sexta-feira, junho 28, 2019

Marketing de guerrilha

Hoje o mundo vive uma guerra. Nessa guerra, as batalhas não são travadas com metralhadores ou tanques, mas com muito dinheiro, propagandas e estratégias promocionais. É a guerra de Marketing, cujo objetivo é a atenção do consumidor. Empresas como a Coca-cola, Pepsi, Nike e muitas outras investem bilhões de dólares anualmente para não serem derrotadas. Nesse cenário, só resta uma saída para as pequenas empresas: quebrar as regras, usar técnicas não-convencionais. Isso é chamado de marketing de guerrilha.
Num cenário em que os consumidores estão cada vez mais saturados de informação, o marketing de guerrilha acabou não só dando uma possibilidade de sobrevivência para as pequenas empresas, como conseguiu destacar seus produtos no meio do marasmo publicitário, tanto que hoje até mesmo grandes empresas usam armas de guerrilha.
Mas o que é o marketing de guerrilha?
A principal arma do marketing de guerrilha é a chamada mídia espontânea. Ou seja, colocar o próprio consumidor para fazer propaganda de seu produto. Como fazer isso? Uma forma óbvia é deixar o consumidor satisfeito. 

A loja Stew Leonard tem consumidores tão fieis que eles levam as sacolas da loja e tiram fotos com essas sacolas nos mais diversos locais do mundo.
Outra maneira de fazer isso é estimular a participação, a curiosidade e a criatividade. Um exemplo disso foi quando Maurício de Souza colocou o elefante Jotalhão no molho de tomate da Cica. Como muitas vezes eram as crianças que iam comprar o molho na mercearia, elas logo pediam: ¨Moço, me vê um elefante!¨.
O marketing de guerrilha tem, além da participação dos clientes, outras características importantes. Uma delas é a desobediência às normas estabelecidas. O guerrilheiro usa mídias não convencionais e ataca a qualquer momento, em qualquer local. Até mesmo no banheiro. Um canal pago de esportes colocou propagandas em mictórios nos estádios de futebol. Além do cartaz adesivo na parede (em um local em que a pessoa é obrigada a ver se quiser usar o mictório), havia uma bolinha e um gol. 

Enquanto fazia suas necessidades, o consumidor via a propaganda e tentava, fazer gol, direcionando a bolinha. Certamente muita gente foi ao banheiro só para conhecer a novidade.
Alunos meus fizeram uma ação de guerrilha para um restaurante na orla do Araxá. Foram colocadas três faixas. A primeira delas perguntava: ¨Está com fome?¨, a segunda indagava ¨Já jantou hoje?¨ e a terceira trazia o nome do restaurante, junto com um convite para jantar. As faixas, seguradas pelos alunos, eram dispostas a cada 50 metros, de modo que a pessoa ia tendo contato com a mensagem aos poucos, ficando curiosa. Muita gente parou para perguntar do que se tratava... e o retorno foi tão bom que os donos do restaurante não conseguiram dar conta da demanda.
Um supermercado de Macapá colocou malas com a sua logomarca e os dizeres ¨Bem vindo a Macapá, gente boa¨ na esteira de bagagens do aeroporto da cidade.
Quando o livro ¨O doce veneno do escorpião¨, de Bruna Surfistinha, foi lançado em Portugal, os editores usaram uma estratégia de guerrilha: espalham pelos bancos da praça fotos da autora com um recado manuscrito e o endereço do site de divulgação.
Em Belém, durante o natal, vi uma interessante ação de guerrilha na frente de um shopping. Quando o sinal fechava, vários papais noéis ficavam na frente dos carros segurando placas com propagandas de uma loja. A ação era tão curiosa que muitas pessoas paravam para ver.
A estratégia de divulgação do chocolate Twist mostra bem como uma estratégia de guerrilha pode conquistar o público, tornando-se um viral de grande poder. A propaganda do produto, lançada exclusivamente na Internet, especialmente no Youtube, mostrava um homem que tinha como cacoete gritar ¨Caramelo!¨. Ele acabava gritando caramelo até nos momentos mais impróprios, como na hora do casamento. Procurando ajuda em um psicólogo, ele acaba encontrando dois outros homens com problemas semelhantes. Um grita ¨Biscoito!¨, o outro grita ¨Chocolate!¨. Ao encontrar o caramelo, os dois se completam e se tornam grandes amigos. Como o Twist é feito de caramelo, biscoito e chocolate, a propaganda fala, de forma divertida, da composição do produto. Mas o seu caráter divertido fez com que virasse um hit na net. Posteriormente foram colocados atores em filas de cinema. De repente eles começavam a gritar ¨Caramelo!¨ao o que o restante da fila respondia: ¨Chocolate!¨, ¨Biscoito!¨. Ou seja, a propaganda do biscoito virou quase uma brincadeira, que as pessoas se divertiam em espalhar.
O marketing de guerrilha pode ter, portanto, ótimos resultados, mas desde que seja bem feito. É necessário conhecer exatamente quem é o público-alvo, seus costumes, locais que freqüenta... no caso do Twist, as ações de guerrilha aconteciam nos cinemas porque o público desse produto gosta de assistir filmes e adora comer chocolates durante as sessões.
Além disso, é necessário ter uma prefeita noção do posicionamento, da imagem que se quer passar ao consumidor. Uma ação de guerrilha mal-feita pode acabar com o posicionamento de um produto, ou criar um poscionamento errado.
Por fim, as ações de guerrilha devem trabalhar com orçamento enxuto, mas não se deve fazer economia burra. Folhetos mal-feitos, faixas com erros ortográficos e fantasias precárias podem criar uma péssima imagem da empresa ou do produto. Melhor contratar um profissional para confeccionar os materiais promocionais.

quinta-feira, junho 27, 2019

Tio Patinhas - 40 anos


Em 1987 o pato mais rico do mundo completou 40 anos e, para marcar a data, a editora Abril lançou uma edição comemorativa. Como brinde vinha o que é hoje um item de colecionador: a famosa moeda número 1 do Tio Patinhas.
A primeira história da edição é justamente a HQ de estreia do famoso muquirana, desenhada e escrita pelo lendário Carl Barks, de 1947. Chamada “Natal nas montanhas”, mostrava Donald às voltas com o presente de grego do tio que o manda para as montanhas, onde pretende assustá-lo com uma fantasia de urso. É um enredo simplório para Barks e o Tio Patinhas estava muito longe do personagem que ficaria eternizado na história dos quadrinhos, tanto em termos visuais quanto em temperamento. No lugar do velho ranzinza, mas simpático, um milionário que não consegue sentir prazer com o natal e se diverte provocando o sobrinho.
A edição tem várias histórias de Barks, em especial O caso do dinheiro pegajoso, em que os Metralhas roubam o dinheiro da caixa forte, mas acabam sendo pegos graças a um invento criado por Huguinho, Zezinho e Luizinho.
Destaque para a linda capa, uma das muitas pintadas por Carl Barks.
Em tempo: meu exemplar foi comprado em sebo... por apenas R$ 2,50!  

Livro para baixar A arte dos quadrinhos

Já está on-line o e-book A arte dos quadrinhos. O livro reúne os artigos apresentados no III FNPAS com as mais variadas temáticas. Eu colaborei com o artigo SIMULACRO E PASTICHE EM 1963, DE ALAN MOORE. Para baixar o e-book clique aqui

Watchmen



Watchmen surgiu de um pedido que Dick Giordano, editor da D.C., Comics fez a Alan Moore. A editora do Super-homem adquirira os direitos sobre os heróis da extinta Charlton Comics e a idéia era fazer uma minissérie em 12 partes com eles. Mas a proposta apresentada pelo roteirista era tão revolucionária que Giordano resolveu dissociá-la dos heróis da Charlton. Assim, o Capitão Atómo tornou-se o Dr. Manhattan, o Pacificador tornou-se o Comediante e o Besouro Azul contentou-se com o título de Nite Owl.
 O enfoque básico de Watchmen partia de uma idéia que Moore já havia experimentado em Miracleman: o que aconteceria se os super-heróis realmente existissem?
Moore havia pensado nessa possiblidade quando ainda era criança e lia as paródias de Harvey Kurtzman na revista Mad, que mostrava, por exemplo, o Super-homem fazendo compras num supermercado. Mas Kurtzman usava o recurso para causar um efeito cômico e Moore pretendia, girando o parafuso, alcançar um efeito dramático.
Assim, Moore faz a pergunta: como seria um mundo sobre o qual os super-heróis realmente caminhassem? Como eles se relacionariam com os seres humanos normais, quais seriam suas angústias, que consequências isso teria?
Para responder a essas perguntas, Moore lançou mão de um dos princípios da teoria do caos: o efeito borboleta. Esse conceito foi elaborado a partir da grande dependência das condições iniciais apresentadas pelos fractais. A mudança de um único número pode transformar completamente o formato de um desenho fractal.  A mesma regra vale para alguns eventos não lineares. Assim, o bater de asas de uma borboleta em Pequim pode modificar o sistema de chuvas em Nova York.
                Moore transpôs o conceito para os quadrinhos. Se o bater de asas de uma borboleta pode ter consequências tão imprevistas, imagine-se o surgimento de super-heróis... Para Moore, o mundo jamais seria o mesmo.
                Até então, os avanços tecnológicos conseguidos pelos super-heróis não afetavam em absoluto o mundo em que viviam. Um exemplo disso são as histórias do Quarteto Fantástico, no qual apareciam foguetes estelares e computadores capazes de criar realidade virtual, mas isso não mudava em nada a vida das pessoas comuns.
 O mundo de Watchmen que, até a década de 60 era semelhante ao nosso, transforma-se com o surgimento do primeiro herói com superpoderes de verdade, o Dr. Manhathan, um ser tão poderoso que um cientista teria dito sobre ele: “Deus existe, e é americano!”.
Assim, no mundo de Watchmen, carros elétricos são realidade, assim como perus com quatro coxas. Os EUA ganharam a guerra do Vietnã e Nixon permaneceu no poder, se reelegendo vezes seguidas. Tudo mudou, do micro ao macro.
Isso tudo é contado de forma realista, com heróis que morrem porque a capa enganchou na porta giratória do banco ou vilões que fogem porque o herói precisou parar a perseguição para ir ao banheiro.
Outra inovação foi a forma narrativa: Watchmen é repleto de flash-backs que vão destrinchando os personagens, suas motivações e os acontecimentos que, como um efeito borboleta, mudaram tudo. Moore inovou também ao colocar anexos às HQs, que ajudam a contar a história: prontuários médicos, trechos de livros, artigos científicos. Tudo isso forma um quebra-cabeça que precisa ser montado pelo leitor.
Watchmen é tão complexo que foi alvo de diversos estudos acadêmicos, que destrincham seus aspectos filosóficos, científicos, sociológicos. Ou seja: uma obra com múltiplas leituras.

Uivo da górgona



De todos os monstros clássicos, os zumbis sempre foram os meus prediletos.
Eu sempre os vi como uma metáfora dos comportamentos coletivos: uma pessoa, quando está em uma multidão, torna-se irracional, instintiva – deixa, enfim, de ser humana. E, a partir do surgimento dos meios de comunicação de massa, as pessoas passaram a manifestar esse comportamento mesmo não estando em grupo. É a multidão solitária, ou massa.
Nos tempos atuais esse comportamento é totalmente visível, por exemplo, nas redes sociais, como o Whatsaap, que têm liberado o que há de pior nas pessoas, transformando-as em zumbis manipuláveis sedentos por sangue e alimentados por boatos.
O uivo da górgona surgiu a partir dessa percepção.
Para deixar isso claro, o que transforma as pessoas em zumbis não é a mordida de outro zumbis, mas um som, o uivo da górgona. O livro foi escrito originalmente em um grupo de terror no Facebook: eu escrevia, recebia o feedback e ia mexendo no texto. Essa forma de publicação também fez com que a estrutura fosse de capítulos curtos, com uma situação de suspense no final, quase como se fosse uma tira de quadrinhos.
O livro, meu segundo romance, foi financiado via Catarse e publicado em 2016 pela editora 9Bravos, com uma belíssima capa de João Ovtizke.

Toy Story 4



Depois do excelente Toy Story 3, era um risco enorme lançar um quarto filme da franquia. Afinal, os filmes anteriores haviam revolucionado a animação não só na técnica 3D, mas principalmente nos roteiros bem elaborados, com personagens carismáticos, que levavam pais e filhos para o cinema. A trilogia anterior tinha estabelecido um nível de qualidade, que foi num crescendo até o terceiro. O terceiro parecia um fechamento perfeito, com expectadores saindo chorando do cinema.
Então, assim como eu, muitos devem ter se perguntando se um quarto filme seria necessário e se conseguiria manter o nível de qualidade dos outros. As primeiras imagens, com um novo personagem, um garfinho de plástico tosco, também não ajudavam.
O resultado, no entanto, foi uma incrível surpresa. Toy story 4 mantém o mesmo nível dos filmes anteriores. Os novos personagens são muito bem desenvolvidos, cada um com sua personalidade, características, todos tridimensionais. Até o garfinho acaba se revelando um ótmo alívio cômico do filme: como foi feito de reaproveitamento de material, ele se considera lixo e não se aceita como brinquedo, o que leva a situações que arrancam gargalhadas da plateia. E sua importância para a menina Boonie é muito bem fundamentada.
Mais uma vez, um brinquedo perdido é o conflito que gera a trama: Woody deve resgatar o garfinho e levar para a menina, mas no meio do resgate encontra uma personagem do primeiro filme: a pastora Bo Pepp, agora totalmente repaginada e independente. Mas enconta também uma boneca marcada por um defeito de fabricação, que faz as vezes de vilão: sua caixa sonora está com problemas e ela considera que por isso não é adotada, o que faz dela um brinquedo amargo. Mais um ponto de inteligência da produção: a vilã não é realmente má. Sua motivação se adapta bem a um filme infantil e é, ao mesmo tempo, complexa.
Acrescente a isso muita ação, uma dinâmica entre Woody e Bo Pepp realmente inspirada.

quarta-feira, junho 26, 2019

Combate inglório

Em 1965, James Warren estava transformando uma paixão em negócio. Ele havia lançado com sucesso uma revista sobre monstros e sua revista de quadrinhos de terror, a Creepy, era um sucesso. Ele resolveu então aumentar seu catálogo de publicações com uma revista sobre guerra e chamou para isso o seu único funcionário, o roteirista e editor Archie Godwin.
Godwin tinha um método próprio de trabalho: ele conversava com cada desenhista e descobria o que ele gostava de desenhar. E fazia histórias a partir dessas preferências. Isso garantia que os desenhistas tivessem algumas das suas melhores performances em revistas editadas por ele. Por outro lado, Archie Godwin era um dos melhores roteiristas dos comics americanos de todos os tempos, com uma incrível capacidade de criar histórias envolventes, poéticas quando necessário e acima de tudo profundas.
O resultado disso, a revista Blazing Combat, só poderia ser um sucesso.
Mas foi um fracasso.
A razão disso foram as histórias sobre a guerra do Vietnã. Na década de 1970 essa guerra se tornaria extremamente impopular, mas naquela época a opinião pública norte-americana era a favor da guerra. E as histórias de Godwin (e Joe Orlando, nos desenhos), mostravam uma visão nada gloriosa da guerra, como a história de um camponês vietnamita que perde tudo, de sua família ao arrozal por conta da guerra.
Os distribuidores de quadrinhos viram a história e começaram a boicotar a revista. Como os relatórios de vendas demoravam a chegar, Warren continuou publicando o gibi até o número quatro, mas o prejuízo quase fecha a editora – que só se sustentou graças ao sucesso absoluto da Creepy.
Apesar de ter tido apenas quatro número, Blazing Combat entrou para a história como a melhor revista de guerra de todos os tempos.
Em 2011 a editora Gal publicou um encadernado com essas histórias com o título de Combate Inglório. A edição de mais de 200 páginas traz, além de todas as histórias em quadrinhos publicadas na revista, uma entrevista com James Warren e outra com Archie Godwin. É uma edição imperdível para qualquer um que goste de quadrinhos de qualidade. Além do texto simplesmente brilhante de Godwin, a lista de desenhista é impressionante: Joe Orlando, Al Williamson, John Severin, Wallace Wood, Alex Toth, Gene Colan, Reed Crandal, Angelo Torres, Gray Morrow.

Amigo Estou Aqui - Toy Story

Gian Danton participa de evento do Sesi Senai com stand de venda de livros e quadrinhos


No período de 27 a 30 de junho, o Serviço Social da Indústria (SESI) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) do Amapá vão promover uma vasta programação no entorno da Fortaleza de São José de Macapá. A ação denominada “SESI SENAI com Você” tem o objetivo de difundir iniciativas que contribuam para o desenvolvimento socioeconômico do estado. As atividades serão realizadas com o apoio de instituições públicas e privadas, profissionais liberais e voluntários.
São quatro dias de programação. No último dia 30 de junho, domingo, será um dia nerd, com feira, apresentações de Flash Mob, K-pop e Fit dance, participar de jogos de realidade virtual e campeonatos de robótica, e visitar exposições de drone. A turma que curte cosplay também foi convidada para curtir o evento.
Gian Danton participará do evento no domingo, com stand de venda de livros e quadrinhos. 
Clique aqui para conferir toda a programação do evento. 

A arte espiritual de El Grego


El grego com um pintor maneirista apelidado assim em decorrência de seu país de origem (seu nome verdadeiro era Doménikos Theotokópoulos). Ele se destacou principalmente por conta das imagens com temas religiosos e figuras alongadas, com uma anatomia distorcida, que refletiam o conteúdo espiritual do quadro. Em oposição ao renascimento, ele tirava a atenção do receptor do centro do quadro, deixando o mais importante nas laterais. 





Ponto de venda: vitrine


Há comerciantes que não percebem a importância da vitrine para seu negócio. Ela é o primeiro contato com a loja e, se for malfeita, o cliente nem entra. Produtos bem expostos, com iluminação adequada, fazem a loja se destacar e atrair consumidores.
Uma das primeiras decisões de vitrine é se ela será fechada ou vazada.
A vitrine fechada é caracterizada por um tapume. Isso permite que se crie um ambiente, pendurando produtos, mas impede a visualização da loja. Por essa razão, é usada preferencialmente por estabelecimentos comerciais grandes, com portas largas. 
As lojas de shopping, por exemplo, preferem a vitrine vazada, sem fundo.
A iluminação geralmente é feita com uma florescente de base, mais luzes incadescentes, para dar foco nos produtos.
Uma boa vitrine deve expressar novidade, por isso, aconselha-se mudá-la de 15 em 15 dias. Mas essas mudanças não podem descaracterizar a loja. O ideal é criar um padrão visual, que a pessoa reconheça em qualquer situação. Por exemplo, as vitrines das lojas O Boticário são sempre parecidas, usando formas  e cores semelhantes.
Também é importante que a vitrine esteja atualizada. Vitrine de Natal em pleno carnaval é mico na certa.
Alguns especialistas em marketing aconselham que a vitrine “conte” ou sugira uma história. Por exemplo, numa loja de lingiere, a vitrine pode sugerir a utilização do produto por parte do cliente, numa insinuação de encontro romântico ou fetiche.

Um dos erros mais comuns cometidos por varejistas é querer colocar tudo na vitrine. E lá vemos uma loja entulhada de produtos diferentes, de louça a roupas, sem espaço para respiração. É a famosa poluição visual. 

Roteiro para quadrinhos: a ambientação


Um aspecto importante na construção do roteiro é a ambientação. É necessário imaginar onde o personagem  vive, com quem ele se relaciona, como ganha a vida, etc...A ambientação vai acabar, inclusive, influenciando no modo de pensar e agir dos personagens.  Pessoas que vivem num ambiente árido acabarão tendo um comportamento árido (os tuaregs que o digam). Isso é muito claro, por exemplo, na série de álbuns Aldebaran: os personagens vivem num mundo quase completamente dominado pela água. Quando vão para um mundo desértico, tudo muda, inclusive os aspectos culturais. 
                Uma de minhas histórias chamada Vácuo mostra um tripulante de uma estação espacial que se revolta e acaba explodindo todo o local. A claustrofobia provocada  pelos eternos corredores, pelos ambientes fechados, fizeram com que ele "pirasse". Essa mesma ambientação poderia ter o efeito oposto em outro indivíduo. Sentido-se confortável e seguro dentro de um ambiente fechado, ele poderia se sentir um agorafóbico.

                Um exemplo mais famoso: o Batman de Cavaleiro das Trevas é violento porque a Gothan City criada por Frank Miller é violenta.
                Também é importante saber o máximo possível sobre o local em que se vai passar a história. Antes de começar a escrever o tenente Blueberry, Charlier viajou para os EUA e visitou toda a região em que se passaria a HQ. Se você for escrever uma história sobre o Egito e não tiver dinheiro para a passagem, a melhor alternativa é entocar-se na biblioteca e ler tudo o possível sobre os hábitos, costumes e acidentes geográficos da região. Alan Moore conta que, antes de começar a escrever Monstro do Pântano, leu tanto sobre a Flórida que acabou descobrindo algumas coisas curiosas: "Eu sei, por exemplo, que os crocodilos comem pedras pensando que são tartarugas e depois não conseguem digeri-las e essa deve ser a razão pela qual eles têm um temperamento tão irascível", diz.

                Criar uma história que se passe no futuro, num planeta longínquo, ou em um planeta atualmente desconhecido pode livrar você da visita à biblioteca, mas certamente não vai facilitar as coisas para sua imaginação. É necessário, nesses casos, imaginar todos os aspectos dessa sociedade: quem governa, se é que há governo, como as pessoas vivem, quais são os seus costumes, como elas se alimentam...
                Um exemplo fantástico de criação de ambiente é o álbum A Fonte de Cyann, de Bourgeon e Lacroix. Os autores criaram não só uma história para o planeta em que se passa a HQ como, ainda, se preocuparam com detalhes mínimos. Tipo: o lugar da letra O no nome da pessoa determina a classe social.
                Em Cian, quando pessoas importantes morrem, seus corpos são envoltos em barro e jogados no mar. Quanto mais pessoas se unem para impedir a parte final do ato funerário, mais querido era o defunto. Detalhe: a língua falada pelos personagens, embora muito semelhante ao francês, tem suas próprias regras. Para desespero dos tradutores!
                Portanto, se você quiser escrever boas histórias de Ficção científica, ou de fantasia, comece a ler desde já livros de antropologia...

terça-feira, junho 25, 2019

CABANAGEM | EDUARDO BUENO

Snoopy

Snoopy é uma tira em quadrinhos criada em 1950 por Charles Schulz e transformada em desenho animado em 1965 com o episódio O Natal de Charlie Brown.
O desenho se destacava por mostrar um garoto fracassado, que gostava de futebol, mas nunca conseguia chutar uma bola.
A trilha sonora, entre divertida e triste, resumia bem o clima do desenho: as histórias oscilavam sempre entre a tristeza e a alegria, mas sempre com muita ternura.
Charlie Brown era tão fracassado que a única vez em que ganhou algo foi um corte de cabelo. E ele é careca, e seu pai é barbeiro.
Quando consegue ir ao baile da turma com sua grande paixão, a garotinha ruiva, ele simplesmente esquece tudo e só fica sabendo o que aconteceu através de seu amigo Linus.
Uma curiosidade é que nos EUA a série se chama Peanuts, uma referência à cabeça do protagonista, que tem o formato de amendoim.
Outra curiosidade é que a tira influenciou Maurício de Sousa na criação da Turma da Mônica. Tanto que seu primeiro personagem foi justamente o cão Bidu. Além disso, a turma do Minduim também tinha um personagem sujo, que seria inspiração para o Cascão.
No Brasil a série foi exibida pelo SBT e pela Band encantando várias gerações de crianças.

Coleção histórica Marvel: Mestre do Kung Fu


Esta é, provavelmente, a série mais aguardada da coleção histórica Marvel. Afinal, o Mestre do Kung Fu era um dos personagens mais queridos pelos leitores e estava fora das bancas há muito, muito tempo.
Este volume reúne as primeiras histórias do personagem que, criado na onda dos filmes de Kung Fu, sobreviveu à moda e se tornou uma das revistas mais longevas da Marvel, sendo publicada por mais de uma década.
Shang Chi foi criado por Steve Englehart e Jim Starlin, dois dos artistas mais revolucionários da época em que os hippies tomaram conta da Marvel. Os dois viram no sucesso do seriado Kung Fu, com David Carradine, a chance de criar uma série sobre filosofia oriental e procuraram o editor, Roy Thomas, que os alertou que a série pertencia à Warner, que não só não autorizaria a adaptação, como ainda poderia alertar a DC para lançar o gibi.
De alguma forma, a DC soube da história e o Publisher da editora, Carmine Infantino, teria dito: “Se eles lançarem Kung Fu, nós fazemos o Fu Manchu”.
Fu Manchu era um vilão clássico dos pulp fictions e cairia bem nessa nova onda de interesse pelo oriente. Alguém alertou Roy Thomas sobre isso e este comprou os direitos sobre Fu Manchu.
Assim, quando a nova revista foi lançada, seu protagonista, Shang Chi, seria um filho de Fu Manchu rebelado contra o pai. Essa união deu à série características próprias, misturando artes marciais com espionagem e uma relação conflituosa entre pai e filho numa época em que todas as histórias de sucesso tinham essa característica (a exemplo de Star Wars).
Englehart e Starlin ficaram pouco tempo no título, mas providenciaram as bases para o estilo da revista. As históris sempre iniciavam no auge da ação e flash backs contavam como se chegou ali. Além disso, o texto, poético, ecoavam a estética dos koans: “A espada do samurai canta atrás de mim como a canção de um beija-flor”. Starlin fazia sequências de ação com letras chinesas ao fundo. Parecia que os dois estavam tentando se afastar do estilo dos super-heróis e se aproximar de alguma outra estética. Ainda assim, soava estranho, em especial os desenhos de Starlin, que sempre foi melhor desenhando sagas estelares.
A revista só ganhou vida própria com a entrada de Paul Gulacy. Apesar do desenho inconstante, muitas vezes calcado no estilo de Jack Kirby e com erros de anatomia e perspectiva no início, ele logo mostrou que era o artista ideal para o projeto. A sequência em que o herói sofre uma alucinação provocada por uma droga misturada com gasolina por seu pai (em um dos planos mirabolantes para escravizar os Estados Unidos) é um dos grandes momentos do álbum. Englehart não se atreveu nem mesmo a colocar texto na imagem, deixando que o desenho transmitisse tudo que a história pedia.
Posteriormente estaria formada a dupla clássica com a entrada do roteirista Doug Moench (antes disso haveria uma desajeitada história escrita por Gerry Conway, que parecia não ter entendido o personagem). Moench a princípio imitou o estilo de Englehart, mas aos poucos foi construindo seu próprio estilo.
Este álbum certamente vai agradar aos saudosistas e apresentar o personagem a toda uma nova geração que infelizmente não o conhecia. Por si só já teria o seu valor. De negativo, apenas a falta de textos explicativos e históricos. Considerando-se o tempo que o personagem não é publicado aqui, esses textos seriam de grande valor.

Valerian e Laureline


Em 1967 surgia nas páginas da revista Pilote uma série que iria mudar para sempre a ficção científica nos quadrinhos. Chamava-se Valerian – agente espácio-temporal e era produzida por dois novatos, o roteirista Christin e o desenhista Mézières.
Em sua primeira história, que daria origem ao álbum “Maus sonhos”, o desenho ainda parecia simplista e os roteiros ingênuos. Mas já era possível perceber  que havia algo ali, especialmente quando o agente Valerian, em viagem temporal para a Idade Média encontra uma moça, Laureline, que conquista os leitores e se torna personagem fixa da série.
Os artistas eram dois jovens franceses que havia se mudado para os EUA na infância e se reencontraram na adolescência. Com o dinheiro do primeiro álbum eles comprariam sua passagem de volta para o país natal, onde iriam revolucionar os quadrinhos.
O segundo álbum “A cidade das águas movediças” já trazia um traço mais seguro e um roteiro mais bem amarrado, além de referências que mostravam o quanto a obra dialogava com o pós-modernismo. O mafioso Sun Rae foi inspirado no músico de jazz Sun Ra. O cientista Schroeder, além da referência óbvia ao personagem pianista da tira Peanuts, tinha as feições de Jerry Lewis no filme O professor Aloprado.
Mas seria no terceiro álbum, “O império dos mil planetas” que a dupla acertaria a mão, definindo o estilo que os diferenciaria de tudo que havia sido feito até então em termos de ficção científica. Foi nesse álbum que a vocação de Mézières para criar cenários exuberantes se revelou. Também foi nessa história que Christin mostrou sua capacidade de criar civilizações extraterrestres e seus hábitos culturais.
A sequência inicial, mostrando a feira do planeta-império, é primorosa.
Nela descobrimos que mercadores comercializam schalmis, espécie de conchas gigantes, onde as pessoas se recolhem em busca de esquecimento. Conhecemos as pedras vivas de Arphal, que se fixam à pele como as mais belas jóias. Ou os raríssimos spiglics de bluxte, que vivem sobre a cabeça de seus donos, transmitindo a eles perene felicidade através de telepatia.
A série fez tanto sucesso na Europa que Valerian e Laureline, dois nomes que não existiam, tornaram-se populares a ponto de muitos pais batizarem seus filhos com eles.
Outra consequência é mais polêmica. Desde que saiu o primeiro filme de Star Wars, o desenhista percebeu várias coincidências entre o filme e suas imagens publicadas no álbum.
O visual de escrava da princesa Lea no filme “O retorno de Jedi”, por exemplo, é muito parecido com o de Laureline em “O país sem estrelas”. A nave usada pelos personagens é semelhante à Millennium Falcon, além de várias outras semelhanças.
Além disso, a personalidade independente da princesa Lea está muito mais para a Laureline do que para as princesas das histórias clássicas de ficção científica, que ficava paralisadas diante do perigo, esperando serem salvas pelos heróis.
O sonho dos autores de ver sua história adaptada para o cinema irá finalmente se realizar: o cineasta Luc Besson adaptou a história para a telona e previsão de estreia é ainda para este ano.

The Rain, a série


Uma chuva espalha uma doença mortal. Dois irmãos sobrevivem em um bunker durante seis anos. Quando saem encontram um mundo devastado, em que pessoas são capazes de matar por um pouco de comida. Essa é a premissa da série original Netflix dinamarquesa The Rain, uma das mais instigantes da atualidade.
Confesso que comecei a assistir pela semelhança com a história em quadrinhos El eternauta, do roteirista argentino Hector Oesterheld (na HQ é a neve que mata as pessoas), mas logo ficou claro que a série tinha vida e estilo próprios, embora reverbere muitos outros trabalhos.
Há uma série pouco conhecida da década de 1970 chamada Logan´s run, no qual sobreviventes de uma guerra nuclear vivem em uma redoma governada por robôs. Os protagonistas são um casal que descobre que a comida fornecida na redoma é, na verdade, a carne das pessoas que completam 30 anos que eram “renovadas” em um ritual. A série é um road movie com o casal à procura de um local paradisíaco enquanto é perseguido por guardas enviados pelos robôs. Cada episódio apresentava uma situação enigmática, estranha, que, ao final se revelava um terrível perigo para os protagonistas. Era uma espécie de “sendo de msitério” aplicado a um mundo pós-apocalíptico. 
The Rain tem exatamente essa pegada de “senso de mistério”, como nas séries da década de 1970. Mas ao contrário daquela época, agora o mistério de cada episódio se une a outro, em um grande quebra-cabeças. Outras séries já usaram recurso semelhante, como Lost, mas aqui parece que os roteiristas sabem onde querem chegar.
Além disso, o grupo de sobreviventes é cativante por sua variedade e até mesmo anormalidade, um grupo que jamais estaria unido se não fosse naquela situação.
Embora possa parecer pouco empolgante no início, The Rain vai conquistando o expectador. Quando ele chega ao sexto episódio, Tenha Fé, já está viciado. Esse é o episódio de maturidade do seriado, o mais instigante, com a pegada de seriado da década de 1970, aquele em que o “senso de mistério” alcança seu auge. É também o mais cruel ao mostrar o que pode se tornar o ser humano numa situação extrema.
Dificilmente The Rain vai ser uma série de grande sucesso, como La Casa e Papel, mas certamente vai se tornar cult. Espera-se, no entanto, que tenha expectadores o suficiente para uma segunda temporada na Netflix.

segunda-feira, junho 24, 2019

Juiz Dreed: eu sou a lei



Gian Danton e Jefferson Nunes

Juiz Dreed é filho do punk rock, do “No future” causado pela crise do petróleo, e de um certo cinismo desesperado que germinou no lodo pós sonho dos anos 70, antes de se tornar apenas uma forma de lucro nas mãos de corporações nos anos 90.
 Criado no Reino Unido por John Wagner (roteiros)  e Carlos Ezquerra (desenhos), apareceu pela primeira vez no conturbado ano 1977, na revista "2000 AD", na época a Bíblia quadrinhistica das gangues juvenis e da contracultura britânica. Foi nessa revista que a a geração que mudaria a história das HQs ocidentais na próxima década (Alan Moore, Neil Gaiman, Grant Morrison etc...) foi gestada.
Dredd é um vigilante num mundo pós apocalíptico, cerca de  120 anos no futuro. Nessa realidade ultraviolenta, o juiz acumula os cargos de polícia, promotor, juiz, júri e executor (quando necessário). Ele trabalha ao lado de vários outros juízes, que mantêm a ordem na megalópole Mega City One, uma junção meio Frankstein do que restou das grandes metrópoles americanas.
Na verdade, o personagem era uma inteligente sátira a repressão policial, que andava em alta naqueles tempos e aos exageros  beirando o ridículo, da Justiça. Suas próprias funções são uma ironia punk, já que, na realidade, a atividade do policial e do juiz são incompatíveis.
As histórias do personagem tinham um tom sarcástico e crítico. Em uma das histórias, por exemplo, o viajante do tempo, de H.G. Wells, vai parar na cidade de Dreed e, após ser roubado, acaba sendo preso por Dreed porque seu corpo estava cheio de resíduos de café – uma substância considerada droga no futuro.   
O personagem acabou se tornando o mais popular da publicação e do Reino Unido, tendo dado origem a dois filmes,  em 1995, o fraco “ Judge Dredd”,  interpretado por Sylvester Stallone e o ótimo e subestimado “Dredd “,lançado em 2012, com Karl Urban como o personagem titulo, dois games e até letra de música, na já clássica “I Am The Law” da banda de trash metal americana Anthrax, “EU SOU A LEI,e você não irá foder por aí de novo - EU SOU A LEI, Eu julgo os ricos, eu julgo os pobres - EU SOU A LEI, Cometa um crime e eu trancarei a porta - EU SOU A LEI, Porque aqui em Mega-city,EU SOU A LEI”.
Mas com o tempo, e o troca-troca de autores, o personagem foi perdendo a sua veia irônica se tornando cada vez mais um Anti Herói genérico.
Mas, com o otimismo do novo milênio indo para o saco já na segunda década do século, o aumento do fascismo e a moda de Juízes brincando de policia, júri e executores, quem sabe o personagem não volte a suas origens punk rock?

Walter Benjamin, a arte e a reprodução


Geralmente, quando se fala de Meios de Comunicação de Massa e Escola de Frankfurt, a maioria das pessoas lembra da visão apocalíptica de Adorno, de negação em bloco de todo produto cultural: filmes, quadrinhos, novelas, etc. Mas poucos se lembram de um dos primeiros filósofos da escola e sua análise apurada de como as técnicas de reprodução estavam mudando os conceitos de arte. Trata-se de Walter Benjamin. 

Walter Benjamin teve uma vida trágica e marcada pela inquietação intelectual. Foi influenciado pelo marxismo e pelo misticismo judaico. Como a chegada do nazismo ao poder, Benjamin refugiou-se em Paris. Após a derrota da França na guerra contra a Alemanha, o filósofo decidiu fugir pela fronteira espanhola. Ao saber que a fronteira estava fechada, ele voltou para o hotel e se suicidou tomando uma grande quantidade de morfina. A fronteira abriu no dia seguinte. 

Entre os seus textos mais importantes está A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica, no qual ele explica como o cinema e a fotografia estavam destruindo a "aura" da obra de arte. 

Benjamin explica que durante milênios, toda obra de arte tinha duas características: a autenticidade e a aura. 

A autenticidade está ligada a tudo que faz de uma obra de arte algo único.


A autencidade está ligada ao fato de que cada obra de arte é única. Um quadro, por exemplo tem características que não podem ser reproduzidas. Por mais que ele seja impresso, perde-se a textura do suporte, o relevo da tinta, assim como toda a história por trás daquela obra específica, inclusive com referência às pessoas que o possuíram. Mesmo no caso de uma fraude muito bem realizada, a cópia nunca será igual ao original. Da mesma forma, cada escultura grega é única e mesmo alterações pelas quais ela passou (no caso das peças quebradas) aumentam seu valor de unicidade. Segundo Benjamin, "O que faz com que uma coisa seja autêntica é tudo aquilo que ela contém de originalmente transmissível".

A aura, por sua vez, está ligada à origem religiosa da arte. 

A arte rupestre está ligada a um ritual e magia. 

Quando o homem começou a produzir as primeiras pinturas rupestres, elas não tinham o objetivo de ornamentar as cavernas, mas de realizar uma espécie de magia. Acreditava-se que o que era reproduzido na pintura se tornaria realidade. Assim, o desenho de uma caçada feliz faria com que a tribo tivesse sucesso na caçada. As obras de arte nascem a serviço de um ritual, inicialmente mágico, depois religioso. Sua exposição aos homens era incidental: na verdade, a pintura destinava-se sobretudo ao mundo espiritual. 

As imagens dos deuses gregos ficavam guardadas nos templos.


Esse caráter místico faz com que muitas vezes a obra de arte seja guardada em segredo. Os templos gregos eram construídos para abrigar as estátuas dos deuses, mas o ritual se passava do lado de fora. Na igreja católica, as figuras das virgens permanecem guardadas a maior parte do ano e só são visualizadas em momentos muito especiais, como ocorre com o Círio de Nazaré, em Belém. Conforme a arte foi se desvinculando do uso ritual, aumentaram as possibilidades das obras serem expostas. O quadro, por exemplo, tem muito mais possibilidades de ser transportado e exposto do que um mosaico. 

Mas, se por um lado a arte se desvinculava da sua função religiosa, continuava tendo uma espécie de mística. A arte continuava sendo algo de uma minoria privilegiada, geralmente as pessoas de maior poder aquisitivo. Tornou-se, inclusive, um símbolo de status. 

O impressionismo foi uma das primeiras reações da arte ao surgimento da fotografia


O surgimento da fotografia abalou os alicerces da arte, empurrando para segundo plano o seu valor de culto. Além de representar a realidade, a fotografia era passível de reprodução e quebrava totalmente com a ideia de autenticidade. Qual das cópias de uma foto é a original?

De acordo com Benjamin, a fotografia, ao retirar da arte o critério de autenticidade, fez com que toda a função da arte fosse subvertida: "Em lugar de repousar sobre o ritual, ela se funda agora sobre uma outra forma de práxis: a política". Se a fotografia provocou uma revolução na arte, o cinema provocou um estrago ainda maior. Até mesmo a atuação dos atores deixou de ter aura ou unicidade.

A atuação no cinema é completamente diferente da interpretação no teatro. 
Se no teatro, cada atuação é única e o ator interpreta para o público, no cinema, os atores interpretam para a câmera e sua atuação é fragmentada. Um personagem se aproxima de uma porta, a abre e sai. A cena seguinte, pode ser gravada semanas depois dessa. No cinema, a atuação dos atores só se concretiza na mesa de montagem. 

Esse sistema quebra com a aura da atuação, que só sobrevive, no cinema comercial, através do star system, no culto à estrela (um tema muito bem analisado por Edgar Morin no livro As estrelas). Para Benjamin, se não for tratado como produto, o cinema permite não só uma crítica revolucionária das antigas concepções de arte, como favorece uma crítica revolucionária das relações sociais. Isso ocorre porque o cinema tira o expectador da condição de simples contemplação e o leva à condição táctil. Ou seja, no cinema o público quer não só assistir, mas interagir, e essa interação leva à revolução tanto na arte quanto na sociedade. Walter Benjamim certamente devia estar pensando no cinema revolucionário russo, que usava pessoas do povo como atores quando escreveu suas reflexões.
A idéias de Benjamin fizeram pouco sucesso na época, e só foram resgatadas graças ao amigo Adorno, que, no entanto, achava suas reflexões ingênuas. Passado quase um século de seus primeiros escritos, o pensamento desse autor continua cada vez mais atual, especial pela compreensão impar sobre a arte e sobre a forma como o surgimento dos meios de comunicação de massa mudou nossa percepção a respeito dessa.