Há algum tempo o canal Porta dos Fundos tem realizado
especiais de natal cuja popularidade é toda calcada na polêmica. Esse processo
culminou com o especial de 2019, o mais polêmico e o de maior sucesso. Ao mostrar
Jesus como homossexual, o grupo despertou a fúria dos fanáticos religiosos (curiosamente
o Jesus bêbado do especial de 2018 não causou tanta hojeriza). A situação
tornou-se até mesmo caso de polícia – quando a produtora do grupo sofreu um
atentado.
Assim, era de se esperar que o especial de 2020 fosse ainda
mais polêmico.
Entretanto, o caminho escolhido pelo grupo foi exatamente o
oposto: contar a histórial real de Jesus, com os principais fatos relatados na
Bíblia.
O especial foi construído como um documentário, feito após a
morte de Jesus, com depoimentos das pessoas envolvidas. Considerando-se que
vivemos um momento de pandemia, foi uma escolha acertada: a maioria das cenas
traz apenas um, no máximo dois atores.
E, na essência, o que esse mocumentário (documentário falso)
mostra é o que está na Bíblia: Jesus foi preso, torturado e morto em uma trama
envolvendo poderosos da época e e a religião oficial; o povo preferiu votar
para soltar o criminoso Barrabás; Judas trai Jesus em troca de dinheiro etc.
O humor surge de situações específicas, como Jesus usando seus
poderes quando jovem, em brincadeiras infantis ou o centurião argumentando que
não houve violência policial. Uma das melhores cenas é a que envolve o que
seria um programa policial da época, mostrando Jesus como bandido, que merecia
morrer: “Você já viu gente de bem crucificado?”, pergunta o apresentador. Outra
fonte de humor são as referências a fatos recentes, como as rachadinhas ou os
guardiões do Crivella.
Então parecia que o Porta dos Fundos finalmente tinha acertado, com um especial em que o foco era o humor e não a polêmica... além da estrutura narrativa criativa e surpreendente. Mas, na sequencia final, a estrutura de documentário é jogada no lixo e substituída por um vídeo-clipe que simplesmente não se encaixa com o restante. Uma pena.
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