segunda-feira, novembro 30, 2015
Leituras do FIQ
No início da década de 1990 eu e o compadre Joe Bennett representávamos uma renovação dentro de revistas clássicas de terror, como a Calafrio. E havia alguém que também publicava na revista e que tinha um trabalho muito semelhante ao nosso, inclusive com influência minha no texto e do Bené no traço. Essa pessoa era Eduardo Cardenas. A aproximação estilística era tão grande que acabamos nos tornando amigos.
Depois de algum tempo, Eduardo (que na época assinava Luiz Eduardo) desapareceu. Assim foi uma alegria para mim ver um trabalho dele no FIQ. Trata-se do álbum Mórbido, maléfico & maldito. A revista é um tributo ao terror, um gênero infelizmente hoje pouco explorado.
Eduardo mistura monstros clássicos com ficção científica e monstros lovecraftianos, em narrativas sempre densas e desenhos impressionantes, com desejo sujo, repleto de sombras, como deve ser uma HQ de terror.
Antes de cada quadrinho, o autor faz uma capa fake e aqui vai minha única crítica ao álbum: essas capas simuladas são melhores do que a capa do álbum.
domingo, novembro 29, 2015
Leituras do FIQ
Capa Comics é uma revista mix da baixada fluminense que mistura super-heróis, humor e quadrinizações de letras de músicas. Houve uma época em que quem fazia super-heróis brasileiros o fazia imitando descaradamente os heróis americanos, sua ambientação, seus nomes e motivos. Ainda há muitos desses por aí, mas esse decididamente não é o caso do Capa Comics. Os autores usam sua realidade para desenvolver histórias muito simpáticas, de apelo universal, como da nerd que é excluída por seu jeito estranho.
Há uma variedade grande de autores fazendo um ótimo trabalho, mas vale destacar aqui João Carpalhau, que assina a maioria dos textos com uma fluência realmente agradável de ler, indo do drama ao humor com muita facildiade.
Vale a pena conhecer e curtir a página do grupo:https://www.facebook.com/CapaComics/?fref=ts
Ultra Mix, como o próprio nome dá a entender, é revista mix de super-heróis de autorias de vários autores, entre eles Antonio Carlos Lemos e Marcelo Salaza.Essa edição em específico traz histórias do Homem-pantera, Imperatriz e Transmutor.
Alguns colaboradores do gibi trabalham para o mercado americano, o que faz com que a qualidade do trabalho seja profissional. O roteiro também não deixa a desejar, com um texto competente.
O problema aqui é o tamanho do texto. Como é formatinho, em alguns momentos é difícil ler os balões, especialmente para quem é cegueta como eu. Outra questão é que, como as histórias seguem uma cronologia, o leitor que pegar esse número em específico pode se sentir um pouco perdido - para diminuir esse problema foi colocado um texto antes de cada história, que ajuda a contextualizar.
Mistiras, como o próprio nome sugere, é um livro de tiras que mistura os mais diversos assuntos, em especial da cultura nerd. Escrito por Ary Santa Cruz Netto com arte de Luciano Félix é um projeto que começou como webcomix, tornou-se uma página (https://www.facebook.com/mistiras/?fref=ts) e agora publicação impressa.
Trabalho de gente grande, que domina bem a arte dos quadrinhos e das tiras. O desenho de Luciano é perfeito para o tema, com uma pegada boa para temas nerds (perfeita a sequência que brinca com a beleza da Viúva Negra no filme dos Vingadores) e Ary conhece bem esse universo.
Além de piadas com filmes, quadrinhos e jogos, o livro traz também piadas internas, sobre o cotidiano dos autores (o que, a propósito, continua refletindo os mesmos temas).
quarta-feira, novembro 25, 2015
A rejeição a pesquisas sobre erotismo
Sexo é um tema que sempre provoca preconceito e polêmica, inclusive na academia. Lembro de quando apresentei um trabalho sobre Carlos Zéfiro na disciplina de Antropologia Cultural, ainda na graduação, alunos de diversas outras salas foram lá para ver, apenas por causa do tema (alguns provavelmente indignados rs).
Interessante verificar que todas as pesquisas importantes sobre quadrinhos eróticos no Brasil (os livros sobre Zéfiro do Ota Assunção e do Joaquim Marinho, meu livro Grafipar a editora que saiu do eixo e o livro Maria Erótica e o clamor do sexo, de Gonçalo Jr) foram produzidos fora do ambiente acadêmico.
Atualmente, com o conservadorismo cada vez maior da sociedade brasileira, é possível que essa rejeição aumente ainda mais, especialmente por causa da pressão de parte significativa da sociedade. Não vai demorar, começarão a pipocar denúncias contra os poucos trabalhos que tratam do assunto, não só nos quadrinhos, mas no cinema e outras mídias.
Ou seja: uma grande área de nossa produção cultural corre o risco de se perder, não ser registrada, analisada e mesmo reconhecida como parte de nossa cultura.
terça-feira, novembro 24, 2015
O uivo da górgona
Um som se espalha pela cidade (ou pelo estado, ou pelo país, ou pelo mundo?). Um som que ouvido transforma as pessoas em seres irracionais cujo único o objetivo são os instintos básicos de violência e fome. É o uivo da Górgona.
Acompanhe a história dos sobreviventes neste livro de terror, uma história de zumbis diferente, em que qualquer um pode se transformar, bastando para isso ouvir o terrível uivo da górgona.
Escrito em capítulos curtos, o livro transforma o suspense em elemento de fantasia, prendendo o leitor da primeira à última página.
Pedidos: profivancarlo@gmail.com.
O uivo da górgona será financiado
Conseguimos! Alcançamos 109% da meta e o livro O uivo da górgona será financiado. Obrigado a todos que apoiaram e divulgaram o projeto!
domingo, novembro 22, 2015
Leituras do FIQ
No Festival Internacional de Quadrinhos ganhei muitas publicações. Aliás, impressionante a quantidade de quadrinhos independentes lançados no evento.Prometi ler uma a uma e ir resenhando. Abaixo três dessas publicações:
Alan Moore, o mago supremo é uma publicação de Caio Oliveira (não encontrei editora) que satiriza o universo dos quadrinhos, mais especificamente o relacionado ao bardo Alan Moore, representado no gibi como uma espécie de Dr. Estranho barbudo (vale lembrar que Moore é um auto-nomeado Bruxo). A piada já inicia pela capa: seu ajudante é ninguém menos que Grant Morrison, que na verdade quer ser o mago supremo no lugar do mago supremo.
Quem entende de quadrinhos vai rir da primeira à última página com sacadas geniais, como colocar Neil Gaiman como Pesadelo e Rob Liefield como Loky ("Morrisowong, esconda a prataria, Loki Liefield, deus da trapaça, materializou-se").
Para quem não é tão fã provavelmente será necessário dar uma lida no texto final, que explica algumas das piadas. Ou seja: é uma revista de um fã de quadrinhos para outros fãs.
Universo compacto, de Dennis Oliveira, chama atenção principalmente pelo simpático formatinho A5. Reúne três histórias, a primeira e maior do Vulto, a segunda do Paladino Veloz e a terceira do Raio Negro.
Dennis Rodrigo Oliveira mimetiza muito bem o estilo vintage de artistas comoJoao Marreiro, o que combina muito bem com a revista e o formato. As histórias são simples, no melhor estilo super-heróis, sem grandes complicações (embora os leitores habituais do Vulto provavelmente conseguirão curtir melhor a trama).
Há momentos em que as letras se tornam pequenas, o que dificulta um pouco a leitura, mas de forma geral, o autor resolveu bem a questão do formato, permitindo uma boa legibilidade.
Para uma publicação que se auto-define como "fanzine de bolso" está bem profissional.
"Mata-me, ó Deus", graphic com roteiro de Marcos Guerra e arte de Marcos Garcia e Carlos Alberto é um dos trabalhos mais instigantes lançados no FIQ.
O roteiro, que lembra muito Jodorowsky, trata de um mundo pós-apocaliptico em que os continentes foram invadidos pela água e o clima se tornou um perene inverno.
Nesse mundo um viajante vai em busca de um alquimista em busca de ouro para reconstruir a economia do planeta. Mas o que encontra é algo muito além disso (difícil dizer sem spoiler).
Embora o texto seja preciso, poético, é uma história visual. E, nesse sentido, os dois artistas fizeram um trabalho fenomenal, que lembra muito o grandeWatson Portela.
Filosofia, religião e uma arte realmente impressionante.
Alan Moore, o mago supremo é uma publicação de Caio Oliveira (não encontrei editora) que satiriza o universo dos quadrinhos, mais especificamente o relacionado ao bardo Alan Moore, representado no gibi como uma espécie de Dr. Estranho barbudo (vale lembrar que Moore é um auto-nomeado Bruxo). A piada já inicia pela capa: seu ajudante é ninguém menos que Grant Morrison, que na verdade quer ser o mago supremo no lugar do mago supremo.
Quem entende de quadrinhos vai rir da primeira à última página com sacadas geniais, como colocar Neil Gaiman como Pesadelo e Rob Liefield como Loky ("Morrisowong, esconda a prataria, Loki Liefield, deus da trapaça, materializou-se").
Para quem não é tão fã provavelmente será necessário dar uma lida no texto final, que explica algumas das piadas. Ou seja: é uma revista de um fã de quadrinhos para outros fãs.
Universo compacto, de Dennis Oliveira, chama atenção principalmente pelo simpático formatinho A5. Reúne três histórias, a primeira e maior do Vulto, a segunda do Paladino Veloz e a terceira do Raio Negro.
Dennis Rodrigo Oliveira mimetiza muito bem o estilo vintage de artistas comoJoao Marreiro, o que combina muito bem com a revista e o formato. As histórias são simples, no melhor estilo super-heróis, sem grandes complicações (embora os leitores habituais do Vulto provavelmente conseguirão curtir melhor a trama).
Há momentos em que as letras se tornam pequenas, o que dificulta um pouco a leitura, mas de forma geral, o autor resolveu bem a questão do formato, permitindo uma boa legibilidade.
Para uma publicação que se auto-define como "fanzine de bolso" está bem profissional.
"Mata-me, ó Deus", graphic com roteiro de Marcos Guerra e arte de Marcos Garcia e Carlos Alberto é um dos trabalhos mais instigantes lançados no FIQ.
O roteiro, que lembra muito Jodorowsky, trata de um mundo pós-apocaliptico em que os continentes foram invadidos pela água e o clima se tornou um perene inverno.
Nesse mundo um viajante vai em busca de um alquimista em busca de ouro para reconstruir a economia do planeta. Mas o que encontra é algo muito além disso (difícil dizer sem spoiler).
Embora o texto seja preciso, poético, é uma história visual. E, nesse sentido, os dois artistas fizeram um trabalho fenomenal, que lembra muito o grandeWatson Portela.
Filosofia, religião e uma arte realmente impressionante.
Maria atrás das grades
Se há algo que incomoda regimes totalitários é o erotismo. Nos países comunistas, o erotismo era visto como estratégia do capitalismo decadente para desestruturar o regime. Na mesma época, na ditadura militar brasileira, o erotismo era visto como uma estratégia do comunismo internacional para acabar com a família tradicional.
Um exemplo bizarro dessa perseguição aconteceu com a personagem Maria Erótica, do mestre Cláudio Seto. A polícia do regime militar invadiu a editora que a publicava para prender o autor. Como ele não estava (Seto na época morava na cidade de Caiçara, interior de São Paulo), levaram os originais e prenderam numa cela.
Maria, coitada, foi parar atrás das grades porque sua sexualidade incomodava o regime.
sexta-feira, novembro 20, 2015
R.F. Lucchetti irá fazer o prefácio de O uivo da górgona
Uma notícia realmente fantástica: o prefácio do livro O uivo da górgona será escrito pelo grande R.F. Lucchetti (http://www.rflucchetti.com.br). Lucchetti é uma verdadeira lenda viva da literatura de gênero no Brasil. Escreveu livros, quadrinhos e filmes que entraram para o imaginário popular brasileiro (entre eles os melhores filmes do Zé do Caixão). Foi também editor de coleções que fizeram históira (incluindo do livro Os escravos da górgona, que foi uma das minhas influências ao produzir O uivo da górgona).
É uma bibliografia incrível e difícil de ser resumida.
Confira abaixo uma entrevista com ele. E não se esqueça de apoiar O uivo da górgona: https://www.catarse.me/pt/gorgona
quinta-feira, novembro 19, 2015
Uivo da Górgona: faltam 3 dias
Só falta 3 dias para fechar O uivo a górgona no Catarse e estamos com 94% da meta. Gostou do projeto? A hora de contribuir é agora: https://www.catarse.me/gorgona
quarta-feira, novembro 18, 2015
O efeito da parte reptiliana do cérebro humano sobre o comportamento
Nunca escondi que O uivo da Górgona (https://www.catarse.me/gorgona) é uma metáfora dos perigos do comportamento coletivo e em especial do domínio do cérebro reptiliano. Os zumbis são uma metáfora moderna disso. Este vídeo trata disso.
A maldade humana
Uma das questões mais antigas da filosofia é: o homem é bom? Existe uma bondade natural ao homem ou ele é, essencialmente, mau? Durante anos acreditei que o homem era bom. Atualmente acredito que o ser humano não é intrinsicamente mau, mas a humanidade se inclina na direção da maldade.
Para explicar, preciso remeter aos comportamentos coletivos e à estrutura do cérebro. De maneira simplificada, podemos dizer que o cérebro é dividido em três partes: o complexo reptiliano, nosso cérebro mais antigo, responsável pelos instintos mais básicos do ser-humano (sobrevivência, sexo, comida). Depois dele temos o complexo límbico, um cérebro mais recente, que governa as emoções e o instinto de manada, a necessidade de pertencer a um grupo. Finalmente, temos a parte mais avançada de nosso cérebro, o neocórtex, responsável pelo pensamento lógico e pela linguagem.
Segundo a psicologia de massas, o complexo límbico está associado ao comportamento de massa, enquanto o neocórtex governaria o comportamento do público.
A maioria das pessoas não acordaria e daria um tiro no vizinho enquanto ele lhe dá bom dia. Esse é um comportamento que se espera de psicopata. Entretanto, em vários momentos da história da humanidade temos visto grupos de pessoas agindo com extrema violência, como se fosse possível transformar em psicopatas toda uma comunidade — do Estado Islâmico ao nazismo passando pelo massacre em Ruanda. Como explicar isso?
A resposta está justamente na necessidade, imposta pelo complexo límbico, de fazer parte de um grupo. Pessoas escolhem seus grupos e se entrincheiram neles. Sejam igrejas, torcidas de futebol ou ideologia política. Grupos que se organizam em torno de uma liderança. Pessoas precisam de alguém que lhes diga como pensar, como agir, como decidir o que é certo e o que é errado. Não é à toa que religiões que estimulam o livre pensar não fazem sucesso (ou com o tempo se modificam no sentido de se tornarem modelos prontos).
Apesar de crescerem, as pessoas continuam sendo crianças, que necessitam de alguém a quem seguir. Fazer parte de um grupo lhes traz conforto e segurança. O grupo dá poder ao indivíduo. Exemplo disso é garoto que é valentão quando está com sua gangue, mas absolutamente covarde quando está sozinho.
Por outro lado, quem não faz parte do grupo passa a ser visto com desconfiança, como um potencial inimigo. E, quem não faz parte de nenhum grupo, ou de grupos minoritários, parece ainda mais perigoso. Costuma-se dizer que as pessoas têm medo do diferente, mas na verdade, elas têm medo de quem não faz parte de seu grupo. A perseguição a quem não faz parte do grupo explica tanto a caça às bruxas quanto o buyilling. As bruxas eram mulheres "estranhas", que não se encaixavam na sociedade da época. Portanto, eram uma ameaça ao grupo. O mesmo ocorre com as vítimas de buyilling nas escolas. É muito raro que sejam atormentado por alguém individualmente, a violência vem sempre de grupos que, no fundo, o consideram um inimigo. Pode-se imaginar que esse comportamento violento com o outro seja uma exceção, mas dois episódios mostram que essa violência pode contaminar qualquer grupo.
O primeiro deles ocorreu quando um professor de uma escola secundária norte-americana em 1967, em Palo Alto, Califórnia, resolveu fazer uma experiência com seus alunos para recriar a atmosfera da Alemanha nazista. Ele os envolveu numa comunidade que dava valor à coletividade, em desfavor do indivíduo. Havia um símbolo, saudações, disciplina e um slogan: "Poder, Disciplina e Superioridade" A experiência, no entanto, acabou saindo do controle. O grupo, que começou apenas em uma turma foi se alastrando pela escola e logo seus integrantes estavam atacando quem não aderia a ele. O caso deu origem a um famoso filme "A onda".
Outro episódio foi o experimento da prisão de Stanford, levado a efeito em 1971 em que voluntários foram divididos em dois grupos — um de prisioneiros, outro de guardas. O que começou como uma experiência normal logo saiu do controle, com os guardas humilhando, torturando e violentando os presos. Como na época vivia-se o auge da guerra do Vietnã, a maioria dos voluntários pretendia ser prisioneiros, levando os pesquisadores a escolherem no cara e coroa quem seria quem. E muitos daqueles que eram contra a guerra se viram transformados em guardas violentos e abusadores. No final, o experimento que deveria durar duas semanas durou apenas seis dias. Sabe Deus o que aconteceria se tivessem ido em frente.
Outro experimento, levado a cabo pelo por Stanley Milgran mostrava o quanto as pessoas podem ser cruéis quando obedecem a uma autoridade. Voluntários eram colocados diante de uma máquina de choques. Do outro lado supostamente havia outro voluntário, que deveria responder a algumas perguntas. Para cada resposta errada, o aluno levava um choque, que ia aumentando de gradação. Mesmo acreditando que poderiam estar matando a pessoa do outro lado, mais de 60% das pessoas continuou acionando o aparelho porque era isso que lhe era ordenado pela autoridade presente (o pesquisador). Alguns o faziam de forma constrangida, mas faziam. Poucos se recusavam a continuar torturando a pessoa do outro lado. O mesmo pode ocorrer com qualquer pessoa se o grupo á qual pertence lhe der uma ordem semelhante. O medo de não fazer parte do grupo faz com que obedeçam a um líder carismático, mesmo que a ordem seja prender, torturar ou matar alguém.
É por isso que sistemas totalitários são tão sedutores. Fazer parte de um grupo dá uma sensação de conforto. Nesse sentido, George Orwell em seu livro "1984" estava errado. O autoritarismo não é algo que é imposto às pessoas, mas algo pela qual elas anseiam, na necessidade de fazerem parte de um grupo.
A diferença entre um pai de família pacato e um carrasco nazista ou um terrorista do Estado Islâmico é uma só: alguém que lhe diga que o grupo está em perigo, alguém que aponte um inimigo do grupo. A maioria das pessoas estará disposta a perseguir, torturar e até mesmo matar outras pessoas se o líder do grupo à qual pertence assim ordenar e se alternativa for ser excluído do grupo. Os fanáticos religiosos que lincharam a filósofa Hipátia em Alexandria são um exemplo disso. Incitados por seus líderes religiosos, aqueles cristãos acreditaram que alguém que pensava diferente deles deveria ser eliminado por constituir uma ameaça, por mais irracional que isso pudesse parecer — que tipo de ameaça uma mulher poderia exercer sobre uma religião que já estava instituída e oficializada?
Outro exemplo perfeito disso temos cotidianamente nas brigas de torcidas. A maioria daquelas pessoas são absolutamente normais em seu cotidiano, mas se tornam violentas quando estão em grupo e esse grupo se encontra com o inimigo. Talvez aquelas pessoas convivessem lado a lado sem se agredirem caso se encontrassem no metrô e uma não soubesse a que grupo a outra pertencia.
Até mesmo grupos de minorias muitas vezes se deixam dominar pelo ódio ao inimigo. Assim, muitas vezes o movimento feminista se torna um movimento contra os homens, o movimento LGBT se torna um movimento contra os heterossexuais e o movimento negro se torna um movimento contra os brancos.
Da mesma forma, grupos religiosos ou recreativos podem rapidamente explodir em pura violência se forem direcionados a isso — e quanto mais comprometida com o grupo, mais radical a pessoa será e maior a chance de entrar na escalada de violência.
Por outro lado, os livres-pensadores são o público, são indivíduos que colocam o pensamento crítico e a individualidade acima do grupo. Podem até ter suas convicções, sejam religiosas, ideológicas ou de qualquer outro tipo, mas para elas pertencer ao grupo jamais é o mais importante. Livres-pensadores costuma sofrer com a desconfiança, quando não com ataques diretos dos grupos. "Afinal, você é esquerda ou direita?" "Você precisa escolher uma religião", são exemplos da pressão que sofrem cotidianamente. Em casos extremos, isso descamba na violência e morte, como nos casos em que regimes autoritários se instalam. Livres-pensadores são sempre os primeiros a serem perseguidos.
Essa conclusão, claro, lembra muito a ideia do filósofo francês Jean-Jacques Rousseau, segundo o qual o homem é bom, mas a sociedade o corrompe. Essa frase pode ser reformulada: o homem não é necessariamente bom ou mal, mas a necessidade de fazer parte de um grupo na maioria das vezes o torna mau.
Talvez um dia o ser humano evolua e livres-pensadores sejam mais comuns que pessoas que fazem de tudo para serem aceitas por um grupo. Até lá estaremos sempre caminhando na direção do holocausto.
terça-feira, novembro 17, 2015
Estatuetas do Uivo da Górgona
Temos uma nova recompensa: uma estatueta de zumbi irada! Feita por Francesco Giovannini com design de Fábio Turbay. Ela tem 15 cm de altura e 8 cm de largura. Ideal para colocar na estante... ao lado do Uivo da Górgona. Confira: https://www.catarse.me/gorgona
Novidades no Uivo da Górgona
Temos duas novidades no Uivo da Górgona, meu livro que está no site de financiamento coletivo Catarse. A primeira delas é que o pacote que incluía como recompensa meu livro Galeão, que estava esgotada, foi ampliada (consegui mais livros) e a segunda é que entrou uma nova recompensa: o Artbook do Gralha. Para conhecer O uivo da Górgona, clique aqui: https://www.catarse.me/pt/gorgona
Galeão é uma obra de fantasia histórica que se passa em algum lugar do Atlântico, no século XVII. Depois de uma noite de terror, em que algo terrível acontece, os sobreviventes descobrem que estão em um navio que não pode ser governado e repleto de mistérios. A comida está sumindo, alguém está cometendo assassinatos, uma mulher é violentada e o tesouro do capitão parece ter alguma relação com todo o tormento pelo qual estão passando.Além da narrativa do navio, são mostrados flash backs dos personagens, revelando que todos eles têm algo a esconder.
Galeão mistura vários temas da ficção fantástica e outros gêneros: os duplos de Edgar Alan Poe, o Aleph de Borges e outros, misturados com uma trama policial. A história torna-se, assim, um quebra-cabeça a ser desvendado pelo leitor.
O Artbook do Gralha é o mais completo livro sobre o herói curitibano, que este ano completa 18 anos de criação. Financiado pelo Catarse, o livro, além de trazer imagens, esboços, pin-ups e quadrinhos inéditos, traz textos meus, do Leonardo Melo e de Antonio Eder sobre o personagem, seu visual, seu processo de criação. Um verdadeiro item de colecionador.
Galeão é uma obra de fantasia histórica que se passa em algum lugar do Atlântico, no século XVII. Depois de uma noite de terror, em que algo terrível acontece, os sobreviventes descobrem que estão em um navio que não pode ser governado e repleto de mistérios. A comida está sumindo, alguém está cometendo assassinatos, uma mulher é violentada e o tesouro do capitão parece ter alguma relação com todo o tormento pelo qual estão passando.Além da narrativa do navio, são mostrados flash backs dos personagens, revelando que todos eles têm algo a esconder.
Galeão mistura vários temas da ficção fantástica e outros gêneros: os duplos de Edgar Alan Poe, o Aleph de Borges e outros, misturados com uma trama policial. A história torna-se, assim, um quebra-cabeça a ser desvendado pelo leitor.
O Artbook do Gralha é o mais completo livro sobre o herói curitibano, que este ano completa 18 anos de criação. Financiado pelo Catarse, o livro, além de trazer imagens, esboços, pin-ups e quadrinhos inéditos, traz textos meus, do Leonardo Melo e de Antonio Eder sobre o personagem, seu visual, seu processo de criação. Um verdadeiro item de colecionador.
segunda-feira, novembro 09, 2015
Uivo da Górgona é destaque no Baú Arcano
O site Baú Arcano publicou uma extensa matéria (com direito a entrevista e tudo!) a respeito do meu livro O uivo da Górgona, que está no site de financiamento coletivo Catarse. Para ler, clique aqui: http://bauarcano.com.br/o-uivo-da-gorgona-entrevista-com-gian-danton/?v=19d3326f3137
Rodrigo Constantino: expor uma criança para atingir um inimigo político
Rodrigo Constantino (o jornalista recentemente demitido pela Veja) fez, ontem, em seu blog, um post absolutamente bizarro (não vou linkar para não dar audiência para alguém totalmente desprovido de cultura ou ética). No post, o "jornalista" criticava o Senador Randolfe por ter participado de um aniversário em que seu neto (a reportagem diz que é filho) aparece vestido de Capitão América, que segundo Constantino, é símbolo do capitalismo norte-americano.
A matéria é bizarra por diversas razões.
A primeira delas, claro, por expor uma criança como uma criminosa, com tarja no rosto e tudo. Independente do senador ser figura pública, seu neto não é. Já pensaram se começarem a publicar fotos semelhantes de todos os outros políticos em aniversários de seus netos?
Segundo, por não admitir que uma criança possa ter seu próprio gosto.
E, terceiro, por achar que o Capitão América é símbolo do capitalismo norte-americano ou mesmo do neo-liberalismo.
O personagem foi criado na década de 1940 por dois judeus (Joe Simon e Jack Kirby) para ser um símbolo da luta contra o nazismo (o personagem aparece socando Hitler na primeira capa) e da luta pelas liberdades individuais e tolerância. Na época provocou a fúria da direita norte-americana e se tornou um símbolo do governo Roosevelt, o presidente americano mais odiado por pessoas como Constantino.
O Capitão foi o primeiro super-herói a namorar uma judia. Quando a direita norte-americana se mobilizava para impedir o fim da segregação racial, o Capitão se aliou a um parceiro negro.
O Capitão em muitos momentos foi contra o governo norte-americano, especialmente quando este se colocava contra as liberdades individuais e em especial na época do governo Bush. Recentemente foi duramente criticado pela Direita por tratar da questão da imigração e lutar contra as milícias que se organizam para matar imigrantes que entram ilegalmente nos EUA (veja a matéria aqui).
Durante a Guerra do Vietnã, o Capitão América dizia: "Devemos questionar mais e obedecer menos".
O Capitão nunca foi empresário, nunca lutou por empresários. Nunca foi um Homem de Ferro.
O Capitão sim, é um símbolo, o símbolo de um mundo em que as pessoas sejam respeitadas em suas escolhas individuais. E, se existisse, certamente ficaria envergonhado de ver uma postagem como essa.
Em tempo: usar uma criança, expondo-a ao escárnio e excecração pública para atingir um inimigo é uma estratégia digna da Hydra!
domingo, novembro 08, 2015
O CASO DOS DEZ INDIOZINHOS-Filme completo-LEGENDADO
A primeira adaptação do Caso dos dez negrinhos, de Agatha Christie. Na época consideraram o título racista e trocaram os negrinhos pelos indiozinhos (ah, maravilhas do politicamente correto!). Também transformaram o general Macarthur em general Mandrake (!).
Mas é um ótimo filme, para uma ótima história.
O diretor, René Clair, consegue adaptar muito bem a história, transpondo o literário para o cinematográfico. E ainda dá ao personagem juiz um carisma que ele não tem no original.
Mas é um ótimo filme, para uma ótima história.
O diretor, René Clair, consegue adaptar muito bem a história, transpondo o literário para o cinematográfico. E ainda dá ao personagem juiz um carisma que ele não tem no original.
Conexão Literatura
Já está no ar a revista Conexão Literatura, editada pelo escritor Ademir Pascale.
A revista é gratuita e pode ser baixada no seguinte endereço: http://www.fabricadeebooks.com.br/conexao_literatura.html
Antologia Terra da Magia
Já está disponível para download gratuito a antologia Terra
da Magia. Com organização de Gian Danton, o e-book apresenta uma coletânea de
contos que reúne elementos do folclore nacional com mitos e lendas de outros
países. Eu participo com o conto Sr. Guerreiro.
Veja a lista completa dos autores e seus respectivos
contos:
O Despertar de Boiuna - Roberta Spindler
Teatro do Invísivel - Gian Danton
O Guardador de Versos - Lucas Lourenço
O Uirapuru Negro - A. Z. Cordenosi
A Presa do Metamorfo - Rodolfo Santos
Em Uma Terra Distante - Bruna Louzada
A Solidão é Verde - Jefferson Nunes
Ensombração - Alexandre Lobão
Sr. Guerreiro - Joe de Lima
Para fazer o Download:
quinta-feira, novembro 05, 2015
Correios: nova norma torna muito mais caro enviar livros
Sempre enviei meus livros como impresso registrado módico. No site dos Correios diz claramente que essa é uma categoria pra impressos, livros etc. Mas recentemente não conseguia mais. Da última vez a atendente me disse que impresso e registrado módico eram tipos de fretes que não foram criados para livros, mas "que algumas pessoas que estavam se aproveitando" e enviando livros. Por isso haviam recebido ordens expressas de que livros deveriam ser enviados como PAC.
Escrevi ao SAC dos Correios e recebi a resposta abaixo, que deixa bem claro que livro é objeto de valor não podem ser enviados por carta. Aliás, uma resposta bastante confusa, já que no primeiro momento fala em venda e logo depois diz que "Objetos (Livros) dessa natureza, com ou sem valor mercantil, destinados ou não a atos de mercancia".
O valor do impresso registrado é, em média, R$ 6,50 para um livro. Se for enviado como PAC o valor aumenta assustadoramente. Só para dar um exemplo, meu livro como escrever roteiros custa 20 reais. Cobro 25 para arredondar, já incluindo o valor do frete. Se for enviar como PAC o valor só do frete fica entre 20 e 25 reais, dependendo da distância para onde está sendo enviado. Ou seja: um frete mais caro que o valor do livro.
Isso vai inviabilizar completamente a venda de livros por parte de escritores independentes. Grandes editoras têm grandes livrarias para vender e até descontos promocionais por parte dos Correios (no próprio e-mail isso é comentado). Para quem envia dois ou três livros por semana, resta pagar 25 reais de frete por um livrinho de 20 reais.
Pode ser uma pá de cal na emergente literatura de fantasia e independente, nos quadrinhos independentes.
Não sei o que pensar: se foi pressão das grandes empresas, se simplesmente é uma forma do Correio ganhar mais dinheiro, ou se é só para que o brasileiro leia menos.
Em todo caso, isso compromete tudo.
Atualização: Contestei os Correios quanto a isso e a resposta deles foi que livro só pode ser impresso se for doação. Assim, da mesma forma que deve vir no envelope a expressão IMPRESSO - PODE SER ABERTO PELOS CORREIOS, o ideal é que venha a informação de que é doação.
Escrevi ao SAC dos Correios e recebi a resposta abaixo, que deixa bem claro que livro é objeto de valor não podem ser enviados por carta. Aliás, uma resposta bastante confusa, já que no primeiro momento fala em venda e logo depois diz que "Objetos (Livros) dessa natureza, com ou sem valor mercantil, destinados ou não a atos de mercancia".
O valor do impresso registrado é, em média, R$ 6,50 para um livro. Se for enviado como PAC o valor aumenta assustadoramente. Só para dar um exemplo, meu livro como escrever roteiros custa 20 reais. Cobro 25 para arredondar, já incluindo o valor do frete. Se for enviar como PAC o valor só do frete fica entre 20 e 25 reais, dependendo da distância para onde está sendo enviado. Ou seja: um frete mais caro que o valor do livro.
Isso vai inviabilizar completamente a venda de livros por parte de escritores independentes. Grandes editoras têm grandes livrarias para vender e até descontos promocionais por parte dos Correios (no próprio e-mail isso é comentado). Para quem envia dois ou três livros por semana, resta pagar 25 reais de frete por um livrinho de 20 reais.
Pode ser uma pá de cal na emergente literatura de fantasia e independente, nos quadrinhos independentes.
Não sei o que pensar: se foi pressão das grandes empresas, se simplesmente é uma forma do Correio ganhar mais dinheiro, ou se é só para que o brasileiro leia menos.
Em todo caso, isso compromete tudo.
Atualização: Contestei os Correios quanto a isso e a resposta deles foi que livro só pode ser impresso se for doação. Assim, da mesma forma que deve vir no envelope a expressão IMPRESSO - PODE SER ABERTO PELOS CORREIOS, o ideal é que venha a informação de que é doação.
O uivo da Górgona é destaque no Catarse
Somos destaque na página do Catarse. Projeto recomendado! Confira:https://www.facebook.com/Catarse.me/?fref=ts
Correios em campanha contra a leitura
A modalidade impresso e registro módico foram criados para facilitar o envio de livros pelos Correios. Da mesma forma o registro módico. Mas agora muitas agências simplesmente estão se recusando a enviar impressos como impressos ou como registro módico. Entrei no site dos Correios e solicitei um esclarecimento a esse respeito. A resposta deles: livro não é carta, pois tem valor e, portanto, não pode ser enviado como impresso ou como registrado módico. E sugeriram enviar como encomenda (PAC), uma modalidade três vezes mais cara ou mais, dependendo da distância (em média o frete impresso de um livro sai pouco mais de 6 reais, o mesmo livro na modalidade PAC sai em média 20 reais).
Ou seja: os Correios resolveram acabar com o comércio de livros pela internet e com isso impedir que escritores independentes, que não conseguem entrar nas grandes redes de lojas, vendam seus livros diretamente para os leitores.
Ou seja: os Correios resolveram acabar com o comércio de livros pela internet e com isso impedir que escritores independentes, que não conseguem entrar nas grandes redes de lojas, vendam seus livros diretamente para os leitores.
terça-feira, novembro 03, 2015
O Uivo da Górgona chega a 68% da meta no Catarse
Faltando 19 dias para o final do prazo, alcançamos 68% da meta. Faltam apenas 32% para alcançarmos a meta e publicarmos o livro O uivo da Górgona. É pouco, mas se não alcançado, o livro será apenas um sonho.
Se você gosta dos meus textos, apoie o projeto e me ajude a publicar esse livro. Em troca você ganha várias recompensas. O valor mínimo é de 10 reais (tendo como recompensa o e-book).
Se não conhece o projeto, este é o link: https://www.catarse.me/pt/gorgona
segunda-feira, novembro 02, 2015
domingo, novembro 01, 2015
O Uivo da Górgona no Wattpad
É possível ler alguns capítulos da história no Wattpad:
https://www.wattpad.com/170764499-o-uivo-da-g%C3%B3rgona-untitled-part-1
https://www.wattpad.com/170764499-o-uivo-da-g%C3%B3rgona-untitled-part-1
O uivo da Górgona: falta pouco para alcançar a meta
O projeto O uivo da Górgona já alcançou 66% da meta no site de financiamento coletivo Catarse. Falta apenas 34% e 21 dias. Clique aqui e conheça a proposta do livro.
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