria de vilões capitaneada pelo Dr. Destruição, um
maníaco fascinado pela letra D, que falava apenas usando palavras iniciadas por
essa letra.
Apesar de um sucesso mediano no começo, a revista
foi diminuindo suas vendas até ser cancelada. Iwerten passou a publicá-la então
num esquema alternativo, com baixas tiragens e acabou gastando todo o dinheiro
da herança com isso. Morreu pobre, desconhecido e os montes e gibis que lotavam
sua casa foram queimados.
Essa é a história que foi resgatada na revista Metal
Pesado Curitiba, em 1997, por um grupo de quadrinistas curitibanos. Num texto
inicial, explicava-se que o personagem O Gralha era uma releitura e homenagem
ao Capitão Gralha.
A partir daí o quadrinista e seu herói foram
redescobertos, surgiram artigos em jornais, revistas, Iwerten ganhou prêmio e
quase foi tema de escola de samba.
Em 2015, os criadores do Gralha vieram a público
revelar a verdade: Iwerten nunca existira. Ele seu herói haviam sido criados
para promover e dar um passado célebre para o personagem O Gralha. Para alguém
que não existia de fato, Francisco Iwerten se tornou bastante célebre.
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