quinta-feira, outubro 31, 2024

O rei de porcelana

 


O rei de porcelana, série coreana dirigida por Song Hyun-wook, parte de uma situação real: antigamente, em países como Coréia e Japão, o nascimento de gêmeos era visto como mau agouro. Se fosse na nobreza então, a situação era ainda pior.

A história começa com o nascimento do filho do príncipe herdeiro. Quando se descobre que se trata de uma casal de gêmeos, o desespero toma conta de todos. Quem aceitaria ser governado por um homem que dividiu o útero com uma mulher? Assim, o rei decide por matar a menina e esconder a história, matando todos os criados que de alguma forma participaram do parto.

Mas a princesa não quer ver sua filha morrer e convence o médico real a usar acumputura para simular a morte da menina, que depois é levada para local desconhecido.

Anos depois, essa menina reaparece no palácio, como uma dama de companhia e o príncipe, percebendo a semelhança entre ambos, começa a trocar de lugar com ela. Numa dessas trocas, ele acaba sendo morto e quem assume seu lugar é a irmã gêmea. A situação, entretanto, é extremamente perigosa: se um dia descobrirem a troca, todos os envolvidos podem ser mortos.

Esse mote cria a espinha dorsal de uma trama viciante, que envolve romance (a princesa, disfarçada de príncipe, apaixona-se por seu preceptor), aventura, suspense, humor e cenas de ação.

Esse talvez seja o aspecto mais interessante desse dorama (ou, o que seria mais apropriado dizer, k-drama): é uma história de amor misturada com tramas palacianas.

A direção traz algo inusitado para os ocidentais: o uso das mãos como elemento dramático. Em diversas cenas são usados planos detalhes das mãos dos personagens para demonstrar seu estado de espírito (raiva, paixão, medo) ou suas intenções.

Também vale destacar a boa escolha do elenco. Park Eun-bin, que faz o papel principal é extremamente expressiva. Embora visualmente não seja nada parecida com um homem, consegue entregar uma atuação muito diferente de quando não está como mulher. O astro K-pop Rowoon, que faz seu par romântico destaca-se por trazer alívio cômico para diversas cenas.

O rei de porcelana irá agradar diversos públicos e não só quem se interessa por histórias românticas, mas um aviso: cada capítulo tem aproximadamente uma hora e são vinte capítulos. Ou seja, é  necessário um grande comprometimento de tempo para assistir.

Xisto no espaço

 


Olhando em retrospecto, percebo que dois livros, lindos na pré-adolescência, foram essenciais pelo meu fascínio pelos gêneros da fantasia e da ficção-científica. O interesse pela fantasia surgiu com As aventuras de Xisto. Já a ficção científica, com Xisto no espaço, ambos lançados na coleção Vaga-Lume e de autoria de Lúcia Machado de Almeida.

Recentemente consegui num sebo o último e o reli agora com um olhar de adulto sobre aquela obra lida no fim da infância.

A história começa num laboratório, onde dois cientistas captam uma mensagem vinda de outro planeta. Os dois são construídos como alívios cômicos, estratégia da escritora para garantir o interesse de crianças.

Protônius é um homem alto, de óculos com aros de tartaruga e cabelos compridos sempre revoltos. “Vivia inventando coisas esquisitas e tinha fama de doido (mas não era)”, explica a autora. Já o professor Van-Van é um homem baixo, de barba enorme, dado a desmaios repentinos e a falas incompreensíveis.

A mensagem captada por eles é estarrecedora: “Caso Xisto não venha até Minos, atacaremos vosso planeta quando este sair de seu eixo. Inútil reagir. (Assinado) Rutus, o que não tem sangue, senhor de Minos”.

Xisto, neste livro, já foi alçado à condição de governante local, apesar da sua pouca idade (17 anos) e continua o mesmo idealista guloso de sempre, louco por pastéis de queijo. Ele resolve enfrentar o desafio de uma viagem espacial e ir para Minos.

Um dos aspectos interessantes do livro é como Lúcia Machado de Almeida descreve a astronave, seus equipamentos e forma de funcionamento. Um exemplo: “Afim de tornar respirável o ar no interior da astronave, o Professor Van-Van preparara um recipiente com soda cáustica, clorato, peróxido de potássio e outros produtos destinados a absorverem o gás carbônico eliminado pela expiração, e a fabricarem o oxigênio necessário à respiração. Além disso, uma espécie de aquário cheio de algas unicelulares foi colocado no mesmo lugar, a fim de reforçar a purificação da atmosfera”. A decolagem se dá em estágios, com foguetes se desprendendo.

O livro foi escrito em 1967, auge da corrida espacial (os americanos chegarima à Lua em 1969) e fica óbvio que a autora acompanhava as notícias sobre o assunto e tentava se inteirar de como seria uma viagem espacial. Ela, aliás, antecipa alguns aspectos, como o passeio no espaço com pistola de pressão, algo que seria de fato usado por astronautas. Ela também usa informações científicas, como a descoberta da penicilina, de forma criativa para eliminar um perigo.

Apesar da imaginação da autora surpreender em muitos pontos do livro, sua percepção da vida em outros planetas é limitada. Xisto e seu amigo Bruzo chegam, por exemplo, em um planeta chamado Nívea em que os habitantes são exatamente iguais aos terrestres e o que muda é apenas a fauna, muito grande ou muito pequena: “Incrível! Animais das selvas reduzidos a cinco centímetros de tamanho! Camelos de um dedo, ursos do tamanho de uma caixa de fósforos... E tudo isso vivo, correndo de um lado para outro”.

A autora, entretanto, consegue fazer uma obra empolgante, mesmo para um leitor adulto, pela trama um tanto ingênua, mas bem bolada, em que, por exemplo, um gancho jogado lá no início do livro, como o lenço encharcado de essência de feno, torna-se fundamental no desfecho da trama.  

O livro encanta também por sua visão pacifista do mundo. No final, a grande ameaça de Rutus é debelada sem o uso de violência. Xisto é um herói que coloca o cérebro acima dos músculos e dos punhos.

Homem-aranha – caído entre os mortos

 


Homem-aranha – caído entre os mortos é o primeiro volume da coleção Salvat dedicada exclusivamente ao aracnídeo. Com roteiro de Mark Millar e desenhos de Terry Dodson e Frank Cho, a HQ fazia parte da linha Marvel knights, o selo criado por Joe  no final dos anos 1990.
Caído entre os mortos tem todas as qualidades e defeitos das histórias de Mark Millar: ação initerrupta, cortes rápidos, leitura fluída. No meio de tudo isso, pouco tempo para aprofundar os personagens.
A história é repleta de ação. 


A trama é interessante: Tia May é sequestrada por alguém que sabe a identidade do Homem-aranha. Na ânsia de encontra-la, o herói percorre a cidade, procurando ajuda (os Vingadores, a Gata Negra) ou verificando com vilões. É uma corrida alucinante e aparentemente às cegas. Uma corrida cujo resultado pode ser a vida ou a morte da Tia May. Um plot bem escolhido para o estilo narrativo de Millar.
Embora seja muito incensado no texto final do volume, não gostei do desenho de Terry Dodson, preferindo claramente a parte desenhada por Frank Cho.
Agora o aspecto realmente negativo: a história para no meio e só continua em no volume 6 da coleção, Herói da resistência. É frustrante especialmente porque não há qualquer aviso na capa de a história está incompleta (e que continua cinco volumes depois). 

O Guerreiro, de Mike Grell

 

 


Na década de 1960, Conan se transformou numa febre. A adaptação da Marvel da obra de Robert E. Howard não só vendia muito, como gerou outras séries igualmente populares, como Sonja e Kull.

Enquanto isso, a DC comia poeira. A única série da distinta concorrente no estilo espada e magia que chegou a fazer sucesso foi o personagem Guerreiro (Warlord), de Mike Grell, publicado pela primeira vez em 1976.

A primeira história mostrava um aviador norte-americano, Travis Morgan, que, ao sobrevoar o polo norte e de repente se vê numa terra totalmente ensolarada e desconhecida, Skartaris.

Já na sua chegada ele se depara com uma mulher sendo atacada por um dinossauro que será seu interesse romântico durante toda a saga. Já nessa primeira história eles conhecem Deimos, o mago da cidade de Thera que com o tempo se tornará um dos grandes vilões da série. Aparentemente essa terra, na qual o sol jamais se punha, se encontrava no centro oco da terra e era aquecido por uma bola de gases (posteriormente o autor decidiu que o personagem tinha, na verdade, ido para outra dimensão).  



Com esse enredo, Grell fazia uma bela salada: misturava espada e magia com ficção científica, teorias da conspiração e... dinossauros! Por incrível que pareça, essa mistureba funcionou, fazendo com que o título chegasse a ser o mais vendido da DC por um período e sendo publicado por mais de uma década, perfazendo 133 edições, fora seis edições anuais.

Grell tinha o péssimo defeito de abusar do deus ex machina nas primeiras edições. Quando o personagem estava para ser morto, aparecia algo que o salvava, mas com o tempo isso foi reduzido. Além disso, Grell manejava bem a narrativa gráfica e foi melhorando cada vez mais seu desenho, tornando as histórias do personagem visualmente empolgantes. As páginas duplas da série, com uma imagem de ação espetacular, se tornaram célebres e destacavam a revista de outras publicações.

No Brasil, O Guerreiro foi publicado pela editora Ebal em revista própria e pela editora Abril na Heróis em Ação e depois na Superamigos.

O roteiro para quadrinhos e o cavalo dançarino

 

Nat Muniz parece ter nascido para desenhar temas regionais e em especial cobras. 

Alan Moore conta que, quando era criança, ficou fascinado com um show em um circo em que um músico tocava um violino e um cavalo dançava. O cavalo parecia ter sido tão bem adestrado que acompanhava o ritmo da música: se o violnista tocava mais lentamente, ele fazia movimentos mais lentos, se acelerava, o cavalo acelerava também.

Já adulto, ele descobriu que o que acontecia era exatamente o contrário. O músico ensinara o cavalo a dar alguns pulinhos – e só isso. Na verdade, era o violinista que acompanhava o ritmo dos movimentos do cavalo.

Segundo Alan Moore, o que acontece na relação entre o roteirista e o desenhista é exatamente assim. Parece que o roteirista está ditando tudo e o desenhista se adaptando ao roteiro, quando na verdade está acontecendo o contrário: o escritor está adaptando o roteiro ao desenhista. Para isso, é essencial que o roteirista saiba com quem está trabalhando e quais as suas maiores qualidades.

A história do Astronauta tinha tudo que o JJ Marreiro gostava de desenhar. 


Eu cheguei a ver o primeiro roteiro que Moore escreveu para o compadre Joe Bennett no título Supreme. Logo no início vinha uma observação: “Joe, eu percebi que você adora desenhar prédios expressionistas, então vamos colocar muitos nessa história”.

Quando escreveu uma história do Arqueiro Verde, para Klaus Jason, Alan Moore aproveitou ao máximo a capacidade desse desenhista, que durante anos foi arte-finalista de Frank Miller no Demolidor, para ambientação urbana. A história é repleta de prédios nos mais diversos ângulos.

Escrever um bom roteiro começa por conhecer o desenhista e saber no que ele é bom e aproveitar isso na história.  Já repararam que alguns dos melhores, senão os melhores trabalho de muitos desenhistas, foram realizados com Alan Moore?

A história de Moore para Klaus Jason aproveitava ao máximo a ambientaçã urbana.


Essa estratégia não só tira do desenhista o que ele tem de melhor como também faz com que ele se empolgue ao desenhar a HQ.

Um exemplo pessoal. Quando fui convidado a escrever uma história para o álbum MSP+50, em homenagem a Maurício de Sousa, fiquei muito feliz, e mais feliz ainda ao descobrir que seria desenhada pelo grande amigo JJ Marreiro, cujo trabalho admiro muito.

Entretanto, o peso da camisa, como se diz no futebol, acabou virando um problema. A responsabilidade de desenhar para um álbum tão importante fez o JJ travar. Eu escrevi dois roteiros e ele não desenhava.

Muitos diálogos e diagramação diferenciada na história para Kaic. 


Resolvi a situação usando a dica de Alan Moore sobre o cavalo dançarino: escrevi um novo roteiro colocando na história tudo que o JJ mais gosta. Assim, na história, o Astronauta encontra um apetrecho alienígena, a máquina do talvez, que mostra o que ele seria se não fosse um cosmonauta. Em uma versão ele era um cowboy, em outra versão um detetive ao estilo Sherlock Holmes etc...

Como sei que JJ Marreiro adora esses personagens clássicos, sabia que ele adoraria o roteiro e foi isso que aconteceu. Ele se divertiu tanto desenhando a história que acabou esquecendo a responsabilidade que era fazer um trabalho em homenagem aos 50 anos do Maurício de Sousa.

Isso, entretanto, não significa manter o desenhista numa zona de conforto. A partir daquilo que ele gosta de fazer, podemos propor inovações, algo que ele não está acostumado a fazer.

Mais uma página de Nat Muniz, só porque eu gostei muito. 


Recentemente, fui convidado a escrever roteiros para a revista do coletivo AP Quadrinhos e analisei o estilo das pessoas que iriam ficar responsáveis por desenhar minhas histórias. Também conversei com eles.

No caso do Kaic percebi que ele gosta de mostrar personagens, cenas de diálogos. Percebi também que havia abertura para uma diagramação mais arrojada. Fiz um roteiro que envolvia principalmente diálogos e estimulava uma diagramação inovadora. O resultado surpreendeu e me pareceu inclusive acima dos trabalhos anteriores dele.

No caso da Nat Muniz, eu tinha ficado impressionado com uma produção anterior dela, o fanzine Jaguadarte. Esse trabalho mostrou que o traço dela funcionava muito bem para temas regionais e ela parecia ter se esmerado ao desenhar a cobra da história. Assim, fiz um roteiro sobre a cobra grande e o resultado foi impressionante, especialmente a cena com a luta das duas cobras. Dá para perceber que ela curtiu muito fazer aquela sequência, tanto que foi a primeira que ela arte-finalizou. Eu comentei com ela: “você nasceu para desenhar cobras”.

Usar a tática do cavalo dançarino, além de ser uma consideração aos desenhistas, oferece um terreno fértil para que para que eles possam expressar aquilo que têm de melhor.

quarta-feira, outubro 30, 2024

Capitão América e o Cubo Cósmico

 

 A volta do Capitão América na década de 1960 foi a oportunidade ideal para Stan Lee e Jack Kirby contarem histórias repletas de grandiosidade e ação desenfreada.

Exemplo disso é a saga do Cubo Cósmico, publicada em Tales of Suspense 80 e 81.

A história começa com uma splash page grandiosa, um close do Capitão América, espantando com uma explosão nos céus de Nova York. Vamos ser sinceros: só Jack Kirby conseguiria fazer com que um close se tornasse grandioso.

A história começa com um close grandioso. 

O capitão segue a cápsula de fuga da nave que explodiu e salva seu tripulante, um dos integrantes da I.M.A – ideias mecânicas avançadas (é, na década de 60 eles adoravam essas siglas), que balbucia sobre um grande perigo, o cubo cósmico, que foi roubado pelo Caveira Vermelha: “O cubo cósmico... mortífero... é a arma definitiva! Foi a maior realização da IMA... nas mãos erradas... pode causar o fim da humanidade”.

O cubo cósmico é um instrumento que realiza todos os seus desejos de quem o segura... e esse objeto terrível está sendo levado para o caveira pelo piloto do avião, dominado mentalmente pelo vilão.

Como o Capitão América é o Capitão América, ele pega um foguete da Shield para alcançar o avião, pula sobre ele, entra na cabine e aciona o assento injetor.

Kirby usa planos apertados para criar suspense e tensão. 

Interessante aí como Kirby consegue encher a sequência de suspense e tensão ao fazer as imagens apertadas nos quadros, como se o leitor tivesse vendo as ação de dentro da pequena cabine, algo que contrasta totalmente com os planos abertos e monumentais repletos de splahs a partir do momento em que o Caveira se apodera do artefato e se torna extremamente poderoso.

Aí o leitor se pergunta: como o capitão américa, um homem forte e bem treinado, mas sem grandes podereses poderia vencer a maior ameaça que o mundo já conheceu? Só para ter uma ideia, o cubo cósmico é tão poderoso que depois vai se tornar uma das joias recolhidas por Thanos para sua manopla.

Como o Capitão América poderá derrotar alguém com poder absoluto? 

Mas o herói não desiste e derrota o vilão usando para isso a própria astúcia e coragem: “Não posso entrar em pânico! Não me renderei ao desespero! Não importa a dificuldade... lutarei como vivi... sem nunca perder a espença!”.

O Capitão América que era um herói de verdade.

Artigo sobre a revista Herói

 



O número 22 da revista Imaginário! traz um artigo do escritor e professor Gian Danton sobre a famosa revista Herói, que revolucionou o jornalismo na década de 1990 ao focar no público infanto-juvenil e nerd. Gian assina o artigo com o nome verdade. A revista Imaginário é publicada pelo Núcleo de Arte, Mídia e Informação, Projeto de Extensão do Departamento de Mídias Digitais da Universidade Federal da Paraíba. 



A revista traz também uma entrevista traz também a entrevista“Ciberpajé e as obras artísticas pandêmicas”, concedida por Edgar Franco a Rafael Senra, Professor Doutor de Literatura na Universidade Federal do Amapá. 

Para baixar a revista clique aqui

Batman contra o Cavaleiro Negro

 


Nos números 393 e 394 da revista Batman, o personagem enfrentou um dos seus adversários mais perigosos numa trama muito bem conduzida pelo roteirista Doug Moench e pelo desenhista Paul Gulacy.

No centro da trama está uma estátua de um cossaco. Como não tem interesse em arte pré-revolucionária, a união soviética pretende leiloar a peça, mas Batman descobre que há algo por trás desse leilão, algo mortal, que poderá resultar em um desastre para Gothan.

A trama gira em torno de uma estátua de um cossaco. 


Por trás de toda a trama está o Cavaleiro Negro, um agente da KGB viciado em endorfinas que pretende provocar a terceira guerra mundial. Para impedi-lo, juntam-se a CIA, o FBI e o cavaleiro das trevas.

A melhor parte da história é quando Batman começa a trabalhar em conjunto com uma agente russa, Kátia, o que rende bons diálogos e uma química única. A relação entre os dois fica entre as faíscas e alfinetadas mútuas e a atração sexual. À certa altura, por exemplo, ela pergunta o que ela achou da suíte que ele reservou para ela. “Se eu gostei, Batman? Estou me sentindo como uma estrela de Hollywood! Sim, Batman... os russos também entendem de cinema americano... a KGB quer que seus agentes sejam bem informados em todos os assuntos!”. “Gozado. A CIA não costuma exibir filmes russos para os seus agentes”, responde o homem-morcego.

As melhores sequências envolvem o relaciomento conturbado de Batman com a agente da KGB. 


Essa é uma boa trama de ação e espionagem, com um Batman que age de maneira racional e não tira deduções da cartola como um mágico. Ponto para Doug Moench e principalmente para Paul Gulacy, que com seu traço fotográfico consegue imprimir o visual perfeito para a história.

Ao publicar a história, a Abril substituiu a belíssima capa de Batman 394 por uma versão muito inferior.


No Brasil essa história foi publicada pela editora Abril em Batman 5 e 6 (segunda série).

Cobra Kai

 

Lançado em 1984, Karatê Kid foi um fenômeno e renovou um gênero, trazendo um novo olhar para filmes de luta. Na história, um garoto, Daniel Larusso se muda para uma nova cidade e se torna vítima dos valentões locais. Para aprender a se defender, ele convence um mestre japonês, o senhor Miyagi, a ensiná-lo karatê. O método de Miyagi é totalmente não convencional, como por exemplo coloca-lo para polir o carro, o que introduzia humor na história. Além disso, o mestre constantemente trazia filosofia oriental para as suas lições e ensinava que o karatê só pode ser usado para se defender.

Era uma quebra com com o que se via até então. O protagonista era um perdedor. A violência era vista como algo negativo e era mostrada a filosofia por trás das artes marciais.

Mais de 30 anos depois, os personagens e atores originais voltam em uma nova história, o seriado Cobra Kai, da Netflix. E, surpreendentemente, o seriado acrescenta camadas a mais na mitologia, mostrando principalmente que nem tudo é preto e branco, bom e mau (o que, aliás, reflete a filosofia taoista).

Na história, o valentão Johnny Lawrence virou um fracassado bêbado, que não consegue parar no emprego e vive de empréstimos de seu padastro. Já Daniel Larusso tornou-se um rico revendedor de carros. Curiosamente, aqui será Lawrence que exercerá o papel de mestre (que no filme original era a função do senhor Miyagi) ao ensinar karatê para um rapaz que é vítima de bullying. A experiência faz com que ele retome o Cobra Kai, a academia dos valentões dos filmes.

Nessa linha de explorar as complexidades dos personagens, ocorre uma curiosa inversão: em alguns momentos, Lawrence parece um herói, enquanto Larusso age como vilão. No fundo, entratanto, os dois são bem-intencionados e pretendem usar o karatê para ajudar seus alunos, cada um a seu modo. Há um episódio em que cada um deles, Lawrence e Larusso estão ensinando seus pupilos, e os métodos são completamente diferentes, mas ambos conseguem os resultados desejados.

É interessante também ver a versão de Johnny sobre os fatos que são mostrados em Karatê Kid. Na sua visão, Daniel era o vilão.

Tudo isso entremeado com flash backs dos filmes da década de 80 entremeados com temas atuais, como o ciberbuyilling e um elenco que convence.

Cobra Kai é uma bela surpresa.

A arte comestível de Ju Duoqui

 

Ju Duoqui é uma artista chinesa famosa por recriar obras clássicas da pintura usando... comida! Batatas transformam-se em Napoleão, Tofu vira Monalisa. Confira a obra dessa artista original. 








O legado de Fernando Canto

 

Fernando Canto é um dos mais importantes escritores do Amapá e da região norte. Fiquei tão impressionado com o seu livro Mama Guga que li e fiz a resenha em poucos dias. Sua escrita econômica, mas poética, e mistura de fantasia e realidade pareciam a síntese da literatura amapaense. Além disso, algumas das músicas mais relevantes do cancioneiro local têm letra dele.

A admiração era tanta que usei uma música dele como epígrafe do meu livro Cabanagem.

Fernando Canto também era uma pessoa incrível, um indíviduo sempre simpático que irradiava alegria.

Tê-lo como presidente da Academia Amapaense de Letras, da qual faço parte, era uma honra.

Sua passagem vai deixar um vácuo enorme na cultura amapaense. Fica, no entanto o consolo de que ele deixou uma obra imortal.  

Vá em paz, confrade Fernando Canto, vá encantar o céu com suas músicas e seus livros.

Perry Rhodan – Luta contra o desconhecido

 


Como uma série de ficção científica, Perry Rhodan é um prato cheio para que os autores desenvolvessem uma variedade de alienígenas.

Uma das raças mais interessantes são os moofs.

A primeira vez que eles aparecem é no número 40 da série. 

Perry Rhodan havia acabado de roubar uma nave arcônida e se encontrava escondido num local até então desconhecido do universo quando uma nave se aproxima deles e oferece uma audiência no planeta dos zalitas.

A capa original alemã. 


Rhodan manda seus mutantes espionarem as naves zalitas com o objetivo de descobrir quais suas intenções. Quando Ras Tschubai entra numa nave dos zalitas se depara com um monstro.

Clark Darlton, autor do volume descreve assim o ser: “Tinha menos de metro e meio de altura e quase um metro de largura. Seu formato era circular e lembrava uma gigantesca medusa. Na parte inferior do corpo, Ras viu um número indefinido de tocos funcionando como pés, que eram flácidos como o resto do corpo. O ser era encimado por uma cabeça redonda como uma bola, grudada bem no centro do corpo gelatinoso. Um par de olhos em forma de botão fitou-o com uma expressão fria e malvada”.

Os moofs vivem numa atmosfera de metano e, para sobrevierem nas naves dos zalitas, precisam de aquários hermeticamente fechados. Também são sugestores e telepatas. Ou sejas: seres vivendo vidas plenamente mentais. Como não podem se deslocar por conta própria, usam outras raças para isso. As vítimas acreditam que estão fazendo o que querem, quando na verdade estão cumprindo decisões dos seres monstruosos.

E, claro, eles estão envolvidos num plano de seres chamados apenas de senhores, que pretendem acabar com o império arcônida, o que cria toda a trama do volume.

A longa noite, de Raymond Chandler

 

Raymond Chandler era um dos principais escritores do policial noir. Em A longa noite, ele mostra porque era o mestre do gênero.

A história começa em um bar, no qual está o detetive Philp Marlowe, o famoso personagem de Chandler. Um homem entra, pergunta a respeito uma mulher, dá a descrição dela e, em seguida é assassinado por um bêbado que estava lá aparentemente por acaso.

Esse acontecimento aparentemente casual vai dar origem a toda uma trama, que dura uma noite inteira, em que os fatos vão se sucedendo um atrás do outro. É aquele tipo de história em que algo pequeno revela algo maior, que revela algo maior e assim sucessivamente, deixando o leitor continuamente supreso com o desenrolar dos acontecimentos.

Chandler, juntamente Dashiell Hammett, revolucionaram o gênero policial ao unirem descrições realistas de cenas de crime com uma narrativa ácida e diálogos sarcásticos.

A maestria do escritor já pode ser percebida desde o primeiro parágrafo, no qual ele fala do vento do deserto, que estava soprando sobre a cidade. É uma noite em que “esposas submissas passam o dedo pelo fio de facões de carne e contemplam, pensativas, os pescoços dos maridos”.

As descrições são precisas e ao mesmo tempo exageradas, como em: “O sujeito moreno levou uma semana inteira para cair” ou em diálogos, como em:

- Eu também não gosto de ser testemunha. O pagamento é muito baixo.

Muitas das histórias de Chandler foram transpostas para o cinema, com grande sucesso, e lendo A longa noite, entendemos porque. Sua narrativa era praticamente uma cena decupada. Há, por exemplo, uma sequência em que e o detetive conhece a garota que será seu interesse romântico na história. Ela está metida em apuros e Chandler usa o elevador e o medo de alguém que poderia emergir dele como elemento de suspense, pontuando a narrativa. De tempos em tempos ele acrescenta: “O elevador parou lá embaixo”; “o elevador começou a descer novamente”. Era só seguir o texto e filmar.