domingo, janeiro 31, 2021

Fundo do baú - Terra de gigantes

 


Terra de gigantes foi o mais audacioso, criativo e caro projeto de Irwin Allen, o produtor de vários seriados de sucesso da década de  1960, como Viagem ao fundo do mar e perdidos no espaço.
A história se passa no ano de 1983, quando uma nave terrestre é envolvida por uma névoa magnética e transportada para um planeta 12 vezes maior que a Terra.
A nave ficou avariada, impossível de regressar, iniciando uma série de perigosas aventuras para os seus sete passageiros.
Os gigantes, em sua maior parte, são seres perigosos e desejam capturar os “Pequeninos”, como costumam chamá-los, a todo custo, visto que a tecnologia dos gigantes está 50 anos atrasada em relação à Terra. Logo no dia em que os Pequeninos chegam ao planeta,  já são vistos pelos gigantes e se tornam interessantes para estudos de cientistas, para servirem de brinquedo, ou mesmo para gerar lucro, como em um circo, por exemplo.
A população do planeta é controlada por um Regime Autoritário de Poder, muito assemelhado a ditaduras, que na época em que a série foi gravada, eram mais numerosas que nos dias atuais. Com isso, as histórias de Terra de Gigantes foram críticas evidentes ao autoritarismo.
Curiosidades
- Para dar maior impressão de que os atores gigantes realmente tinham alguns metros de altura, as cenas eram filmadas de baixo para cima, a uma certa distância.
- A maquete da nave Spindrift tinha praticamente 1,80m de comprimento e contou com peças já utilizadas em outras produções da Fox. Os assentos da cabine, por exemplo, foram usados no filme “O Planeta dos Macacos” (1968). Por sua vez, partes originais da Spindrift foram reutilizadas no filme “Cidade Sob o Mar” (1970).
- A equipe de criação e design era muito competente e conseguiu reproduzir bem alguns objetos em grandes dimensões, como hidrantes, câmeras, coleira de um cão, um esfregão ameaçador, tubos de ensaio, uma galinha com fome, drenos, rédeas de um cavalo, entre outros, mas quando um gigante pegava um pequenino, era sempre uma mão mecânica.
A série Terra de Gigantes foi retransmitida para mais de 80 países, incluindo da América Latina. No Brasil, a estreia foi pela TV Record de São Paulo, no dia 2 de março de 1969, às 18h30, um domingo.
Por volta de 1974, passou a ser exibida pela Rede Globo e, anos depois, pela TV Tupi.

Mistério à americana

 



Uma das poucas áreas em que os norte-americanos se destacam, em termos literários, é nas histórias policiais. O gênero foi criado por Edgar Alan Poe em abril de 1841, com o conto Os Crimes da Rua Morgue. De lá para cá, quase todos os grandes escritores da terra de Tio Sam se dedicaram, em algum momento de suas carreiras, às histórias policiais, com destaque para Dashiell Hammett e Raymond Chandler. Esses dois últimos chegaram a criar um subgênero, o noir, em que o detetive se envolve com as histórias, em oposição ao estilo inglês, em que o detetive resolve quase todo o caso de seu escritório, utilizando apenas o raciocínio lógico. Assim, a coletânea Mistério à Americana é um prato cheio para os fãs do gênero.
O livro é organizado e tem prefácio de Donald Westlake. Pouca gente o conhece no Brasil, e, no entanto, é um dos mais inventivos escritores que já tive o prazer de ler. Sua especialidade era produzir livros sob uma ótica inusitada. Em O Espião Pacifista ele mostrava um pacifista bicho-grilo envolvido em uma trama internacional de terrorismo e sendo obrigado a trabalhar para o FBI. Em A Vida Secreta de um Homem Sensual ele nos mostra um escritor de erotismo que é um frustrado sexual. Infelizmente, Westlake só organizou o volume, procurando histórias interessantes em antologias, revistas masculinas, como a Playboy, magazine especializados, como a Ellery Queen's Mystery Magazine (que foi editado aqui no Brasil com o nome de Mistéiro Magazine até a década de 70) e até revistas acadêmicas, como Oxford American.
O resultado une de escritores consagrados, como Jeffery Deaver (de O Colecionador de Ossos, que chegou a virar filme) a nomes totalmente desconhecidos.
Os que estão acostumados ao gênero policial mais convencional, no estilo Agatha Christie, vão se decepcionar. A grande maioria da história foge do padrão "Assassinato que deve ser solucionado por um detetive". Na verdade, em muitos casos, nem mesmo há um assassinato e, em outros, não há detetive. Em outras situações, o detetive só se depara com um assassinato quando está investigando um outro crime mais banal. É o que acontece, por exemplo, com "Milagres! Acontecem!", de Dough Allyn. A trama toda gira ao redor de um detetive tentando descobrir a filha desaparecida de uma cantora gospel.
Em "Motel 66"não há nem mesmo um detetive. A história tem como protagonista uma moça ingênua que passa sua lua de mel em um hotel de beira de estrada na famosa Route 66. Anos depois ela volta ao mesmo local e acaba descobrindo que sua estada ali pode estar relacionada a um crime. A história termina com a sugestão de outro crime, num clima que beira o cômico.
Em "Saltando com Jim", um detetive é contratado para proteger o marido de uma bela mulher, que parece estar envolvido com negócios escusos. Sua investigação o leva a descobrir que ele está relacionado com o comércio internacional de mulheres e que o piloto de um avião o está chantageando. Não, contar isso não estraga a história. "Saltando com Jim", assim como "Milagres! Acontecem!" são histórias noir, em que a solução do crime é menos importante que a investigação em si. Já se disse que o policial noir é o mais próximo que a literatura moderna chegou do teatro grego, em que os personagens parecem estar sendo guiados por um destino do qual não podem escapar. O detetive é apenas uma testemunha dessa derrocada.
Há uma história emblemática de Dashiell Hammett em que um detetive bate na porta de uma casa perguntando por um adolescente que fugiu de casa. Os bandidos, que estavam na casa, logo desconfiam e o prendem. Enquanto decidem o que fazer o detetive, eles discutem entre si e acabam se matando. No final descobrimos que o detetive estava mesmo procurando um garoto desaparecido e que sua presença na casa era puramente acidental. É esse tipo de ironia do destino que o leitor encontrará na maioria das histórias de Mistério à Americana.

Tem gente que escreve gibis?

 


Quando eu morava em Belém, tinha uma banca perto de casa, na qual eu sempre comprava. Um dia cheguei lá e o senhor da banca me ofereceu uma revista. Eu não comprei. E ele:
"Mas você sempre compra esse gibi!".
"Sim, mas o autor que eu gostava não está mais escrevendo esse pergonagem."
Ele fez uma cara de espanto, como se estivesse ouvindo algo inacreditável:
"Como assim, tem gente que escreve gibis?"

Bird Box - horror e poesia

 


O tema apocalíptico já foi amplamente explorado e é raro encontrar uma abordagem nova sobre o assunto. Bird Box, filme lançado recentemente pela Netflix, consegue isso (Apesar das semelhanças com Fim dos tempos, filme de M. Ninght Shyamallan).
Na história, a Terra é invadida por uma raça alienígena capaz de despertar o maior pavor de uma pessoa, levando-a ao suicídio. Para isso basta que esta olhe para um dos monstros. Na trama, um grupo se refugia em uma casa enquanto o caso se instala lá fora. O filme se desenvolve mostrando-os aprendendo a lidar com a nova situação (como fechar todas as janelas e sempre manter os olhos vendados quando em local aberto) e os conflitos que surgem entre eles mesmos. Para piorar, pessoas mentalmente perturbadas, ao invés de suicidarem, tornam-se agentes dos invasores, de modo que um sobrevivente pode ser, na verdade, um inimigo.
Em uma narrativa paralela, temos um flash foward, com a personagem de Sandra Bullock fugindo pelo rio com duas crianças em busca de um refúgio.
O bom encadeamento dessas duas narrativas é um dos pontos altos do filme, mantendo não só o suspense, mas colaborando para desenvolver os personagens.
Um outro fator que contribuiu para manter a atenção do expectador é uma dúvida: quem são as duas crianças, chamados de menino e menina e qual a relação deles com a protagonista?
Destaque para a direção segura da dinamarquesa Susanne Bier, não só por manter o suspense durante toda a narrativa, como pela habilidade de ser poética nos momentos adequados. Uma poesia, aliás, que já está expressa no título do filme, Bird Box (caixa de pássaros). 

Floresta Negra, da dupla Gian-Bené

 


Floresta Negra foi a primeira história da dupla Gian-Bené. Foi também um divisor de águas para a arte de Bené, que até então era caracterizada pelo exagero, principalmente na musculatura dos personagens. Bené fez a história como uma homenagem a Hall Foster, criador do Príncipe Valente e, para simular o estilo do mestre, usou pincel para fazer a arte-final. Por outro lado, a diagramação, a perspectiva e a anatomia remetiam ao mestre José Luís Garcia-Lopez. Imagine Hall Foster mistura com Garcia-Lopez. Essa era a arte de Floresta Negra. Essa história marca a entrada de Bené numa fase totalmente madura de seu trabalho e virou instantaneamente um clássico.
Lembro que quando ele me mostrou os originais, fiquei maravilhado. Já gostava do traço do Bené, mas ali tinha um verdadeiro salto estético, algo que mostrava que ele seria o grande desenhista de terror dos anos 1990.
Confesso que quando ele me pediu para escrever o texto, senti um frio na barriga, mas aceitei. Bené tinha uma boa ideia de como seria o texto, inclusive no fato do demônio falar em rimas – uma referência direta ao personagem Etrigan, da DC, uma das grandes criações do mestre Jack Kirby.
A história acabou sendo publicada na revista Calafrio número 45 e fez grande sucesso com os leitores, fazendo o editor Rodolfo Zalla pedir mais histórias da dupla.

Uma curiosidade é que a revista Calafrio tinha uma estrutura que tinha que ser seguida por todas as histórias - e a floresta negra não se encaixava em nenhum dos modelos de roteiro deles. Aí o editor mudou o final para encaixar. No último quadro, quando o cavaleiro coloca o crucifixo para abençoar a floresta e afastar novos demônios, o texto mudou para: "Você coloca o crucifixo na árvore, pois sabe que agora é o novo DEMÔNIO DA FLORESTA NEGRA!!!", um texto totalmente em desacordo com o que o desenho mostrava.

Ken Parker – Adah

 


Quando surgiu, Ken Parker era um faroeste totalmente diferente de qualquer coisa que já se tinha visto. A história Adah é uma representação perfeita disso.

Para começar, Parker é um personagem secundário, que aparece apenas na terceira parte da história. A trama inteira é focada em Adah, uma ex-escrava. Acompanhamos seu relato desde a mais tenra idade, quando ela percebe a dura realidade de ser escrava ao apanhar apenas por chegar perto da sinhazinha.

Depois ela descobre que não só ela, mas todos os seus irmãos, são filhos do senhor, o que a leva a situação inusitada, de amor e ódio pelo dono da fazenda. O roteiro de Berardi joga com essas sutilezas e contradições. Se por um lado, o senhor é quem se beneficia do sistema escravista e não reconhece seus filhos, por outro é também quem garante melhores condições para a família e a protege da fúria da senhora.

Essa sutileza também se revela no olhar infantil e quase poético sobre os acontecimentos, como quando Adah conhece seu namoradinho, que lhe bate e depois a protege.

Embora lide com uma chaga tremenda, a escravidão, o roteiro não entrega visões maniqueístas ou preto e branco. À certa altura, por exemplo, a avó, matriarca da família, ao saber da guerra que poderá acabar com a escravidão, diz: “Bobagem. Os escravos sempre existiram e sempre existirão. Senão, quem cuidaria dos trabalhos pesados e da terra? E nós, como acabaríamos sem a proteção do patrão?”.



Os soldados nortistas não são mostrados como libertadores desinteressados – no primeiro contato com eles, Adah é estuprada enquanto sua mãe é morta pelos sulistas.

A história só começa a se tornar um faroeste mais próximo do comum lá na frente, quando Adah, após presenciar um massacre de negros e tentar matar seu responsável, é perseguida por pistoleiros – e passa a ser protegida por Ken Parker.

Se o roteiro de Berardi é perfeito para essa trama pungente e intimista, o desenho de Milazzo é a plena realização visual dessa sutileza. Milazzo produz poesia com o nanquim, em imagens com traços finos misturados com grandes áreas de preto traçadas com pincel. Na cena em que Adah é repreendida pela mãe por ter se aproximado da senhorinha, a imagem mostra a mãe em traços limpos enquanto a menina está totalmente no escuro, numa demonstração de sua vergonha e raiva.

sábado, janeiro 30, 2021

5 ROTEIRISTAS de quadrinhos ESQUECIDOS que você deveria conhecer

Mulher Maravilha 1984


Quando Patty Jenkins lançou o primeiro filme da Mulher Maravilha estrelado por Gal Gadot, foi um alívio no meio das produções equivocadas da Warner-DC, com destaque negativo para a Liga da Justiça. Embora ainda tivesse um visual sombrio e mostrasse a amazona usando armas, havia uma boa história, uma mensagem de esperança e o tom mítico que caracteriza a personagem nos quadrinhos.

Talvez o sucesso do primeiro tenha elevado muito a expectativa sobre Mulher Maravilha 1984, filme lançado este ano. E talvez isso explique muitas das críticas mais agressivas.

O filme não é perfeito. Toda a sua trama é baseada num deus ex-machina. Uma misteriosa pedra que surge do nada e dá tudo que a pessoa deseja, mas, em troca, tira aquilo que lhe é mais importante. Mas, considerando-se que todo a base da Mulher Maravilha é calcada na mitologia, isso não chega a atrapalhar a fruição.

Na história, Maxwell Lord usa a pedra para ficar milionário com poços de petróleo, mas no processo pode destruir toda a civilização ocidental. Diana acidentalmente usou a pedra para trazer de volta Steve Trevor e uma colega de trabalho também acidentalmente usa a pedra para ganhar poderes, transformando-se na Mulher-Leopardo. Estabelece-se assim um dilema: para deter o vilão, Diana precisa abdicar de seu amor e derrotar sua amiga.

O fato do filme ser ambientado em 1984 estabelece uma quebra com o estilo Zack Snyder: saem os tons sombrios e entra uma explosão de cores. Sai as tramas depressivas e entra uma narrativa com toques de filmes de aventura – a sequência inicial, no shopping, exemplifica muito bem essa abordagem.

Também vale destacar o fato de que neste filme a personagem usa apenas seu laço da verdade. Ela foi criada para ser um símbolo da paz, por isso tinha uma arma não letal e com forte simbologia. No filme o laço é fundamental para a resolução do conflito. Mais uma quebra com o estilo Snyder, que chegou a mostrar uma imagem da amazona segurando a cabeça dos inimigos.

O filme funciona principalmente graças ao carisma de Gal Gadot.  E fica uma dica: assista a cena pós-crédito, que traz a participação especial de Lynda Carter, a Mulher Maravilha da década de 70 – que continua igualmente linda e carismática.

A arte fantástica de Mozart Couto

 


Mozart Couto foi um talento revelado pela editora Grafipar, no final da década de 1970 e se tornou um dos principais nomes dos quadrinhos brasileiros. Com seu traço influenciado por artistas como Frank Frazzetta, ele brilhava especialmente em histórias de fantasia.







Marketing, que bicho é esse?

 

Philiph Kotler, o papa do marketing e o principal autor dessa área, escreveu certa vez: “Marketing é a atividade humana voltada para a satisfação das necessidades e desejos do consumidor através de um processo de troca”.
            Vamos analisar essa definição.
            Kotler fala em necessidades e desejos. Todo mundo tem necessidades. Todo mundo precisa comer, beber, dormir... e todo mundo tem necessidade de coisas um pouco mais abstratas, como proteção, reconhecimento, status, autorrealização.
Essas necessidades não foram criadas pelo marketing, mas são usadas por ele para vender produtos. Quando um fabricante vende um colchão, ele não está vendendo uma armação de pano e algodão. Ele está vendendo a satisfação da necessidade de sono. Da mesma forma, quem vende grades não está vendendo um amontoado de metal, está vendendo segurança.
Todo produto de sucesso está associado a uma necessidade. Por exemplo: um time de futebol. Qual a necessidade que ele satisfaz? Você consegue imaginar? Para começar, o esporte trabalha a necessidade de relacionamento, pois as pessoas vão para o clube e acabam conhecendo outras pessoas. Muitas amizades começam com a pergunta: “Para que time você torce?”
Além disso, quando o time ganha, o torcedor se sente também um vitorioso. Está sendo satisfeita aí a necessidade de ser um ganhador. Não é à toa que, quando o time perde, o torcedor sente-se frustrado: afinal, a necessidade de vitória não foi satisfeita...
Kotler também fala de consumidor. Saber quem é o seu cliente é essencial, caso queira vender algo a ele. Na verdade, no marketing esse é o personagem principal. Tudo gira ao redor dele, tudo é feito para satisfazê-lo.
Portanto, produto é tudo aquilo que satisfaz uma necessidade. Uma pedra não é um produto, mas se ela for usada para satisfazer uma necessidade, ela se torna um produto.
Finalmente, Kotler explica que o marketing se dá por meio de um processo de troca. Só a necessidade e o produto não definem o marketing. Uma pessoa diante de uma necessidade (vamos dizer que ela esteja com fome) pode optar pelas seguintes alternativas:
Autoprodução – ela pode produzir a própria comida, seja pescando, colhendo frutas, seja caçando. Não há interação, já que a pessoa satisfaz a própria necessidade.
Coerção – essa é uma palavra bonita para roubo. A pessoa simplesmente se apropria da comida de outro. Isso não é marketing, pois só uma das partes é beneficiada.
Súplica – essa é uma opção mais civilizada que o roubo, mas ainda assim não é marketing. Não há nenhuma troca real envolvida e só o que o produtor recebe é a gratidão de quem recebeu a comida.
Finalmente, há a troca. Nesse caso, o produtor tem algo que o consumidor precisa (no caso, comida) e o consumidor tem algo que o produtor quer (dinheiro, provavelmente).
A maioria das necessidades pode ser encaixada numa escala, a chamada hierarquia das necessidades de Maslow. Para esse psicólogo norte-americano, existem necessidades básicas, que devem ser satisfeitas antes de se passar às necessidades mais elaboradas. Uma pessoa com fome, por exemplo, não pensa em status. Quanto mais sobe na pirâmide das necessidades mais valor tem esse produto.
Uma colher, por exemplo, satisfaz a necessidade fisiológica de fome, pois ajuda a pessoa a comer. Mas uma colher de ouro satisfaz a necessidade de status. Um copo d’água é barato porque satisfaz apenas a sede, mas um copo d’água Perrier satisfaz a necessidade de status, por isso é caríssimo.

Rock é coisa do diabo

 


Dois papas

 


Dois papas, o novo filme da Netflix dirigido pelo brasileiro Fernando Meireles, é uma obra bela e intensa. 
A trama é baseada numa conversa entre Bergoglio, então arcebispo da Argentina, e o papa Bento XVI. O religioso portenho vai a Roma pedir sua aposentadoria e Bento XVI tenta convencê-lo a não se aposentar.
Um conservador e outro progressista, o primeiro contato entre os dois é tenso, mas os dois vão aos poucos descobrindo que, embora sejam opostos em praticamente tudo, inclusive no modo de vida, eles são pessoas bem intencionadas, cada um a seu modo. E, principalmente, começam a admirar um ao outro.
O filme inteiro se sustenta sobre as atuações magistrais de Jonathan Pryce e Anthony Hopkins e a direção sensível. Dois papas poderia ser um filme chato, mas esses dois elementos, atuação e direção, fazem com que seja agradável, divertido, emocionante. 
Talvez o maior mérito de Dois papas seja mostrar que é possível que duas pessoas com ideias completamente diferentes possam conversar e até mesmo ser amigos. Numa época como a nossa, de radicalismo e extremismo, é uma bela mensagem.

sexta-feira, janeiro 29, 2021

E-book A linguagem dos quadrinhos

 


Já está disponível em versão digital o livro A linguagem dos quadrinhos. Organizado por mim, pelo Rafael Senra e pelo Matheus Moura reúne seis artigos sobre HQs, entre eles meu artigo O uso de elipse em Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller. Para baixar, clique aqui. Quem quiser adquirir a versão impressa, só mandar um e-mail para profivancarlo@gmail.com. O valor da versão impressa é dez reais (apenas para pagar o frete). 

Fundo do baú - Esquadrão classe A

 


Esquadrão Classe A foi um dos seriados de maior sucesso em meados da década de 1980. No Brasil, passava no SBT e era um programa obrigatório para a garotada.
Em muitos sentidos, o Esquadrão era uma releitura dos Sete Samurais, filme clássico de Akira Kurossawa, no qual um grupo de samurais desempregados ajuda uma vila de agricultores atormentada por bandidos. Esse tema de heróis lidando com seus próprios problemas, mas encontrando tempo para ajudar pessoas necessitadas será a base de todos os episódios do seriado. Em todos eles, o grupo de soldados da fortuna é contratado por alguém com dificuldade com malfeitores.
Além da referência básica aos Sete Samurais, o Esquadrão trazia um contexto histórico. Veteranos da guerra do Vietnã, eles são condenados por um crime que não cometeram, conseguem fugir, mas têm sempre os militares em seus calcanhares.
O texto de abertura resumia bem o clima das histórias:
“Em 1972 uma unidade especial das forças armadas foi condenada no tribunal militar por um crime que não cometeu. Esses soldados logo conseguiram escapar da prisão de segurança máxima, se estabelecendo clandestinamente em Los angeles. Hoje, procurados pelo governo, eles sobrevivem como soldados da fortuna. Se você tem um problema, se ninguém pode ajudá-lo e se você puder achá-los, talvez você possa contratar o ESQUADRÃO CLASSE A”
A estrutura narrativa era quase sempre a mesma: fugindo dos militares, os heróis chegam em um local e se deparam com pessoas sendo oprimidas, seja por patrões cruéis, bandidos ou políticos. Comovidos, resolvem ajudar, mesmo sabendo que essa ajuda poderá fazer com que sejam finalmente pegos, o que quase acontecia, em todos os episódios.
A equipe era liderada pelo Coronel John Hannibal Smith (George Peppard), um líder nato, fanático por charutos. Bom ator, Hannibal costumava protagonizar o início dos únicos episódios em que a estrutura era um pouco diferente: nestes, alguém tentava contatar o grupo de soldados da fortuna, mas se deparava com alguém inconveniente, como um vendedor de cachorros quentes muito chato. Era o coronel. A maquiagem fazia com que mesmo os telespectadores mais assíduos fossem enganados, de modo que uma das diversões do seriado era tentar descobrir quem era Hannibal disfarçado. O nome do personagem é uma referência ao general cartaginês que quase destruiu o exército romano. Assim como o seu homônimo histórico, o líder da equipe é um grande estrategista e seus planos mirabolantes eram uma das atrações da série.  
Para concretizar seus planos, Hannibal conta com uma equipe bastante heterodoxa.
O Capitão H.M. Murdock é um especialista em pilotar qualquer tipo de aeronave, mas gastava a maior parte do tempo fazendo macacadas, conversando com a própria mão ou algo do gênero. Careteiro, Dwight Schultz, que interpretava o personagem, era um espécie de Jim Carrey da época e dava o toque humorístico ao seriado.
O tenente Templeton Cara-de-Pau , interpretado por Dirk Benedict, era o galã da série e o responsável por conseguir tudo necessário para colocar em ação os planos do Coronel. Com seu charme, ele conseguia tudo, mesmo que para isso precisasse trocar seus sapatos novos por uma bota de trabalhador.
Completando o grupo, havia o carismático Sargento Bosco Barracus ou B.A. (abreviação de Bad Attitude ou temperamento ruim), interpreado por Mr.T., um grosso de cabelos moicanos, mas que adorava leite, crianças e morria de medo de voar. Como em muitas missões era necessário embarcar num avião, ou num helicóptero, uma das atrações era tentar adivinhar que estratégia seria usada pelos outros para dopá-lo. Além disso, as brigas de B.A. com o Murdock criaram uma das grandes tensões do seriado, geralmente com resultados humorísticos. O personagem também era um gênio em mecânica e era essencial para colocar em prática os planos. Como a televisão da época não podia mostrar nada mais violento que algumas explosões e pessoas saltando, os roteiristas tinham que inventar geringonças, como uma máquina que atirava repolhos.
Mesmo com uma estrutura rígida e personagens estereotipados, o Esquadrão Classe A conseguia surpreender dar uma grande lição: é necessário ajudar os outros, deixando nossos interesses em segundo plano. 

Os fãs de Rorschach

 


Um fenômeno que temos visto atualmente são pessoas com visões completamente distorcidas sobre obras famosas.

Os mais famosos desses são aqueles que leram Watchmen e concluíram que Rorschach era um herói ali. O próprio Alan Moore se espantou ao descobrir que havia fãs de Rorschach, um cara misógino, com sérios problemas mentais, que não toma banho e vive como mendigo.

Mas há muitos outros casos.

Há, por exemplo, aqueles que leram V de Vingança e entenderam que a mensagem era idolatrar e seguir cegamente políticos (nós vimos alguns desses invandindo o congresso americano para defender seu ídolo Trump).

Há outros que leram Cosmos, de Carl Sagan e concluíram que a terra é plana. Outros leram O macaco nu, de Desmond Morris e concluíram que vacinas matam.

Essa é uma geração (independente de idade) de pessoas doutrinadas e lobotizadas por por mensagens de zap zap e vídeos de teorias da conspiração. Tais canais criaram em larga escala o efeito Dunning-Kruger, em que a pessoa incompetente é incapaz de perceber a sua própria ignorância. Por mais que lhes seja ensinado algo, elas não aprendem nada justamente por acreditarem que já sabem tudo. O mesmo acontece quando elas lêm um quadrinho ou um livro. Elas são incapazes de apreender a mensagem – e, caso o próprio autor venha a contradizê-las, é comum dizerem que o autor não etendeu a própria obra, como aconteceu recentemente com Neil Gaiman.


La casa de papel

 


Existe toda uma tradição de filmes sobre golpes elaborados e assaltos. Alguns exemplos disso são 11 homens e um segredo (Steven Soderbergh, 2001) e Golpe de Mestre (George Roy Hill, 1973). Um ótimo exemplo desse gênero é a série La casa de papel, criada por Álex Pina para o canal espanhol Antena 3 e lançado no Brasil pela Netflix.
Com roteiro intricado e inteligente, a série mostra um assalto à Casa da Moeda espanhola. Quando estão saindo com o dinheiro, são surpreendidos pela polícia e retornam para o prédio. É quando se revela o verdadeiro plano: a ideia é ficar lá dentro durante dias, imprimindo o seu próprio dinheiro: cédulas impossíveis de serem rastreadas.
Por trás disso, a figura do Professor, um tipo intelectual que bolou o plano como quem joga xadrez, antecipando as ações da polícia e se aproveitando delas.
Claro que o Professor não pode prever tudo e muitas vezes as coisas saem do controle, seja tanto fora da Casa da Moeda quanto dentro. No outro lado, uma policial responsável pela negociação que percebe o jogo do Professor e começa também a jogar com ele – e este começa a jogar com ela em uma dinâmica de gato e rato.
Da mesma forma, temos as relações entre os assaltantes e destes com os reféns. O tempo todo algo está acontecendo – e os roteiristas jamais deixam cair o nível da narrativa.  
Além disso, há diversas referências, tanto musicais (a música Bella Ciao é título de um dos episódios) e visuais, como as máscaras de Salvador Dali usadas pelos assaltantes.

Jornada nas estrelas - Os anos mortais

 


Eu acredito que a melhor ficção científica prescinde de grandes orçamentos e efeitos especiais. Exemplo disso é o episódio os “Anos mortais” da segunda temporada de jornada nas estrelas.

Na trama, um grupo de tripulantes desce em planeta para um visita de rotina. Mas o que encontram é aterrador: todos os habitantes do local morreram ou estão morrendo de velhice. Um casal de sobreviventes tinha menos de 20 anos, mas aparentam mais de 90. Ao voltarem para a Enterprise, a doença degenerativa começa a acometer os tripulantes, entre ele o trio Kirk, Spock e McCoy. Para piorar ainda mais a situação, um comodoro, que está sendo transportado para uma estação espacial, assume o comando, alegando que Kirk não tem condições de comandar a nave, o que coloca a Enterprise na rota de naves romulanas.

É um episódio praticamente sem cenários externos e cujo único efeito é a maquiagem nós atores. Mesmo assim, tudo funciona a começar pelo conceito, que aborda um perigo real da exploração espacial. Se na própria terra já são muitas as doenças que surgem ou ressurgem, imagem no espaço.

Além disso,o dilema moral da tripulação, tendo que depor em uma audiência que todos sabem que terminará com o capitão deposto de seu cargo - e todos tentando, sem sucesso, evitar o inevitável. Leonard Linoy leva esse dilema ao seu extremo, pois atua como promotor.

Em sua canastrice inspirada, Kirk consegue repassar a luta do capitão contra a degeneração mental e vai ao outro extremo quando finalmente consegue salvar a nave.

quinta-feira, janeiro 28, 2021

A invenção da imprensa

 


O filósofo Marshall McLuhan propunha que a forma como nos comunicamos molda a sociedade em que vivemos e a forma como pensamos. A invenção da escrita, por exemplo, permitiu a criação dos grandes impérios, do pensamento linear e da burocracia. Na Idade Média, a invenção do pergaminho abriu caminho para que a escrita fosse vista como algo divino, elitizado, moldando a sociedade do período.
Outra grande mudança ocorre com a invenção da imprensa. McLuhan considera tão importante essa invenção que chama o mundo criado pela imprensa como Galáxia de Gutemberg. Com ela veio a era das revoluções, o nacionalismo e até o sentimento de individualidade e privacidade.
Uma das revoluções causadas pela impressa foi a publicação de livros, em especial a Bíblia em línguas locais. Essas edições deram às pessoas a noção de pátria, unida por uma linguagem. Além disso, com o barateamento do processo de produção, agora era possível ler livros individualmente, ao contrário da Idade Média, em que a leitura era quase sempre coletiva, com uma pessoa lendo para um grupo. Isso deu às pessoas a noção de individualidade e privacidade. Curiosamente, mais ou menos no mesmo período a arquitetura traz uma grande inovação: os corredores, que vão permitir que as pessoas tenham a privacidade de seus quartos. Com o tempo, muitos desses corredores passam a ser ornados por obras de arte, quadros assinados por grandes artistas, mantidos por mecenas, daí surgindo a ideia de direito autoral (na Idade Média os artistas não assinavam seus trabalhos pois se considerava que sua arte era para a glória de deus e não do pintor). Nas palavras de McLuhan: “A imprensa criou o livro portátil, que os homens podiam ser em particular e isolados dos outros. O homem podia, agora, inspirar – e conspirar. Como a pintura de cavalete, o livro impresso muito contribuiu para o novo culto do individualismo”.
A invenção da imprensa vai popularizar o pensamento linear, já que os livros vinham numa sequência lógica que devia ser lida página a página.
A imprensa permitiu também a era das revoluções. O protestantismo surgiu a partir da leitura da Bíblia em línguas nacionais (antes era proibido traduzir a Bíblia e praticamente só os padres as liam e interpretavam para os fieis). Também como consequência do barateamento dos livros, as ideias de filósofos revolucionários, como Descartes e, posteriormente, os iluministas, como Voltaire e Rousseau, se espalharam pelo mundo. As ideias revolucionárias se espalhavam não só na forma de livros, mas também através dos jornais. Não é coincidência que os três grandes líderes da revolução francesa (Danton, Marat e Robespiere) eram também jornalistas. 
A criação da rotatória e, posteriormente, do rádio e do cinema, iriam de novo provocar grandes mudanças. Nunca antes uma mensagem poderia ser enviada a tantas pessoas ao mesmo tempo. Isso possibilitou a cãoenção de ditadores como Hitler e Mussolini, que utilizaram jornais, rádios e filmes para difundir suas ideias e convencer as pessoas a obedecerem. Tratava-se da era das massas em que as pessoas eram tratadas apenas como parte de um todo. Esse período foi sintetizado na teoria hipodérmica, segundo a qual a mídia tem poder absoluto sobre as pessoas.
Em meados do século XX surge a televisão e com ela a era do audiovisual. Embora fosse um meio de massa, McLuhan enxergava nela uma possibilidade de maior participação. A baixa resolução da telinha levaria o expectador a interagir com o conteúdo, não se tornando o apático receptor da era das massas. Essa visão otimista e um pouco ingênua, há de se destacar o fato de que a transmissão da guerra do Vietnã fez com que pela primeira vez a juventude americana se pronunciasse contra uma guerra. Provavelmente a familiaridade com imagens de vietnamitas, como a da menininha correndo nua, atingida por napalm, tenham possibilitado uma maior aproximação com o fato. A TV tornou possível ver que o inimigo também era um ser humano.
Embora estivesse escrevendo muito antes da internet, McLuhan parecia antecipar a sociedade da informação: “As informações despencam sobre nós, instantaneamente e continuamente. Tão pronto se adquire um novo conhecimento, este é rapidamente susbstituído por uma informação ainda mais recente. Nosso mundo eletricamente configurado forçou-nos a abandonar o hábito de dados classificados para usar o sistema de identificação de padrões. Não podemos mais construir em série, bloco por bloco, passo a passo, porque a comunicação instantânea garante que todos os fatores ambientais e de experiência coexistem num estado de ativa interação”.
Nesse  mundo de informação contínua, a comunicação se transforma num fluxo caótico em que a mídia oferece cada vez mais dados e a o cérebro humano é obrigado a se adaptar a receber. Na medida em que a mente humana se acostuma com esse fluxo, passa a pedir mais e mais e o processo se amplia mais ainda num círculo vicioso.
As novas  gerações lidam com informação como se fosse um vício: é a novidade que vira a qualquer momento no Facebook ou no Twitter, é o e-mail essencial que virá a qualquer momento e que exige constante vigilância.
As mensagens não são mais procuradas e recebidas de maneira linear, como na galáxia de Gutemberg, em que as informações vinham na mesma sequência das páginas dos livros. Nesse novo mundo, a informação passa a ser relacional. A leitura de um texto leva a outro texto, que leva a outro texto, que leva a outro texto e que muitas vezes leva ao primeiro texto.

Psicopatas: sob controle

 

Muitos psicopatas só se sentem no controle quando mantam suas vítimas

A necessidade de controle é uma das características básicas de psicopatas. Todo psicopata é obcecado pela idéia de controlar outras pessoas.
            Jeffrey Dahmer, por exemplo,  injetava ácido no cérebro de suas vítimas na tentativa de transformá-las em zumbis escravos sexuais.
         A maioria dos psicopatas mantém a vítima presa por longos períodos antes de matá-la. Nesse período, a vítima é humilhada e degradada para mostrar quem está no comando. O ritual que os psicopatas costumam fazer suas vítimas seguirem é uma forma de firmar esse controle.
         Recentemente foi descoberto na Áustria o caso de um psicopata que seqüestrou uma menina e a manteve prisioneira em seu porão durante oito anos. Durante oito anos ele se sentiu plenamente no controle da situação, dominando completamente a pobre menina.
         Alguns psicopatas só sentem que têm controle sobre a vítima depois que estão mortas, então a matam e depois começam seu ritual.
         Percebe-se a procura de controle por parte do psicopata na escolha do local, do roteiro a que ele submete as vítimas, das armas que ele traz consigo e do tipo de mutilação.
         Dayton Leroy Rogers atacou uma menina de 15 anos com uma faca. Foi preso e colocado num programa de reabilitação. Tempos depois, começou a matar prostitutas. Ele as levava a locais remotos da floresta. Então amarrava as vítimas e iniciava um ritual de humilhação detalhado e metódico.Havia falas de texto que elas deveriam declamar. Ele retalhava seus pés e seios e se masturbava sobre eles. Essa era sua forma de mostrar que estava no controle.
         O gigante Big Ed costumava andar com a cabeça de suas vítimas no porta-malas de seu carro, mesmo quando ia se encontrar com policias ou com o psicólogo da custódia, como forma de mostrar para si mesmo que estava no controle.
Essa necessidade de controle faz também com que psicopatas se aproximem de pessoas que exercem funções de controle na sociedade. Policiais, políticos e altos executivos são amigos preferenciais de psicopatas. Big Ed, por exemplo, era amigo de todos os policias da cidade onde praticava seus crimes e tinha uma moto e um carro parecidos com os da polícia.

O livro dos cinco anéis

 



Miyamoto Musashi foi o mais célebre samurai. Conseguindo sua primeira vitória em duelo aos 13 anos, Musashi nunca foi derrotado. Aos 30 anos, após vencer Sasaki Kojiro, um dos mais hábeis samurais da época, Musashi passou por uma grande mudança espiritual. Recolheu-se para buscar o significado mais profundo da luta das espadas. Para isso ele começa a meditar e a praticar pintura e caligrafia.
Aos 60 anos, escreve para seu discípulo um livro contendo seus ensinamentos e seu estilo, Niten Ichi Ryu. Essa obra, chamada o livro dos cinco anéis, se tornou um dos mais importantes livros de estratégia do Japão.
A obra foi publicada em edição bilíngue (português-japonês) em 2010 pela editora Conrad. É uma linda edição, com ilustrações e textos explicativos nas bordas.
O livro é interessante tanto para entender a cultura japonesa quanto para entender a estratégia de guerra. Segundo musashi, os mesmos princípios usados para derrotar um único homem podem ser usados para derrotar 10 milhões de inimigos. Para ele, um dos princípios básicos é que um guerreiro deve entender não só de batalhas, deve conhecer e dominar várias artes, não só a militar. Daí porque ele se dedicou a aprender pintura e caligrafia, por exemplo. Nesse sentido, o livro já era, naquela época, uma ode contra a hiper-especialização. Quanto mais amplo o conhecimento de alguém, maior a chance dele se destacar naquilo que é sua especialidade.
Muito da filosofia de Musashi vem do zen-budismo e podemos notar isso nos trechos em que ele recomenda saber reconhecer o tempo certo da ascensão e declínio de todas as coisas. Ou quando ele afirma que tanto no cotidiano quanto nos momentos de luta o espírito deve permanecer inalterado, alerta, perfeitamente tranquilo e equilibrado: “Nunca se permita paralisar, conserve o espírito sempre livre, mas de prontidão. Mesmo com o corpo relaxado em situações de repouso, mantenha o espírito alerta e, quando o corpo estiver agitado, o espírito deve permanecer tranquilo”.
O autor orienta a conhecer o ambiente em que se dará a luta e usá-lo a seu favor: por exemplo, colocar-se na posição de combate com as costas voltadas para o sol, ou de houver um fogueira, com as costas voltadas para a fogueira.
Um dos capítulos mais interessantes do livro, fundamento básico da estratégia de guerra é aquilo que ele chama de “pressionar contra ao travesseiro”. A técnica consiste em nunca deixar que o adversário comande seus movimentos: “É fundamental, a qualquer custo, subjugá-lo à sua vontade (...) O importante na estratégia militar é neutralizar as ações úteis do oponente e permitir as inúteis”.
São dicas que nitidamente têm aplicação não só na guerra, mas no marketing, no marketing político ou qualquer outra situação em que uma pessoa ou organização se deparada com algum tipo de adversário.