Persépolis (Cia das Letras) é uma história em quadrinhos da
iraniana Marjane Satrapi que mostra a transformação do Irã em uma ditadura
islâmica do ponto de vista de uma garota de 13 anos.
Marjanje, filha de uma família de classe média, relata as
transformações em suas vidas. Nesse sentido, Persépolis lembra muito Maus, em
que Art Spielgman, também na forma de quadrinhos, mostra a vida de seu pai, um
sobrevivente dos campos de concentração.
Marjane pode não ter o domínio narrativo de Spielgman, mas
seu relato pulsa vida.
Alguns momentos são impressionantes, como o que conta como
as mulheres da família passaram a usar o véu. A mãe de Marjane saíra sozinha de
carro e, quando o carro quebrou, foi interpelada por vários homens, que
ameaçaram violentá-la por ela não estar usando o véu.
Especialistas na televisão afirmavam piamente que os cabelos
das mulheres emitiam energias que excitavam os homens, de forma que eles não eram
responsáveis caso decidissem executar o estupro.
Por ser escrito por uma mulher, o livro tem um enfoque
especial na forma como as mulheres são tratadas no Irã. Como a religião islâmica
proíbe que se matem virgens, as prisioneiras virgens são casadas com seus
próprios algozes, que as estupram antes de matá-las.
O livro tenta explicar como as coisas podem chegar a esse
estado. Amedrontadas e prontas a fazerem o que for necessário para continuarem
vivas, as pessoas vão deixando que as coisas piorem a cada dia.
No álbum, uma vizinha da protagonista, que antes mostrava as
coxas grossas em exuberantes mini-saias, passa a usar burka assim que a
revolução se estabelece.
Algumas mulheres, chamadas de guardiãs da revolução, vigiam
as mulheres que usam incorretamente o véu, ou que se vestem com roupas
consideradas inapropriadas. Tais mulheres são levadas para uma delegacia, onde
podem ficar presas por dias, sem conhecimento da família, e até mesmo levar
chibatadas.
A perseguição às mulheres não tem nem mesmo fundamentação
religiosa, já que Maomé tinha grande respeito pelas mulheres.
No Irã de Marjane qualquer um pode ser um inimigo. A mãe da
menina coloca cortinas pretas na janela para evitar que os vizinhos descubram
que dentro de casa eles se divertem ou não usam o véu.
Somando-se ao clima de terror interno, há o terror externo,
provocado pela guerra contra o Iraque. Mesmo quando o Iraque decide-se por um
acordo, o governo iraniano não aceita, pois o estado de guerra é a desculpa
ideal para endurecer o regime. Dessa forma, morrem um milhão de soldados
iranianos. Quando começam a faltar adultos, o exército passa a recrutar
crianças de 14 anos. Nas escolas davam aos meninos chaves de plástico, com as
quais poderiam abrir as portas do paraíso, cheio de mulheres e comida, caso
morressem na guerra.
Marjane foi mandada pelos pais para a Áustria e de lá para a
França, onde estudou belas artes e pode realizar um relato comovente de como o
fanatismo religioso é nocivo e irracional.
Persépolis é um livro indicado não só para os que se
interessam em saber um pouco mais sobre o situação do Oriente Médio, mas também
para aqueles que se comovem com relatos sensíveis e inteligentes.
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