Para quem está acostumado às novelas mexicanas, com suas tramas previsíveis e personagens estereotipados, Quem matou Sara, série mexicana da Netflix, é uma grata surpresa.
Escrita pelo chileno José Ignacio Valenzuela, Quem matou Sara é uma história repleta de reviravoltas em uma trama que é tudo, menos linear.
O que mais surpreende não é tanto o enredo policial, todo baseado no segredo enunciando no título, mas na forma como foi elaborado o roteiro, com várias linhas temporais e várias tramas paralelas em sucessão rápida e frenética, assim como o uso inteligente das elipses.
A série tem como protagonista Alex Guzmán, que, acusado de matar a própria irmã, Sara, passa 18 anos preso e quando sai tem apenas dois objetivos na vida: vingar-se de quem o incriminou e descobrir quem matou sua irmã. Para isso ele precisará enfretar a poderosa família Lazcano, cujo patriarca, César, é dono de um cassino e está envolvido com tráfico internacional de mulheres.
Sara morreu quando o paraquedas no qual estava se rompeu. O paraquedas é puxado por uma lancha então o suspeito de ter danificado o equipamento é um dos que estavam naquele local fechado. Uma típica trama a la Agatha Christie, com um crime acontecendo num local fechado e poucos suspeitos. Mas Quem matou Sara vai muito além desse enredo básico ao mostrar que todos têm algo a esconder, todos parecem ter um passado negro, algo a ser explorado na trama – o que faz com que mesmo a história se esticando por dez episódios, raramente sentimos que estamos sendo enrolados (exceto talvez a trama do filho gay de César Lazcano e sua trama com o marido tentando ter um filho, que parece realmente desnecessária).
De todos os episódios, o mais impressionante é o sexto, “Caça”, focado em um dos empregados dos Lazcanos que tenta o suicídio. No episódio anterior vemos ele apontando a arma para a cabeça. Nesse, uma sucessão muito rápida de flashs backs explica como as coisas chegaram até ali, completando todas as lacunas deixadas pela elipse temporal do episódio anterior. O roteiro é completado por uma edição em ritmo frenético que, incrivelmente, consegue manter a coerência da narrativa no meio de tantas linhas narrativas temporais diferentes.
Quem matou Sara é um verdadeiro quebra-cabeças que desafia os expectadores, gerando inclusive várias teorias sobre detalhes da trama. Esse quebra-cabeça instigante unido a um roteiro certeiro e uma direção competente fazem com que essa série seja a nova mania da Netflix, tanto que a série já foi confirmada para segunda temporada. Será que finalmente conseguiremos descobrir quem matou Sara?
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