quarta-feira, março 22, 2017

O uivo da górgona - parte 16


16
Edgar ficou ali, parado, na dúvida. Tinham que entrar. Não podiam ficar expostos na rua, mas e se alguma daquelas... (coisas?) tivesse entrado? Era como entrar em uma armadilha.
Por fim, decidiu-se:
- Vamos.
Apurou os ouvidos, à medida que andava. Sentiu que a pele se arrepiava. Sofia segurava firme sua mão direita. Isso dava segurança para a menina, mas, por outro lado, tornava muito mais difícil a reação, caso houvesse algum ataque.
Avançou pela garagem. A coisa podia estar escondida atrás do carro. Foi avançando, lento, tentando ver algo, até ter certeza de que a garagem estava completamente livre.

- Oh, céus! – disse Jonas, lá atrás, empurrando-os. 

O que é o museu do holocauto?

O Museu do holocausto foi criado por Israel em 1953 em homenagem aos judeus vítimas do genocídio nazista. Além de várias exposições, o museu abriga 55 milhões de documentos, entre eles passaportes, registro de confisco de bens, deportações e papéis que incriminam nazistas e colaboradores. Além disso, o museu com conta com testemunhos de sobreviventes.
O museu conta com um trilho quebrado e um vagão original usado para transporte de judeus para campos de concentração. O vagão está quase caindo num abismo, lembrando que ele era o transporte para a morte.
Outro veículo do museu, mas com significado oposto, é uma ambulância da cruz vermelha sueca. Com o fim da guerra se aproximando, os suecos conseguiram autorização para resgatar pessoas em campos de concentração. 25 mil pessoas, a maioria mulheres e crianças, foram transportados em 36 ambulâncias.
Uma caverna serve de memorial para as 1,5 milhões de crianças judias mortas pelos nazistas. O lugar é iluminado apenas por velas e alto-falantes repetem o nome e a idade de meninos e meninas mortos pelos nazistas. Também há exposições com brinquedos usados como esconderijos de dinheiro e documentos.
Um bosque com 20 mil árvores representa os não-judeus que se arriscaram para salvar vítimas do nazismo. Placas identificam esses heróis. A primeira delas é dedicada a Oscar Schindler, que salvou milhares de judeus, trabalhadores de sua fábrica.

Um salão é o cenário de cerimônias em homenagem aos mortos. Um chama que jamais se apagou fica no centro e no chão estão gravados os nomes de 22 principais campos de concentração. 

terça-feira, março 21, 2017

O uivo da górgona - parte 15


15
Dessa vez foram ainda mais cautelosos ao sair. Jonas levantara a gôndola e empurrara para o lado as coisas que haviam caído – barbeadores, pilhas, colas rápidas. Queria o corredor desimpedido caso precisassem voltar rapidamente.
A rua agora estava vazia. O rapaz com camiseta de rock havia desaparecido e provavelmente havia se juntado ao grupo, se o tivesse alcançado.
- Por ali. – orientou Edgar.
Passaram pela casa fechada que Edgar havia visto antes. O barulho lá dentro continuava. Som de móveis quebrados atravessava o portão.
- Deviam estar com a casa trancada quando aconteceu. – explicou Jonas. Acho que não conseguem abrir portas e grades.
Edgar concordou:
- O instinto deles é sair e se juntar à multidão. Como não conseguem, estão destruindo a casa.
Quando chegaram à frente da casa, Edgar estancou:

- Deixei encostado. O portão não estava aberto dessa forma. 

É verdade que Mussolini era contrário ao holocausto de judeus?

Aparentemente sim. Documentos revelados recentemente pelo Vaticano revelam que o líder fascista mandou uma carta para seu amigo nazista em 1933 aconselhando-o a não se deixar conduzir por uma campanha anti-semita.
Hitler não deu a mínima. As primeira leis anti-semitas e o banimento de judeus do funcionalismo público aconteceram logo em seguida à carta.
Mussolini, ao contrário, manteve judeus em altos escalões do partido fascista até 1938.
Nos campos de concentração italianos as famílias permaneciam unidas, havia escolas e atividades culturais e não existiam câmeras de gás.

As razões de Mussolini tinham pouco a ver com ética e muito a ver com a demagogia. Ele sabia que a população italiana achava absurda as idéias relacionadas ao arianismo e não aprovaria a perseguição declarada aos judeus como aconteceu na Alemanha. 

segunda-feira, março 20, 2017

Baudolino e a obra aberta de Eco


Em Baudolino, Umberto Eco faz o que sempre fez melhor: contar histórias ambientadas na Idade Média. Seu outro grande sucesso, O Nome da Rosa, também acontece na chamada Idade das Trevas e talvez venha daí seu sucesso.

Eco tem outros textos, mais acadêmicos, em que compara a Idade Média com nossa época e diz que as semelhanças são maiores que as diferenças.

De fato, é grande a semelhança do período em que se passa Baudolino (1152 –1204) e os dias atuais.

Na época reinava na Europa o Imperador Frederico, que gastava mais tempo administrando os conflitos entre as cidades italianas do que com qualquer outra coisa. Da mesma forma, os pequenos países do Oriente Médio têm dado grande dor de cabeça para o todo-poderoso de nossa época, o presidente norte-americano George W. Bush.

E, se os italianos tinham o ouro de seu tempo (as especiarias), os mulçulmanos têm o ouro atual (o petróleo).

“Vale a pena viver nessas terras, onde todos parecem ter feito voto de suicídio, e onde uns ajudam os outros a se matarem?”, diz Baudolino, à certa altura do livro. Parece estar falando dos países do Oriente Médio, mas está se referindo à Itália.

Coincidências à parte, o livro vale pela inventividade. A história é contada a partir do relato de Baudolino, um mentiroso por natureza, que acabou sendo adotado pelo imperador Frederico após fazer uma previsão absolutamente falsa: “Quando se diz uma coisa que se imagina, e os outros dizem que é exatamente assim, acaba-se por acreditar nela, afinal. Assim, eu vagava pela Frascheta e via santos e unicórnios na floresta, e quando encontrei o imperador, sem saber quem fosse, falei em sua língua, e disse-lhe que São Baudolino me dissera que ele conquistaria Terdona. Disse-lhe isso para contentá-lo, mas para ele era conveniente que eu o dissesse a todos, e de modo especial aos mensageiros de Terdona, para que eles se convencessem de que também os santos estavam contra eles, eis a razão pela qual me comprou de meu pai”.

O livro começa com Baudolino salvando Nicetas, um sábio da corte de Constantinopla à época em que ela foi invadida pelas tropas européias. Nicetas faz um favor a seu salvador: ouve e escreve seu relato, na tentativa de contar a história de uma época.

Mas a empreitada é difícil. Baudolino é tão mentiroso que o sábio não consegue distinguir, entre o que ele fala o que é real e o que é falso. Muitas vezes o que parece real é falso e o que é falso parece real.

Baudolino é uma espécie de Forrest Gump da Idade Média. Com uma diferença: enquanto Forrest era um tolo, Baudolino é um espertalhão mentiroso.

A graça do livro está justamente aí: em ouvir uma história sem estar certo da idoneidade de quem a conta. De todos os fatos narrados, muitos são mentira e muitos são verdade, mas é impossível separa o joio do trigo.

Baudolino dá a impressão de ter sido escrito para provar uma das teses mais importantes de Eco: a obra aberta.

Na década de 60, quando o mundo das artes era sacudido por uma vanguarda pós-moderna, Eco escreveu um livro definindo o que ele chamou de Obra Aberta em oposição ao que ele chamou de discurso persuasivo, ou fechado.

O discurso persuasivo traz a mensagem pronta para o receptor. O leitor de um livro tem apenas o trabalho de descobrir o que o escritor pretendia com seu livro. Uma única leitura era a permitida.

A obra aberta revolucionava o sentido da arte forçando o receptor a ter participação ativa no processo de fruição. Assim, cada pessoa que lesse um livro ou ouvisse uma música deveria ter um entendimento próprio sobre seu significado. Já não havia mais certezas a serem desveladas. O próprio conceito de realidade é colocado em questão. Pela teoria da relatividade, cada observador teria sua própria interpretação de realidade, dependendo do ponto em que estivesse observando determinado fenômeno.

Da mesma forma, em Baudolino, realidade é o que o protagonista conta, mas ele pode estar mentindo e, assim, a realidade é relativizada. O leitor não deve confiar nem mesmo no narrador.

Mas não é necessário conhecer o conceito de obra aberta para gostar de Baudolino. Eco, como sempre, consegue transformar temas complicados (como a política medieval) em uma leitura deliciosa que envolve uma história policial, lendas medievais, uma expedição em busca do Santo Graal e até uma referência à Alexandria, cidade natal do escritor.

Outro destaque é a capa, belíssima, com impressão em prata.

Um livro para ler e reler e encontrar novos significados a cada nova leitura. 

O que aconteceu com os cientistas judeus na Alemanha?

A maioria fugiu, a exemplo de Albert Einstein, que foi para os EUA em 10 de março de 1933, logo no início do regime nazista.
A situação desses cientistas ficou bem clara em 6 de maio de 1933. Nesse dia, Max Planck, um dos cientistas mais importantes da época e pai da física quântica, teve uma reunião com Hitler. Ele queria evitar a demissão do químico Fritz Haber, de origem judia. Haber havia sido um dos principais responsáveis pelo uso de produtos químicos na I Guerra Mundial. Além disso, a técnica de fixação da amônia a partir do nitrogênio, inventada por ele, permitiu a criação tanto de explosivos quanto de fertilizantes baratos.
Planck argumentou que existiam diversos tipos de judeus, alguns valiosos e outros inúteis para a humanidade e que Haber estava entre os que eram valiosos. Hitler ficou histérico e começou a berrar, tremendo de raiva: “Se a ciência não pode passar sem os judeus, teremos que passar sem a ciência”.

Era a sentença de morte para todos os cientistas de raças indesejáveis que continuassem na Alemanha. Muitos do que fugiram para os EUA iriam contribuir para que aquele país fosse o primeiro a desenvolver a bomba atômica. 

O uivo da górgona - parte 14


14
O garoto continuava seu caminho, lenta, mas decididamente. Não demoraria para encontrar com Edgar. Então ouviu-se um barulho alto, na rua.
Edgar abriu os olhos e arriscou olhar por entre os salgadinhos.
O zumbi parara, indeciso. Por um instante, pensou continuar na mesma direção. Então houve outro barulho e ele se virou completamente, naquele movimento estranho, dos braços esticados ao longo do corpo e imóveis.
Edgar esticou a cabeça. Havia duas latas de leite caídas do lado de fora, abertas com seu conteúdo branco manchando o asfalto negro.
O rapaz foi até elas, intrigado, e ficou ali, olhando à volta por alguns instantes antes de afastar-se e sumir de vista.
Jonas se aproximou, por entre as prateleiras:

- Melhor irmos agora. 

O que era O trinfo da vontade?

É um filme-documentário realizado por Leni Riefenstahl em 1936. Ela documentou o Congresso Nacional do Partido Nazista e o fez com tal apuro estético que até hoje sua estética é padrão em muitas propagandas políticas. A produção contou com 135 pessoas e 30 câmeras.
O filme destaca a comunhão mística entre Hitler e a massa, enaltecendo-o.
O jogo de câmera, feito para destacar a grandeza do evento e a superioridade do Fuhrer são até hoje elogiados por especialistas. As tomadas de baixo, ascendendo pelos mastros das bandeiras sublinhava as dimensões colossais do evento. Travellings ao longo das formações militares acentuava a rigorosa ordem e o poder alemão. No vazio entre as formações e colunas, surge Hitler, quase como um deus ariano.
Nas primeiras sequências, o Fuhrer chega de avião, como um messias. As nuves se abrem à medida em que o avião se aproxima, como se ele abrigasse um messias.
No alto, sobre um palanque, Hitler domina o ambiente. Se ele pede aplausos, a multidão responde imediatamente. Se ele pede silêncio, todos se calam. Se a multidão interrompe sua fala com aplausos, ele sorri, satisfeito.

Partes do filme ainda hoje podem ser vistas em sites de compartilhamento de vídeo, como o Youtube. 

Os companheiros do crepúsculo

    
 Entre os artistas franceses da nova geração, surgidos na década de 1970, um nome se destaca não só pela qualidade dos desenhos, mas, principalmente, pelo ótimo roteiro. Trata-se de Français Bourgeon, criador da série Companheiros do Crepúsculo.
     Bourgeon nasceu em Paris, França, em 1945 e começou sua carreira artística pintando vitrais em catedrais e restaurantes da Inglaterra. Esse começo ia ter grande influência em seu trabalho posterior, principalmente no detalhismo de seu traço.
     Em 1973 ele começou a desenhar a série infantil Brunelle et Colin (com texto de Robert Genin) para a revista Lissete, mas seu primeiro trabalho mais autoral só viria em 1978, quando ele desenhou Malthe Guillaume para o texto de P. Dhombe.
     Em 1979 surgiu a primeira série com roteiro seu, Passageiro do Vento, um clássico dos quadrinhos europeus. A personagem principal da série é Isa, uma moça boa de tiro que se veste de homem para trabalhar num navio.
     Bourgeon conta que começou a fazer passageiros do vento para aproveitar seus conhecimentos sobre a marinha do século XVIII: ¨Pensei em fazer uma aventura de corte bastante clássico, no espírito das novelas de capa e espada... depois a aventura ficou em segundo plano e me dediquei a explicar a relação entre os personagens¨.
     A série tem cinco álbuns. Os melhores são os três últimos, quando Isa, o marido e uma amiga vão para a África a bordo de um navio negreiro. Bourgeon mostra em detalhes o funcionamento do tráfico de escravos, o modo de vida dos negros, a relação entre as tribos (muitas da quais viviam de vender escravos aos brancos).
     Embora a HQ denuncie as atrocidades cometidas contra os negros, os personagens não se dividem em heróis e vilões. Ao contrário, são tridimensionais, na tradição da boa literatura.   
     Em 1983, Bourgeon lança seu trabalho mais importante: a série Companheiros do Crepúsculo. Dessa vez a história se passa na Idade Média, que é mostrada com um realismo poucas vezes visto nos quadrinhos, inclusive em termos de violência. O autor mostra a fome, a peste, a luta entre plebeus e a nobreza... em um das seqüências, um grupo de soldados passa por uma vila, vindos da guerra e destroem tudo, violentam as moças, matam os homens e usam a barriga de uma gestante como alvo para sua flechas. Tudo baseado em fatos reais, documentados.
     A história também flerta com o fantástico ao mostrar duendes e tradições da magia celta.
     Os personagens principais são um cavaleiro de rosto deformado, que anda à procura da morte para acertar umas contas; um pajem que foi encontrado pendurado em uma forca e Mariotte, uma rapariga ruiva.
     A moça acaba se tornando a personagem principal da série: ¨As mulheres têm em minhas histórias o mesmo papel que têm na vida de muitos indivíduos. Sem mulher eu não existiria, sem ela a vida não teria muito interesse¨.
     Outro aspecto interessante em Companheiros do Crespúsculo é o fato do leitor nunca saber ao certo o que é realidade e o que é sonho. Essa impressão é particularmente forte nos dois primeiros números. No terceiro álbum, Bourgeon tornou mais realista a história, dedicando-se a analisar as relações sociais na época da Idade Média.

     Em tempo: Companheiros do Crepúsculo foi publicado no Brasil em volume único pela editora Nemo. 

Choques futuristas


Certa vez um quadrinista iniciante me disse que era impossível fazer uma boa história em quadrinhos com menos de 15 páginas. Um dos melhores exemplos do quanto errado é esse raciocínio é o álbum Choques Futuristas, de Alan Moore e vários artistas, lançado recentemente pela editora Mythos. O álbum reúne histórias curtas escritas por Moore para a revista 200 AD. A maioria tem duas ou três páginas e as maiores seis páginas. Todas obras-primas. 
A capacidade de síntese desenvolvida por Moore nesse início de carreira foi um fator fundamental para outras grandes obras posteriores - quando finalmente teve condições de escrever quadrinhos mais longos, Moore soube valorizar cada página, produzindo quadrinhos nos quais a retirada de um único quadro faria a diferença.
As histórias variam entre o humor negro, a ficção científica e a fantasia.
Entre as melhores histórias eu destacaria a sequência de distorções temporais, em especial "Circuito", sobre uma moça que rouba um carro e descobre que ele é na verdade uma máquina do tempo. Em apenas 5 páginas, Moore constrói uma narrativa poderosa e surpreendente ao deixar o leitor fazer as descobertas ao mesmo tempo que a personagem.
Outro destaque é "Máquina do tempo", sobre um homem tentando retornar aos bons momentos do passado e modificar sua história. Nessa história podemos antever toda a poesia que Moore desfilaria em Monstro do Pântano.
 Enfim, se você também acha que são necessárias muitas páginas para contar uma boa história, compre o mais rápido possível Choques futuristas.

domingo, março 19, 2017

O uivo da górgona - parte 13


13
Era rapaz de não mais de 17 anos. Tinha cabelos negros e compridos, pouco abaixo dos ombros. Usavam uma camisa preta de banda de rock e calças jeans. Tinha perdido o tênis All Star de um dos pés, mas parecia não se preocupar com isso. Andava de uma maneira estranha, que seria engraçada em outra situação: mantinha os braços junto ao corpo, a cabeça balançando levemente, os cabelos indo e vindo, como se estivesse num show.
Ela parou na entrada, como um cachorro que fareja o ar, mas na verdade buscava algum som. Edgar rezou para que a menina não chorasse.
Uma embalagem de pilhas desabou da gôndola caída, chamando sua atenção. Ele andou lentamente até ela: agora, ao movimento de vai e vem acrescentara outro: um girar da cabeça de um lado para o outro, como uma câmera de vigilância.
Após um momento de indecisão, ele avançou pelo corredor no fim do qual estavam Edgar e Sofia.

Edgar fechou os olhos e rezou. 

Morreu Bernie Wrightson


Morreu o criador visual do Monstro do Pântano. Mais um mestre que se vai.

Como os judeus eram mostados nos filmes nazistas?

Os judeus eram as vítimas preferenciais da propaganda nazista. O objetivo dos filmes da época eram mostrar que eles eram desumanos e sua convivência com outros povos intolerável.
Todos deveriam odiar os judeus e aqueles que não achassem suficientes as explicações para tal ódio deveriam se sentir culpados. Os principais filmes a seguir esse raciocínio foram produzidos justamente na época em que se planejava a solução final.
O Rothschilds mostra como os judeus fizeram fortuna na época das guerras napoleônicas, enquanto o povo ficava na miséria. A figura do judeu por si só devia causar repulsa: tem mãos aduncas, rosto encarniçado, olhar sádico e vivia sempre às custas dos outros.
O Judeu eterno, de Hippler, um soldado da SS, não economiza nas tintas. Quando fala da sujeira dos judeus, aparecem moscas na tela. Quando se refere à forma como os judeus se espalharam pela Europa, mostra ratos andando por um mapa. Quando diz que os judeus são preguiçosos e só trabalham sobre pressão, mostra judeus descansando apoiados em pás.
Mas a obra-prima do cinema anti-semita é O judeu Suss, de Veit Harlan. Realizado com apuro técnico, bom roteiro e direção, o filme evitou a pecha de anti-semita por desejar ser visto como um filme histórico. No entanto, a película deturpa completamente a figura histórica de Süss Oppenheimer (1692-1738), conselheiro do duque Carlos Alexandre.
Na história real, Suss é preso após a morte do duque pelas corporações que haviam perdido poder durante a gestão de Carlos Alexandre.
Mas no filme de Harlan essa trama é escondia. Suss é simplesmente um judeu pérfido, que explora o povo e quer copular com a heroina loira, jovem e ariana.
Todas as cenas em que aparecem os judeus são sombrias, como se eles só agissem nas sombras. Quando ele é enforcado em praça pública e os judeus expulsos da cidade, o céu se abre e cai neve, como que limpando a sujeira e tomando de branco a cena. De fundo, uma música religiosa de rendenção.
O protagonista principal foi Ferdinand Marian, no papel de judeu sombrio e traiçoeiro, que representava um perigo físico e moral para a sociedade alemã, segundo a ideologia nazista. O papel feminino de destaque foi assumido por Kristina Söderbaum, a esposa de Harlan, que incorporava como nenhuma outra as supostas características da mulher ariana: loura, olhos azuis e raça nórdica.
O filme era considerado tão importante por Goebbels que seu diretor recebeu recursos ilimitados. Pôde até escolher figurantes judeus nos guetos.
O filme fez sucesso extraordinário. Não bastassem isso, ele era assistido obrigatoriamente por todos os soldados alemães nos campos de concentração, preparando os soldados para o extermínio de judeus.

Seu diretor chegou a ser processado no pós-guerra, acusado de crime contra a humanidade. Seu filme foi proibido, mas ele conseguiu ser absolvido com o argumento de o filme tinha sido desfigurado por Goebbels. 

sábado, março 18, 2017

Borges sensacionalista


Infâmia, segundo o dicionário: ação ou ato infame. Desonra, ignômia, torpeza.

É justamente casos de desonra, ignômia e torpreza que Jorge Luis Borges pretende coletar no livro “História Universal da Infâmia”, relançado este ano pela editora Globo.

A origem do volume remonta a 1933, quando Natalio Botana, para escândalo dos jornais sérios, lançou o periódico “Crítica”, de orientação sensacionalista. Como os concorrentes tinham seus cadernos literários, o Crítica lançou a revista Multicolor de los Sábados.

A revista, belamente ilustrada, misturava literatura com jornalismo marrom na tentativa de agradar ao paladar da massa.

Borges, convidado a colaborar, teve de adequar sua prosa a essa demanda. O resultado foi uma mistura de jornalismo com literatura, de fatos reais com imaginários, ao estilo do que fazia Edgar Allan Poe.

História universal da Infâmia reúne histórias de ladrões, piratas, assassinos e mentirosos. Mas não se engane: Borges consegue fazer dessas histórias, típicas do jornalismo marrom (que um intelectual brasileiro definiu muito bem com a frase “se espremer sai sangue”) verdadeiras obras de arte da literatura do século XX.

As histórias prendem o leitor pelo inesperado.

É o que ocorre, por exemplo, com “O Atroz Redentor Lazarus Morell”. Morell era um pilantra, líder de uma quadrilha que estendia sua atuação por vários estados dos EUA no século XVIII. Sua riqueza vinha de um estratagema simples: ele e seus comparsas convenciam os negros a fugirem das fazendas e lhes providenciavam os meios para a fuga. Quando o negro fugia, ele o pegava e vendia para outro fazendeiro. Era uma mina de ouro.

Morell era tão infame que costumava fazer pregações religiosas que entretiam toda a população de uma cidade enquanto seus comparsas roubavam os cavalos da audiência.

Outra história absolutamente inesperada e que dá o tom do volume é “O Impostor Inverossímil Tom Castro”.

Em 1854 naufragou no Atlântico o vapor Mermaid, que ia do Rio de Janeiro a Liverpool. Entre seus passageiros estava o militar inglês Roger Charles Tichborne. A mãe, recusando-se a acreditar na morte do filho, passou a publicar nos principais jornais do mundo anúncios pedindo informaçòes sobre o mesmo.

Tom Castro, um marinheiro inglês filho de açougueiro resolveu se passar por Tichborne. Não poderia existir duas pessoas mais diferentes. Enquanto Tichborne era alto, magro, tez morena, cabelo negro muito liso, e falava com sotaque francês, Tom de castro era baixo, gordo, sardento, cabelos encaracolados castanhos e não falava uma vírgula de francês.

Ainda assim, Castro conseguiu enganar a mãe do militar e grande parte da sociedade inglesa da época. O argumento é que a diferença entre os dois era tão grande que ninguém seria tão doido de se passar por outro sem nem ao menos tentar alguma alteração física. Portanto, aquela criatura completamente diferente só poderia mesmo ser Tichborne mudado pelos ares do Brasil.

Histórias como essa triscam no burlesco. Outras são impressionantes, como “O Tintureiro Mascarado Hakin de Merv”. Nela, um profeta aparece com uma cabeça de boi cobrindo o rosto e argumenta que foi visitado pelo anjo Gabriel, que lhe alterou o rosto de tal forma 
que, quem o visse ficava cego com a beleza divina do mesmo.

Hakin arrebanha milhares de fiéis, cria para si um harém de 100 belas mulheres cegas e coloca em perigo o califado.

A cena em que ele é desmascarado está certamente entre as mais chocantes da literatura universal.

Borges acrescenta ao livro um índice de fontes bibliográficas. Mas apenas para enganar o leitor. A fonte do conto sobre o falso profeta simplesmente não existe, dando a entender que Borges inventou a história.

Essa, aliás, era a principal característica de Borges. Ele tinha intenção de fazer o leitor confudir realidade com ficção no que ficou, mais tarde conhecido como realismo fantástico.

Vale destacar nessa edição o cuidado gráfico que a editora Globo dispensou ao volume. O formato, menos largo que o normal, dá uma elegância indiscutível ao livro. Além disso, a capa traz uma ilustração de Will Eisner, um dos maiores desenhistas de histórias em quadrinhos de todos os tempos. Não há como passar despercebido na livraria. “História Universal da Infâmia”salta ao olhos e chama nossa atenção no meio dos outros livros.

Um cuidado editorial que prestigia a genialidade de Borges, considerado por muitos, inclusive o autor desta resenha, o mais importante escritor do século passado.

Para os leitores brasileiros o livro tem uma atração a mais: o conto “A História dos Dois que Sonharam” que inspirou Paulo Coelho a escrever “O Alquimista”. 

Qual era a importância do cinema para os nazistas?

Depois dos comícios, os filmes eram a principal forma de divulgação dos ideiais nazistas. Durante os 12 anos do regime, foram produzidos 1350 longa-metragens. Muitos eram comédias românticas, operetas e  filmes de costumes, mas todos tinham algum tipo de conteúdo ideológico, fosse num diálogio ou numa imagem sugestiva. Desses, 96 foram produzidos diretamente pelo Ministério da Propaganda, criado em 1933 e chefiado por Goebells.
Um dos primeiros exemplares dessas películas é O SA Brand (de 1933), que conta a história de um menino pobre, membro da juventude hitlerista e protegido de um SA. Vítima das batalhas entre nazistas e comunistas, ele balbucia, antes de morrer: “Agora vou para o meu fuhrer”.
Um dos maiores sucessos do cinema nazista foi O jovem hitlerista Quex. Quex é um rapaz alemão pobre. Ele é levado a um piquinique comunista, mas se assusta com a libertinagem do ambiente. Enojado, ele ouve o som de uma marcha militar e, extasiado, resolve descobrir de onde vem a música e descobre um grupo nazista. Em casa, ele repete para a mãe a música, mas é surpreendido pelo pai, um alcoolatra mal-carater, que surra o menino para obrigá-lo a cantar a Internacional Comunista. Quem o protege da brutalidade do pai e dos comunistas são seus amigos nazistas. O rapaz acaba perdendo a mãe, mas o pai se regenera, deixa de beber e torna-se nazista. Finalmente, Quex é assassinado por comunistas quando panfletava em um bairro pobre. Antes de morrer, ele imagina uma multidão de rapazes uniformizados como membros da juventude hitlerista.
Ele agoniza cantando o hino da juventude nazista, num êxtase político.

Nos filmes nazistas da época, os alemães eram generosos e lutam contra os brutos russos e os covardes ingleses. Aliás, um dos filmes, sobre a Irlanda, diz que os ingleses colocam o povo local em campos de concentração. Tudo aquilo que existia na Alemanha da época (tortura, genocídios, perseguições políticas, campos de concentração) é mostrado como sendo algo que está sendo feito pelo inimigo. 

É verdade que Hitler era vegetariano?

Vários historiadores afirmam que sim. Janet Barkas, no livro "The Vegetable Passion" (A Paixão Vegetal) e Colin Spencer no livro "The Heretics Feast" (O Banquete dos  Heréticos), apóiam essa idéia. Sabe-se que Hitler foi colocado sob dieta vegetariana pelos médicos como uma tentativa de curar sua flatulência e outros problemas estomacais.
Entrentato, biógrafos do ditador, como Albert Speer, Robert Payne, John Toland, e outros falam da preferência de Hitler pelas salsichas de presunto e carnes defumadas.
Dione Lucas era diretamente responsável pela cozinha de Hitler em Hamburgo no final da década de 1930. E ela afirma, no Livro das receitas da escola de culinária fina, que o prato favorito do Fuhrer era squab recheado (um prato feito com filhote de pombo domésticado): "Eu não pretendo diminuir seu apetite pelo Squab recheado, mas você pode se interessar em saber que ele era um prato favorito do Sr. Hitler, que jantava no hotel frequentemente." .
Apesar da dieta proposta pelos médicos,  a maioria dos autores diz que Hitler os tapeava comendo carne de tempos em tempos. Aparentemente, a fama de que ele era um vegetariano convicto se deve a Goebbels, ministro da propaganda, que percebeu aí uma oportunidade de mostrá-lo como santo.

Idependente de ser vegetariano ou não, sabe-se que ele adorava doces, se empanturrava de chocolate e comia porções enormes de bolo. 

O uivo da górgona - parte 12


12
Pareceu uma eternidade, como se o tempo tivesse parado ou fosse um filme em câmera lenta. Jonas se virou para eles e fez um gesto para que voltassem. Edgar levou alguns segundos para obedecer, mas antes olhou para a rua.
Um zumbi solitário estava lá. Parecia perdido, como se sentisse a ausência da solidão. Olhava para o outro lado e parecia não tê-los percebido.
Edgar segurou a menina pela mão e a puxou para o fundo da mercearia. Estava quase de volta ao local onde se escondera antes, entre os salgadinhos e os refrigerantes, quando ouviu um barulho atrás de si. Girou a cabeça e olhou por cima dos ombros. Jonas tinha encostado em uma gôndola. Ela se manteve num movimento instável e finalmente caiu, com um estrondo.
(oh, não, barulho os chama como imã)
Ainda como se estivesse em câmera lenta, ele se escondeu no mesmo local de antes. Olhou em volta e não encontrou Jonas.

Foi quando o zumbi entrou. 

sexta-feira, março 17, 2017

Blueberry


O faroeste sempre foi um gênero popular na Europa, com vários personagens e vários tipos de abordagens. Mas, no meio de tantos heróis, um se destacou e se tornou um verdadeiro clássico: trata-se de Blueberry, criação do roteirista Jean-Michel Charlier em dupla com o desenhista Jean Giraud, que posteriormente viria a assinar Moebius.
     Blueberry revolucionou ao mostrar um personagem que foge completamente do estereótipo do cowboy clássico: ele é um beberrão, jogador inveterado e indisciplinado. Em outra palavras: um anti-herói. Além disso, constantemente, Blueberry toma partido em favor do índios, uma novidade total, já que até então, com raras exceções, os índios eram mostrados como vilões.
     Além disso, as histórias de Blueberry mostravam um personagem que evoluía e se tornava mais experiente com o tempo. Aliás, essa cronologia era mostrada de forma não-linear, pois a juventude do personagem só foi contada depois que ele já era famoso.
     Jean-Michel Charlier, o roteirista, é uma verdadeira lenda nos quadrinhos franco-belgas. Aos 23 anos ele abandonou o curso de Direito para se dedicar aos quadrinhos. Começou escrevendo aventuras do aviador americano Buck Danny para a revista Spirou, em parceria com o também belga Victor Hubinon. Em 1959, junto com René Goscinny e Albert Uderzo, fundou a revista Pilote, posteriormente comprada pela editora Dargaud. Para o traço de Uderzo, criou os aviadores Tangui e Laverdure. Para Hubinon criou a série juvenil Barba Ruiva, sobre um garoto filho do famoso pirata.
     Jean-Giraud é, talvez, o desenhista europeu mais famoso de todos os tempos. Ele começou sua carreira como assistente de Jijé, criador do cowboy Jerry Spring. Seu primeiro trabalho importante foi justamente o tenente Blueberry. Inicialmente imitando Jijé, ele foi aos poucos criando um traço próprio, extremamente detalhista e original. Mas mesmo nas pranchas iniciais de Blueberry já é possível perceber que ele tinha um talento incomparável. Seu detalhismo chegava ao ponto de, ao desenhar um saloon, colocar dezenas de pessoas em posições diferentes. Na década de 1970, Jean-Giroud mudou seu nome para Moebius, juntou-se com outros desenhistas e roteiristas e revolucionou os quadrinhos franceses com histórias surrealistas de ficção-científica e fantasia para a revista Metal Pesado.
     A junção desses dois mestres não poderia resultar em algo que não fosse uma obra-prima. Embora outros cowboys (como tex) possam ser mais famosos, Blueberry é considerado pela maioria dos críticos como o ponto alto do gênero (honra que é disputada apenas com o quadrinho italiano Ken Parker).
     Charlier fez uma verdadeira investigação sobre a época, retratando de maneira muito detalhista o cotidiano do velho oeste. Além disso, ele introduziu fatos e personagens reais em sua história, num recurso característico da pós-modernidade que seria imitado posteriormente por outros autores.

     Se por um lado, Charlier teve uma grande preocupação histórica, ele também não descuidou da aventura. Como as aventuras de Blueberry eram publicada em seminários antes de serem juntadas num álbum, o roteirista colocava um gancho de suspense no final de cada página, deixando o leitor curioso para ler o resto. Essa técnica virou quase que um padrão no quadrinho europeu. 

Como eram os comícios nazistas?

Um dos mais importantes instrumentos de propaganda nazista eram os comícios. Eles eram assistidos por centenas de milhares de pessoas. Para que os presentes fossem envolvidos pela idéia da alemanha grandiosa, os cenários eram cuidadosamente pensados e teatrais. Tudo era imenso: colunas, suásticas, símbolos.
No início o próprio Hitler desenhava os cenários, mas depois ele contou com preciosa colaboração do arquiteto Albert Speer. Speer comprendia melhor que ninguém a explosão de emoção nas quais deveriam ser transformados os comícios.
No meio de toda essa grandiosidade, holofotes dirigiam fachos de luz para um ponto central mais elevado, no centro do espetáculo. Para essa catedral de luz, Hitler marchava solenemente, seguido por uma grande procissão.
Saudações estrondosas emcobriam o som da banda de música. O fuhrer subia e ficava lá, esperando o silêncio total.
De repente aparecia na distância uma procissão vermelha  que avançava na direção do líder. Eram 25 mil bandeiras nazistas, um verdadeiro mar de suásticas.

Quando Hitler começava a falar, toda a multidão já se encontrava em um estado de fervor e excitação extremos.

Shazam