sexta-feira, julho 05, 2019

Turma da Mônica – Laços


A Turma da Mônica marcou a infância de milhões de brasileiros. Gerações se alfabetizaram lendo os gibis da turminha. Fazer um filme que agradasse a todas essas gerações, do avô ao neto, era o grande desafio do filme Turma da Mônica – laços.
Esse desafio já havia sido vencido com mérito na graphic novel Laços dos irmãos Cavaggi. A graphic foi uma das mais vendidas da coleção graphic MSP e recebeu elogios da crítica e do público – tanto o infantil quanto o adulto.
Mas levar a história para o cinema gerava muito mais desafios. Além de agradar adultos e crianças, a equipe precisava adaptar não só o roteiro, mas também o visual e a essência de uma história em quadrinhos querida por milhões.
E o resultado foi realmente digno de aplausos. Os atores mirins são realmente talentosos – com destaque para Giulia Benite, como Mônica, e Kevin Vechiatto, como Cebolinha – a dinâmica entre esses dois personagens é realmente um dos pontos altos do filme. O figurino e a caracterização visual dos personagens impressiona.
O diretor Daniel Rezendo (do ótimo Bingo), consegue transformar cenas essencialmente gráficas, como Mônica correndo atrás do Cebolinha e do Cascão e se preparando para atirar o coelho Sansão, em algo plenamente áudio-visual. O diretor, aliás, se aproveita de uma característica dos quadrinhos, a elipse: a Mônica nunca é mostrada batendo nos meninos. Isso é apenas sugerido. Na sessão em que assisti uma criança menor de cinco anos gritou para a mãe: “A Mônica bateu no Cebolinha!”. Ou seja, da mesma forma que nos quadrinhos qualquer criança consegue completar a ação entre os quadros, no filme até mesmo crianças conseguem entender o que não é mostrado, mas sugerido, o que mostra o quanto o filme foi feliz em sua abordagem.
Vale destacar também a cenografia. O filme leva para as telas como seria o bairro do Limoeiro se ele realmente existisse, bucólico, colorido, inocente, quase como se fosse um local visto pelo olhar de uma criança – ou de um adulto lembrando de sua infância.
Em tempo: o filme tem participações especiais. Na sequência em que as crianças espalham cartazes pelo bairro, em determinado ponto eles conversam com um florista e seus clientes. O florista é Sidney Gusman, editor da Maurício de Sousa Produções, e os clientes são os irmãos Cavaggi, autores da graphic original. A sequência termina com os personagens pedindo para afixar o cartaz em uma banca de revistas... e o dono da banca é Maurício de Sousa. 

quinta-feira, julho 04, 2019

Como escrever quadrinhos


No livro Como escrever quadrinhos, Gian Danton explica, a partir de sua própria experiência, os princípios básicos do roteiro para quadrinhos incluindo as especificidades do texto quadrinístico. Livro finalista do prêmio HQ Mix.
Valor: 25 reais.
Pedidos: profivancarlo@gmail.com.

As aventuras do pequeno Xuxulu


A sabedoria de Alfred E. Newman


Notícia triste: a revista MAD vai acabar de vez. O anúncio foi feito esta semana. A revista vai deixar saudades. Eu era fã da revista desde os 14 anos, quando comprei um número em um sebo (uma edição especial com sátiras de quadrinhos). Depois virei colaborar por aproximadamente um ano.
Uma das características mais interessante da revista era o mascote, Alfred E. Newman. Todo exemplar trazia uma frase dele. Confira algumas:

“O cão pode até não ser o melhor amigo do homem, mas é o único que não pede dinheiro emprestado.”

"Adolescência é o período da vida de uma pessoa onde seus pais começam a dar trabalho."


"Vivemos em uma época em que os sucos de limão são feitos com limões artificiais e que os detergentes são feitos com limões verdadeiros."

"O pirata é o único sujeito que consegue telefonar com o telefone no gancho.”

“Viva cada dia como se fosse o último, porque um dia desses vai ser mesmo."

"Você só sabe quantos amigos tem de verdade depois de comprar uma casa na praia."

"Uma vez ou outra todo mundo banca o bobo. Mas alguns fazem disso um cargo vitalício."

"Um grande amor se constrói tijolo por tijolo mas para acabar com ele basta uma certeira tijolada."

"A maioria das pessoas faz uma abdominal por dia, meia quando se levante e meia quando se deita."

"Por que as lojas 'abertas 24 horas' têm sempre portas com trancas?"

"O importante não é saber, mas sim ter o telefone de quem sabe."

"É melhor ficar em silêncio e deixar os outros pensando que você é um idiota, do que abrir a boca e não deixar dúvidas!"

"O homem veio do macaco. E está voltando."

"Os daltônicos, em geral, são pobres, pois nunca conseguem ver a cor do dinheiro!"

O mestre dos sonhos




            Um dos roteiristas que mais se destacaram na chamada invasão britânica dos comics americanos foi Neil Gaiman.
Quando jovem, ele lia muito quadrinhos e deixou de fazê-lo quando percebeu que as revistinhas não correspondiam mais às suas expectativas literárias. Nos anos 70, Gaiman se dedicou com­pletamente ao jornalismo e à li­teratura até descobrir o trabalho de Alan Moore no Monstro do Pântano.
A partir daí ele resolveu fazer roteiros para quadrinhos adultos e conheceu Dave McKean. Juntos eles produziram as Graphic Novels Violent Cases e Signal to Noise no final dos anos 1980.
Nessa época a editora Karen Berger foi à Inglaterra em busca de novos talentos.  Ansiosos para conseguir trabalhar para a DC, Gaiman e McKean foram procurá-la no hotel. Ao serem informados de que não poderiam tocar nos grandes personagens da editora (como Batman e Super-homem), Gaiman sugeriu a Orquídea Negra. A editora nem se lembrava que a editora tinha essa personagem.
A dupla ganhou carta branca para fazer sua versão da heroina e produziu uma minissérie em três partes. O realismo das imagens pintadas de McKean combinados com o texto poético de Gaiman fizeram com que essa minissérie se tornasse um dos quadrinhos mais cultuados dos anos 1980.
A qualidade do trabalho da dupla fez com que a editora os convidasse para um outro projeto. McKean faria as capas e Gaiman escreveria o texto. O personagem escolhido foi Sadman, um herói secundário da era de ouro que tivera uma breve fase nas mãos de Jack Kirby na década de 1970. “Queremos um novo Sandman. Mantenha o nome, mas o resto é por sua conta”.   
Gaiman re-imaginou o personagem, afastando-o de sua origem super-heroiesca e aproximando-o da mitologia. Assim, Sadman era um dos perpétuos, seres mais longevos que os deuses, que só deixariam de existir quando o universo fosse destruído. Além de Sandman, que era o sonho, havia a Morte, Destruição, Delírio e Destino, todos iniciados com a letra D (em inglês, Dream – sonho  e Death, morte).
Gaiman leu diversos livros sobre sonhos e pesadelos e colocou toda essa pesquisa em seus quadrinhos, em especial as informações sobre a doença dos sono, que de fato existiu. Além disso, encheu as histórias de referências literárias e textos poéticos. Não bastasse isso, trouxe o personagem para a realidade cotidiana de uma forma pouco vista antes nos quadrinhos.
Por outro lado, McKean produziu uma célebre galeria de capas unindo influências dadaístas, surrealistas e expressionistas.
Tudo aquilo era muito diferente do que os quadrinhos americanos publicavam até então (diverso inclusive do Monstro do Pântano, do também britânico Alan Moore, que inspirara Gaiman) e isso chamou atenção de um público que até então parecia ter pouco interesse pelos gibis: as mulheres. Afinal, a revista não era sobre marmanjos trocando socos, mas, ao contrário, aproximava-se de uma espécie de fantasia urbana e contemporânea.
Sandman foi uma das revistas mais celebradas dos anos 1990, arrebatando uma legião de fãs e sendo republicava diversas vezes, agora em formato álbum de luxo. A popularidade conseguida com a revista fez com que Gaiman se tornasse um cultuado escritor de livros de fantasia, entre eles Deuses americanos e Lugar Nenhum.

Novembro de 1963



A primeira coisa que você precisa saber é que, se for ler Novembro de 1963, de Stephen King, tenha certeza de que tem bastante tempo de sobra. Você se verá com um livro enorme (725 páginas!!!!!) que simplesmente não consegue largar – e se estiver muito atribulado isso será um problema.
Os romances normais seguem a estrutura estabelecida por Aristóteles, com um primeiro ato que apresenta os personagens, um conflito surgido no final deste ato, que se desenvolve no segundo fazendo com que a trama siga num crescendo – até a conclusão apoteótica no terceiro ato. Num bom romance de terror ou suspense isso significa que o nível de tensão irá se tornar cada vez maior, até o que terceiro ato se encerre – e com ele o livro.
king quebra com esse esquema. Seu livro tem dois arcos, então, quando a tensão chega ao seu auge, quando a linha do violino parece esticada demais, a história começa de novo a partir daquele ponto. Por um lado é interessante, pois o leitor sabe o nível a que a narrativa pode chegar, mas, por outro lado, isso faz com que a narrativa recomece no primeiro ato e só volte a engrenar lá na frente.  
A segunda coisa que você deve saber é que esta resenha terá spoillers. Difícil explicar este livro sem contar algo a respeito, embora contar algo já entregue toda a trama – a propaganda da editora fez contorcionismos para promover o livro sem contar quase nada da trama.
Na trama, um professor secundarista é apresentado a um portal no tempo, que lhe permite voltar ao ano de 1958. O homem que o apresenta a essa falha temporal está morrendo de câncer e o convence a terminar o que ele começou: voltar no tempo e impedir o assassinato do presidente Kennedy. Por mais tempo que se viva no passado, se passam apenas dois minutos no presente.
King constrói seu roteiro a partir do conceito do efeito borboleta, em que pequenas alterações no início de um processo podem provocar grandes alterações a longo prazo – e, embora ele pareça usar o conceito de maneira ingênua a princípio, no final do livro fica claro que ele sabia o que estava fazendo.
Novembro de 1963 é mais que uma história de viagem no tempo, um triller e uma reconstrução história de um dos momentos mais importantes da história americana. É também uma história de amor que cativa o leitor e o segura até a última página.
Leia, mas tenha certeza de que terá tempo de chegar até o final das quase 730 páginas.

quarta-feira, julho 03, 2019

A arte aterrorizante de Bernie Wrightson

Bernie Wrightson é um artista norte-americano mais conhecido por seu trabalho com terror. Foi co-criador do personagem Monstro do Pântano. Sua versão do clássico Frankstein também se tornou clássica. Seu estilo "sujo" (com arte-final detalhada) teve grande influência sobre outros artistas que trabalharam com o gênero. Confira abaixo alguns de seus desenhos.








Lições literárias



Quando conheci Afonso, aos 14 anos, eu só tinha lido um livro, Aventuras de Xisto, de Lúcia Machado de Almeida. Afonso já  tinha lido todo Lobato, infantil e adulto, alguns livros de Freud e estava começando a ler Jung  em edições bonitas, encadernadas, que ornavam a sala de sua casa.
Essas  três coleções tinham história. Haviam pertencido ao seu padrinho, sargento do exército. Em plena ditadura, era um militar de esquerda. Um dia bateu na porta da família do afilhado com caixas repletas dessas coleções:
- Me descobriram. Eu vou sumir. Esses livros ficam de presente para o Afonso.
Nunca mais ouviram falar dele. Não se sabe se foi pego pelos órgãos de repressão, ou se fugiu para outro país.
Afonso tinha um ciúme atroz  desses volumes encadernado. Coisa de colecionador. Mostrava o que estava lendo, comentava, lia um trecho, mas não me deixava nem tocar no exemplar.
Talvez isso tenha aguçado minha curiosidade pela leitura.  Como não tinha livros em casa, tive que ir desbravando outros caminhos. Descobri os sebos e muitas vezes voltava a pé para casa, pois havia gastado o dinheiro da passagem com livros e gibis. 1984, de George Orwell, custou exatamente o valor de uma passagem de ônibus, depois de muito choro com o dono do sebo. Um outro livro que custou o preço exato de uma passagem de ônibus foi um volume argentino sobre história romana, com o qual não só aprendi sobre Roma, mas também comecei a dar os primeiros passos na língua espanhola.
Descobri também a biblioteca pública, em especial a seção circulante, que emprestava  livros. Pegava um livro por semana, religiosamente. Passava horas  olhando entre as estantes, lendo trechos, sorvendo um gostinho da obra. Na dúvida, levava Júlio Verne.  E nunca me arrependi. Entre os vários xodós, um exemplar de Viagem ao centro da terra com um texto  delicioso e ilustrações de um artista espanhol. Talvez  da mesma coleção (lembro que o ilustrador também era espanhol), um outro livro que me fascinou por seu intimismo: Robison Crusoe, um livro com um único personagem na maioria dos capítulos. E, claro, Lobato, mas esse eu emprestava pouco. Havia muitos livros dele em sebos e fui comprando um a um, muitos da mesma coleção encadernada em verde que eu via na casa do Afonso.
Na circulante havia um quadro onde eram colocadas pequenas resenhas escritas pelos leitores. Quando emprestei meu primeiro livro (um ótimo volume de contos de HG Wells), a bibliotecária sugeriu que eu escrevesse uma resenha para o quadro. Escrevi e na semana seguinte escrevi outra, e outra e outra, até que o quadro fosse totalmente tomado por resenhas de minha autoria.
Eu seguia também as sugestões da bibliotecária, algo muito útil para quem leu um livro por semana, por anos a fio. Meninos de engenho, de José Lins do Rego, foi dessa safra.
Ler era um prazer e, ao mesmo tempo, uma competição. Como na fábula do coelho e da tartaruga, eu largara muito atrás, mas queria vencer a corrida. Queria ler mais livros que o Afonso. Felizmente para mim, ele era como a tartaruga, lento para ler e preguiçoso para escrever. Aos 17 anos  eu já  tinha lido mais livros que ele, todos registrados em um caderno.
Além de, mesmo por vias tortas, me despertar o interesse pela leitura, Afonso, muito influenciado por Lobato, me ensinou uma grande lição: a propriedade no uso das  palavras.
No meio da  conversa ele soltava uma expressão que eu não conhecia e perguntava:
- Entendeu?
- Entendi, claro.
Ele  ralhava:
- Entendeu nada. Você nem sabe o que essa palavra significa.
Como eu negasse, ele me desafiava a definir o verdadeiro sentido da expressão.
Eu gaguejava, gaguejava, gaguejava, até que finalmente admitia ser era ignorante com relação àquele termo. 
Era humilhante, mas era  também uma lição: nunca finja entender de algo que não sabe  e, principalmente, nunca use palavras cujo significado não esteja muito claro para você.
Hoje vejo muitas pessoas  ansiosas por “falar difícil” usando expressões cujo significado desconhecem e penso: essas aí deveriam ter tido um amigo como o Afonso e um mestre como Lobato.  
Afonso passou anos se preparando nos melhores colégios, mas, mesmo com sua inteligência a e seu texto irrepreensível, não passou no vestibular. Foi para o Rio de Janeiro e nunca mais nos falamos. Era  época pré-internet e as minhas cartas levavam semanas para chegar e as respostas  às vezes  meses, até se esgotarem completamente. À moda de Carlota Joaquina, ele dizia que não queria levar nada de sua estada em Belém, nem mesmo os amigos.  A última notícia que tive dele é que tinha se envolvido com drogas e tinha abandonado dois curso de graduação, um deles de psicologia. Eu já trabalhava como jornalista  quando uma conhecida em comum me disse que ele ainda era sustentando pelos pais e não estava  estudando ou  trabalhando.
Mesmo com toda sua arrogância e egoísmo, Afonso despertou em mim o lado intelectual, o interesse pela leitura e o gosto por escrever de maneira clara.  Foram verdadeiras lições literárias.

Roteiro para quadrinhos: o texto

A forma diz respeito à abordagem textual escolhida pelo roteirista

Chegamos à parte mais complexa do mister de quadrinhos: a forma. Nove em cada dez pessoas não tem a menor noção do que seja a forma num texto. Se perguntarmos a alguém o que achou da história, essa pessoa provavelmente se restringirá a fazer comentários sobre o enredo: "E aí tinha um monte de terroristas e o Batman chegou e deu porrada neles...". Provavelmente, se perguntarmos para essa mesma pessoa o que achou dos diálogos, ela fará cara de boba: "Como assim, tinha diálogos?".            
                A questão da forma está intimamente relacionada com o estilo, embora o estilo de um autor possa envolver diversas formas (por exemplo, a forma de Watchmen é bem diferente da forma de V de Vingança, embora ambas sejam obras do mesmo autor, Alan Moore).
                Partindo do princípio de que esse é um assunto difícil para o leigo, limitarei meus comentários apenas a dois aspectos: o texto e os diálogos.
                O TEXTO, ou legenda,  é um recurso comumente utilizado pela maioria dos bons autores. Ele geralmente aparece nas histórias  em balões quadrados, chamados de recordatários. Pessoalmente, não gosto desse nome, pois ele lembra uma época em que a única função do texto era explicar a sequência, ou mesmo o quadrinho para o leitor. Usava-se o recordatário para dizer coisas como "Enquanto isso", "Em outro lugar". "Algum tempo depois", "Flash dá um soco em Ming".
                Depois descobriu-se que o leitor não precisava que se lhe explicasse a cena (e devemos isso em grande parte ao trabalho de Will Eisner no Spirit). Se o desenho já está explicando a ação para o leitor, porque não utilizar o texto para aprofundar a psicologia do personagem, ou narrar eventos que o desenho não possa mostrar?
                Esse é em geral o segundo maior defeito dos roteiristas iniciantes: limitar o texto a contar coisas que o desenho pode mostrar sozinho. (O primeiro maior defeito é querer explicar tudo na história segundo a lógica do mundo real. As histórias têm a sua lógica própria, definida pelo roterista quando ele imagina os personagens e o universo no qual eles vão se deslocar).
                Dito isso, podemos analisar algumas técnicas de texto.

                O texto pode ser usado, por exemplo, para que o roteirista conte a história. É o que Miller faz em A Queda de Matt Murdock. Após observar a luta entre entre Matt e o Rei do Crime (na qual não há texto, pois ele seria desnecessário), vemos ângulos cada vez mais fechados de um carro no fundo de um rio, enquanto o texto diz: "O Rei é um homem cuidadoso. A morte de Murdock não deve ser nem misteriosa e nem suspeita. Não há motivo algum para investigação. Inconsciente, mas vivo, Murdock é colocado num taxi roubado. O taxi é jogado no cais 41, no rio leste. Seu cinto de segurança e a porta são emperrados por um processo indêntico à ferrugem. Murdock é encharcado de bebida".
                O texto, portanto, está em terceira pessoa e no presente, mas não está explicando o desenho, ele está contando coisas que o desenhista  não poderia mostrar em tão pouco espaço.
Texto em primeira pessoa em Cavaleiro das Trevas

                O mesmo Miller usa um tipo diferente de texto em Cavaleiro das Trevas. Em um sequência, vemos Batman escalando uma gárgula e lemos o seguinte: "A dor que já dura três dias arranha minhas costas. Eu espano o pó das articulações e subo. Isso já foi mais fácil".
                O texto, aqui, reflete os pensamentos do personagem. Por  isso, ele está no presente e em primeira pessoa. As frases são curtas para dar movimento à cena. Uma vez que as HQs, ao contrário do cinema, não têm movimento, é necessário inventar alguns truques para enganar o leitor e fazê-lo acreditar que está vendo movimento.  Um deles é escrever frases curtas e distribuí-las verticalmente pelo quadro. Miller é um mestre nesse tipo de engodo.
                Apresentei dois exemplos de Frank Miller para demonstrar como, dentro de um mesmo estilo, pode haver vários formatos de legenda. Antes de seguirmos em frente, no entanto, faz-se necessário definir alguns tipos básicos de textos. 

Exemplo de narrador em terceira pessoa

PRIMEIRO TIPO – Narrador em terceira pessoa: É quando o autor, o roteirista, tem a palavra. O texto ficará em terceira pessoa e o narrador, portanto,  não faz parte da história. A história Castelos de Areia, de Gerry Boudreau e publicada na extinta revista Kripta, é um exemplo disso. Enquanto vemos uma mulher correndo, o texto diz: “Estava frio e escuro no túnel, como no útero de uma mãe morta. Ela sentiu o ar penetrar por sua pele e cobrir suas artérias como uma fina camada de gelo”.
Texto em primeira pessoa


SEGUNDO TIPO – Narrador-personagem - é quando um dos personagens narra a história.  Um exemplo disso é a história de piratas que o garoto está lendo em Watchmen:  "Acordando do pesadelo, me encontrei numa lúgubre praia entulhada de cadáveres. Ridley jazia próximo de mim. Os pássaros devoravam seus pensamentos e memórias". Esse tipo de texto também pode ser uma continuação do diálogo, quando a imagem mostra algo do passado. Nesse caso, o texto deve vir entre aspas.

Gerry Conway usava muito o recurso do texto diálogo em sua fase no Homem-araha

TERCEIRO TIPO - Texto diálogo - recurso muito pouco usado, mas bastante criativo. É quando o narrador parece estar conversando com o personagem. Gerry Conway, quando escrevia o Homem Aranha, no início da década de 70,  costumava usar muito essa técnica. Numa sequência que mostra o aracnídeo balançando-se sobre a cidade, o texto diz: "As pessoas terminam fazendo o que é preciso... mesmo que se odeiem por  isso. E você se odeia por  isso, não é Peter? Sim, com certeza". Outro exemplo é a história Shamballa, de J.M.De Mattei, com o personagem Dr. Estranho: “Mestre das Artes Místicas. Desde que assumiu esse majestoso título, parece ter eliminado a malícia e a mesquinhez de seu coração. Pena que ainda não aprendeu a sorrir. Você caminha, uma criança brincando com as sombras da memória: a imagem do desgraçado que foi se reflete na neve ofuscante”.  
                A partir desses três tipos básicos é possível produzir uma enorme variedade de textos.
                Ainda sobre a legenda é importante considerar algumas questões. A primeira delas é a uniformidade. Se a história começou sendo narrada por um personagem, refletindo seus pensamentos, por exemplo, ela deve ser narrada pelo personagem até o fim, sob pena de dar a impressão para o leitor de que o personagem deixou de pensar. Por outro lado, se começamos no presente, é bom continuar no presente.

Monteiro Lobato: Cidades Mortas


            Em 1917, Lobato, já formado, é nomeado promotor público da cidade de Areias, no interior paulista. Areias era o que o autor mais tarde chamaria de Cidades Mortas. Vítimas das mudanças econômicas, esses lugarejos, antes prósperos, viviam em estado de lesmice patológica. Com a economia local quebrada, a maior parte dos jovens se mudara para cidades mais desenvolvidas e só ficava em Areias quem não tinha condições ou idade para a mudança.
            Numa cidade como essa, até o passeio matutino do recém-nomeado promotor público virava atração pública. As moças saiam na janela para ver Lobato passar.
            Naquela época Lobato já namorava sua futura esposa, Maria da Pureza Natividade. Ia de vez em quando a São Paulo para vê-la. As cartas escritas para ela revelam gripes, caçadas a onças, uma ou outra refrega entre vizinhos e muita saudade. Em suma, não havia o que fazer em Areias. Assim, Lobato gasta a maior parte do tempo lendo e escrevendo. Vai passando para o papel o que observa no lugarejo. São esses escritos que mais tarde formarão o livro Cidades Mortas. Nos escritos, Areia é rebatizada de Oblivion, depois Itaoca.
            Em Oblivion só meia dúzia de pessoas recebe jornais. São a intelectualidade local. Livros só há três, que passam de mão em mão. Cada um que pegava fazia questão de escrever algo. “Li e gostei”, afirmava um. Outro versificava: “Já foi lido - pelo Valfrido”.
            Cidades Mortas é cheia desses casos, entre eles o de um réu que escapou enquanto o júri permanecia horas reunido numa sala, incapaz de tomar uma decisão.

terça-feira, julho 02, 2019

Escrava romana



Oscar Pereira da Silva é hoje pouco conhecido, mas foi um dos grandes pintores brasileiros no final do século XIX e início do século XX. Seu estilo acadêmico foi obscurecido pelo modernismo que eclodiria a partir da década de 1910.
Entre seus trabalhos está a decoração da Igreja de Santa Ifigênia, em São Paulo.
Uma de suas pinturas mais famosas é “Escrava romana”, produzido enquanto o artista estava em Paris. Uma das grandes qualidades do artista era sua habilidade de desenhar a figura humana, o que pode ser visto em plena forma neste quadro. A imagem é totalmente focada na jovem moça que está à venda como escrava sexual. A pintura, embora detalhista e realista em sua técnica, traz uma dubiedade interessante: embora a placa no peito da moça diga “Virgem de 21 anos”, ela parece muito sensual, descontraída e segura para uma garota virgem.
A pintura fez tanto sucesso que Oscar Pereira da Silva  fez uma cópia para poder vender duas vezes. Atualmente a pintura consta no acervo da Pinacoteca de São Paulo.

Marvels



Em meados da década de 1990 os quadrinhos americanos estavam dominados por revistas sem roteiro, desenhos sem preocupação anatômica, cores digitais e personagens raivosos, como Wolverine e Justiceiro. Foi quando uma minissérie surgiu, criada por dois desconhecidos. Marvels, de Kurt Buziek (roteiro) e Alex Ross (desenho) era em tudo o oposto disso, mas mesmo assim fez enorme sucesso, provocando uma guinada no mercado dos comics.
O primeiro embrião da minissérie surgiu quando Alex Ross apresentou à Buziek a ideia de fazer uma minissérie pintada com histórias fechadas dos principais heróis da Casa da Ideias. Ross não havia imaginado nada em comum que ligasse as dez histórias.
Buziek trouxe uma inovação para a proposta: mostrar o impacto que os super-heróis teriam sobre a vida de pessoas reais. Quando dois super-seres lutavam nos céus de Nova York, o que acontecia com as pessoas lá embaixo? Com os pedestres, taxistas e motoristas e ônibus? Como suas vidas seriam afetadas? Isso se deve ao fato de Buziek ter começado a ler quadrinhos já adolescente, o que o levava pensar em coisas que não eram mostradas nos gibis, tais como imaginar se as garotas tinham em seus quartos pôsteres de Johnny Storm vestindo nada mais que calças jeans.
Os dois artistas apresentaram a proposta para vários editores da Marvel, mas embora a maioria tivesse adorado a arte de Ross, ninguém se interessou em publicar. Até que o projeto caiu na mesa do editor-chefe da editora, Tom DeFalco, que fez uma sugestão que mudaria os rumos da série: que tal, ao invés de contar histórias inéditas dos heróis a partir da perspectiva de pessoas normais, a história focasse em recontar os principais eventos dos quadrinhos Marvel, mostrando-o sob essa perspectiva inovadora?
O diferencial da série já aparecia logo nas primeiras páginas, na sequencia que mostrava o embate entre o Príncipe Submarino e o Tocha Humana original. A arte maravilhosa de Ross mostrava os dois através de um plano inferior, como e alguém os estivesse vendo de baixo para cima e o texto de Buziek afirmava: “Deve ter sido como ler sobre um balé aéreo, maravilhoso e emocionante. E talvez fosse. Mas não para nós. O que nós vimos foi carnificina, destruição e confusão”.
O departamento de Marketing da Marvel ainda tentou incluir o Justiceiro, ou Wolverine na história como forma de ajudar nas vendas. Mas os autores bateram os pés: sua história seria uma homenagem à Marvel Clássica. E fizeram bem: Marvels foi um sucesso absoluto, de público e de crítica. E revolucionou os quadrinhos americanos.  

Providence: Alan Moore explora do universo de Lovecraft



Providence é um dos trabalhos mais recentes de Alan Moore e a terceira investida do autor inglês na obra de H.P. Lovecraft (a primeira foi no Monstro do Pântano, a segunda em Neonomicon).
O plano de Moore é ousado: não só costurar todo o universo lovecraftiando em uma única história, mas interliga-lo com quase toda a literatura do século XX, tendo como pano de fundo de que a arte é um tipo de magia: quando, por exemplo, escrevemos sobre algo, estamos tornando aquilo real. Moore tem dissertado bastante sobre sua ideia de que ficção e realidade são instâncias que se tocam e influenciam, de modo que a linha entre elas é tênue e nebulosa. Esse é o mote de Providence.
A história, lançada aqui em três volumes encadernados pela Panini, acompanha um jornalista gay nova-iorquino e sua saga pela nova Inglaterra em busca de tradições locais. Com isso ele se depara com um estranho culto. A narrativa é lenta e se torna necessário conhecer a obra de Lovecraft para entende-la em plenitude: os personagens de diversas histórias de Lovecraft vão surgindo

segunda-feira, julho 01, 2019

A verossimilhança e a caracterização visual


Eu já expliquei aqui que história em quadrinhos de ficção não é documentário. Ou seja: uma HQ não precisa ser realista, ela apenas precisa convencer o leitor de sua realidade. Isso passa muito pela caracterização visual dos personagens. Por exemplo, os cientistas não costumam ser carecas, os malvados não costumam ser feios. Mas um bom desenhista recorre a essa generalização para que o leitor identifique, logo de cara, a função ou a personalidade dos personagens.




Basta olhar para Ming e Flash Gordon e perceber quem é o vilão e quem é o herói.
Marcos Rey, um dos grandes roteiristas brasileiros de cinema e TV lembra a figura de Sherlock Holmes, cuja caracterização, com cachimbo, lente de aumento e sobretudo xadrez, o identifica imediatamente.


Claro que hoje as HQs hoje não trabalham tanto com clichês, mas mesmo assim, desenhistas e roteiristas utilizam objetos, roupas e até expressões ou gestos para caracterizar os personagens, já que os quadrinhos são uma mídia visual.
Nos primeiros capítulos da webcomics Exploradores do Desconhecido tínhamos um personagem que aparecia em poucos quadrinhos. Ele era um político avesso à tecnologia, que é contrário à Operação Salto Quântico e que acaba sendo convencido pelo Capitão a apoiar o projeto. No meu roteiro, coloquei que ele era alguém antiquado, temeroso de avanços tecnológicos. Na hora de ilustrar a sequência, o desenhsita Jean Okada decidiu colocá-lo de óculos. Toda a caracterização psicológica do personagem ficou explícita sem que precisassemos usar uma palavra. Bastava bater o olho e o leitor percebia que aquele político era contrário às inovações (até porque seu óculos era do tipo antigo).

Quando divulgava a série no Orkut, ainda no ano de 2008, encontrei um suposto crítico de quadrinhos que implicou com o político de óculos e com o fato dos Exploradores não usarem toquinha. De fato, nas missões na NASA os astronautas usam uma toquinha e, por conta disso, esse suposto crítico achava que também os Exploradores deveriam usar toquinha.

- Mas em Jornada nas Estrelas eles não usam toquinha. - argumentei.
- Jornada nas estrelas é uma m*... ! - respondeu ele. Em história de ficção científica, todo mundo tem que usar toquinha!
- Mas em Guerra nas Estrelas eles não usam toquinha. - retruquei.
- Jornada nas estrelas é uma m*... ! - respondeu ele. Em história de ficção científica, todo mundo tem que usar toquinha!
- Mas no filme Contato, baseado na obra do cientista Carl Sagan, eles não usam toquinha. - expliquei.
- Contato é uma m*... ! - respondeu ele. Em história de ficção científica, todo mundo tem que usar toquinha!
- Mas em Esquadrão Atari eles não usam toquinha. - lembrei.
- Esquadrão Atari é uma m*... ! - respondeu ele. Em história de ficção científica, todo mundo tem que usar toquinha! 

Como o palavrão é o argumento dos que estão errados, ele saiu batendo o pezinho e prometendo que ia mostrar como se fazia:
- Vou escrever um livro em que os astronautas usam touquinha e que os políticos não usam óculos. Vai ser um sucesso porque todo mundo quer ler histórias com astronautas de toquinha!


Pois é... dizem até que ele escreveu tal livro com o astronauta de toquinha... quanto ao sucesso... 
A grande lição é: história em quadrinho não é documentário. Embora os astronautas da NASA usem toquinhas durante as missões, a maioria das pessoas pensa neles sem a tal toquinha pela simples razão de que, normalmente, quando aparecem em público, estão sem toquinha.
Assim, para o leitor normal, um astronauta de toquinha é menos verossímil que um astronauta sem toquinha. E nos quadrinhos a verossilhança é mais importante do que o realismo.

Monteiro Lobato: O Minarete

José Renato Monteiro Lobato nasceu em Taubaté, São Paulo, no dia 18 de abril de 1882. Alguns anos depois modificou seu nome para José Bento, pois desejava usar uma bengala que fora do pai e que estava marcada com as iniciais J.B.M.L. Tinha duas irmãs, Judite e Ester, e brincava com brinquedos rústicos, feitos de sabugo de milho, chuchus e mamão verde.
            Esses primeiros anos influenciaram em muito a sua produção infantil. A Taubaté daqueles tempos certamente tinha um pouco do que viria a ser o Sítio do Pica-Pau Amarelo.
            Desde pequeno Lobato adorava livros. Devorou a toda a biblioteca do avô paterno, o Visconde de Tremenbé. Leu tudo que havia para crianças na época - o que não era muito. Ainda não surgira um Monteiro Lobato para escrever livros que as crianças realmente apreciassem...
            Os principais traços da personalidade do escritor já se delineavam na época. Extremamente sincero, Lobato falava o que queria, abusando da ironia e do cinismo.
            Aos 15 perde o pai, aos 16, a mãe.
            Nessa época ele estudava num colégio em São Paulo, onde fundou vários jornais, usando pseudônimos. Lobato queria ser escritor, ou pintor. Por ele, faria a escola de Belas Artes. Mas o avô queria vê-lo advogado, ou juiz. Assim, no ano de 1900, com 18 anos, o jovem escritor entra para a Faculdade de Direito de São Paulo. Lá ele faz amizade com várias outras pessoas que adoram literatura, entre eles Godofredo Rangel e o poeta Ricardo Gonçalves. Fundam o grupo literário O Minarete. Minarete era a república onde eles moravam, um chalé amarelo, chamado assim em homenagem às mesquitas maometanas. Todos eram boêmios e rebeldes.
            Em 1904 Lobato forma-se em direito e volta para Taubaté. Continuaria a ter contatos com os amigos, em especial com Godofredo Rangel, com o qual se corresponderia até o fim da vida. Todas essas cartas foram reunidas em dois livros, chamados de A Barca de Gleyre.
            Monteiro Lobato escrevia cartas como ninguém. Durante toda a sua vida, ele jamais deixou de responder as cartas dos amigos, fãs e, principalmente, crianças. Algumas dessas cartas foram reunidas em livros, Cartas Escolhidas, e Cartas de Amor, com as missivas que ele mandava para sua esposa, Purezinha, ainda na época do namoro.

Terror na Amazônia - chamada para antologia

A Amazônia é um mundo místico e desconhecido, lar de inúmeras criaturas hostis e — dizem — sobrenaturais. Durante séculos, histórias foram contadas sobre cobras gigantes que habitam o fundo dos rios, animais selvagens que espreitam da escuridão da selva, entidades não humanas que assombram os moradores das aldeias e vilas. Figuras lendárias como Saci, Matinta Pereira, Mapinguari, Sereias e Muiraquitã estão presentes no imaginário e nos pesadelos daqueles que vivem embrenhados nesse universo.
A antologia TERROR NA AMAZÔNIA, organizada pelo escritor e editor Girotto Brito, busca contos (inéditos!) sobrenaturais, de terror, horror cósmico e suspense, que sejam ambientados na Amazônia e/ou narrem as lendas amazônicas  em suas versões mais sinistras, cruéis e amedrontadoras.  Leia mais

The Nazz


O poder corrompe. O poder absoluto corrompe absolutamente. O que aconteceria se esse adágio popular fosse aplicado a um super-herói? Essa é a premissa básica de The Nazz, minissérie em quatro partes escrita por Tom Veitch e desenhada por Bryan Talbot e publicada pela editora Abril em 1992.
The Nazz surge no rastro de Watchmen, Miracleman, Zenith e outros trabalhos que levaram o gênero super-herois a extremos ainda não experimentados e talvez tenha sido a abordagem mais radical nesse sentido.
Na história, um garoto fascinado pela ideia de poder viaja ao oriente, onde conhece um guru que o inicia em um culto de morte e finalmente o leva aos caminhos místicos que o tornam um ser super-poderoso.
Ao voltar para os EUA, ele monta um culto e monta uma equipe que se tornará rival da equipe de vigilantes do governo, os Retaliadores, criados por uma equipe de relações públicas.
The Nazz é a história de um homem sendo corrompido pelo poder (ou corrompendo o poder, de acordo com a interpetação). Essa transformação é muito bem representada pelas capas. A primeira delas mostra o protagonista ainda um ser humano normal, meditando em meio a um cenário repleto de crânios. A segunda capa o mostra como um pop star, tendo ao fundo histórias em quadrinhos de super-heróis. Na terceira capa ele está gordo, nu, olhar fixo para o leitor, parecendo uma versão decandente de um astro de rock. Na quarta capa ele está transformado de um deus ameaçador.
A influência de Watchmen é nítida não apenas no tema da HQ, mas também na sua narrativa, que une quadrinhos criados por um amigo de Nazz, matérias de jornais, um press-realease e fotos autografadas. Esse conjunto de elementos, embora nem de longe tenham e efetividade narrativa de Watchmen, ajudam a construir uma narrativa coerente.
Tom Veitch relaciona o fenômeno dos super-heróis com as seitas surgidas na década de 1960, seus gurus e fins trágicos.
Há de se destacar também o nome do personagem, Nazz lembra nazismo e evoca super-homem sonhado por Hitler.
O desenho de Bryan Talbot se encaixa perfeitamente no projeto. Poucos desenhistas conseguiriam dar o tom sombrio adequado para essa HQ. Seu traço sujo exterioriza perfeitamente o tema sobre a corrupção do poder.
The Nazz é um daqueles trabalhos que melhor representam uma época e merecia uma republicação.