terça-feira, fevereiro 28, 2023

Vingadores – A invasão dos homens-lava

 


O quinto número da revista dos Vingadores mostrava uma trama reciclada à exaustão. Seres das profundezas que ameaçavam a humanidade já tinha aparecido no Quarteto Fantástico, Hulk e Thor.

Na história, uma montanha esverdeada surge no sudoeste dos Estados Unidos. A mesma provoca sons terríveis, verdadeiras bombas sonoras, capazes de provocar grande destruição.

Os homens-lava já tinham aparecido antes numa história do Thor. 


 Ao investigar, os Vingadores descobrem que a ameaça é obra dos homens-lava, que, ao ver a montanha surgir em seus domínios, resolveram expulsá-la para a superfície. Ocorre, no entanto, que o artefato é tão poderoso que poderá partir o planeta ao meio, acabando com toda forma de vida. E não é possível destruí-la: toda vez que é atingida, a formação natural emite um de seus sons destruidores.

Rick Jones torna-se parceiro do Capitão América. 


Ou seja, é uma trama eletrizante, que aproveita muito bem a premissa inicial e o grupo de heróis. É a primeira vez, por exemplo, que temos uma trama paralela, que aliás, é usada como elemento de suspense: o Gigante descobre o ponto fraco da montanha, mas só Thor seria capaz de atingi-lo com seu martelo. Mas thor está preso em outro lugar, transformado novamente em Donald Blake. Para piorar, o Hulk surge ali e começa a atacar os vingadores restantes. Como sobreviver ao golias esmeralda e, ao mesmo tempo, destruir a rocha verde?

O terror, o terror!

 


O terror é uma das emoções humanas mais básicas e fundamentais. Somos todos assombrados por algum tipo de fantasma. Talvez o medo seja a primeira emoção experimentada pelo ser humano, o medo de um mundo desconhecido que se encontra do lado de fora da barriga da mãe.
E o terror nos acompanha por toda a vida: ele está em filmes, seriados e quadrinhos, causando fascínio e repulsa.
Eu tive boa parte de minha carreira ligada ao terror. Quando comecei a escrever quadrinhos, esse era o único gênero – além do erótico – em que um brasileiro podia fazer quadrinhos. Meu grande parceiro na época era o compadre Bené Nascimento (Joe Bennett) e lembro que nos divertíamos muito imaginando as formas mais bizarras de matar ou dar um destino pior aos protagonistas. Também fazíamos piadas internas, em que cada um de nós era submetido a situações de terror. Em uma das HQs, um personagem com meu rosto sofria de medo de multidões e via seu corpo transformado em milhares de bocas em eterno falatório.
Como disse, era uma piada interna, mas hoje penso que, por trás do riso havia algo mais, como essa fosse uma forma de lidar com algo difícil. Quantas pessoas não riem diante de uma situação embaraçosa ou até mesmo perigosa? “Hahaha! Poxa vida! Esse carro quase leva o meu braço!”.
A verdade é que todos nós precisamos do terror por algum tipo de necessidade psicológica. Talvez o medo verdadeiro seja algo tão insuportável que precisamos de um treino para lidar com ele. É como as pessoas que se borram toda apenas em pensar em locais altos e são levadas por psicólogos para edifícios e incentivadas a enfrentarem seus medos de forma controlada.
Da mesma forma, você pega essa revista e exorciza seus fantasmas. Se a situação ficar realmente difícil, se a mão fria da morte parecer estar tocando sua fronte, basta fechar a revista e os demônios estarão ali, presos nas páginas fechadas, sob controle. Mas eles estarão lá acenando para você e, uma hora ou outra, você voltará a abrir as páginas e ler como o menino que morreu de medo na montanha russa, mas mesmo assim voltou para a fila.
Talvez a grande lição do terror é que nós podemos vencer nossos demônios.
A casa do terror é uma revista para aqueles que sabem que o medo pode ser um dos grandes segredos da vida, tão essencial quanto o amor e o oxigênio.
(editorial que escrevi para o primeiro número de A casa do terror) 

Viva - a vida é uma festa

 


O ser humano é o único animal que tem consciência da própria morte. A percepção da própria finitude fez com que ele procurasse formas de sobreviver na memória de outras pessoas. Ter filhos, família, deixar uma obra pela qual será lembrado são formas de continuar existindo após a morte, de alcançar a imortalidade.

O esquecimento como uma forma de morte é o tema central de Viva - a vida é uma festa, filme da Pixar dirigido por Lee Unkrich, de 2017.

A história se passa no México. O garoto Miguel sonha se tornar um músico, mas vive em uma família em que todos odeiam a música. A tararavó de Miguel, Amélia, foi abandonada pelo marido músico e a partir de então, a música foi banida do seio familiar.

Durante o Dia de los muertos, a família coloca em um altar as fotos de todos os seus ancestrais, incluindo a foto da taravó e seu marido, com o rosto recortado. Ao acidentalmente, quebrar a moldura, Miguel descobre que o marido de Amélia segurava o violão de Enersto De La Cruz, o que pode indicar que ele é descendente do cantor mais famoso do México. Quando seu violão é quebrado, ele resolve “emprestar” o violão do famoso tataravô como forma de apresentar em um festival de música. É quando a magia acontece: ele é transformado em um fantasma e começa sua jornada pelo mundo dos mortos. Seu objetivo é encontrar Ernesto de la Cruz e conseguir sua benção para voltar ao mundo dos vivos e, ao mesmo tempo, tornar-se um músico importante.

No caminho, encontra com um fantasma abandonado, cujo único sonho é voltar para a terra para visitar sua filha, a única pessoa que ainda se lembra dele. Na realidade do filme, quando alguém é totalmente esquecido, ela desaparece inclusive do mundo dos mortos, sumindo para sempre.

Em sua jornada, Miguel irá descobrir um novo significado para seu talento e se reconciliará com a família.

A cena em que Miguel canta para a vó é um dos momentos mais emocionantes.


O resultado disso é um filme repleto de ação, mas também repleto de significados, engraçado, mas emocionante. É um filme com roteiro pefeito, em que tudo se encaixa e até as piadas de fundo acabam se mostrando fundamentais para a história. E é um filme musical em que nada é forçado, todas as músicas encaixam perfeitamente na narrativa. A música “Lembre de mim”, por exemplo, praticamente resume a história e gera uma das cenas mais emocionantes do filme, quando o garoto canta para a bisavó:

 

Lembre de mim

Hoje eu tenho que partir

Lembre de mim

Se esforce pra sorrir

 

Não importa a distância

Nunca vou te esquecer

Cantando a nossa música

O amor só vai crescer

 

Lembre de mim

Não sei quando vou voltar

Lembre de mim

Se um violão você escutar

 

Ele, com seu triste canto

Te acompanhará

E até que eu possa te abraçar

Lembre de mim

Marketing: o produto

 

Segundo a definição de Philiph Kotler, produto é tudo aquilo que satisfaz a necessidade do cliente. Uma pedra não é produto, mas a partir do momento em que alguém precisa de pedras (por exemplo, para uma construção) e alguém se habilita a retirar essa pedra e a entregar na casa do freguês, ela se tornou um produto.
Isso significa que, onde quer que exista uma necessidade, há uma oportunidade para a empresa atenta. Grandes empresas têm se destacado por conseguir vislumbrar oportunidades onde ninguém mais as via.
Há uma história sobre uma empresa de sapatos que pretendia exportar seus produtos para a África e enviou dois vendedores para verificarem o mercado local. Ao final de um determinado período, um deles ligou: “Chefe, cancele tudo. Não vai ser possível exportar sapatos para a África. Aqui ninguém usa sapatos!”. Pouco depois, o outro vendedor ligou: “Chefe, aumente a produção. Aqui ninguém usa sapatos, pois ninguém oferece o produto. Todo mundo vai querer e não vamos ter concorrência!”
Onde um vendedor viu risco, o outro viu oportunidade. De fato, o questão das pessoas não saberem que existe um produto não significa que elas não sintam necessidade dele. Os africanos da história não sabem os benefícios que sapatos confortáveis trazem e, assim que souberem, ficarão doidos para ter seu próprio par. Situações semelhantes já aconteceram no Brasil com o sabão em pó e o fio dental, produtos que não eram usados no país.
Existem três possibilidades de criar oportunidade de mercado, tanto para produtos como para serviços: 1) fornecer algo escasso; 2) fornecer, de maneira nova ou melhorada, um produto ou serviço que já existe; 3) oferecer um novo produto ou serviço.
Fornecer algo escasso é a situação mais simples, que exige pouco talento, apenas esperteza. As empresas como McDonald’s e Nike, que entraram no mercado de países recém-saídos do comunismo, fizeram isso. Antes, quando toda a produção era centralizada pelo Estado, as pessoas passavam horas na fila para comer um lanche ou comprar um par de tênis. Assim, quando essas empresas se instalaram nesses lugares, conseguiram lucros rápidos e fáceis.
Fornecer de maneira nova ou melhorada um produto ou serviço já existentes exige uma análise detalhada de mercado. É necessário ouvir o cliente para saber em que ponto ele está insatisfeito com o bem ou serviço atual. A percepção de que o cliente, dono de carro, não queria ficar preso ao álcool, mas gostaria de ter a possibilidade de economizar quando a gasolina estivesse muito alta, fez com que fosse criado o carro flex, que funciona tanto com álcool quanto com gasolina, ou com os dois misturados.
A percepção de que os consumidores jovens não estavam interessados em luxo, mas queriam viajar gastando pouco, fez com que a Gol apresentasse um novo modelo na aviação brasileira: o baixo preço, baixo custo. Na época em que a empresa surgiu, falava-se que seria um fiasco, pois o mercado era dominado por duas grandes concorrentes: a Varig e a TAM. No entanto, o modelo Gol deu tão certo que não só conquistou os jovens, como também as pessoas que não estavam acostumadas a viajar de avião, que achavam que “era coisa de rico”.
A Coca-Cola percebeu que havia uma grande quantidade de pessoas fanáticas por Coca, mas que não queriam engordar. Lançou, assim, a Coca Light e a Zero, um produto com gosto igual (ou quase), mas sem calorias. O resultado é um grande sucesso.

Quando a batata Pringles surgiu, já existiam outras similares, mas todas quebravam e ficavam moles depois que a embalagem era aberta. A melhoria apresentada por essa batata a fez conquistar mercado, mesmo com o alto preço. 

Skreemer: a história de um gigante

 




Existem obras que, pela qualidade visual e literária, transformaram os quadrinhos na nona arte. Um exemplo disso é a minissérie Skreemer, de Peter Milligan (texto) e Brett Ewins (desenho). Os dois produziram uma obra que, embora tenha tido inspiração na literatura, não caberia num livro.
O tutor literário de Milligan é James Joyce, autor de Ulisses. Foi no livro Finnegan´s Wake que o roteirista se baseou para escrever sua HQ. Por sua vez, o livro de Joyce é uma referência a uma canção popular irlandesa, na qual um homem volta do mundo dos mortos após levar um banho de uísque.
Na história em quadrinhos, os EUA são dominados por gangues, que governam o país. O maior dos chefões é Sreemer, um homem frio, atormentado pelo destino.
Quando a história começa, a império de Skreemer está desmoronando. As outras quadrilhas o cercam, preparando-se para lançar o ataque final. Mas o gigante não pretende cair. Para isso, ele lançará sobre a cidade balões com um novo tipo de doença, contra a qual apenas ele tem a cura. Isso criará a instabilidade necessária para que a era da queda se perpetue.
Toda a história (seis capítulos) se passa na meia-hora, no máximo: enquanto espera a concretização de seu plano, Skreemer se lembra de seu passado. É aí que entra o grande charme de Skreemer: os flash backs. Fora a meia-hora de espera, todo o resto são lembranças do gangster.
Milligan ainda meteu pelo meio a história da família Finnegan, cujo patriarca se orgulha de ter o nome ligado a um livro de James Joyce que, como a vida, andava em círculos e era complicado demais para se entender.
Essa trama é usada para discutir, entre outros assunto, o destino, cuja mão implacável parece governar a todos. Skreemer se torna um MacBeth moderno, um monarca atormentado pelo estigma da traição e da queda, lutando para romper um futuro que parece inevitável. Mais que uma boa história em quadrinhos, Skreemer é um exemplo de como os quadrinhos superam, em alguns sentidos, até mesmo a literatura. A alternância entre cenas do presente e do passado é feita através de mudanças de coloração (opaca nos flash backs). Texto e desenho se unem para transmitir uma mensagem que permite várias leituras.

Entenda por que os comentários estão sendo moderados

 


 - Gian, entrei no seu blog e tentei comentar numa matéria, mas não ele não foi publicado imediatamente 

- Infelizmente eu tive que acionar a moderação de comentários. 

- Mas por quê? 
- Olha o tipo de comentário que os bolsominions estavam postando. 



- Caramba, são dezenas de comentários iguais o cara já começa te chamando de stalinista! 

- Pois é, virei um "extremista de esquerda stalinista"! 
- Caramba! 
- É o culto à personalidade. Como eles consideram o Bolsonaro um semi-deus, qualquer um que não o idolatre é imediatamente chamado de comunsita, petista, stalinista, dentista, skatista, surfista, remista. E pode colocar na conta vários outros "comunistas": Jim Starlin vira marxismo cultural, Raul Seixas vira marxismo cultural, Alan Moore vira marxismo cultural. E, para eles, comunista precisa ser preso. Para eles a Globo é comunista, a Folha de São Paulo é comunista, o Estadão é comunista. Esse tipo de gente só se informa pelo zap zap e por canais bolsonaristas como o Terça-livre. Qualquer coisa fora disso é comunismo. 
- O cara está te chamando de lulo-petralha?!!!



- Pois é, eu que nunca votei no PT, que sempre critiquei o PT, que na época da faculdade vivia em pé de guerra com os petistas da turma, de repente virei petralha só porque me recuso a idolatrar o mito. 
- E você praticamente nem fala de política no seu blog. 
- Pois é. Mas a estratégia deles é Dart Vader: ou você idolatra o Capitão ou é comunista, stalinista, petista, skatista, surfista, dentista, remista. Teve um "amigo" bolsominions que ameaçou me dar um soco só porque eu disse que político é para ser cobrado não para ser idolatrado. Outro disse que o pior tipo de "comunistas" são os "isentões": isentão aí significa alguém que se recusa a idolatrar o mito deles, mas ao mesmo tempo não idolatra o Lula, que se recusa a tecer elogios à ditadura militar, mas também não elogia a Coréia do norte. Antigamente para ser comunista precisava ser fã do Karl Marx, precisava ler o Manifesto Comunista, precisava acreditar em ditadura do proletariado. Hoje em dia, para ser comunista, basta não idolatrar o mito.
- Ele te acusa de cometer um gesto lulo-petista. Que gesto lulo-petista é esse?
- Me recusar a idolatrar o mito. Para quem escreveu esse comentário, qualquer um que não idolatre o mito está cometendo um gesto lulo-petista. Ou seja, na cabeça dele, está cometendo um crime. São pessoas que só se informam pelo zap zap e por vídeos de teoria da conspiração.
- Caramba, estou lendo aqui. O cara está ameaçando te denuncia... Te denunciar para quem? 
- Para os militres, provavelmente. 




- Estou vendo aqui. Ele te acusa de doutrinar os alunos. Fui seu aluno e você nunca falou de política em sala de aula. 
- Deve ser porque uso camisas da Marvel em sala de aula. Dizem que estou doutrinando os alunos a gostarem da Marvel. Nisso, confesso, sou culpado. Mas em minha defesa posso dizer que gosto da DC quando ela é desenhada pelo Garcia-Lopez.... rsrs... 
- Nossa, o cara diz que vai fazer você perder o emprego! Chega até a te chamar de estelionatário! 
- Só faltou dizer que vai me prender e  torturar pessoalmente para que eu confesse todos os meues crimes...kkkk Tudo isso porque eu me recuso a idolatrar o Capitão. E é esse pessoal que diz que é a favor da liberdade. A liberdade que eles querem é a liberdade de poder denunciar e prender quem pensa diferente deles. E como você pode ver, postaram essas ameaças dezenas de vezes no blog antes que eu bloqueasse os comentários. É por isso que não é mais possível comentar no meu blog. Infelizmente, tive que bloquear essa possibilidade de contato com meus leitores por causa desse tipo de comentário ameaçador.   
- Assustador, melhor manter os comentários do blog moderados mesmo.  
- Pois é. Melhor do que dar voz a gente desse naipe, que só se informa pelo zap zap e acredita em todas as teorias da conspiração possíveis. 

1984 - o ódio como forma de controle social

 


Dei de presente para minha filha o livro 1984, de George Orwell. Assim como Farenheith 451, de Ray Bradbury, e Admirável Mundo Novo, de Adous Huxley, é leitura obrigatória para nossos tempos. Se Robison Crusoe e Gulliver são livros fundamentais para entender o humano, esses três livros são essenciais para entender regimes que tiram dos indivíduos sua humanidade e individualidade.
Não é por acaso que os três foram escritos no século XX, período em que surgiram regimes autoritários de esquerda e de direita.
Embora erre ao imaginar que esses regimes seriam impostos às pessoas (é cada vez mais óbvio que são as próprias pessoas que optam por esses regimes pois eles são mais confortáveis, algo muito bem explorado no livro de Bradbury), Orwell acerta em muitas características desses regimes. Algumas delas:
- A crença em um salvador da pátria, em que alguém que irá salvar a todos, levando-os ao paraíso na terra.
- O grupo se sobrepondo ao indivíduo.
- E o principal deles: o ódio. Não é por acaso que um dos momentos mais importantes do livro são os cinco minutos de ódio. Regimes autoritários são construídos a partir do ódio. O ódio a quem é diferente, o ódio a quem pensa diferente. Um medo que se transforma em ódio, pois as pessoas são convencidas de que há um eterno perigo e a única salvação é o ódio, é a eliminação de quem pensa diferente do líder.

Edgar Morin, as estrelas e os mitos

 

Edgar Morin é, talvez, o mais importante filósofo vivo. Suas idéias influenciaram os mais diversos campos de saber, da metodologia científica à educação. Um reflexo de sua importância é o surgimento, em várias universidades, de núcleos de pensamento complexo, grupos que pretendem repensar a forma como vemos a ciência e educação. Mas Morin é também um apaixonado pela sétima arte e, como não poderia deixar de ser, dedicou um livro à sua paixão. A Estrelas – mito e sedução no cinema pretende analisar e compreender o fascínio que os grandes astros de Hollywood exercem sobre seu público.
Morin parte da idéia de que o cinema é o atual difusor de mitologias.
É muito comum ouvirmos pessoas que usam a palavra mito como sinônimo de algo irreal, falso: “Isso é mito, não aconteceu de verdade”. Esse ponto de vista é equivocado. Os mitos são realidades psicológicas que vivem em nosso inconsciente coletivo. São como vírus de computador. Da mesma forma que um vírus precisa, para sobreviver, infectar outros computadores (através da internet ou de disquetes), os mitos precisam passar de uma pessoa para outra para continuarem existindo. Antigamente isso era feito através das narrativas orais. A tribo se reunia ao redor da fogueira e uma pessoa, geralmente um ancião, contava a história. Essa história apresentava ideais humanos de beleza, coragem, amizade, amor. Enquanto ouviam essas narrativas, os jovens entravam nelas e viviam como seus heróis. Ouvir histórias era como ter também um pouco das qualidades de seus ídolos.
O desenvolvimento da sociedade de massa tornou esse tipo de encontro para contar histórias uma raridade. As pessoas simplesmente não tinham mais tempo para esse tipo de coisa. Os mitos, então, encontraram uma outra forma de se difundir: os meios de comunicação de massa. Hoje os mitos podem ser encontrados em filmes, novelas, histórias em quadrinhos e até na internet.
Morin vai se preocupar em analisar especificamente os mitos cinematográficos.
Ele percebe que ao redor das estrelas se instala um culto (como aliás, havia um culto aos deuses antigos. Hollywood é o novo Olimpo). O culto aos atores toma às vezes caráter de religião. Há papas (presidentes de fã-clubes) e até cerimônias em que os fiéis entram em estado de êxtase, como se estivessem de fato em um ambiente religioso (basta lembrar a reação histérica das meninas nos shows do Beatles).
Da mesma forma que fiéis faziam oferendas aos deuses antigos e, em troca, faziam pedidos, os fãs fazem as mais diversas ofertas e os mais diversos pedidos para seus ídolos. Morin assinala alguns pedidos mais curiosos: o papel usado para limpar o batom da estrela, pedaço de chiclete mastigado, ceroulas autografadas, guimbas de cigarro, um pedaço do rabo de cavalo e até um cheque em branco para fazer supermecado.
As oferendas são igualmente estranhas: onze páginas com I Love you escrito 825 vezes; uma pulga que reconhece o nome da estrela... no Brasil são famosas as calcinhas que a senhoras jogam no palco durante os shows do cantor Wando...
Os fãs fazem de seus ídolos a razão de viver e, muitas vezes, interferem até mesmo em seu cotidiano. Morin conta a história de um ator que não cortou o bigode por pressão das fãs.
Outros sabem tudo sobre seus ídolos. Há uma história curiosa sobre isso, protagonizada pelo ator William Shatner, o Capitão Kirk, do seriado Jornada nas Estrelas. Ele estava em um programa de auditório quando uma pessoa da platéia lhe perguntou quantas ovelhas havia em sua fazenda. Shatner respondeu, ao que o outro retrucou: “Mentira, nasceu uma hoje”. Ou seja, o fã sabia mais sobre a vida de seu ídolo do que ele mesmo.
O roteirista britânico Alan Moore (autor das graphic novels Watchmen e V de Vingança) conta que certa vez recebeu um telefonema de uma amigo parabenizando-o pelo noivado da filha. A notícia já estava correndo a internet e a filha nem havia comunicado o noivado a Moore.
Também característico dessa situação são os fãs que não conseguem distinguir o ator do personagem. Essa situação pode ser tão sufocante que o ator Leonard Limoy chegou a publicar um livro, na década de 70, com o título Eu Não Sou Spock.
Mas qual é a origem psicológica dessa idolatria, às vezes doentia, aos mitos de cinema, TV e até do futebol?
Segundo Morin, a base está num processo de projeção-identificação. O fã se identifica com seu ídolo e, ao mesmo tempo, projeta nele seus desejos, o que ele gostaria de ter ou de ser.
Assim, uma pessoa de vida monótona se projeta em um personagem que vive em meio à ação e ao mistério. Uma pessoa recatada sexualmente se projeta em uma atriz de sexualidade exacerbada, como a Madona.
Na verdade, esse processo ocorre toda vez que assistimos a um filme. Nós escolhemos um personagem com o qual nos identificamos e “vivemos” com ele as situações ocorridas no filme. Quando ele corre perigo, nós corremos perigo junto com ele, quando ele ama, nós amamos junto com ele.
O ídolo é sempre um referencial para o seu fã. Ele se encontra acima dos mortais, em um Olimpo de beleza e perfeição.
Mas não basta a projeção. As estrelas precisam ser também um pouco humanas para que seu público possa se identificar com elas. O Super-homem é um belo exemplo disso. O herói era tão perfeito, tão olímpico, que era impossível se identificar com ele. Assim foi criado seu alter-ego, Clark Kent, um repórter tímido, que sempre é passado para trás por sua colega Lois Lane. Nós nos projetamos no Super-homem, mas nos identificamos com Clark Kent.
Segundo Edgar Morin, a Indústria Cultural se aproveita dessa necessidade do homem de se projetar em mitos e transforma isso em mercadoria. É a estrela-mercadoria.
A estrela vende tudo que tenha seu nome. A começar pelo próprio produto no qual ela está. Um filme com Tom Hanks é sucesso garantido de bilheteria. Uma novela com Tarcísio Meira é sucesso garantido.
Além disso, a estrela vende qualquer produto que se associe a ela. Adriane Galisteu vende sandálias, Pelé vende refrigerante, Xuxa vende batom. A figura da estrela agrega valor ao produto, pois, enquanto toma determinado refrigerante, o fã de futebol se identifica um pouco com Pelé.
Toda a estratégia de marketing das Havaianas tem como objetivo único convencer os consumidores que jovens atores globais usam essas sandálias.
Até a vida da estrela é um produto. Revistas como Caras, Quem e Contigo não vendem nada além da vida da estrela. Através de revistas como essas o leitor se identifica um pouco com seu astro, pois ele bebe café como todos nós, mas o leitor também se projeta, afinal a estrela não toma um café qualquer, e sim um capucino de 20 dólares a xícara.
Claro que a estrela só interessa para a Indústria Cultural enquanto estiver dando lucro. Uma estrela que não faz mais sucesso, que não vende mais produtos, é uma estrela morta. Nesses casos, é melhor a morte física. Estrela que morreram jovens ou em situações trágicas viram mito puro e se eternizam, pois é possível projetar qualquer desejo ou qualquer história em uma estrela morta. Renato Russo e Raul Seixas vendem muito mais discos hoje do que quando estavam vivos. Nesse sentido tem toda razão quem diz que Elvis não morreu. Para a Indústria Cultural ele ainda está mais vivo do que nunca.

segunda-feira, fevereiro 27, 2023

A experiência de Milgram e a obediência à autoridade

 

Você torturaria e mataria uma pessoa que você não conhece? A maioria responderia que não, mas na verdade faria isso se uma autoridade ordenasse.
A famosa experiência de Milgram, na década de 1950 pegou pessoas normais, pais de família, religiosas, pessoas sem nenhum histórico de violência e colocou-as para dar choques em um ator (que fingia estar passando mal e até mesmo morrendo). 70% continuou dando choques mesmo quando acreditavam que poderiam estar matando a pessoa do outro lado. Do lado da pessoa havia uma autoridade que lhe ordenava continuar dando choques.
Quando a experiência foi refeita, com a autoridade aparecendo apenas de vez em quando, a taxa de pessoas que continuavam dando choques fatais caiu drasticamente. Quando a autoridade apenas telefonava, poucos continuavam dando choques.
Ou seja: qualquer um pode se tornar um torturador e até mesmo assassino se um líder religioso ou político assim o ordenar.

A experiência religiosa de Philip K. Dick, por Robert Crumb

 


Em 1974, o escritor de ficção-científica Philip K. Dick teve uma experiência mística em que se sentiu como uma pessoa que viveu no Império Romano, numa época em que os cristãos eram perseguidos. A experiência o marcou pelo resto da vida e pode ter sido responsável por sua morte. Se olharmos o episódio pela ótica da doutrina espírita, Dick teve um episódio de mediunidade. Robert Crumb, um dos maiores nomes do quadrinho underground americano, transformou em quadrinhos o relato do escritor. O resultado pode ser lido aqui.

Capitão América e Coisa – A seita do cubo cósmico

 


A revista Marvel Two-In-One 42 trouxe um encontro inusitado: Capitão América e Coisa.

Na trama, a SHIELD consegue recuperar o cubo cósmico, mas ele é roubado pelo vilão Victorius, que se converteu a uma seita maluca, os entropistas. Aparentemente, o objetivo dessa seita é fazer com que as pessoas alcancem a entropia. Para quem não conhece o termo, a entropia é a terceira lei da termodinâmica e se refere à tendência de caos e perda de energia do universo. Metaforicamente, a entropia pode ser associada à morte e à destruição.

A entropia é um tema interessante e poderia dar uma grande história, com grandes implicações filosóficas, mas o roteiro de Ralph Macchio não avança muito além do óbvio e da eterna escaramuça entre heróis e vilões.

O vilão é baseado em um conceito da física. 


À certa altura a narrativa simplesmente paralisa para que o vilão possa contar sua história e seus planos. Mais clichê, impossível.

Mas essa história tem suas curiosidades. Uma delas é que ela une dois desenhistas tão díspares quanto o Capitão o Coisa: Sal Buscema e John Byrne. Cada um faz metade da história e a diferença de traço é tão grande que parece que estamos lendo outra história.

Homem-Coisa, um personagem mal-aproveitado. 


A outra é a participação do Homem-coisa, que acaba sendo quem de fato resolve a situação, embora de forma totalmente inconsciente. A narrativa ajuda a criar um clima interessante: “Sua expressão não é de alegria nem de triunfo pela posse do objeto... mas, naqueles olhos monstruosos surge um brilho imperceptível! Um brilho que não é o simples reflexo das estrelas”. Mas, mais uma vez, o roteiro não vai muito além da promessa e a caracterização do personagem fica apenas nisso.

Sinceramente, eu considero que o Homem-coisa é o personagem mais subestimado da Marvel. Em termos de mitologia e construção é melhor até mesmo que o Monstro do Pântano. Só que, ao que constrário do personage da DC, ele nunca teve um autor que explorasse todo o seu pontecial.

No Brasil essa história foi publicada no Almanaque do Capitão América 63, a editora Abril.

A bíblia do roteiro de quadrinhos

 

Há algum tempo, os roteiristas Alexandre Lobão e Leonardo Santana me convidaram para escrever a seis mãos um livro sobre roteiro para quadrinhos.
Na época eu não poderia imaginar a proporção que isso iria ganhar. O projeto foi aumentando, aumentando, até se transformar no que é, provavelmente, o mais completo livro sobre roteiro já publicado no Brasil.
A obra tem praticamente tudo que um roteirista precisaria saber para escrever boas histórias para qualquer mídia.
Alguns assuntos foram tratados no Brasil apenas nesse livro. Já outros assuntos é a primeira vez que são tratados num livro de roteiro provavelmente no mundo, como a verossimilhança hiper-real.
É uma obra de peso (340 páginas!), tanto que decidimos chamar de A bíblia do roteirio de quadrinhos. Essa obra teve seu lançamento oficial em Curitiba sexta-feira passada e já está vendida no site da editora.
Para quem quiser seu exemplar autografado e frete grátis, só me mandar um e-mail: profivancarlo@gmail.com. 
O valor do livro é 60 reais. 

A arte elegante de Alan Davis

 


Alan Davis começou sua carreira em meados da década de 1980, desenhando o personagem Capitão Britânia para a Marvel UK. Nessa época ele trabalhava carregando caminhões e considerava desenhar um hobbie. Na fase final do série do personagem, Alan Moore assumiu o roteiro e ambos começaram uma parceria que se estenderia para a série DR e Quinch para a revista 2000 AD.

Quando Garry Leach abandonou a série Miracleman, também de Alan Moore, Davis assumiu os desenhos.

O grande impacto dessa série ajudou a projetar o nome do desenhista a entrar no mercado norte-americano.

Davis foi escalado para desenhar o Batman no chamado “Ano 2”, que contava histórias do personagem em início de carreira.

Seu traço anatômico e seu dom para expressões faciais fez com que ele fosse escolhido por Chris Claremont para desenhar a série Excalibur.

Um dos trabalhos mais conhecidos do artista é a minissérie Liga da Justiça  - o prego, no qual ele usa elementos da teoria do caos para a construção do roteiro.  










1917: um filme impressionante

 


Impressionante. Essa é a melhor palavra para descrever 1917, novo filme de Sam Mendes (diretor do premiado Beleza Americana). São 159 minutos de ação initerrupta, ótima fotografia e direção brilhante, que costura longas tomadas de planos sequência.
O filme conta a história (baseada em um relato do avô do diretor) de dois soldados que precisam atravessar a terra de ninguém para entregar uma mensagem para um batalhão inglês e impedi-los de atacar: os alemães criaram uma armadilha que poderá provocar a morte de milhares de soldados ingleses.
Para quem não sabe, a primeira guerra foi uma guerra de trincheiras. Com poderio bélico muito semelhante, os dois exércitos evitavam ataques diretos, cavando trincheiras e tentando conquistar territórios muitas vezes metro a metro. A perigosa área que ficava entre uma trincheira e outra era chamada terra de ninguém e é exatamente essa região que deverá ser atravessada pelos dois soldados.
O que vemos é uma sucessão de obstáculos: ratos, arame farpado, armadilhas deixadas pelos alemães. A primeira guerra mundial foi, essencialmente, uma guerra suja, travada entre lamaçais e muita imundice e o filme mostra isso com maestria. Mas também consegue, em meio a toda essa ação, humanizar os personagens.
A opção pelos planos sequência faz com que o expectador se sinta dentro da cena em um ótimo trabalho de imersão. Como o tempo todo os dois soldados parecem estar no fio da navalha, a tensão é enorme. Mesmo momentos menos densos e até poéticos, como quando em que os dois encontram uma fazenda, servem para aumentar a tensão, pois o expectador sabe que aquela calma é totalmente ilusória e que o perigo irá irromper a qualquer momento.

domingo, fevereiro 26, 2023

A era e o poder do Twitter

 

O Twitter é um fenômeno mundial de dimensões grandiosas. Ele mudou a forma das pessoas se relacionarem e fazerem política. E mudou a forma das empresas se relacionarem com os clientes. Reflexo disso são duas publicações recentes voltadas para o uso microblog como ferramenta de Marketing: O poder do twitter , de Joel Comm (Gente, 268 p.) e A era do twitter, de Shel Israel (Campus, 274 p.).

Embora tenham objetivos semelhantes, são dois livros diferentes. O poder do twitter é uma espécie de manual, que ensina desde como criar sua conta à estratégias para conseguir mais seguidores. A era do twitter é mais um livro de cases, com histórias de sucesso e fracasso de empresas no mundo virtual. A origem do microblog é bem explicada nesse último. O twitter surgiu numa empresa chamada Odeo, de propriedade de Ev Williams, um ex-funcionário do Google e criador do Blogger, e Biz Stone, criador de um dos primeiros sites para desenvolvimento de blogs. O objetivo da empresa era fazer para o áudio on-line o que o Google fez para o texto on-line: ser um mecanismo de busca para arquivos de áudio e vídeo.

Mas a empresa enfrentava um problema sério: a maioria dos funcionários trabalhava em sua própria casa. Ninguém sabia exatamente quem estava fazendo o que. Convocar uma reunião, então, era um inferno: era quase impossível encontrar as pessoas quando se precisava delas. Quem trouxe a solução foi Jack Dorsey, arquiteto de software da Odeo. Quando era criança, ele ficou fascinado com a maneira como os veículos de emergência eram despachados - a tecnologia que direciona polícia, bombeiros, motoristas de ambulância para os locais em que fossem mais necessários. Para isso, ele resolveu usar o SMS, tecnologia mais popular de envio de mensagens de celular. Ele cortou vinte caracteres do tamanho do texto, de forma que as mensagens pudessem identificar o emissor. Mas a grande diferença é que os SMS eram enviados não a uma pessoa, mas a todo um grupo: se uma funcionária da Odeo postava, todos os outros funcionários saberiam que ela estava almoçando, a caminho do escritório ou trabalhando em casa. Era um microblog: "a conversa ia de uma pessoa a outra com facilidade e rapidez. A conversa fluía como um rio e logo foi chamada de tweetstream (ou apenas "stream" ou "fluxo")", conta Shell Israel.

A empresa ia registrar o serviço como Stat.us, mas o domínio já tinha dono. Acabou virando TWTTR seguindo a moda de suprimir as vogais, iniciada pelo Flickr. Logo se transformaria no TWITTER. O serviço, que havia sido criado para uso apenas interno, foi se alastrando. Os funcionários não conseguiam resistir à tentação de compartilhar essa nova ferramenta com os amigos, e logo uma multidão estava no serviço.

Qualquer outra empresa demitiria os funcionários que compartilhassem um serviço que deveria ser apenas interno, mas a Odeo não viu problemas nisso e logo o Twitter seria o principal sucesso da empresa e o acesso era tão grande que provocava bugs no site. Em conseqüência, surgiu um ícone popular: a baleia de manutenção, criação da artista chinesa Yi Yung Lu.

E logo o twitter teria papel fundamental para as novas empresas, seja para o bem, seja para o mal. Aliás, os melhores capítulos de A era do twitter são aqueles dedicados a empresas que se foram vítimas do microblog. Exemplo disso é a história da Motrin Mons, um analgésico. Em uma de suas campanhas, eles fizeram um vídeo para internet em que se mostrava como os acessórios para carregar bebês poderiam causar dores no corpo, que seriam aliviadas pelo analgésico. Era um anúncio divertido, para o público jovem. Mas uma mãe blogueira, Jessica Gottlieb, ficou indignada e afirmou no twitter: "É cruel fazer brincadeiras com mães de primeira viagem". A partir daí, a indignação contra a empresa se espalhou com rapidez na rede. A hashtag #Motrin Moms entrou para o Trending Topic daquela semana. A campanha contra a empresa se alastrou por outras mídias e foi até para o Youtube, em que um vídeo satirizava o comercial da empresa, em que uma mulher com implantes de silicone dizia: "vou suportar a dor, porque é uma dor boa. É para o meu marido".

O livro traz também bons exemplos, de empresas que estão se saindo bem usando o Twitter, mas essas curiosamente parecem menos interessantes, e muitas vezes o autor acaba perdendo a mão ao contar mais a história do responsável pelo sucesso da empresa no twitter do que o sucesso em si.

O livro de Joel Comm, embora seja bastante objetivo, traz sacadas interessantes. Uma delas que o Twitter é um ótimo veículo para pedir ajuda. Ele cita o caso, também relatado por Shel Israel, do estudante de jornalismo norte-americano que foi detido enquanto fotografava manifestações contra o governo do Egito. Uma única palavra ("Preso") salvou-o da prisão. Uma rede internacional se uniu para pressionar por sua liberdade.

Um exemplo igualmente dramático é dado por Shel Israel. Em 20 de dezembro de 2008 a escritora Jean Ann Van Krevelem estava num avião pronto para decolar no aeroporto de Portland, Oregon, com seu marido e filhos. A região enfrentava uma nevasca, mas os passageiros foram orientados a ficar em seus lugares. Não havia água ou comida no avião. Duas horas e meia depois os passageiros foram liberados para desembarcarem. Dez minutos depois, os passageiros foram novamente direcionados para embarque. Poucos tiveram tempo de comer ou beber algo. Pensavam que já iam decolar, mas passaram mais duas horas e meia parados. Muitos passageiros precisavam tomar remédios que estavam nas bagagens despachadas, pois acreditavam que a viagem seria curta.

Conforme Jean tuitava, a notícia se espalhava pela rede. Logo as emissoras locais souberam do fato, correram para o local e, diante da pressão, a empresa permitiu que os passageiros desembarcassem. Quando a escritora desembarcou, todos os jornalistas queriam saber o que era o tal de Twitter.

Joel Comm explora a maneira como as empresas podem aproveitar essa característica a seu favor, oferecendo ajuda às pessoas. Um ponto os dois autores têm em comum: eles defendem que o twitter não deve ser usado para mensagens unidirecionais: "Todo o site age como um fórum gigantesco, no qual especialistas em toda sorte de assunto estão dispostos a oferecer seus conselhos a praticamente qualquer um que os solicite (...) Toda vez que você responde, contribuiu para a conversa de alguém. Isso faz com que você seja uma parte valiosa da comunidade", escreve Joel Comm.

Ao comentar sobre uma empresa que usa o twitter apenas para enviar mensagens unidimensionais para seus clientes, Israel escreve: "Acho que Sinkov e eu tratamos 'amigos próximos' de forma diferente. Eu geralmente pergunto como as famílias vão, o que está acontecendo na vida deles. Meus amigos e eu falamos sobre esportes, livros, filmes e o tempo. Às vezes fazemos brincadeiras uns com os outros. Outras vezes, somos um ombro amigo e oferecemos apoio".

Nesse sentido, os dois livros defendem que as empresas devem ter no Twitter abordagens pessoais e coloquiais, preferencialmente de forma que os seguidores saibam com quem está falando. E, principalmente, que participem da conversa, e não usem os outros apenas como platéia.

Muitos políticos que entraram no twitter durante a última eleição deveriam ter lido ambos os livros.