Há certos filmes que nos deixam uma sensação de paz de espírito, de êxtase estético indescritível. Um deles é ENSINA-ME A VIVER, de Hal Ashby (1971).
No filme, Harold é um rapaz obcecado pela morte conhece uma velhinha que o convence a ver a viver a vida.
As cenas iniciais, em que Harold simula a sua própria morte, são uma atração à parte. Em uma delas ele se enforca, em outra ele corta os pulsos na banheira, em outra ele morre afogado na piscina, sempre sob o olhar indiferente da mãe. A relação da mãe é totalmente desprovida de carinho, mas cheia de autoritarismo. Emblemática a cena em que ela resolve achar uma namorada para o filho e, na hora de preencher a ficha, ela mesma preenche, enquanto Harold dá um tiro na boca.
Então Harold conhece uma velinha de 79 anos em um velório. Com muito cuidado, ela consegue cativá-lo. A personagem é ótima. Maud rouba carros para passear e depois os abandona. Quando Harold pergunta por que ela faz isso, ela diz que é para lembrar às pessoas que as coisas materiais não duram para sempre e que, portanto, não devemos nos apegar a elas. Maud diz que devemos ter uma emoção nova a cada dia. Em outra cena, eles estão em um cemitério. Ela mostra uma flor diz que o grande problema do mundo é que as pessoas são como flores, mas se deixam tratar como túmulos. E a seqüência mostra as milhares de lápides, todas iguais e todas perfiladas como soldados ou operários.
De certa forma, Maud introduz na vida de Harold um olhar filosófico, de encantamento com o mundo, um olhar de criança que vê tudo e se encanta com tudo. O curioso é que ela, uma pessoa já no fim da vida, parece mais jovem que o rapaz, demonstrando bem o adágio que a idade está não no corpo, mas na cabeça.
Como o leitor deve estar advinhando, o rapaz acaba se apaixonando por ela e resolve se casar. A reação da sociedade é expressa na forma da opinião de um padre, um militar e um psicólogo. As cenas são com câmera parada, pegando os personagens de frente, sempre na mesma mesa, para ressaltar a semelhança entre eles. Só o que muda é o quadro de fundo. Na cena do militar, aparece Nixon. Na cena do psicólogo, Freud. Na cena do padre, o Papa. O psicólogo diz, por exemplo, que compreenderia que Harold tivesse desejo pela mãe, mas pela avó? A cena caracteriza bem os aparelhos repressores de Althusser que, nas visão marxista limitada, achava que eram só do estado e que tinham como único objetivo impedir uma revolução socialista. Aliás, se o filme se passasse em um país socialista, a figura de um político com a foto de Marx ao fundo seria inevitável...
Curiosamente, mesmo os jovens hippies não foram capazes de entender a ideia do filme, que foi um fracasso na época e só se tornou cult com o tempo.
Não sei se é fácil de achar esse filme em vídeo-locadoras, mas vale a pena, até pela ótima trilha sonora.
Com muito carinho e cliques. Foi assim que o fotógrafo francês Sacha Goldberger conseguiu ajudar sua avó a se curar de uma depressão. Delicadamente apelidada de Mamika, a série de fotografias de Frederika Goldberger, de 91 anos, se inspira em passagens de sua própria vida.
Nas imagens, ela aparece vestida de super-heroína. Tudo foi pensado pelo seu neto porque, quando jovem, a húngara Mamika salvou 10 pessoas da perseguição nazista durante a Segunda Guerra Mundial, arriscando sua própria vida escondendo judeus em sua casa em Budapeste e os enviando para outros lugares. Leia mais
A fantasia é o gênero literário que mais tem crescido no Brasil, nos últimos dez anos. Agora em um mesmo livro, duas novelas repletas de aventura e seres fabulosos. Duas novelas que, como os antigos bandeirantes, rompem o Tratado de Tordesilhas da literatura brasileira e abrem nosso território e cultura para a fantasia do tipo espada e feitiçaria — engendrada por escritores como Robert E. Howard (criador de Conan) e Fritz Leiber (criador da dupla Fafhrd e Gatuno) —, que combina aventura e o encontro com criaturas sobrenaturais e fantásticas.
As Histórias
O Encontro Fortuito de Gerard van Oost e Oludara, de Christopher Kastensmidt. Van Oost, um aventureiro e viajante holandês, e Oludara, um guerreiro ioruba tomado como escravo, encontram-se em Salvador durante o Brasil Colônia, dispostos a, com muita astúcia e coragem, formar uma dupla de heróis como nunca se viu.
A Travessia, de Roberto de Sousa Causo. Em um Brasil pré-colombiano, o índio Tajarê e sua mulher, a sacerdotisa viking Sjala, tentam voltar para casa, fugindo da ira das amazonas, mas antes precisam chegar à outra margem do Grande Rio — enquanto a floresta é tomada por criaturas monstruosas.
Sobre o selo Asas do Vento: A Devir entra no mercado dos livros de bolso com uma linha de livros de fantasia, horror, ficção científica e aventura, publicando em combinações surpreendentes, o melhor dos autores nacionais e estrangeiros. Uma parte importante do trabalho de edição é encontrar um formato para se publicar textos ou histórias que o editor acredita ser relevante e merecedor de publicação.
A literatura fantástica está repleta de histórias curtas de grande qualidade que não encontrávamos uma maneira adequada de publicar. A coleção Asas do Vento vem justamente preencher essa lacuna. Ela é uma série de livros de bolso de acabamento primoroso, que visa publicar histórias mais curtas (contos, novelas, noveletas) que se destacam mas que normalmente acabam esquecidas por não terem tamanho suficiente para ocupar um livro de tamanho normal ou encontram espaço apenas em revistas ou antologias.
Com alta portabilidade, ao contrário da maioria das edições de bolso no Brasil, os livros da Asas do Vento realmente cabem no bolso (e nas bolsas). Com capa semi-rígida, também possuem maior durabilidade. Livros para desfrutar e colecionar.
Os livros da Asas do Vento estarão disponíveis em livrarias e bancas selecionadas.
Clique aqui para baixar o livro virtual Caligari: do cinema aos quadrinhos. O e-book analisa o filme expressionista O Gabinete do Dr. Caligari e o processo de adaptação para os quadrinhos.
A cada dia fico mais preocupado em dirigir em Macapá: a irresponsabilidade e a imprudência campeiam.
Dia desses, um motoqueiro estava do meu lado direito quando o passageiro lhe indicou que queria entrar na rua à esquerda. Ele não pensou duas vezes: simplesmente atravessou à frente do meu carro, passado a centímetros do meu parachoques e me obrigando a parar completamente. O carro ao meu lado também foi obrigado a frear para evitar um desastre.
Hoje, pássavamos na frente do Museu Sacaca quando um carro estacionado ali simplesmente atravessou na minha frente. Não contente, parou na pista, de atravessado, impedindo a passagem. Foram segundos que pareceram horas, pois eu não sabia se o freio seria capaz de segurar o carro a ponto de evitar a batida. Desesperado, eu apertava o freio com todas as forças e a buzina, implorando para que o carro saísse da frente. Mas o carro ficou lá. Como era totalmente peliculado (muito acima do permitido por lei), eu não pude ver seu ocupante, mas pude ouvir um grito de ofensa que veio lá de dentro. Era uma pessoa sem carteira (já que não aprendera a olhar o retrovisor ou a sinalizar quando vai sair) e talvez até drogada ou bêbada.
Felizmente não aconteceu nada, mas minhas mãos tremiam de nervoso, enquanto o outro carro saía tranquilamente como se tivesse apenas participado de uma brincadeira divertida.
Não espanta que Macapá tenha tantos acidentes de trânsito: todo dia vemos carros e motos fazendo curvas sem sinalizar, invadindo a preferencial e avançando o sinal vermelho.
As pessoas estão brincando com suas vidas e com a vida de outros.
Já está ficando famosa a história do garoto que não gostava dos Exploradores do Desconhecido porque os personagens não usavam toquinhas. O desenhista Jean Okada, que já tinha feito uma imagem do capitão da nave usando toquinha, agora resolveu colorir a imagem e ainda fazer uma tira satirizando a situação. Para ler, clique aqui.
Já está à venda, na Bodega do Leo, a revista Space Opera, capitaneada pelo roteirista Leo Santana. Nessa edição, além dos quadrinhos, uma novidade: um conto dos Exploradores do Desconhecido escrito por mim e ilutrado pelo Jean Okada.
O Festival da Imagem em Movimento, capitaneado pelo fotógrafo e professor Alexandre Brito, já é uma tradição em Macapá, acontecendo sempre no final do ano. Programa obrigatório para quem gosta de vídeos.
Infelizmente, a maior parte da mostra é de vídeos de fora em vista das poucas produções amapaenses inscritas.
Pois as inscrições já estão abertas para esse ano. Maiores detalhes no site do Festival.
Nesta quarta-feira, 24, às 19 horas, no Sesc Centro, acontecerá a
abertura oficial da 4ª Exposição Fotográfica Olhar Ecológico. O evento é um projeto interdisciplinar formado pelas disciplinas de Fotojornalismo e Jornalismo Ambiental.
A edição deste ano mostra que os alunos de jornalismo estão atentos as diversas nuances que envolvem o meio ambiente e a sociedade. A exposição é composta por trabalhos fotográficos bastante diversos. Ao
longo deste semestre letivo, os alunos trabalharam oito temas distintos até chegarem ao resultado final que ficará aberto a visitação pública e gratuita até o dia 15 de dezembro em horário comercial.
As temáticas que integram a 4ª edição do projeto são:
- Asas da liberdade;
- Sabor açaí;
- Semeando o futuro;
- Mistérios do Amazonas;
- Afuá: o cotidiano da ilha;
- Lagoa poética;
- Reflexos;
- Olaria: do barro ao fogo;
Os coordenadores do projeto professor Alexandre Brito (Fotojornalismo) e professora Jacinta Carvalho (Jornalismo Ambiental) afirmam que a iniciativa traz várias contribuições a formação dos futuros jornalistas, dentre elas, destacam a possibilidade de os acadêmicos poderem sair do ambiente de sala de aula e entrarem em contato
diretamente com a realidade que os circunda, por outro lado, “os alunos tem a oportunidade de compartilhar com a sociedade seus pontos de vista sobre esses diversos temas, é uma excelente forma de mostrar
para a comunidade amapaense o que estamos produzindo e pensando em nosso curso de Jornalismo”, enfatiza Alexandre Brito.
Além da atração maior, que são as belas fotografias realizadas pelos futuros jornalistas, a abertura da exposição contará também com coquetel para convidados, música ao vivo e declamações poéticas para
compor o cenário sonoro do criativo trabalho dos acadêmicos de
Jornalismo.
Serviço:
4ª Edição da Exposição Fotográfica “Olhar Ecológico”
Abertura: 24.11.2010
Hora: 19H
Local: Sesc Centro
Entrada Franca
Para mais informações:
Prof. Alexandre Brito
8118 3510
Uma das melhores revelações do rock amapaense é o grupo Mini Box Lunar. Seguindo uma linha psicodélica, lembra Mutantes nos melhores momentos. Abaixo, uma das músicas do grupo.
Tem capítulo novo no blog dos Exploradores, a mais famosa webcomics brasileira de ficção científica. Para ler, clique aqui.
Se você ainda não conhece a série, é bom começar daqui.
Acontece, hoje e amanhã, no SESC Bambuzal, a Mostra Jodorowsky. Para quem não conhece, Jodorowsky é um dos mais importantes cineastas da virada dos anos 1960-1970. Também é um quadrinista de renome. Seu mais famoso trabalho na área foi a série Incal, feita em parceria com o desenhista francês Moebius. Vale a pena conferir. Abaixo a programação da mostra, que tem produção da Pium Filmes e Tatamirô.
PROGRAMAÇÃO DO DIA 18/11 (quinta-Feira)
Filme “A Gravata” (21min)
Hora: 19h30min
Local: SESC, no bambuzal
Fala sobre Jodorowsky – Herbert Emanuel
Hora: 20h
Local: SESC, no bambuzal
Leitura do primeiro quadro da peça “Fando e Lis”, de Fernando Arrabal – Direção de Paulo Alfaia
Hora: 20h30min
Local: SESC, no bambuzal
PROGRAMAÇÃO DO DIA 19/11 (sexta-Feira)
Filme “Fando e Lis” (93min)
Hora: 19h30min
Local: SESC, no bambuzal
Essa é a capa do meu mais novo livro sobre roteiro, a ser lançado em breve, pela editora Marca de Fantasia. É a publicação mais completa que já escrevi sobre o assunto, com uma variedade de temas essenciais para quem está querendo escrever quadrinhos. O desenho da capa é do amigo Antonio Eder (Manticore). Gostaram?
Assisti A mulher faz o homem, ótimo filme de Frank Capra de 1939. Capra é um dos meus cineastas prediletos esse é uma de suas obras-primas. É, sem dúvida, um dos melhores filme que já vi sobre política. Nele, um senador morre e o governador precisa indicar um substituto. Como um grande projeto, que irá beneficiar o homem mais rico do estado, está em pauta, é necessário escolher alguém que não fará muitas perguntas. Quem acaba sendo escolhido é um líder escoteiro ingênuo e patriota, interpretado com brilhantismo por James Stewart.
Mas o jovem senador acaba batendo de frente com todo o grupo político ao apresentar um projeto de um agrupamento escoteiro justamente no local onde será construída uma represa que beneficiará o ricaço. Como consequência, ele tem contra si toda a imprensa, além de ser acusado de estar querendo enriquecer à custa dos escoteiros. Ajudado pela secretária, ele decide se defender, tomando a palavra no plenário. Enquanto conseguir ficar de pé, ele poderá falar, numa exaustiva jornada de defesa dos valores da democracia.
A mulher faz o homem é um interessante estudo sobre a corrupção do sistema, mas não é pessimista. Ao contrário: a mensagem do filme é de que é possível sim ser um Dom Quixote lutando contra a injustiça do mundo. No filme essa esperança é expressa no pequeno jornal dos escoteiros. Hoje, seria a internet.
Você seria capaz de dar de presente para alguém um pacote de rolos de papel higiênico? Pode parecer estranho, de mau gosto até. Mas uma empresa de Portugal conseguiu esta proeza: transformar papel higiênico em objeto de desejo e design. O segredo são cores berrantes, que caíram no gosto do público e podem combinar com a decoração. A ideia nasceu da cabeça do presidente da empresa. O papel higiênico colorido já é sucesso em mais de 50 países e acabou virando caso de estudo em uma conceituada escola de negócios da França. O preço de pacote com três rolos chega a quase R$ 20. Leia mais
No ano de 2003, o jornalista baiano Gonçalo Júnior chamou a atenção com um livro essencial para qualquer um que queira entender o mercado editorial brasileiro.A Guerra dos Gibismostrava como alguns dos principais impérios editoriais haviam sido erguidos a partir das vendas astronômicas dos gibis, em especial nos anos 1940 e 1950. Focado na vida de Adolfo Aizen, o livro contava também a perseguição aos gibis, feita por padres, professores e políticos. Mas, como a narrativa terminava na década de 1960, faltava uma segunda parte. É exatamente a segunda parte dessa epopéia que a editora Peixe Grande está lançando agora, com o livroMaria Erótica e o clamor do sexo(Peixe Grande, 2010, 496 págs).
Se o primeiro livro tinha como personagem principal o editor Adolfo Aizen (dono da Ebal), este segundo é focado em dois outros personagens: Minami Keizi e Cláudio Seto. Ambos viveram a fase mais difícil dos quadrinhos nacionais, quando a perseguição aos gibis nacionais era institucionalizada e fazia parte do programa da ditadura militar. E ambos revolucionaram a linguagem dos quadrinhos ao introduzir os mangás em nosso país.
Minami chegou a São Paulo com pouquíssimo dinheiro no bolso, foi rejeitado pela maioria dos editores da época (que estranharam seu traço com fortíssima influência oriental), mas acabou criando uma das melhores editoras de quadrinhos da década de 1970, a Edrel.
Vindo da mesma cidade que Minami, Lins, no interior paulista, Cláudio Seto foi um dos principais e mais revolucionários artistas da Edrel e, posteriormente, comandou o setor de quadrinhos da Grafipar, a maior trincheira dos quadrinhos nacionais no final da década de 1970 e início da década de 1980.Maria Erótica e o clamor do sexoacompanha ora um, ora outro, oscilando entre as histórias desse personagens tão interessantes quanto as histórias que criaram.
A forma como Minami consegue sair da miséria para se tornar dono de uma editora é digna de nota. Após ter seu trabalho rejeitado, ele investiu seu pouco dinheiro num sistema de venda de livros por reembolso postal (os anúncios do serviço eram conseguidos em publicações em troca de tiras de quadrinhos produzidas por ele) que deu tão certo a ponto de Sebastião Bentivegna, dono da editora Pan-Juvenil, convidá-lo para ser supervisor editorial. Com o tempo, afundado em dívidas com agiotas, Sebastião chamou Minami e o dono da gráfica que fazia fotolitos para a editora, e ofereceu a Pan-Juvenil, de graça, desde que eles assumissem as dívidas.
Minami investiu em quadrinhos ousados tanto pelo erotismo quanto pelas inovações estéticas, que aproximavam os gibis dos mangás e teve tanto sucesso que a editora, agora chamada Edrel, não só conseguiu quitar seus débitos, como ainda cresceu e chegou a ameaçar as grandes.
Foi nesse momento que começou a calvário de Minami com a ditadura. Felizmente, o editor guardou todo o histórico de correspondências com a censura, o que permitiu a Gonçalo Júnior fazer um raio-x da repressão ditatorial, nos brindando com alguns dos momentos mais interessantes do livro.
O argumento da ditadura é que, por trás da liberdade sexual, que se mostrava através das publicações da Edrel, escondia-se o comunismo internacional, que pretendia desestabilizar a família brasileira. Curiosamente, o mesmo fenômeno era também combatido na União Soviética como um vício capitalista.
Gonçalo amplia a investigação sobre a censura na época, abarcando de revistas comoGarotas de Piadasda Edrel aos gibis do Pato Donald e Luluzinha, além de revistas de reportagens, como aRealidade.
Mas a perseguição ao Pato Donald nem se comparava à repressão ao erotismo. Sem querer perder o negócio, Minami procurava se informar sobre como continuar publicando sem ter suas revistas apreendidas. Logo descobriu que não havia parâmetros. Tudo dependia muito da cabeça do censor.
O risco maior não era só a apreensão de revistas: as sedes das editoras poderiam ser invadidas a qualquer momento, e seus funcionários poderiam ser presos.
O esquema da censura era cruel especialmente para os pequenos editores, com poucas ligações com o poder. Na fase mais cruel da ditadura, as bonecas das revistas tinham de enviadas para Brasília, onde muitas vezes demoravam meses para serem analisadas. Se houvesse algum corte ou pedido de mudança, uma nova boneca deveria ser feita e enviada para Brasília para uma análise igualmente demorada.
Se a revista focasse em assuntos do momento, esse esquema era morte certa. No final, a repressão levou ao fechamento tanto da Edrel quanto da editora seguinte de Minami, a M&C.
Para fugir da repressão, Cláudio Seto, escondeu-se no único lugar onde não se esperava encontrar um subversivo: no partido do regime, o Arena, pelo qual foi eleito vereador em Lins. Quando se casou, resolveu pegar a estrada e fazer uma viagem pelo sul do país. Ao chegar em Curitiba, encontrou a cidade envolta pela neve e, encantado, resolveu morar lá.
Sua ida para Curitiba parece ter sido arquitetada pelo destino, pois na mesma época um editor local pretendia entrar no mercado erótico, aproveitando a abertura da censura e o interesse da população pelo tema. Era o início da Grafipar. Deu tão certo que virou uma verdadeira trincheira do quadrinho nacional, a ponto de alguns dos mais importantes artistas da época se mudarem para a capital do Paraná.
Mas erros editoriais, perseguição política e a crise econômica selaram o fim da editora, o que não a impediu de deixar uma marca poderosa nos quadrinhos brasileiros.
Maria Erótica e o clamor do sexose torna ainda mais importante pelo fato de tanto Minami quanto Seto terem morrido recentemente, quase no esquecimento, em especial Minami. Numa época em que os mangás dominam as bancas, poucos se lembram desses grandes artistas e editores que introduziram a linguagem oriental nos quadrinhos nacionais.
Nas palavras de Toninho Mendes, que escreve a orelha da publicação: "Gonçalo Júnior faz ressurgir do limbo um segmento da imprensa nacional quase desconhecido: o dos pequenos editores de revistas e livros de sexo que desafiaram a polícia e os censores com formas criativas de enganar a repressão e fazer o brasileiro participar mais ativamente - em vários sentidos - da revolução sexual, que a ditadura tanto se empenhou por não deixar entrar no país".
Confira abaixo as atrações do mais novo número da Prismarte:
ZEN-Nestablo R. Netochega para abrilhantar a edição e merece o destaque da capa com o universo deZona Zen. Seu personagem retorna às páginas da Prismarte com três divertidas histórias das desventuras amorosas do jovemZenna sua busca pelo par perfeito; LAICENSI THU QUIU-Amaro Camarajipe, deMarcelo Schimitz, que enfrenta a alta espionagem, um clone e um grupo de terroristas na históriaLaicensi Thu Quiu, com traço deMilson Marinse arte final deArnaldo Luiz. MANIFESTO-Luciano Oliveiranos convida a uma reflexão sobre a força de vontade do indivíduo contra as influências de uma sociedade de comunicação de massa. A APOSTA-Daniel Brandãotraça uma crônica sobre amor, traição, vícios e jogatinas. ENTRE UM SILÊNCIO E OUTRO-Laz Munizmergulha nos bastidores de um escritório burocrático. DOIS JOSÉS-Leonardo SantanaeWilskinos mostra como a inveja pode interferir na vida de duas pessoas.
ARTIGOS: IDÉIAS DE GIAN DANTON- revela sobre a contribuição deAlan MooreemO Monstro do Pântano. ENTREVISTA COM LUCK OLIVER OU MELHOR LUCINAO OLIVEIRA- Ao lado do seu irmão Watson Portela, Wilde criou do cawboy Chet, o mais bem sucessdido personagem de faroeste made in Brasil. Nesse ele fala sobre a criação e o sucesso do personagem em todo Brasil.
PADA MARCA PRESENÇA NO CÉNARIO PERNAMBUCANO DE QUADRINHOS-Sandro Marcelofaz a cobertura completa das oficinas de quadrinhos do grupo durante o eventoDos Quadrinhos para as Telonas 5. IMPRESSÕES DE JOSÉ VALCIR- Vaclir resenha sobre notícais, publicações e tudo sobre quadrinhos.
O curso de jornalismo da Universidade Federal do Amapá – Unifap – terá uma disciplina pouco comum nos cursos de graduação: história em quadrinhos. A disciplina é optativa e será oferecida a partir do quinto semestre.
Entre outros assuntos, serão discutidos a linguagem das HQs, o mercado de quadrinhos e a relação com o jornalismo em obras como Maus, de Art Spielgman e Palestina, de Joe Sacco.
O coordenador do curso, Aldenor Benjamim lembra outro aspecto importante a ser discutido, a questão ideológica: “Os quadrinhos dentro do processo de comunicação de massa têm-se articulado como um serviço de divulgação da ideologia para manter o status quo da indústria cultural e dos bens simbólicos, sobretudo. Extrapolando sua função primeira e sendo aplicado nos campos políticos, propaganda comercial, na comunicação popular revela-se, todavia, rico na sua relação com os seus interlocutores”.
A ideia da inclusão da disciplina surgiu do professor Ivan Carlo, conhecido nos meios quadrinísticos como Gian Danton. “Há muito tempo os quadrinhos já estão nos cursos de comunicação, principalmente através de trabalhos de conclusão de curso que relacionam essa linguagem com o jornalismo, mas são poucas as instituições que colocam esse assunto na matriz. A inclusão da disciplina História em quadrinhos permite ampliar inclusive a discussão sobre o campo da comunicação”, diz.
“Caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato, está em pauta e é bom que esteja, pois é um livro maravilhoso .
Narra as aventuras da turma do sítio de Dona Benta primeiro às voltas com a bicharada da floresta próxima e, depois, com uma comissão do governo encarregada de caçar um rinoceronte fugido de um circo. Nos dois episódios prevalecem o respeito ao leitor, a visão crítica da realidade, o humor fino e inteligente.
Na primeira narrativa, a da caçada da onça, as armas das crianças são improvisadas e na hora agá não funcionam. É apenas graças à esperteza e inventividade dos meninos que eles conseguem matar a onça e arrastá-la até a casa do sítio. A morte da onça provoca revolta nos bichos da floresta e eles planejam vingança numa assembléia muito divertida : felinos ferozes invadem o sítio e –de novo- é apenas graças à inventividade e esperteza das crianças ( particularmente de Emília) que as pessoas escapam de virar comida de onça.
Na segunda narrativa, a fuga de um rinoceronte de um circo e seu refúgio no sítio de dona Benta leva para lá a Comissão que o governo encarregou de lidar com a questão. Os moradores do sítio desmascaram a corrupção e o corpo mole da comissão, aliam-se ao animal cioso da liberdade conquistada e espantam seus proprietários. E, batizado Quindim, o rinoceronte fica para sempre incorporado às aventuras dos picapauzinhos.
Estas histórias constituem o enredo do livro que parecer recente do Conselho Nacional de Educação (CNE), a partir de denúncia recebida, quer proibir de integrar acervos com os quais programas governamentais compram livros para bibliotecas escolares . O CNE acredita que o livro veicula conteúdo racista e preconceituoso e que os professores não têm competência para lidar com tais questões. Os argumentos que fundamentam as acusações de racismo e preconceito são expressões pelas quais Tia Nastácia é referida no livro, bem como a menção à África como lugar de origem de animais ferozes.
Sabe-se hoje que diferentes leitores interpretam um mesmo texto de maneiras diferentes. Uns podem morrer de medo de uma cena que outros acham engraçada. Alguns podem sentir-se profundamente tocados por passagens que deixam outros impassíveis. Para ficar num exemplo brasileiro já clássico, uns acham que Capitu ( D. Casmurro, Machado de Assis, 1900) traiu mesmo o marido, e outros acham que não traiu, que o adultério foi fruto da mente de Bentinho. Outros ainda acham que Bentinho é que namorou Escobar .. !
É um grande avanço nos estudos literários esta noção mais aberta do que se passa na cabeça do leitor quando seus olhos estão num livro. Ela se fundamenta no pressuposto segundo o qual, dependendo da vida que teve e que tem, daquilo em que acredita ou desacredita, da situação na qual lê o que lê, cada um entende uma história de um jeito. Mas essa liberdade do leitor vive sofrendo atropelamentos. De vez em quando, educadores de todas as instâncias – da sala de aula ao Ministério de Educação- manifestam desconfiança da capacidade de os leitores se posicionarem de forma correta face ao que lêem .
Infelizmente, estamos vivendo um desses momentos.
Como os antigos diziam que quem paga a música escolhe a dança, talvez se acredite hoje ser correto que quem paga o livro escolha a leitura que dele se vai fazer. A situação atual tem sua (triste) caricatura no lobo de Chapeuzinho Vermelho que não é mais abatido pelos caçadores, e pela dona Chica-ca que não mais atira um pau no gato-to. Muda-se o final da história e re-escreve-se a letra da música porque se acredita que leitores e ouvintes sairão dos livros e das canções abatendo lobos e caindo de pau em bichanos . Trata-se de uma idéia pobre, precária e incorreta que além de considerar as crianças como tontas, desconsidera a função simbólica da cultura. Para ficar em um exemplo clássico, a psicanálise e os estudos literários ensinam que a madrasta malvada de contos de fada não desenvolve hostilidade conta a nova mulher do papai, mas – ao contrário- pode ajudar a criança a não se sentir muito culpada nos momentos em que odeia a mamãe, verdadeira ou adotiva...
Não deixa de ser curioso notar que esta pasteurização pretendida para os livros infantis e juvenis coincide com o lamento geral – de novo, da sala de aula ao Ministério da Educação—pela precariedade da leitura praticada na sociedade brasileira. Mas, como quem tem caneta de assinar cheques e de encaminhar leis tem o poder de veto, ao invés de refletir e discutir, a autoridade veta . E veta porque, no melhor dos casos e muitas vezes com a melhor das intenções, estende suas reações a certos livros a um numeroso e anônimo universo de leitores . .
No caso deste veto a “Caçadas de Pedrinho” , a Conselheira Relatora Nilma Lino Gomes acolhe denúncia de Antonio Gomes da Costa Neto que entende como manifestação de preconceito e intolerância de maneira mais específica a personagem feminina e negra Tia Anastácia e as referências aos personagens animais tais como urubu, macaco e feras africanas ; (...) aponta menção revestida de estereotipia ao negro e ao universo africano , que se repete em vários trechos do livro analisado e exige da editora responsável pela publicação a inserção no texto de apresentação de uma nota explicativa e de esclarecimentos ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos na literatura.
Independentemente do imenso equívoco em que, de meu ponto de vista, incorrem o denunciante e o CNE que aprova por unanimidade o parecer da relatora, o episódio torna-se assustador pelo que endossa, anuncia e recomenda de patrulhamento da leitura na escola brasileira. A nota exigida transforma livros em produtos de botica, que devem circular acompanhados de bula com instruções de uso.
O que a nota exigida deve explicar ? o que significa esclarecer ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos na literatura ? A quem deve a editora encomendar a nota explicativa ? Qual seria o conteúdo da nota solicitada ? A nota deve fazer uma auto-crítica ( autoral, editorial ? ) , assumindo que o livro contém estereótipos ? a nota deve informar ao leitor que “Caçadas de Pedrinho” é um livro racista ? Quem decidirá se a nota explicativa cumpre efetivamente o esclarecimento exigido pelo MEC ?
As questões poderiam se multiplicar. Mas não vale a pena. O panorama que a multiplicação das questões delineia é por demais sinistro . Como fecho destas melancólicas maltraçadas aponte-se que qualquer nota no sentido solicitado – independente da denominação que venha a receber, do estilo em que seja redigida, e da autoria que assumir- será um desastre. Dará sinal verde para uma literatura autoritariamente auto-amordaçada. E este modelito da mordaça de agora talvez seja mais pernicioso do que a ostensiva queima de livros em praça pública, número medonho mas que de vez em quando entra em cartaz na história desta nossa Pátria amada idolatrada salve salve. E salve-se quem puder ... pois desta vez a censura não quer determinar apenas o que se pode ou não se pode ler, mas é mais sutil, determinando como se deve ler o que se lê !
[1]Prof. Titular (aposentada) da UNICAMP; Prof. da Universidade Presbiteriana Mackenzie; Pequisadora Senior do CNPq.; Ex Secretária de Educação de Atibaia (SP); Organizadora ( com João Luís Ceccantini) do livro de Monteiro Lobato livro a livro (obra infantil) , obra que recebeu o Prêmio Jabuti 2009 como melhor livro de Não Ficção.
No blog Roteiro de quadrinhos eu contei a história do leitor que disse que não gostava dos Exploradores do Desconhecido porque eles não usavam toquinha. Eu aproveitei o gancho para fazer um post sobre caracterização visual nos quadrinhos. Agora o desenhista da série, o Jean Okada, resolveu fazer uma versão do capitão da nave com toquinha para contentar o garoto que só gostava de astronautas se eles estivessem usando toquinha. Está vendo? Não existe mais nenhuma razão para não gostar dos Exploradores do Desconhecido.
O podcast HQcast já publicou as entrevistas que fez com vários autores que participaram do MSP50, entre eles, eu, o JJ Marreiro e o Antonio Eder. Para ouvir, clique aqui.
A possível proibição do livro Caçadas de Pedrinho pelo Conselho Nacional de Educação, sob a a alegação de racismo, tem provocado muita polêmica, especialmente na internet. Mas é interessante lembrar que essa não é a primeira vez que tentam proibir os livros de Lobato. Na década de 1950, um padre bahiano acusou Lobato de comunista (o maior palavrão na época da guerra fria). Os livros só não foram proibidos porque houve protesto da criançada. Além disso, a maioria dos pais letrados daquela época havia crescido lendo o Sítio. Acima a capa do livro do padre. Fica o registro. E o alerta.
Logomarcas são essenciais para qualquer empresa. São geralmente o primeiro contato do consumidor com a empresa ou produto. E, como se diz, a primeira impressão é a que fica. Assim, uma logo criativa e diferente pode destacar o produto na cabeça do público. Infelizmente, muitos empresários desprezam a importância da logo e mandam qualquer um fazer (geralmente um sobrinho que aprendeu a mexer no Corel Draw). Apresento abaixo alguns bons exemplos de logos e três desastrosos.