domingo, fevereiro 12, 2017

O Capitão Gralha


Em meados da década de 1940 surgiu nas bancas de Curitiba o que talvez seja o primeiro super-herói brasileiro. Criado por Francisco Iwerten e usando um bigodinho característico, asas e camisa gola polo, o Capitão Gralha foi esquecido e redescoberto, marcando para sempre os quadrinhos nacionais.
O super-herói surgiu após uma viagem aos EUA. Em plena II Guerra Mundial, os americanos temiam que o Brasil se aliasse ao Eixo e iniciaram a politica de boa-vizinhança, que tinha como objetivo estreitar as relações dos Estados Unidos com os países vizinhos. Assim, artistas viajaram para o Brasil, a exemplo de Disney e Orson Welles, e brasileiros foram levados a conhecer a terra de Tio Sam, a exemplo de Érico Veríssimo.
Mas os americanos queriam alguém ligado aos quadrinhos,  já que as histórias em quadrinhos estavam tendo papel fundamental na propaganda de guerra (a maioria dos heróis dos gibis se engajaram na guerra, a exemplo do Capitão América, que aparecia socando Hitler na capa de seu primeiro gibi).
O escolhido acabou sendo Francisco Iwerten especialmente por conta de sua história familiar. Ele fugira da Alemanha nazista ainda criança e fora adotado por um casal de tios, em Curitiba.
Iwerten ficou maravilhado com o sucesso dos quadrinhos de super-heróis e mais ainda ao conhecer o estúdio de Bob Kane, que seria para sempre seu modelo a ser seguido. Ele decidira que o Brasil também teria seu herói!
O personagem foi criado na viagem de volta e foi de uma versão inicial que lembrava o herói mitológico Ícaro à ficção científica. Também surgiu uma curiosa galeria de vilões capitaneada pelo Dr. Destruição, um maníaco fascinado pela letra D, que falava apenas usando palavras iniciadas por essa letra.
Apesar de um sucesso mediano no começo, a revista foi diminuindo suas vendas até ser cancelada. Iwerten passou a publicá-la então num esquema alternativo, com baixas tiragens e acabou gastando todo o dinheiro da herança com isso. Morreu pobre, desconhecido e os montes e gibis que lotavam sua casa foram queimados.
Essa é a história que foi resgatada na revista Metal Pesado Curitiba, em 1997, por um grupo de quadrinistas curitibanos. Num texto inicial, explicava-se que o personagem O Gralha era uma releitura e homenagem ao Capitão Gralha.
A partir daí o quadrinista e seu herói foram redescobertos, surgiram artigos em jornais, revistas, Iwerten ganhou prêmio e quase foi tema de escola de samba.
Em 2015, os criadores do Gralha vieram a público revelar a verdade: Iwerten nunca existira. Ele seu herói haviam sido criados para promover e dar um passado célebre para o personagem O Gralha. Para alguém que não existia de fato, Francisco Iwerten se tornou bastante célebre.
 

sábado, fevereiro 11, 2017

Projeto de pesquisa: tema

Cada instituição tem suas regras próprias para a elaboração do projeto de pesquisa, mas uma estrutura básica deve conter os seguintes itens:

Tema

Delimitação do tema

Problema

Hipótese

Objetivo

Justificativa

Metodologia

Cronograma

Revisão de literatura

 

4.1- ESCOLHA DO TEMA

É o passo inicial. Geralmente a escolha do tema está relacionada a fatores internos do pesquisador (afetividade com o tema, tempo disponível para a realização da pesquisa) e fatores externos (significação do tema escolhido, originalidade, relação com a linha de pesquisa da instituição, etc). Antes de se decidir sobre um tema, faça uma pesquisa geral sobre o mesmo para verificar se a sua pesquisa já foi realizada antes. Um cientista não deve reinventar a roda. Novas abordagens sobre temas já pesquisados também são válidas.

 

 

4.2 - DELIMITAÇÃO DO TEMA

A tendência dos pesquisadores novatos é querer “abraçar o mundo com as pernas”. Temas muito amplos tornam difícil e demorada a pesquisa. Quanto mais delimitado o tema, melhor se sai o pesquisador.

         Uma boa maneira de fazer isso é delimitar a pesquisa no tempo e no espaço.

Exemplos de delimitação:

Tema amplo: Arquitetura

Tema delimitado: Catedrais góticas na Itália do séc. XV.

Tema amplo: Aborto


Tema delimitado: Aspectos legais do aborto em caso de violência sexual. 

sexta-feira, fevereiro 10, 2017

Pesquisa qualitativa

Nos últimos anos, a pesquisa quantitativa vem sofrendo diversas críticas (ver 5.2.4). A cibernética, por exemplo, argumenta que a sociedade é um demônio maniqueu, que muda de estratégia de acordo com as informações que recebe, sendo, portanto, impossível matematizar o homem, explicá-lo a partir de números.

As pesquisas qualitativas estão ganhando importância até em campos dominados pelo positivismo/funcionalismo, como as pesquisas eleitorais.

 

TÉCNICAS QUALITATIVAS

 

OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE

É obtida através do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado. Procura compreender o sentido que os atores atribuem aos fatos.

Exemplos de observação participante podem ser encontradas nos livros de Carlos Castañeda, em especial A Erva do Diabo. Outros exemplos são as pesquisas do antropólogo Clifford Geertz. Em uma pesquisa em Bali, ele era completamente ignorado pelos nativos. Um dia descobriu que um dos eventos mais concorridos do local eram as brigas de galo e foi ver. No meio da briga, a polícia apareceu. Geertz poderia ter explicado que era só um pesquisador e que não tinha nada a ver com aquilo, mas, ao contrário, preferiu fugir junto com os outros. A partir daí, ele, que era um “fantasma” passou a ser respeitado pelos nativos e conseguiu conhecer melhor os códigos e valores dos balineses.

OBSERVAÇÃO NÃO-SISTEMÁTICA
         Nesse tipo de técnica, o autor observa um fenômeno sem participar dele, mas não sabe exatamente o que irá encontrar. Ao final da observação, deve-se fazer um relatório do que viu que se relaciona com o tema da pesquisa. A observação não-sistemática surge justamente da necessidade de se pesquisar fenômenos cujos resultados são difíceis de se prever.
         Um exemplo de observação não-sistemática foi orientado pelo autor em uma pesquisa sobre critérios de escolha de notícias no jornalismo amapaense. Os pesquisadores ficavam em redações de jornais na hora do fechamento observando as relações entre jornalistas e editores e quais critérios ambos usavam na escolha do que entraria e o que não entraria na edição. Muito do que foi observado fugia à expectativa do grupo de estudo e, portanto, não se enquadraria em uma observação sistemática. 

 

 

 

 

ENTREVISTA NÃO-DIRETIVA

Esse instrumento de pesquisa foi criado pelo psicólogo Carl Rogers. Parte do princípio de que o informante é capaz de se exprimir com clareza.

O entrevistador deve se manter apenas escutando, anotando e interagindo com breves perguntas.

Exemplo de entrevista não diretiva é o livro Santarém Conta, coordenada pelos Professores Maria do Socorro Simões e Christophe Golder (UFPa).

 

ANÁLISE DE CONTEÚDO

Tem como objetivo analisar o documento. Pode ser feita uma classificação do texto, uma análise semiótica ou uma análise informacional.

Ex: análise de um software educacional.

 

ESTUDO DE CASO

O estudo de caso parte de uma lógica dedutiva. O caso é tomado como unidade significativa do todo.

Três fases                      

1 - Seleção e delimitação do caso

O uso do software João Teimoso na escola Tabotão da Serra.

2 – Trabalho de campo

Coleta de informações: diários de classe, depoimentos de professores, gravações (as crianças usando o software).

3 – Organização e redação do relatório

 

O estudo de caso pode incluir várias outras técnicas: entrevista (diretiva e não diretiva), análise de conteúdo, observação (sistemática ou participante), questionário...

 

 

HISTÓRIA DE VIDA

         Técnica muito utilizada pela chamada Escola de Chicago, no início do século XX. Segundo Chizzotti (1991, p. 95), “A história é um instrumento de pesquisa que privelegia a coleta de informações contidas na vida pessoal de um ou vários informantes”. A história de vida pode ser caracterizada pelas memórias e biografias de homens célebres, mas também pode valorizar a oralidade, as vidas ocultas e o testemunho vivo de fatos históricos e sociais.

PESQUISA-AÇÃO


         A pesquisa-ação pretende não só estudar uma realidade, mas também fazer uma intervenção psicosociológica nessa mesma realidade. É utilizada em pesquisas sociais, psicológicas e organizacionais.

O herói filósofo


Uma das inovações da Marvel era o fato de que vilões poderiam se regenerar e se transformar em heróis, o que de fato, combinava com a proposta de realismo das histórias. A espiã Viúva Negra e o Gavião Arqueiro são exemplos disso, mas o vilão-herói mais famoso da editora seria o Surfista Prateado, um personagem tão bom que virou cult, ganhando a simpatia dos setores mais intelectualizados da população. Afinal, o surfista era um herói filósofo.
            O surfista surgiu na revista Fantastic Four 48, em 1966, no arco conhecido como Trilogia de Galactus. Stan Lee escreveu uma sinopse sobre um ser super-poderoso que vinha à Terra para sugar a energia do planeta e deu para Jack Kirby desenhar. Quando Jack trouxe as páginas para que Lee colocasse os textos e diálogos, havia uma novidade ali, um personagem que não aparecia na sinopse original. Ele justificou dizendo que um ser tão poderoso quanto Galactus deveria ter um arauto, que procurasse mundos a serem devorados. Stan Lee adorou a idéia e o visual do personagem, que parecia ter uma postura nobre: ¨Quando chegou a hora de estabelecer o seu padrão de discurso, comecei a imaginar de que forma um apóstolo das estrelas se expressaria. Parecia haver uma aura biblicamente pura no nosso Surfista Prateado, algo altruísta e magnificamente inocente¨.
            Ao final da trilogia, a editora começou a receber cartas de fãs pedindo uma revista daquele novo personagem, mas Stan Lee e Jack Kirby estavam muito ocupados para pegar mais essa empreitada. Quando Roy Thomas entrou na Marvel como assistente editorial, Lee se viu com tempo para se dedicar ao novo projeto.  A revista estreou em 1968 e foi, aos poucos, contando a história do amargurado herói.
            Assim, o Surfista é Norrin Radd, um jovem cientista do planeta Zenn-La que aceita tornar-se arauto de Galactus afim de que ele poupasse sua terra natal. Ao se voltar contra seu mestre quando ele tentava devorar a Terra, Galactus condena-o a ficar eternamente preso ao nosso planeta. Isso para ele é uma tortura dupla, pois ele não pode voltar ao seu planeta natal, nem rever sua amada Shalla bal. Além disso, vindo de um local mais avançado eticamente e tendo uma alma extremamente nobre, ele sofre ao ser obrigado a conviver com os ambiciosos humanos, que o caçam por ser diferente.
            As aventuras do Surfista permitiram a Stan Lee exercitar o lado humano de seus roteiros ao trabalhar com um personagem angustiado. Para desenhar as histórias ele chamou John Buscema, que era muito influenciado por Jack Kirby, mas tinha uma melhor capacidade para mostrar dramas humanos.
            Os monólogos angustiados do protagonista, geralmente no início das histórias tornaram-se a marca da série. Como esse, publicado no número 6 da revista: ¨Até quando devo continuar aprisionado no selvagem planeta Terra? Não! Este não pode ser meu destino eterno! Não foi para isso que renunciei ao meu mundo, minha vida e meu amor! Por certo, em todo o universo não pode haver ironia mais cruel do destino! Eu, que detenho um poder além da compreensão de qualquer ser humano... estou fadado a viver confinado e sem esperanças... tal qual o mais frágil dos animais! Aqui eu sou odiado... e temido... pelos mesmos seres que meu coração só deseja ajudar! Meu coração! Eu disse... coração? Como poderia ser... se não tenho mais coração? Afinal, eu o abandonei no planeta Zenn-la... a inúmeras galáxias de distância... com aquela a quem amarei para sempre! Zenn-la... onde meu mundo começa e termina... ondeu eu deixei minha amada Shalla Bal!¨. 
            A revista era avançada demais para uma época em que predominavam heróis violentos e fez pouco sucesso, durando poucos números, mas ganhou fãs fervorosos.

            Nos anos 1980 o herói virou cult ao ser citado pelo personagem Richard Gere no filme A Força do amor, refilmagem de Acossado, de Godard. Desde então, críticos e fãs redescobriram o personagem, que acabou sendo a grande estrela do segundo filme do Quarteto Fantástico.   

quinta-feira, fevereiro 09, 2017

Dicas para elaboração de questionário/entrevista

A – FAÇA UMA PERGUNTA BÁSICA
Algo importante a ser lembrado quanto ao questionário é definir exatamente o que se quer saber com o questionário ou a entrevista. O ideal é elaborar uma pergunta básica que será desmembrada em várias outras perguntas. Para quem já fez o projeto de pesquisa, essa pergunta básica é o problema.
Importante: todas as perguntas devem ter relação com a pergunta básica.
         Alguns exemplos de perguntas básicas:
O candidato X tem chances de ser eleito?
Qual a opinião do corpo acadêmico sobre a diretora da escola Y?
B – TODAS AS PERGUNTAS DEVEM TER RELAÇÃO COM A PERGUNTA BÁSICA
Não faça perguntas só por curiosidade. As perguntas devem estar relacionadas ao assunto que está sendo pesquisado e, portanto, com a pergunta básica.
         Nos exemplo de uma pesquisa que pretende medir as chances do candidato X ser eleito, perguntar se o eleitor confia nos políticos é irrelevante. Não é isso que se quer saber e, portanto, essa pergunta não terá nenhuma utilidade para a pesquisa.
         No segundo exemplo, não faz sentido algum perguntar se os alunos concordam com a maneira como são escolhidos os diretores de escola. Afinal, a pesquisa quer saber a opinião sobre a atuação da diretora.
C – A PERGUNTA BÁSICA DEVE SER DESTRINCHADA EM OUTRAS PERGUNTAS
         A pergunta básica é sempre uma pergunta genérica, que envolve vários fatores. O ideal é descobrir quais são esses fatores e desenvolver perguntas a partir deles. Por exemplo, no caso da pesquisa eleitoral, vários aspectos influenciam na aceitação de um candidato: o candidato passa credibilidade? Ele se veste corretamente? Ele é simpático? As pessoas conhecem seu plano de governo e, se conhecem, concordam com ele? O candidato sabe se expressar em público? Os antecedentes do candidatos são positivos?
D – CADA ITEM DEVE TER UMA SÓ PERGUNTA
         Não misture assuntos em uma só pergunta, nem faça mais de uma pergunta de uma só vez.
         Por exemplo:
         Você acha que o candidato X passa jovialidade e credibilidade?
         Joviabilidade e credibilidade não são valores tão relacionados que possam ser unidos em uma só pergunta. Diante de um questionamento assim, o informante não sabe o que fazer. E, diante de sua resposta, mesmo o pesquisador ficará em dúvida. Se a resposta foi sim, o informante quis dizer que acha que o candidato tem jovialidade e credibilidade, ou só joviabilidade ou só credibilidade?
         Um outro exemplo:
         Você acha que a Secretaria de Educação deve oferecer aos professores atividades complementares, como cursos de atualização, no período de férias?
         Leia com atenção. Há três perguntas aí. O ideal era destrinchar cada item em uma só pergunta:
         Você acha que a Secretaria de educação deve oferecer atividades complementares aos professores?
         Você acha que essas atividades poderiam ser cursos?
         Você acha que esses cursos poderiam ser no período das férias?
E – EVITE PERGUNTAS TENDENCIOSAS
         Algumas perguntas, por si só, levam a determinada resposta. Elas devem ser evitadas, pois o que se quer não é confirmar as opiniões do pesquisador, mas saber a opinião do informante.
         Alguns exemplos de perguntas tendenciosas:
Você acha que a falta de materiais áudio-visuais prejudica a qualidade das aulas?
         Você acha que a falta de estrutura da feira dificulta as atividades dos feirantes?
         Nos dois casos acima, a pergunta está influenciando a resposta.
F – CUIDADO COM O REPERTÓRIO DO INFORMANTE
         O repertório é o conjunto de informações que uma pessoa tem e que usa para decodificar uma mensagem. O repertório de um estudante é diferente de um professor, assim como o repertório de uma criança é diferente do repertório de um adulto. Faça perguntas de acordo com o repertório das pessoas que vão responder ao questionário.
G – DADOS DO INFORMANTE
         É comum em questionários pedir alguns dados do informante, como idade, sexo, nível de renda e escolaridade. Essas perguntas devem ser feitas se forem importantes para a pesquisa. Por exemplo, em uma pesquisa sobre pobreza em um bairro periférico, informações sobre nível de renda e escolaridade são importantíssimas.
         Pedir o nome do informante pode não ser aconselhável, especialmente se isso puder criar algum possível constrangimento. Em uma pesquisa sobre o nível de satisfação dos alunos e professores com relação ao diretor de uma escola, muitos alunos e professores podem não ser sinceros se souberem que suas respostas poderão ser descobertas. Nesse caso, o anonimato é essencial.
H – TESTE O QUESTIONÁRIO
Antes de aplicar o questionário, teste-o entrevistando uma pessoa do universo que será pesquisado. Por exemplo, se os informantes forem lixeiros, faça o teste com um lixeiro. Esse teste serve para demonstrar se o questionário está correto e se o nível das questões está de acordo com o repertório do informante.
I – APRESENTE-SE, EXPLIQUE O OBJETIVO DO QUESTIONÁRIO E O QUE SE ESPERA DO INFORMANTE

         Ao aplicar o questionário, não se esqueça de algumas regras básicas de educação. Identifique-se, explique ao informante o objetivo do questionário e o que se espera dele. Se for fazer a pesquisa em uma instituição ou empresa, não se esqueça antes de pedir permissão da direção da instituição.  Isso pode evitar algumas dores de cabeça.

quarta-feira, fevereiro 08, 2017

Técnicas quantitativas

OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA

Nessa técnica, o observador, munido de uma listagem de comportamentos, registra a ocorrência dos mesmos durante um período de tempo.

         Quem já leu o Analista de Bagé, de Luís Fernando Veríssimo, conhece o procedimento:

Enquanto preenche a ficha, Lindaura, a secretária, dá uma cuia de chimarrão em formato de seio ao paciente. A seguir ela anota as reações do mesmo em uma lista de comportamentos: quis chupar a cuia em vez da bomba; começou a gemer e a acariciar a cuia; atirou a cuia contra a parede.

         Para evitar interferências, é comum se utilizar câmeras na observação sistemática. É uma situação semelhante ao do programa Big Brother.

QUESTIONÁRIO

É um tipo de entrevista em que perguntas e respostas são fechadas e o informante apenas escolhe entre as várias opções de respostas dadas pelo entrevistador.

O uso de questionário requer algumas condições:

         O pesquisador deve saber exatamente o que procura, o objetivo de cada questão;

O informante deve compreender perfeitamente as questões, portanto cuidado com o repertório do informante;

O questionário deve seguir uma estrutura lógica. Deve ser progressivo (do mais simples ao mais complexo), conter uma questão por vez e ter linguagem clara.

Exemplo:
Dentre os sabores de sorvete abaixo, qual é o que você mais gosta?
(  ) Açaí
(  ) Chocolate
(  ) Morango
(  ) Creme
ATENÇÃO: Jamais pergunte em um questionário por quê? A grande maioria dos informantes simplesmente vai ignorar essa pergunta.

ENTREVISTA DIRIGIDA

A entrevista dirigida é um método diferente do questionário, em que o informante apenas escolhe uma entre várias possibilidades. Enquanto o questionário já tem perguntas e respostas fechadas, na entrevista apenas as perguntas são fechadas, ficando as respostas por conta do informante. Mas importante: todos os informantes devem responder às mesmas perguntas para que seja possível a tabulação das respostas.

Exemplo:
Qual o sabor de sorvete que você mais gosta?
         É possível fazer questionários mistos, com perguntas abertas e fechadas, especialmente quando se torna difícil prever todas as possibilidades de respostas.
Exemplo:
Você trabalha? (  ) Sim (  ) Não
Qual a sua profissão?

         No caso acima a impossibilidade de prever todas as respostas para a pergunta faz com que o melhor seja deixar a resposta em aberto. 

O Homem de ferro


Em 1963, a Marvel vivia o auge da criatividade. Personagens como Homem-aranha, Thor, Hulk e Quarteto Fantástico revolucionavam os quadrinhos de super-heróis. Foi nesse ano que surgiu um dos personagens mais políticos da editora: o Homem de ferro.
            Stan Lee queria fazer um personagem que fosse bilionário e inteligente, um ricaço (talvez em oposição ao pé-rapado Homem-aranha). Mas, como sempre acontecia com os personagens da Marvel, este precisava ter um ponto fraco, um pé de barro. O Demolidor, por exemplo, era cego. Que problema tornaria esse novo personagem frágil? ¨E se o nosso herói tivesse uma falha no coração? E se esse problema o obrigasse a usar um dispositivo metálico para se manter vivo? Ora, esse dispositivo poderia ser o elemento básico numa armadura capaz de lhe dar poderes, e, ao mesmo tempo, esconder sua identidade¨, pensou Stan Lee.
            O personagem surgiu em plena guerra do Vietnã e foi usado como propaganda patriótica.
            Assim, o herói é Tony Stark, um homem que fabrica armas para o exército norte-americano. Em um de suas visitas ao campo de batalha, ele é atingido por estilhaços de granadas e feito prisioneiro pelos vietcongs. O famigerado general comunista Wong Chu o obriga a construir uma arma para derrotar os exércitos da democracia, mas Stark usa o tempo para construir para si uma armadura capaz de mantê-lo vivo e derrotar as tropas comunistas.
            Essa história foi publicada na revista Tales of Suspense 39, com grande sucesso (o que fez com que o personagem ganhasse um desenho animado). Posteriormente o herói metálico iria dividir a revista com o Capitão América, reformulado por Stan Lee e Jack Kirby.

            Embora o uniforme do personagem tenha mudado muito desde aquela primeira aventura, alguns elementos se mantiveram inalterados: o problema de coração e o poder que se esvai quando a energia acaba, obrigando o herói a parar para recarregar... só o fator político que foi esquecido quando a guerra do Vietnã se tornou impopular entre os norte-americanos. Anos depois, escrevendo sobre o herói, Stan Lee fez um mea culpa: ¨Este conto foi escrito em 1963 e, nessa época, nós acreditávamos que o conflito naquela terra sofrida era uma simples questão de confronto entre o bem e o mal. De lá para cá, todos nós crescemos um pouco e, até hoje, estamos tentando nos livrar do trágico envolvimento com a Indochina¨.  

terça-feira, fevereiro 07, 2017

Pesquisa quantitativa

De inspiração positivista, a pesquisa quantitativa teve grande desenvolvimento na escola funcionalista.

Parte do princípio de que, para estudar o homem e a sociedade, é possível utilizar a mesma metodologia e o mesmo instrumental das ciências naturais.

A pesquisa quantitativa tem sido muito criticada por procurar reduzir as relações humanas a números exatos.

         Um exemplo disso seria a preferência das pessoas por determinada comida, digamos sorvete de chocolate e morango.

         Para os funcionalistas, essa questão pode ser tranqüilamente explicada com números, como no exemplo abaixo:

As pessoas gostam mais de sorvete de chocolate ou de morango?

55% das pessoas gosta de chocolate

40% prefere morango


5% não gosta de sorvete

segunda-feira, fevereiro 06, 2017

Pesquisa científica: o que são variáveis?

Variável é um aspecto ou dimensão de um fenômeno que pode sofrer alteração.        
Variável independente é aquela que é a causa, que provoca, influencia ou determina outra variável.
Variável dependente é aquela que é influenciada ou determinada pela variável independente. É, portanto, a conseqüência da variável independente.
Variável interveniente é a que se coloca entre as variáveis estudadas a fim de anular, diminuir ou ampliar o impacto da variável independente sobre a dependente.

Em um estudo sobre que analise se o professor dinâmico exerce influência positiva sobre a aprendizagem do aluno, o dinamismo do professor é a variável independente, o aprendizado é a variável dependente e os outros fatores (como o salário do professor, seu nível de atualização, etc) que podem interferir nessa relação são as variáveis intervenientes. 

O homem-aranha


O lançamento do Quarteto Fantástico foi uma verdadeira revolução no mercado, abrindo caminho para que a Marvel se tornasse a editora predileta dos fãs. Mas o personagem que melhor representaria esse método Marvel de fazer quadrinhos só surgiria em 1962. Trata-se do Homem-aranha.
            Quando Stan Lee apresentou a idéia para o personagem, todos na editora, especialmente o dono, Martin Goodman, acharam que seria um fracasso. Afinal, ele não era rico, era cheio de complexos e falhas de caráter e nem ao menos era bonito, fisicamente. Além disso, todo mundo odeia aranhas.
            Mas era justamente nesses pontos negativos do personagem que Lee apostava. Ele achava que os leitores iriam se identificar com aquele nerd que só se dava mal, era rejeitado por todos, mas, quando vestia sua máscara, tornava-se o grande herói da cidade. Para destacar ainda mais esses supostos aspectos negativos, Lee chamou Steve Ditko, que fazia Peter Parker franzino, com cara de nerd. Jack Kirby, o outro grande artista da editora, foi rejeitado por fazer o personagem musculoso. A idéia era mostrar um perdedor que se tornava o herói do pedaço.
            O homem-aranha fez um sucesso imediato. A história mostrava o garoto frágil, Peter Parker, vítima de gozação dos outros, que ganha super-poderes ao ser picado por uma aranha radioativa. Inicialmente ele usa esses poderes para ganhar dinheiro, apresentando-se na TV, mas tudo muda quando ele deixa escapar um bandido, que depois irá matar seu tio Ben.  A partir de então, ele passa a adotar como lema uma frase do tio: ¨Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades¨ e usa suas novas habilidades para ajudar as pessoas e combater os criminosos. Como contraponto, Parker convive com uma tia super-protetora. Tornou-se comum a cena em que ele liga para tia, ainda vestido de homem-aranha, e ela lhe diz para tomar cuidado, usar agasalho para não se resfriar e, principalmente, tomar cuidado com o Homem-aranha.
            A série levou ao extremo os temas já abordados no Quarteto Fantástico. O homem-aranha é extremamente humano. Ele fica doente, tem dúvidas sobre sua atuação com herói, recebe foras das namoradas... Os poderes recebidos parecem mais um fardo, um problema a mais para um garoto que enfrenta vários problemas, entre eles o aluguel do fim do mês. A morte da namorada Gwen Stacy, na década de 1970 mostrou a que ponto o realismo podia chegar: mesmo os protagonistas poderiam morrer.
            Uma das histórias mais antológicas do personagem é aquela em que ele precisa conseguir um composto químico capaz de salvar Tia May, mas esse composto também está sendo procurado também pelo doutor Octopus. De repente o herói se vê preso sob uma pesada viga. A seqüência mostra, em várias páginas, ele tentando se livrar do obstáculo. Quando finalmente consegue levantar a viga, o frágil Peter Parker é mostrado (no desenho de Steve Ditko) como um homem musculoso. É como se o grande inimigo que ele precisasse vencer fosse a si mesmo e, ao se tornar vitorioso, ele se tornava um herói. Era algo com que os adolescentes de qualquer lugar do mundo podiam se identificar. Afinal, o que é a adolescência, senão um período de dúvidas, dramas e vitórias?

            A grande qualidade dos artistas que passaram pelo personagem (Stan Lee e Gerry Conway nos roteiros, Steve Ditko, John Romita e Ross Andru nos desenhos) só fizeram resaltar o ar de mito que o personagem ganhou. Em todas as culturas há histórias de jovens guerreiros que são desprezados pelos demais, mas que, nos momentos decisivos, acabam salvando a aldeia, ou o reino, ou a cidade. Como Davi, vencendo o gigante Golias. 

domingo, fevereiro 05, 2017

Edgar Morin e o pensamento complexo

Um dos pensadores mais importantes da atualidade é o francês Edgar Morin. Suas idéias, inicialmente criadas para discutir a questão do conhecimento, espalharam-se por várias áreas e tornaram-se uma referência obrigatória na área de educação a partir do livro Os sete saberes necessários à educação do futuro, escrito a pedido da Unesco.
         Essencialmente, o pensamento de Morin, chamado de teoria da complexidade, baseia-se na busca de uma ética na ciência e na crítica ao que ele considera os três pilares da ciência moderna: a ordem, a separabilidade e as lógicas indutivas e dedutiva. Morin também insiste na necessidade de se trabalhar com as limitações  do pensamento científico.
         A busca da ordem sempre foi o interesse principal da ciência. Para a ciência, caótico é tudo aquilo que é desconhecido. A partir do momento em que se descobre como algo funciona, revela-se a ordem.        
         A teoria da informação  ensina que ordem é falta de varidade/informação. Já caos é variedade/informação em estado puro. Um relógio é um exemplo perfeito de ordem. Ele sempre fará as mesmas coisas, sempre se movimentará de maneira uniforme a totalmente previsível. Já a bolsa de valores é um fenômeno mais caótico, pois é muito mais difícil prever seus movimentos.  Uma outra maneira de definir ordem, complementar à anterior, é através da determinação. Fenômenos ordenados são determinados. Determinação sugere uma relação causal. Se determinado fenômeno ocorre, ele terá obrigatoriamente uma conseqüência.
         A relação de causa e consequência é extremamente determinada na Ciência Clássica, por isso o relógio foi tomado como modelo do mundo.
         A crença na determinação fez com que os cientistas e filósofos sonhassem com a possibilidade de decifrar a verdade definitiva. A Ciência Clássica ignorava os fenômenos dinâmicos, que estão mais próximos do caos que da ordem. A bolsa de valores, o trânsito de cidade, as sociedades e até a vida humana são fenômenos que escapam ao determinismo. Morin vai criticar justamente essa idéia de determinismo, que até pouco tempo predominava nas ciências sociais. 
         Edgar Morin diz que a complexidade nos dá a liberdade, pois nos livra do determinismo. Não somos prisioneiros de uma determinação, seja biológica ou social. Ao contrário, construímos nosso próprio destino a partir de nossas escolhas, sejam elas conscientes ou não.
         Para Morin, portanto, o mundo é uma mistura de caos e ordem e o cientista deve aprender a lidar com ambos.
         A segunda parte da teoria de Edgar Morin, e também a mais difundida,  refere-se à crítica à separabilidade. A ciência sempre trabalhou com a idéia de que, para resolver um problema, é necessário dividi-lo em pequenas partes e estudá-las uma a uma.
         Esse princípio provocou a divisão do saber e a especialização, que permitiu um grande avanço tecnológico. Mas a especialização logo revelou suas deficiências, pois os cientistas, cada vez mais especializados, perderam a visão do todo.
         A teoria dos sistemas demonstrou que os fenômenos são processos de retroação contínua. É, portanto impossível em algumas situações estabelecer a causa e a conseqüência. O que é causa de um fenômeno é também causada por outro fenômeno numa rede de interações infinita.
Como conseqüência da separabilidade, a responsabilidade sobre as decisões, incompreensíveis para os leigos, são deixadas nas mãos de especialistas, que não consideram as conseqüências amplas de suas ações.
Em lugar da separabilidade, Morin propõe a complexidade, que significa abraçar o todo. Ou seja, é o princípio de que é impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, assim como conhecer o todo sem conhecer as partes.
         A terceira parte da crítica de Edgar Morin à Ciência Clássica diz respeito à lógica indutiva. Desde Galileu a indução tem sido considerada o procedimento científico mais correto. Mas mesmo os defensores da dedução não conseguem responder a uma pergunta: quantos casos é necessário pesquisar para se  chegar a uma conclusão geral sobre o assunto? Morin usa a crítica de Karl Popper para fundamentar sua posição. Para Popper,  essa falha da indução faz com que ela não seja científica.
         Para Popper, a ciência só pode se utilizar da dedução, em que se faz uma generalização e depois vai se pesquisar casos singulares. Se os casos baterem com a hipótese, dizemos que ela foi corroborada (não confirmada, pois é possível que estudos futuros cheguem a conclusões diferentes). Se não baterem com a hipótese, dizemos que a mesma foi falseada. Popper demonstrou que só é científico aquele conhecimento que pode se mostrar falho, ao contrário do conhecimento teológico, que não pode ser falseado.
         Edgar Morin aproveitou a crítica de Popper à indução em sua filosofia, mas também fez crítica à dedução, citando o paradoxo lógico do mentiroso de Creta. Imagine que um cretense diz que todos os cretenses são mentirosos. Se ele estiver dizendo a verdade, está mentindo, pois ele também é cretense e, pela lógica, deveria estar mentindo. Se ele estiver mentindo, está dizendo a verdade. É uma situação que não tem escapatória lógica.

         Embora admita que a dedução é mais confiável que a indução, Morin propõe uma nova lógica, menos classificadora, que não fosse baseada no OU/OU, mas no E/E. Uma lógica complementar e não excludente, que permitisse termos contrários, como: “A vida surge da morte”. De fato, a morte do grão é o início da semente, que irá dar origem a outra planta. A cada dia nossa pele se renova em grande parte. É a morte das células da epiderme que nos permite continuar vivendo. 

sábado, fevereiro 04, 2017

Paradigmas

Thomas Kuhn percebeu uma falha na teoria de Popper: nenhum cientista procura falsear sua hipótese. Ninguém passa a vida toda pesquisando clonagem para depois chegar à conclusão de que clonar um ser vivo é impossível (falseamento).

         Ele percebeu que a ciência caminha através de revoluções científicas.

         Para melhor explicar sua teoria, ele utilizou o termo Paradigma. Paradigmas são grandes teorias que orientam a visão de mundo do cientista.

         Uma mudança de paradigma pode representar uma alteração total na maneira como as pessoas vêm o mundo. São as chamadas revoluções científicas.

Por que as coisas queimam?

Antes de Lavoisier: porque contém flogisto, um produto altamente inflamável.

Lavoisier: por que entram em contato com oxigênio.

Os paradigmas fornecem uma visão de mundo que orienta os pesquisadores.

De tempos em tempos surgem as anomalias, fenômenos que não se encaixam no paradigma.

Para explicá-los os cientistas mais jovens criam um novo paradigma, que leva bastante tempo para ser aceito, pois os cientistas antigos não mudam de idéia.


Exemplos de revoluções científicas: O heliocentrismo, a teoria da evolução, a lei da gravidade, a teoria da relatividade, A psicanálise...

sexta-feira, fevereiro 03, 2017

Conhecimento científico: Thomas Kuhn

Thomas Kuhn percebeu uma falha na teoria de Popper: nenhum cientista procura falsear sua hipótese. Ninguém passa a vida toda pesquisando clonagem para depois chegar à conclusão de que clonar um ser vivo é impossível (falseamento).

         Ele percebeu que a ciência caminha através de revoluções científicas.

         Para melhor explicar sua teoria, ele utilizou o termo Paradigma. Paradigmas são grandes teorias que orientam a visão de mundo do cientista.

         Uma mudança de paradigma pode representar uma alteração total na maneira como as pessoas vêm o mundo. São as chamadas revoluções científicas.

Por que as coisas queimam?

Antes de Lavoisier: porque contém flogisto, um produto altamente inflamável.

Lavoisier: por que entram em contato com oxigênio.

Os paradigmas fornecem uma visão de mundo que orienta os pesquisadores.

De tempos em tempos surgem as anomalias, fenômenos que não se encaixam no paradigma.

Para explicá-los os cientistas mais jovens criam um novo paradigma, que leva bastante tempo para ser aceito, pois os cientistas antigos não mudam de idéia.


Exemplos de revoluções científicas: O heliocentrismo, a teoria da evolução, a lei da gravidade, a teoria da relatividade, A psicanálise...

quinta-feira, fevereiro 02, 2017

O que é dedução?

         A dedução é uma forma de raciocínio científico segundo o qual devemos partir do geral para o particular. Assim, devemos primeiro criar uma lei geral e depois observar casos particulares e verificar se essa lei não é falseada. Para os adeptos da dedução, o cientista não precisa de mil provas indutivas. Basta uma única prova dedutiva para que a lei possa ser considerada válida.
         No exemplo do saco, imaginem que o vendedor nos disse que ele estava cheio de feijões brancos. Eu então retiro um feijão de dentro do saco. Se for um feijão branco, então minha hipótese está, por enquanto, correta.

         Um problema da dedução é que ela geralmente se origina de induções anteriores. Geralmente fazemos uma lei geral depois de já termos observado casos particulares. 

O gigante esmeralda e o deus do trovão


O sucesso do Quarteto Fantástico fez com que Stan Lee ganhasse carta branca do dono da Atlas (agora rebatizada de Marvel), Martin Goodman, para criar novos personagens. Lee tinha criado uma nova maneira de fazer super-heróis. Nada de ricaços infalíveis e perfeitos, mas pessoas normais que se viam, de repente, portadores de poderes extraordinários. Nas palavras de Stan Lee, seus personagens tinham, sob as botas de heróis, pés de barro.
Esse conceito foi levado ao extremo com um novo personagem surgindo em 1962: o incrível Hulk. Exposto aos terríveis raios gama (Stan Lee adorava criar esses nomes estranhos), o cientista Bruce Banner transforma-se num monstro irracional, mas de bom coração, que é perseguido pela humanidade. Inicialmente o personagem era cinza, mas uma falha de impressão fez com que ele saísse verde e essa passou a ser sua cor oficial. Para desenhar o personagem, Lee chamou seu melhor desenhista: Jack Kirby! Hulk era o ser mais poderoso da terra e ninguém melhor para desenhar seres poderosos do que o bom Kirby. Anos mais tarde, Kirby afirmou que a idéia para o personagem foi sua, após ver uma mulher levantar um carro para salvar seu filho, o que o levou a concluir que todas as pessoas poderiam liberar seu lado Hulk em determinadas situações.
Apesar do sucesso, a revista teve que ser cancelada no número seis para dar lugar às novas criações de Stan Lee, entre elas o Homem-aranha. Isso aconteceu porque Martin Goodman havia vendido sua distribuidora, colocando todas as suas revistas nas mãos de uma distribuidora que faliu. Assim, ele teve que ir rastejando, pedir para a rival National (atual DC) distribuir suas publicações. Eles toparam, mas exigiram que a Marvel não lançasse mais do que 12 revistas por mês. Assim, para lançar uma revista nova, era preciso cancelar uma antiga.
No rastro das inovações, Stan Lee pediu a Jack Kirby que fizesse um herói baseado na mitologia nórdica. Essa era uma mitologia muito pouco explorada nos quadrinhos, mas segundo Lee, era a mais dramática. Roberto Guedes, no livro Quando surgem os super-heróis, diz que ¨Kirby estilizou de forma ímpar os deuses asgardianos, indo além do figurino trivial dos marmanjos vikings. A cidade de Asgard mais parecia um planetóide alienígena, de charme inigualável¨. O personagem principal, o deus Thor, foi mostrado não como um viking cabeludo, mas como um jovem loiro, de cabelos longos, antecipando o visual dos hippies (posteriormente, Mark Millar exploraria isso na série Os Supremos, mostrando Thor como um hippie ecologista).
King tinha uma mente incrível para grandes sagas e personagens fantásticos. Assim, ele criou vários personagens ou locais marcantes, como Ego, o planeta vivo, a montanha de Wundagore, os colonizadores de Rigel e O Registrador. Lee colaborava com o lado humano e com as tramas bem elaboradas. Um expediente comum era colocar o personagem numa situação insolúvel no final da revista. Na revista seguinte, a situação era solucionada, apenas para dar lugar a uma situação ainda mais complicada. Thor vivia uma verdadeira vertigem de aventuras. Além disso, King usou na série um expediente absolutamente inovador: colagens de fotos que eram misturadas aos seus desenhos, dando um charme especial às histórias.

Hulk e Thor são, até hoje, personagens fundamentais para a Marvel Comics.   

quarta-feira, fevereiro 01, 2017

Karl Popper

         Para esse autor inglês, a ciência é caracterizada pelo falseamento. Ou seja, uma teoria só é científica se for possível provar que ela está errada.

         Assim, seria não-científico afirmar que vai chover amanhã. É certo que amanhã vai chover em algum lugar do planeta, em algum horário.

         É científico dizer que vai chover amanhã às 17 horas em Macapá, pois essa afirmação é passível de falseamento.

         A ciência não aceita formulações vagas, que não podem ser falseadas, características dos videntes e cartomantes: “Você vai viver um grande amor”; “Um grande reino vai cair”. É impossível provar que essas afirmações são falsas. Em algum momento a pessoa vai viver um grande amor e em uma guerra, inevitavelmente um reino irá ser derrotado.
         Para Popper, O cientista não deveria procurar fatos que comprovassem sua tese, mas fatos que o falseassem, que provassem que ela é falsa.

Imaginemos que estejamos estudando as galinhas. Pesquiso uma e descubro que ela bota ovos. Encontro outra galinha e observo o mesmo comportamento. Por indução, chego à conclusão de que todas as galinhas botam ovos. Para Popper isso não é científico, pois se eu encontrar uma única galinha que não bote ovos, minha tese cai por terra.

Para Popper, a indução é falha e a única maneira de sermos científicos é usarmos a dedução.

         Assim, eu crio uma lei geral: todas as galinhas botam ovos. Então pego uma galinha ao acaso e verifico se ela bota ovos. Se isso ocorrer, a tese está correta, por ora. Se um dia aparecer uma galinha que não bote ovos, a tese será falseada.

Popper nos ensinou que as verdades científicas são provisórias. São apenas hipóteses esperando pelo falseamento.