Frank Miller desenvolveu um traço e um estilo narrativo tão próprios
que, para a maioria dos leitores, é difícil identificar suas influências. No
entanto, ele deve muito a Steve Ditko. Fica muito fácil perceber isso na história
Espiral de ameaças, publicada no Brasil na Graphi Novel 18, de dezembro de
1987.
A história, no entanto, é de 1980, ou seja, é anterior à antológica
fase de Miller no Demolidor.
O roteiro é de Denny O´Neil, editor do Demolidor e que, segundo
Miller, foi quem lhe ensinou muito sobre a narrativa.
Na história, o Doutor Destino contrata um cientista para construir
uma máquina que abriria um portal para a dimensão de Dormammu (inimigo do Dr. Estranho).
Quando a máquina fica pronta, ele manda o próprio cientista, temendo os perigos
da viagem. Lá, o rapaz recebe de Dormammu poderes sobrenaturais como forma de
se vingar de Strange. Preso, Strange envia um pedido de ajuda que acaba sendo
captado por Peter Parker.
A história une um bom texto com um desenho inspirado, nitidamente
influenciado por Steve Ditko (co-criador tanto do Homem-aranha quanto do Dr. Estranho,
os dois heróis da história).
Mostra também uma sintonia única entre os dois autores. O´Neil
escreve as legendas como se fossem trechos de uma obra arcana, o livro de
Vishanti, e Miller as coloca no texto com uma diagramação diferenciada, com
capitulares e bordas.
A primeira página da história, aliás, é um primor, com um personagem
de cada lado, o texto no meio e as bordas formadas por demônios.
A sequência em que o cientista se vê na dimensão de Dormammu é
igualmente inspirada: os primeiros quadros sem cenário e o último, de impacto,
uma explosão de formas grotescas e psicodélicas no melhor estilo Ditko. Um
deleite para os fãs e uma perfeita antecipação do mestre que Miller se
tornaria.
O volume ainda inclui a história Karma, com roteiro de Chris
Claremont, menos inspirada, mas igualmente divertida. Nessa HQ, o Homem-aranha
e o Quarteto Fantástico enfrentam uma dupla de órfãos vietnamitas com poder
mutante de se apoderar de corpos: um deles é maligno, ou outro benigno, como se
fossem reflexo do Yin Yang. Aqui vemos a diagramação inovadora de Miller e sua
narrativa revolucionária com forte uso dos contrastes. Mas o texto de Claremont
parece estar muito aquém do desenho – além do final abrupto. Além disso, o
arte-finalista Bob Wiacek em especial no começo, tenta modificar o desenho de
Miller, aproximando-o do traço dos desenhistas do aracnídeo da época, como Jim
Money.
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