segunda-feira, outubro 26, 2015

A "doutrinação" na prova no Enem




Passada a fase inicial de espanto e piadas, vamos falar sério. Essa questão do Enem mostra o quanto a teoria da ferradura está certa (opostos se tornam cada vez mais parecidos nos seus extremos). 
De um lado, os bolsonarinhos denunciando o marximo cultural da prova e do outro lado as feministas comemorando como se fosse o acontecimento do ano. Ambos ignorando completamente que uma questão de prova é apenas uma questão de prova. Colocar o pensamento de alguém e pedir para contextualizar esse pensamento não significa doutrinar alguém ou obrigar a pessoa a concordar com esse pensamento. Eu mesmo discordo em quase tudo da escola de Frankfurt, em especial Adorno, mas coloco em provas e peço para os alunos contextualizarem as ideias dele. 
Você pode discordar plenamente da Simone de Beauvoir e ainda assim acertar a questão. 
Uma frase de Hitler na prova não significa que quem elaborou a prova queira que você se torne nazista. Assim como a frase de Santo Agostinho na prova não tinha o objetivo de tornar as pessoas católicas. 
Mas, como falo em meu texto sobre a maldade humana (http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp…) pessoas excessivamente comprometidas com um grupo, seja qual for ele se tornam totalmente irracionais.

Miracleman e o desrespeito com os leitores


A Panini deve achar que os leitores são idiotas, só pode. Esta edição tem 23 páginas de bastidores. Praticamente pegaram todas as páginas e colocaram o lápis e a arte-final. Depois mais duas páginas de pin-up e 5 das histórias antigas do personagem. E apenas 16 páginas de história. Ou seja: numa revista de 52 páginas, ao preço de R$ 7,50, só 16 páginas de história, o restante apenas enrolação. E ainda tem gente que critica quem está esperando o encadernado.

domingo, outubro 25, 2015

Governo de São Paulo libera 50 milhões para filme sobre Feliciano

Ao mesmo tempo que fecha escolas, o governo do estado de São Paulo liberou 50 milhões de reais para um filme sobre o deputado Marcos Feliciano.
O filme, cujo projeto foi montado pela equipe de campanha de Feliciano para promover sua candidatura ao Senado, não foi aprovado em edital, mas aprovado via decreto assinado pessoalmente pelo governador Geraldo Alckmin (decreto n. 2984.2015). Especula-se que o objetivo do governador tucano seja conseguir o apoio de Feliciano para uma possível candidatura para presidente em 2018.
O valor é tão alto que especula-se que não se trata de um documentário, mas de uma cinebiografia, com atores e que alguns já estariam sendo escolhidos.
Como a liberação não foi via edital, o valor foi retirado da área de educação, o que pode explicar o fechamento de escolas.

Esta notícia é obviamente falsa, assim como é falsa a informação de que Dilma liberou 843 mil reais para um documentário sobre Jean Willys (veja aqui), assim como é a falsa a informação de que Renato Aragão estaria fazendo um filme para difamar Jesus, assim como os ribeirinhos da margem esquerda do rio Solimões não estão comendo os ovos das tarturugas marinhas (veja aqui). Da mesma forma, Silvio Santos não mandou o SBT bater em Dilma até cair (veja aqui)
Verifique antes de compartilhar uma informação na internet. Em alguns segundos você facilmente consegue descobrir a verdade.
E lembre-se: compartilhar notícias falsas, mesmo que seja sobre alguém que você não gosta não faz de você um herói. Só faz de você um mentiroso.  

sábado, outubro 24, 2015

No frigir dos cérebros


Tampe os ouvidos! Pois um barulho horripilante pode fritar parte de seu cérebro e ativar os instintos mais canibais e violentos do ser humano. Poucos escapam e muitos se transformam em uma coisa horrorosa e faminta. É o uivo de uma criatura mitológica em ação sobre a Terra!
Esse é o mote do projeto literário ‘O uivo da górgona’, escrito pelo premiado roteirista, professor e pesquisador Gian Danton (de ‘A insólita família Titã’ e ‘Como escrever quadrinhos’). Ele conta com o trabalho do desenhista guarapuavano João Ovitzke em ilustrações de deixar os cabelos em pé.
Em campanha no site Catarse, o projeto arrecada recursos via financiamento coletivo (a tal ‘vaquinha virtual’) para tirar as ideias do projeto e transformá-las no romance ilustrado ‘O uivo da górgona’, uma história de terror sobre zumbis. Aliás, Gian é uma das referências do gênero no quadrinho nacional, sendo responsável nos anos de 1990 por sua renovação ao lado de Joe Bennett (desenhista brasileiro com carreira em editoras como a Marvel e a DC Comics).
A dupla Gian/Joe produziu histórias para as clássicas revistas ‘Calafrio’ e ‘A hora do crepúsculo’. No ano 2000, Gian escreveu a graphic novel ‘Manticore’, que transformava o fenômeno chupa-cabra numa trama de horror e ficção-científica e faturou diversos prêmios. Nos últimos anos, além de quadrinhos, tem se dedicado à literatura, participando de diversas antologias de fantasia e terror. Seu primeiro romance, ‘Galeão’, é uma história de fantasia sobre um navio à deriva no Atlântico.
E agora, ‘O uivo da górgona’, que se passa durante um ‘apocalipse zumbi’. Graças a um som desconhecido (chamado de ‘uivo da górgona’ por um dos personagens), pessoas têm as células do neocórtex destruídas e passam a ser governadas pelo complexo reptiliano, num comportamento violento e puramente instintivo.
A partir desse caos, o leitor acompanha um grupo eclético de sobreviventes que tenta se virar como pode em meio aos mortos-vivos.
Em entrevista ao CORREIO, Gian conta que o livro começou a ser gestado muito tempo atrás. “O nome, por exemplo, vem de um livro que li em 1983, chamado ‘Os escravos da górgona’, um livrinho de bolso, mal escrito, mas com uma premissa interessante: uma luz que transforma as pessoas, algumas em monstros de pedra, outras em seres irracionais. Também sempre me incomodou nas histórias de zumbis o fato dos zumbis estarem mortos. Como assim? Se estão mortos, por que sentem fome? Então creio que ‘O uivo da górgona’ surgiu da junção desses dois conceitos acrescidos de meus estudos sobre os comportamentos coletivos e como as partes do cérebro governam esses comportamentos”. Leia mais

quinta-feira, outubro 22, 2015

Propostas de capas para O uivo da górgona



Olha que novidade! O desenhista João Ovitzke acaba de me enviar duas propostas de capa para a edição impressa de O uivo da górgona. Quem era fã de Sandman certamente vai se lembrar das mitológicas capas de Dave Mckean. Gostaram? De qual gostaram mais? 
Para apoiar O uivo é fácil: https://www.catarse.me/pt/gorgona


domingo, outubro 18, 2015

Criticar Cunha é cristofobia?



Eu costumo perder amigos quando trato de assuntos polêmicos (prisão perpétua para serial killer, Monteiro Lobato nas escolas), mas nunca perco tanto quanto quando critico Malafaia, Feliciano e Eduardo Cunha, pessoas que transformaram a religião em projeto de poder. Parece que há uma blindagem ao redor deles e criticá-los e criticar seu projeto de poder é criticar todos os evangélicos. 

Criticar qualquer um deles é cristofobia.
Isso dá medo. Muito mais medo do que os palhaços pedindo ditadura militar (que, aliás, nem os militares levam a sério). 
Deixo o trailer de um filme para reflexão que mostra que algo parecido já aconteceu há muito tempo, na antiguidade.

sexta-feira, outubro 16, 2015

Coluna no site Colecionadores de HQs

Eu estreei uma coluna no site Colecionadores de HQs. Para começar, falei da fase em que o Lanterna Verde e o Arqueiro Verde adentraram nas misérias dos EUA numa das sagas mais aclamadas de todos os tempos.
Para ler, clique aqui.

A ceia dos acusados



Dashiell Hammett foi o criador do estilo policial noir. Ele foi detetive da famosa agência Pinkerton e ficava encucado com a forma pouco realista como as histórias policiais eram narradas, com detetives que resolviam tudo usando apenas a lógica. 
Ao resolver colocar no papel sua prática, acabou colocando também sua visão de mundo em que todos pareciam ter um segredo sórdido a esconder. Também foi o responsável por criar o perfil do detetive cínico, as mulheres fatais e a maioria da características do cinema noir.
Um bom exemplo do estilo Hammett é A ceia dos acusados, de 1934, no qual um ex-detetive se vê envolvido com um caso de assassinato. A secretária de um inventor é morto e este o contrata (através de um advogado) para ajudar a descobrir o assassino. Ocorre que o inventor é o principal suspeito e, como um fantasma, passa o livro todo sem que nem mesmo a polícia seja capaz de achá-lo.
Hammett é habilidoso para nos dar pistas o tempo todo (o próprio título original, O homem magro, é uma grande pistas), mas nós não prestamos atenção. Na verdade, em certo ponto o livro começa a parece óbvio demais. Tudo vai em determinado caminho... até a revelação final, que é absolutamente inesperada.
Um destaque vai para os personagens, a maioria deles totalmente corruptos e parecem estar mentindo o tempo todo. Mimi, por exemplo, é o paradigma do noir: ela mente e ao ser descoberta, inventa outra mentira, ao ver que essa segunda mentira foi descoberta, mente de novo, a ponto de não se saber quando ela diz a verdade.
Eu relutei muito tempo a ler esse livro por uma razão estilística: a tradução é de Monteiro Lobato, que tem um estilo bem diverso do de Hammett e tem fama de impor seu estilo aos autores traduzidos. Ocorre que A ceia dos acusados é um livro baseado em diálogos (ótimos, por sinal) e nisso a tradução de Lobato interfere pouco. Provavelmente o ponto negativo da tradução foi no título, que tem pouco a ver com o conteúdo.
Em tempo: o livro virou filme no mesmo ano em que foi lançado, só para dar uma ideia do impacto de Hammett sobre Hollywood. Confesso que não assisti a essa versão cinematográfica.

sexta-feira, outubro 09, 2015

Senão vai dançar...

Já apoiou? https://www.catarse.me/pt/gorgona?ref=explore

A relativização ética

Quando eu era criança contava-se uma história sobre um pai cujo filho havia chegado em casa com algo que não era dele. A versão variava, mas era sempre uma bobagem: um doce, uma caneta, um boné. O pai surrava o menino e o fazia devolver. Era uma história contada para explicar um conceito simples: quem é honesto em pequenas coisas, é honesto em grandes coisas e essa honestidade se aprende em família. 
A lição era simples: roubar é errado. Matar é errado.
Hoje tal história pareceria um absurdo.
Hoje, relativiza-se tudo.
Dia desses ouvi uma senhora dizendo: "Ah, o Aécio rouba, mas votei nele porque ele rouba menos que a Dilma".

Por outro lado, há quem defenda Cunha dizendo: "Ah, mas ele só roubou cinco milhões, o PT roubou muito mais".
Ou as pessoas que defendem os arrastões dizendo que quem os faz são vítimas da sociedade.
E assim vamos, ladeira abaixo, solidificando a cultura de que roubar pode sim, ser certo, enganar os outros pode sim, ser certo e que a honestidade não vale nada.
Que país estamos criando?

Contra religiosos na política

Sim, eu sou a favor do fim de candidaturas de líderes religiosos para cargos políticos. O que estamos vendo é o Brasil andando na direção de uma ditadura religiosa com aparelhamento tanto do estado quanto das igrejas. 
O homem mais poderoso do Brasil atualmente, o presidente da Câmara, é evangélico e parte da propina recebida por ele ia para sua igreja. Ou seja: estamos vendo igrejas apoiando candidatos e candidatos desviando recursos para determinadas igrejas.
O poder é tamanho que conseguiram aprovar uma lei específica para eles, a cristofobia, que pode proibir até mesmo piadas contra evangélicos. E, ao mesmo tempo, temos visto vários episódios de intolerância religiosa.
Da mesma forma, a aprovação de leis, como a de que a famílias são apenas pai-mãe-filhos e a proposta de lei que dificulta o atendimento a mulheres vítimas de estupros (quem sabe vão ressuscitar o costume de fazer a vítima casar com estuprador?).
Me desculpem meus amigos evangélicos. Isso não é uma crítica a vocês ou à religião, mas aos políticos que usam a religião em benefício próprio ou de suas crenças.

quinta-feira, outubro 08, 2015

Os escravos da górgona


Este foi um dos livros que me influenciaram a escrever O Uivo da górgona (pelo menos foi a maior inspiração para o título ao ampliar o conceito de górgona para eventos que essencialmente mudam o ser humano para pior). Esse livrinho, originalmente denominado Os 100 dias da Górgona, foi escrito por Curtis Garland (pseudônio do espanhol Juan Gallardo) e publicado pela Cedibra em 1976 na forma de livro de bolso. Eu li provavelmente em 1984 ou 85 (comprei num sebo).
A história é fantasiosa: uma luz encobre o planeta terra. Quem a vê passa por transformações. O protagonista é um homem que sofreu acidente com ácido e está com os olhos enfaixados e por isso não se transforma. Ao acordar e tirar as faixas, ele descobre que todos estão paralisados, recobertos por uma película azulada.
Talvez seja coincidência, mas esse início me faz lembrar ao menos três obras. O homem que acorda num hospital após um apocalipse remete diretamente a Walking Dead e Extermínio. E pessoas sobrevivendo num mundo em que todas as outras foram paralisadas lembra muito o romance Blecaute, de Marcelo Rubens Paiva. Tpdas essas obras são posteriores, o que pode significar que alguém talvez também tenha lido esse livro de bolso. Ou talvez ele só tocasse em temas universais do imaginário terror e FC.
O protagonista percorre a cidade e, milagrosamente, encontra a namorada e descobre que ela não se transformou - Londres inteira estava na rua no dia de verão e por alguma razão ela estava trancada no porão, de modo que não viu o clarão.
O casal passa as 128 páginas do livro se livrando de perigos. Primeiro são os homens petrificados, que ganham vida, depois as crianças, que se tornam verdadeiros psicopatas, e, finalmente, gosmas espaciais que sugam as memórias da pessoa e se transformam nela.
Antes que perguntem: não, o livro não é bom. Há vários deus ex machina, desde o padre cego que encontram e que sabe contar tudo que eles não sabem até a própria sobrevivência da namorada do herói, quando todos os outros se transformaram. Ah, sim, e enquanto fogem do perigo, a moça só consegue pensar em se casar!
E os diálogos, ah, os diálogos! Talvez para lembrar o leitor quem estava falando - ou simplesmente para deixar os diálogos mais melosos, os protagonistas repetiam o nome um do outro a cada fala:
- Ewa, minha querida. Agora estamos sós diante de um mundo diferente, hostil e estranho. É preciso lutar com muita coragem e determinação... está disposta?
- Todd, ao seu lado eu sou capaz de tudo!
Mas, aos meus treze anos, eu prestava pouca atenção aos problemas de roteiro ou diálogos forçados. Na verdade, eu muitas vezes reescrevia a história em minha cabeça.
E, como disse, essa foi, provavelmente, a gênese de O uivo da Górgona.
Em outras palavras: mesmo livros ruins podem ser uma boa influência.
Em tempo: você já colaborou com O uivo da górgona no catarse?https://www.catarse.me/pt/gorgona?ref=explore

domingo, outubro 04, 2015

Como apoiar O uivo da górgona


Muitas pessoas ainda não conhecem o Catarse e não entendem como podem apoiar o projeto. Aqui vai um pequeno manual:

O que é o Catarse? É um site de financiamento coletivo. Você financia um projeto, ajuda ele a acontecer e recebe em troca uma recompensa. No caso do Uivo, você recebe o livro (a um preço mais baixo do que ele será vendido) e outros livros meus, além de brindes, como adesivos. É como se fosse uma vaquinha, em que várias pessoas apoiam para algo sair do papel.
Apoiando eu já recebo o livro? Não, se o projeto atingir a meta, o livro ainda deverá ser editado, diagramado, impresso etc. A previsão de entrega é em abril de 2016, mas vamos fazer o possível para entregar bem antes.

Se o projeto não atingir a meta, recebo a recompensa mesmo assim? Não, se o projeto não atingir a meta, ele não acontece, e o dinheiro volta para quem apoiou, integralmente. Não é descontado nada.
Veja abaixo como é o processo para apoiar:








Fácil, não? Dá uma olhada no projeto: https://www.catarse.me/pt/gorgona?ref=explore