Em 1987, quando era um postulante a roteirista de quadrinhos,
Neil Gaiman começou a escrever uma história infantil para sua filha mais nova.
Holly gostava de histórias assustadoras, com bruxas e meninas corajosas.Gaiman
começou pelo nome da personagem: Caroline, e escreveu errado, Coraline, mas
percebeu que que era um nome melhor que aquele que havia pensado. Sua
personagem se chamava Coraline!
Pouco depois, Gaiman se tornou escritor de Sandman,
envolveu-se em vários projetos e a história foi deixada de lado. Em 1992 ele
voltou ao texto e produziu um livro único. Uma mistura de conto de fadas com
história de horror narrado com a suavidade e a poesia que caracterizam o
escritor britânico. Em 2009 o livro foi adaptado para o cinema numa animação em
stop motion dirigida por dirigido por Henry Selick.
É esse livro que a editora Intríseca trouxe para o público
brasileiro em 2020 numa edição belíssima, que encanta desde a capa, obra de
Chris Riddell (também autor das ilustrações internas). A edição é em capa dura,
com a lombada lilás, fita lilás para marcar as páginas e aberturas de capítulos
em lilás. É o tipo de edição que chama atenção por si só, independente do conteúdo.
Quanto ao conteúdo? O conteúdo é incrível.
A trama é sobre uma menina que acaba descobrindo uma passagem
para outra dimensão onde encontra uma outra mãe e um outro pai. São iguais aos
pais verdadeiros, exceto por um detalhe: botões costurados no lugar dos olhos. O
objetivo da outra mãe é convencer Coraline a ficar naquele outro mundo. Quando a
menina volta, descobre que seus pais sumiram. Agora ela tem que retornar e
tentar resgatar seus pais e fugir das garras da outra mãe.
Como dito, é uma história de terror, mas contada com uma
sensibilidade que só se poderia esperar do autor de Sandman e Orquídea Negra.
À certa altura, por exemplo, é narrada a decapitação de um
rato. O texto diz:
“Abriu os olhos e viu o rato. Ele estava deitado no
caminhozinho de tijolos no pé da sacada e parecia surpreso. Sua cabeça, por
sinal, encontrava-se caída a uma distância considerável do restante do corpo. O
bigode estava retesado, os olhos esbugalhados, e os dentes amarelados e afiados
à mostra. Um colar de sangue cintilava em seu pescoço”.
Coraline é um livro para crianças, para jovens, adultos, para
quem gosta de histórias de terror ou contos de fadas. É um livro para quem
gosta de ler.
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