A Insólita Família TitãA Insólita Família Titã não faz parte do Universo DC, mas foi inteiramente influenciada por alguns daqueles personagens – A Família Marvel. Entretanto, as aparências ficam apenas na inspiração, pois a trama, na verdade, é uma tragédia grega.
Criada em 1990 por Gian Danton e Joe Bennett, a Insólita Família Titã foi um tremendo sucesso entre os leitores brasileiros, que ainda nutrem a admiração, desejando até mesmo um remake.
Para aqueles que não conhecem, confiram agora um pouco da estória, bem como seus criadores.
A estória
A história da Família Titã tem um período de 15 anos e se passa em Santa Helena, uma cidade fictícia. E em uma favela daquela cidade, viviam César – deficiente físico acometido por leucemia, que fugia da realidade abusando da leitura de livros achados no lixo e que idolatrava a antiga sociedade greco-romana; Paulo e Melissa, garotos amantes. Todos órfãos com, aproximadamente, 14 anos, que viviam de sobras de lixo e catando papel para reciclagem.
César amava Melissa, que amava Paulo. Esse triângulo, de fato, foi a fonte para todos os eventos da trama. César, inadvertidamente, encontrou um artefato alienígena que lhe garantiu toda e qualquer forma de poder. Por ser um trágico humanitário, o jovem deficiente decidiu compartilhar sua descoberta com seus amigos, que fizeram uso do disco e se tornaram os super-heróis Tribuno, Centurião e Vésper.
E durante algum tempo, eles foram os heróis do planeta, salvando as pessoas de ameaças e tragédias. Mas o clímax atinge quando todos passam a confrontar os ideais, resultando em uma tragédia digna da civilização grega.
Esta não é uma história de super-heróis.
Os autoresGian Danton é roteirista de quadrinhos desde 1989, quando publicou sua primeira estória na revista Calafrio. Desde então, tem publicações nas mais diversas editoras nacionais.
Seu trabalho mais conhecido na área é a graphic novel Manticore, pela qual ganhou o prêmio Angelo Agostini como melhor roteirista de 1999.
É colaborador de diversos sites e mantém o blog Idéias de Jeca Tatu (http://ivancarlo.blogspot.com/).
Seus trabalhos mais recentes na área de quadrinhos foram os álbuns War, histórias de guerra, com arte de Eugenio Colonnese; e Quadrinhofilia, em parceria com José Aguiar.
Atualmente é professor universitário em Macapá, onde leciona as disciplinas Metodologia científica e Marketing.
Joe Bennett (Bené) nasceu em Belém do Pará e seu primeiro grande trabalho
para os quadrinhos foi Ravage 2099, para a Marvel Comics, em 1994. Desde então, ele trabalhou para vários títulos da Marvel como Amazing Spider-Man, Captain America (vol.2), Fantastic Four (vol. 3), The Incredible Hulk (vol. 2), Thor, Captain America and the Falcon. Também trabalhou para outras editoras como Chaos! Comics, CrossGen, Dark Horse, DC Comics e Vertigo.
Outros créditos incluem Conan the Barbarian, Doc Samson, Elektra (vol. 2), Hawkeye (vol. 3), Nova (vol. 3), X-51: Machine Man, Buffy the Vampire Slayer, Birds of Prey, Hawkman (vol. 4), Hawkgirl, The Green Hornet, Mark of Charon e Supreme.
Em 2005, ele assinou um contrato de exclusividade com a DC Comics. Em seguida, trabalhou para a editora nos seguintes títulos: 52, Checkmate, Salvation Run (como fill-in) e vem desenvolvendo um grande trabalho na minissérie Terror Titans (escrita por Sean McKeever).
A Insólita Família Titã para os autores
A Insólita Família Titã foi criada em 1990 por Joe Bennett e Gian Danton.
Franco Rosa, Editor da Editora Nova Sampa, naquele momento, pediu que a dupla fizesse algumas estórias para a editora. Era um pedido urgente, para completar a revista que ele estava lançando. "O Franco tem dessas coisas, acho que ele esquece e, quando lembra, está em cima da hora",
disse Gian.
Assim, Bennett e Gian se reuniram em um cômodo que eles chamavam de estúdio situado na clínica de um tio do desenhista, que estava fechada. Então, eles conversaram sobre as possíveis estórias e surgiu a idéia de fazer uma homenagem à Família Marvel.
"O Bené (apelido do Bennett) era fã da Família Marvel e os conhecia muito bem. Confesso que só fui conhecê-los mais tarde", brincou Danton. Bennett, por sua vez, revela: "Sim, mas o Danton queria que homenageássemos o Superman. De fato, eu era muito fã da Família Marvel e acabamos decidindo por ela. Eu criei a estória e discutimos os detalhes. Era assim que trabalhávamos - como Jack (Kirby) & Stan (Lee). [Risos]".
A estória foi elaborada naquele momento. À pedido de Franco, ela deveria conter cenas de sexo, entretanto, para os autores, não havia como encaixar sexo na estória. Então, Bennett ficou como responsável para adicionar esse tema. De fato, das 30 páginas, apenas duas contiveram cenas de sexo.
No mesmo dia, Bennett fez o rafe da estória e Danton os balões. Em menos de uma semana, o artista desenhou e arte-finalizou a Família Titã. Foi um recorde, afinal, era um trabalho urgente. "O interessante foi que, como tivemos pouco tempo para conversar sobre a estória, tivemos interpretações diferentes. Viemos descobrir isso anos depois [Risos]. Em minha opinião, o Tribuno era o herói, mas para o Bené, ele era o vilão", disse o roteirista.
Para Danton, esse foi o charme da estória, pois o personagem ficou muito humano, uma mistura de herói e vilão. "Os desenhos do Bené mostram Tribuno matando todo mundo, cometendo as maiores atrocidades, mas o meu texto é intimista, meio que justificando o que ele está fazendo. Hoje eu poderia compará-lo ao Capitão Nascimento (do Filme Tropa de Elite). É, então, uma história que tem várias leituras. Acho que este foi o ponto alto da nossa parceria, pois isso tem a ver com a nossa personalidade. Eu sempre fui mais Tribuno, mais sonhador, utópico, enquanto o Bené poderia representar o Centurião, um cara bem pé no chão", afirmou Danton.
"Quando Hulk 2 foi lançado, notei o entusiasmo do pessoal, dizendo que havia ficado legal o uso da Favela. Poxa, é isso aí! Na época que eu e Bené produzimos a Família Titã, as pessoas diziam que estória de super-herói não combinava com favela. Então, é necessário a vinda dos gringos para mostrar que isso podia ser feito, sim. Mas, com certeza, nós fomos os pioneiros", disse Danton.
"Sim, tragédia e realismo fazem a cabeça dos leitores de hoje e o engraçado é que nós introduzimos isso há quase 20 anos", completou Bennett.
Danton continua brincando que eles são Stan Lee e Jack Kirby, "dois caras bem diferentes, mas que usam essas diferenças nas estórias".
"Tanto que Franco a publicou várias vezes [Risos]", concluiu o artista.
"O Tribuno é um cara melancólico. Ele se sente infeliz pela humanidade. Sua depressão não é pessoal, não é por ele mesmo, mas pela humanidade, pelo que poderíamos ser e pela forma como a coisa sempre desanda no final. Algo como podemos ser deuses, mas no final sempre nos revelamos como demônios".
"O Centurião é um cara pé no chão, uma pessoa que sabe agarrar as oportunidades. Ele pensa menos e age mais".
"Bom, Vésper é uma patricinha, mas que com o tempo vai se tornando mais adulta. É um mulherão, mas que, no fundo, ainda permanece um pouco com a cabeça daquela menina da favela".
"A Família Titã é um mito que se fechou. Ela é caracterizada pelo destino cruel, levando os personagens na direção da tragédia. Ela é ambientada no Brasil, com dados realistas como pobreza, sonhos e preconceitos. Ela fala da nossa realidade. Talvez um dia possamos refazê-la com mais detalhes", conclui Gian Danton.
"Ele era, aparentemente, uma pessoa formidável, presa em um corpo deficiente. Sonhador, Tribuno sempre alimentava seu intelecto com livros - era um humanitário que idealizava causas nobres perdidas, um trágico. Talvez, tenha sido esse o motivo dele não impressionar Melissa. Eu sei que muitos gostam de Tribuno. O Cara seria um herói por amar as idéias alheias, assim, ele obliterava as suas, permitindo que a força dos outros dois sobressaísse. Isso, somado à sua frustração por não ser correspondido por Melissa, foi o estopim para todos os eventos finais da trama".
"Centurião era um garoto esperto e ativo - o maioral da favela. Por isso, ele conquistou Melissa. Centurião era tipo o irmão mais velho da turma e, quando se tornou o herói, ele evidenciou este poder de domínio, força e carisma. Com isso, todas as atenções seriam dele, incluindo a de Melissa, que já o "amava". Na verdade, ele era somente força e liderança e, por isso, digo que ele era o feijão e o Tribuno, o sonho."
"Melissa é tudo o que os nerds odeiam: Fútil, egocêntrica e, de certa forma, tão indiferente que se torna má. Ela queria ser a diva de "Caras" [Risos], e ter um corpo lindo. E conseguiu... Mas, assim, o que ela fez? Se envolveu com o cara errado [Risos]. Na verdade, ela gostava de Paulo, pois ele era o maioral e, quando ele se tornou o Centurião, ela ficou mais "apaixonada" ainda. Era a típica interesseira, de fato".
"A Família Titã não é uma estória de super-heróis. Ela á um tragédia grega, que mostra fatos conseqüentes entre os desejos, ideais e envolvimento dos personagens principais".