domingo, março 01, 2020
Maria atrás das grades
No início da década de 1970, auge da ditadura militar, a vida não era nada fácil para quem fazia quadrinhos eróticos (ênfase no erótico, em que as situações só poderiam ser insinuadas). Os militares consideravam que o erotismo era uma forma do comunismo internacional destruir a família brasileira.
Na época, um dos maiores sucessos era Maria Erótica, criação de Cláudio Seto e publicada pela editora Edrel. Apesar de ser assediada por todos os homens, Maria era virgem - a ênfase das histórias, com forte influência do mangá, era exatamente o fato do ato consumar (na época Maria nem sequer ficava realmente nua).
A Liga das Mulheres Católicas achou que Maria era comunista (afinal, apesar de ser virgem, ela deixava os homens doidos por ela) e a denunciou aos militares.
Os militares invadiram a editora, em busca do autor, Cláudio Seto, mas este morava no interior de São Paulo e só ia à capital para entregar os originais. Sem poder prender o autor e dar uma satisfação às mulheres católicas, os militares resolverem por uma situação surreal: levaram a própria Maria Erótica presa! Os originais da história foram confiscados e levados para a sede da polícia.
Maria, presa, coitada, só queria amar.
História retirada do meu livro Grafipar, a editora que saiu do Eixo.
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