V de vingança foi um marco para minha geração. Havia uma opinião unânime de que Watchmen era (e ainda é) a mais perfeita história em quadrinho já escrita. Do ponto de vista técnico, Watchmen é insuperável. Os cortes narrativos, o ritmo, a linguagem sendo adaptada à personalidade de cada personagem... uma obra genial.
Mas também era mais ou menos consenso que V de Vingança era melhor em muitos sentidos. Não tinha todo o apuro técnico, mas era uma obra na qual se podia sentir Moore por inteiro, uma verdadeira profissão de fé do roteirista.
A história de um herói vingador e libertário numa Inglaterra dominada por um regime totalitário calava fundo na alma de todos nós, que, embora não tivéssemos vivido diretamente o Regime Militar, éramos um reflexo dele. Foram cinco edições mensais, cinco meses de agonia. Quem hoje compra a edição encadernada da Panini perde muito do suspense. Lembro que, na faculdade, uma das discussões mais freqüentes era: quem é V? Qual a sua identidade? Depois descobriríamos que a resposta estava muito além do que pensávamos.
Os temas levantados por V de Vingança davam ensejo a calorosas discussões. Por exemplo, em determinado momento, V diz que a felicidade é uma prisão, a mais insidiosa das prisões, pois não se quer sair dela. Ele falava da felicidade da massa, do gado (eh, eh, ohh, vida de gado, povo marcado, povo feliz), mas motivou uma interessante discussão sobre o que é mais importante para o ser humano: a felicidade ou a liberdade?
Outros momentos marcantes:
Quando V conversa com a justiça e a acusa de esposa infiel, que o anda traindo com homens de uniforme;
V deixando louco o comandante do campo de concentração;
A história de Valerie, a atriz homossexual de Dunas de Sal;
As referência à letra V. Tudo na história gira ao redor do V. Até o quarto em que o protagonista fica no campo de concentração é o quarto cinco, V em algarismos romanos. E todos os capítulos têm títulos que começam com a letra V...
Finalmente, V na televisão, argumentando que a humanidade é um funcionário relapso, que deixava um sem número de malversadores, lunáticos e fanáticos tomarem decisões em seu lugar e que, se continuasse com esse comportamento, seria demitido.
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