segunda-feira, julho 31, 2017

Guerra dos Tronos e a manobra Kansas City

ATENÇÃO: Contém spoiller
O episódio de ontem de GOT(3o da sétima temporada) foi um bom exemplo do uso no roteiro da chamada Manobra Kansas City. Essa expressão surgiu no filme Cheque mate e exemplifica a técnica usada pelos mágicos: faça todos olharem para a direita, enquanto o que é realmente importante está acontecendo à esquerda. 
É um dos expedientes prediletos de George Martin e um dos atrativos da série, uma das razões pelas quais alguns episódios surpreendem o público.
No episódio em questão acompanhamos o ataque das forças de Danierys ao rochedo Casterly, sede da família Lannister. Sob a narração de Tyrion, acompanhamos como os soldados irão invadir o castelo através de uma passagem secreta ao invés de um ataque frontal. A narrativa enaltece as habilidades e motivações dos soldados da rainha dos dragões, que lutam por fidelidade e amor a ela. O heróismo da narrativa irá constrastar com o fracasso da missão, criando uma ironia narrativa que pega o expectador desprevenido.
Mas, enquanto ocorre o ataque, que parece um sucesso, acontece, Jamie Lannister está comandando um ataque aos Tyrell, o reino mais rico e estratégico dos sete reinos.
Ou seja: Danierys conseguiu um rochedo cujas riquezas já foram todas exauridas e Cercei agora tem em suas mãos uma riqueza incalculável, que irá abastecer seu exército e pagar suas dividas.
Aliás, o ataque aos Tyrell é uma pérola da elipse: vemos apenas o exército chegando e depois Jamie caminhando entre os defensores, mortos e, finalmente, conversando com a derrotada avó Tyrell.

É verdade que o mascote dos soldados nazistas era um judeu?


Sim, o menino que era usado em filmes de propaganda e era chamado de o nazista mais jovem do III Reich, era, na verdade, um órfão judeu.
Ilya Galperin era um menino judeu que teve toda a sua família morta pela SS durante a invasão da Bielorússia.
O menino, de apenas cinco anos, viu todos os homens do local serem enfileirados e mortos. “Eu não queria morrer, então no meio da noite eu tentei escapar. Dei um beijo na minha mãe e corri para as colinas ao redor da vila.”. se não fosse isso, teria morrido junto com sua mãe e seus irmãos. Ele ficou lá na floresta, escondido, até que os tiros parassem, então tentou buscar ajuda.
Ele batia nas portas das pessoas, implorando por ajuda. Elas lhe davam pão, mas o mandavam embora.
Ilya Galperin passou nove meses na floresta, até ser denunciado por um homem à SS e levado para um local de execuções.
Ele então se aproximou de um soldado e lhe disse: “Antes de me matar, poderia me dar um pedaço de pão?”. O soldado o levou para trás de um prédio. “Você é judeu e isso não é bom”, afirmou o soldado. “Eu não quero te matar, mas se eu te deixar aqui, você vai morrer. Vou te levar comigo, te dar um novo nome e dizer aos outros que você é um órfão russo”.
A solidariedade daquele sargento alemão, Jekabs Kulis, não só salvou o menino, como lhe deu um destino totalmente imprevisto. Como tinha todas as características de um garoto ariano, o menino, rebatizado de Alex Kurzem, tornou-se um símbolo da juventude nazista.
Eles lhe deram um uniforme, uma pequena arma e uma pistola. A função do garoto era fazer pequenos serviços, como pegar água, mas seu principal trabalho era manter elevado o moral as tropas.
Ele protagonizava filmes de propaganda e era até usado para atrair judeus para a morte. Nas estações de trem que levavam os judeus para a morte, Alex distribuía chocolate para fazê-los entrar nos vagões.
Quando a guerra estava perto do fim, ele foi entregue a uma família da Letônia. Depois foi para a Austrália, onde manteve seu passado em absoluto segredo.
Em 1997, ele decidiu revelar o segredo para sua família e começou uma jornada para descobrir mais sobre seu passado com o filho, Mark. Depois de visitarem a vila onde ele nasceu, eles descobriram que seu nome verdadeiro era Ilya Galperin e recuperaram um filme no arquivo da Letônia em que Alex aparecia com uniforme completo da SS.


domingo, julho 30, 2017

Zona do crepúsculo


Quando comecei a parceria com Bené, essa série já estava sendo publicada na revista Calafrio. Bené tinha publicado uma primeira história, sobre um ladrão que entra num antiquário e acaba se dando muito mal. Ele denominou essa HQ simples de Zona do Crepúsculo em homenagem ao título original do seriado Além da imaginação.
Depois percebeu que havia ali potencial para uma série. Então veio Sonhos de outono.
E Belzebu, nossa primeira juntos nessa série. Lembro que Bené chegou um dia comentando que havia descoberto que Belzebu significava demônio das moscas e achava que isso podia ser aproveitado numa HQ. O resultado foi uma história totalmente não-linear, cheia de flash backs e com um forte conteúdo social. No fundo, o demônio não seria o preconceito? Gostamos tanto do resultado que passamos a usar narrativas não-lineares em quase todas as histórias que fizemos juntos depois disso.
Então o Rodolfo Zalla pediu uma última história para fechar a série, uma história que juntasse as outras.
Mas como? Não parecia haver nada em comum entre elas. Quebramos a cabeça durante muito tempo até perceber que, sim, havia algo em comum: o dono da loja de antiguidades! Assim focamos o último capítulo nele, inclusive com referências às outras.
O leitor mais atento vai perceber uma influência óbvia: A piada mortal. Sim, o demônio da história é nossa versão do Coringa.
Uma curiosidade nessa história é que Bené inverteu o processo. Ou seja: ao invés de desenhar em preto sobre papel branco, ele desenhou em branco sobre papel preto, uma técnica que poucos dominam.
Zalla estava gostando tanto da Zona do Crepúsculo que nos pediu uma capa. Nossa história ia ser a grande destaque da revista! De novo, tínhamos um desafio: como fazer essa página sem revelar o conteúdo a HQ e dentro do espírito. A forma como solucionamos isso mostra como já estávamos afinados à essa altura do campeonato. Passamos longos minutos em silêncio, matutando, e, de repente, os dois soltaram:
- Tive uma ideia!
E era a mesma ideia: o dono do antiquário abrindo a porta, com olhar assustado, a imagem vista como se o leitor fosse quem estivesse do outro lado da porta.

Não adiantou muito. Logo depois a revista acabou e tanto a capa quanto a última parte acabaram não sendo publicados na Calafri. A série só saiu completa na Calafrio mais de 20 anos depois, na nova versão de revista. A revista tem 52 páginas ao preço de R$15,00. Os pedidos da edição e números atrasados podem ser feito pelo e-mail: revistacalafrio@gmail.com.

O Papa Bento XVI era nazista?

A eleição do cardeal Joseph Ratzinger para o cargo máximo da Igreja católica provocou muita polêmica, pois muitos diziam que o futuro Papa era nazista.
De fato, Ratzinger participou da juventude hitlerista, uma agremiação  de jovens que se vestiam como as milicias nazistas. Além disso, ele chegou a ser convocado para a artilharia anti-aérea para proteger uma fábrica da BMW nos arredores de Munique. Depois foi deslocado para a fronteira da Áustria com a Hungria para construir armadilhas contra tanques. Nessa fase, ele desertou, voltando para sua casa e sendo preso pelos soldados aliados.
Entretanto, ele nunca foi filiado ao partido nazista. John Allen autor do livro Cardeal Ratzinger: O Cumpridor da Fé do Vaticano, afirma que as críticas do pai de Ratzinger aos nazistas fizeram com que a família fosse obrigada a se mudar quatro vezes.

Allen afima que, sobre a época de Hitler, "Ratzinger diz que viu os nazistas torcerem e distorcerem a verdade". "Suas mentiras sobre judeus, sobre genética, eram mais do que exercícios acadêmicos. Pessoas morreram aos milhões por causa deles."

sábado, julho 29, 2017

Gotye - Hearts A Mess - official video

O que aconteceu com os militares que tentaram matar Hitler?


O antentado contra Hitler despertou a fúria do ditador. Ele ordenou a Himmler, o chefe da SS, que fosse implacável e usasse o princípio Sippenahft. Esse é um termo jurídico da Idade Média segundo o qual todos os membros de um clã deveriam ser responsabilizados pelo crime de um de seus membros.
O resultado disso foi a morte de 4.980 pessoas. Toda a outrora orgulhosa e arrogante elite militar prussiana foi dizimada pelos nazistas.
Os marechais e generais suspeitos de terem participado do atentado foram condenados à morte pelo tribunal do povo, presidido pelo juiz nazista Roland Freisler. A forma da morte era particularmente humilhante e dolorosa: eles foram enforcados com cordas de piano. Muitos, como Rommel, a raposa do deserto, preferiram se suicidar.

Hitler mandou filmar todas as execuções. Cada estertor dos conspiradores foi filmado e projetado para o fuhrer, que se regozijava ao ver o filme. Historiadores analisam o episódio como uma vingança do plebeu ressentido e desprezado contra a aristocracia alemã. 

sexta-feira, julho 28, 2017

O super-brasileiro


- Oi Gian, eu adicionei você porque gosto muito dos seus roteiros. 
- Obrigado. 
- Olha, eu tenho uma proposta irrecusável para vc. 
- Ah, tá. Beleza. 
- Eu tenho um personagem chamado Super-brasileiro e podia ter escolhido qualquer roteirista, mas escolhi você para escrever as primeiras histórias. 
- Er... bem... obrigado. Mas vai sair como revista? Já tem editora?
- Cara, presta atenção: eu estou falando do Super-brasileiro! As editoras vão correr atrás da gente. Ontem mesmo mandei um e-mail para a Panini oferecendo e só estou esperando a resposta. 
- Cara, obrigado pelo convite, mas ando bastante ocupado. Estou fazendo doutorado, já estou em outros projetos... 
- Gian, você não está entendendo! É o Super-braileiro, cara! O Super-brasileiro! É um super-herói nacionalista que se veste como o mosquito da dengue para picar políticos corruptos! É sucesso garantido! Só vou precisar que você escreva as três primeiras revistas para eu desenhar e apresentar para as editoras. São só 60 e poucas páginas! 
- Olha, obrigado pelo convite, mas tenho aqui na centenas de páginas de roteiros que escrevi para personagens de outras pessoas. No final, a revista não saiu e nem posso aproveitar para outra coisa, já que o roteiro era para o personagem específico daquela pessoa. Já perdi muito tempo assim. 
- Gian, você não está entendendo: é o Super-brasileiro, é genial, cara. E eu vou te pagar pelos roteiros! 
- Vai pagar? 
- Assim que as revistas saírem cara. Vou te pagar muito bem. Estou te dizendo, mandei ontem e-mail para a Panini. As editoras vão correr atrás desse personagem. 
- Cara, obrigado pelo convite. Mas vou ter que declinar. Se ainda fosse algo pequeno... não tenho tempo para escrever três revistas.
- Tá bom, seu arrogante FDP!
E assim eu ganhei mais um inimigo no Facebook.

quinta-feira, julho 27, 2017

Como funcionava a rota de fuga que salvou milhares de intelectuais judeus?



Ao chegar na Europa com 200 vistos e três mil dólares, Fry descobriu que a situação era muito pior do que imaginara. Centenas de milhares de pessoas precisavam de sua ajuda  (e não só 200) e as dificuldades eram imensas. Além disso, o tempo que lhe deram (três semanas) era muito curto para localizar todas as pessoas que precisavam ser salvas.  
Oficialmente, a única forma de sair da França era através da Espanha ou de Portugal. Mas para tanto era necessário um passaporte válido e uma série de vistos: o de saída francês, um salvo-conduto para a fronteira; um de trânsito espanhol e outro português e, finalmente, um visto que permitisse a entrada da pessoa em um país que a aceitasse. A maioria dos refugiados não tinha passaporte, além de ser muito difícil encontrar um país que permitisse a entrada de judeus.
Após tomar a decisão de ficar o tempo necessário para salvar o maior número de pessoas, Fry tentou inutilmente obter o apoio das autoridades americanas na França, mas logo percebeu que não receberia nenhum apoio oficial. Ele então alugou um escritório onde passou a funcionar o “Centro de Assistência Americano” (American Relief Center) e conseguiu reunir um pequeno, mas dedicado grupo.
Muitos se juntaram a ele, entre eles Mary Jayne Gold, uma linda herdeira de Chicago que usava sua beleza, quando necessário, para pedir que “olhos se fechassem” na hora certa.
Fry em pouco tempo conseguiu montar uma eficiente rede clandestina de fuga, via Lisboa. Conhecia a importância de um passaporte, um visto ou uma carteira de identidade francesa. Tentava obtê-los através de seus contatos. Vladimir Vochoc, cônsul tcheco em Marselha, sempre pronto a dar um passaporte com nome falso para os inimigos do Reich. Quando não conseguia com ele, Fry recorria a falsificadores e contrabandistas que aceitassem traficar pessoas.
Após o general Pétain anunciar que a França de Vichy iria colaborar com Hitler, aumentaram os riscos para Fry e sua equipe. Ele ignorou várias advertências feitas pelo governo norte-americano, que o considerava um “encrenqueiro” e queria que voltasse para os Estados Unidos.

Em setembro de 1941 Fry foi preso pela polícia francesa, sendo expulso do país com a anuência da Embaixada norte-americana. 

O uivo da górgona


Um som se espalha pela cidade (ou pelo estado, ou pelo país, ou pelo mundo?). Um som que ouvido transforma as pessoas em seres irracionais cujo único o objetivo são os instintos básicos de violência e fome. É o uivo da Górgona.
Acompanhe a história dos sobreviventes neste livro de terror, uma história de zumbis diferente, em que qualquer um pode se transformar, bastando para isso ouvir o terrível uivo da górgona.
Escrito em capítulos curtos, o livro transforma o suspense em elemento de fantasia, prendendo o leitor da primeira à última página. 
Pedidos: profivancarlo@gmail.com. 

Superdeuseus, de Grant Morrison


Grant Morrison é um dos mais importantes roteiristas de quadrinhos da atualidade. Foi um dos primeiros a experimentar a metalinguagem nos super-heróis, com o Homem-animal. Sua passagem por séries como Liga da Justiça e X-men são tanto memoráveis quanto polêmicas. Polêmicas, aliás, são também algumas de suas atitudes e declarações. Em outras palavras: é uma figura tão interessante quanto os personagens que escreve. Daí que o lançamento do livro Superdeuses (Seoman, 496 páginas) tem chamado tanta atenção. 

O volume inicialmente era para ser uma antologia de entrevistas dadas pelo roteirista, mas Peter McGuigan, agente do escritor, sugeriu que o livro ficaria bem mais interessante com textos inéditos e Morrison se viu escrevendo centenas páginas numa mistura de análise do mito dos super-heróis com biografia e críticas lisérgicas sobre filmes, quadrinhos e seriados. Um dos pontos interessantes do livro é a abordagem sobre a criação do mito dos super-heróis. Para ele, esses personagens "falam mais alto e com mais força frente aos nossos grandes medos, nossos desejos mais profundos e nossas maiores aspirações". 

Sua análise do surgimento mito, a partir do Super-homem, é um dos momentos mais inspirados do livro. Segundo ele, "O Superman original era uma reação humanista e audaciosa aos temores do período da Grande Depressão, do avanço científico desregrado e da industrialização sem alma (...) Se as perspectivas distópicas da época previam um mundo desumanizado, mecanizado, Superman sugeria outra possibilidade: a imagem de um amanhã decididamente humano, que entregava o espetáculo do individualismo triunfante exercendo sua soberania sobre as forças implacáveis da opressão industrial". 

Essa visão é corroborada pelo fato do personagem estar sempre destruindo máquinas, como na primeira aparição do personagem, em que ele aparece na capa de Action Comics segurando um carro sobre a cabeça, pronto a jogá-lo contra uma pedra. 

Se Superman merece uma apaixonada análise de sua primeira história, a outra estrela da DC, o soturno Batman, ganha de Morrison uma retrospectiva hilária dos desastres cinematográficos. Não é difícil imaginar o roteirista chapado com algum tipo de droga da moda assistindo a seriados, como os da década de 1940 e se divertindo a valer com seu humor ácido: "O Batmóvel era um conversível brega no qual Batman trocava de roupa no banco de trás enquanto o teto fechava e presto! O roadster facilmente identificável no qual Bruce e Dick tinham acabado de chegar, num piscar de olhos, virava o magnífico Batmóvel! Enquanto Batman se debatia para tirar as roupas e botar a fantasia de morcego, o dito Menino Prodígio assumia o volante ilegalmente e, quando era a vez do devasso Robin revirar-se para entrar nos trajes, Batman fazia as honras na frente. Era uma parceria lendária, afinal de contas". 

Um ponto que não poderia ficar de fora de um livro de Morrison é sua antológica briga com Alan Moore, autor de Watchmen, V de Vingança e outras séries de renome. O escocês Morrison é nitidamente fã do trabalho de Alan Moore e tem que fazer um verdadeiro contorcionismo verbal ao elogiá-lo ao mesmo tempo em que o critica: "Alan Moore era autodidata, ambicioso, de uma inteligência feroz e extravagante, e o maior truque no seu arsenal de grandes truques era parecer totalmente inovador, como se não houvesse história dos quadrinhos anterior ao seu surgimento". 

A eterna inimizade entre os dois rende alguns dos melhores momentos do livro, como quando Alan Moore diz que a graphic novel Asilo Arkhan, de Morrison, é "cocô embrulhado em ouro" e Morrison afirma que Watchmen é "um poema colegial de 300 páginas". Também vale destacar os trechos com as esquisitices de Morrison, como a fase em que ele praticava magia do caos vestido de travesti. Ou a vez em que ele mascou haxixe e se sentiu abduzido por extraterrestres que lhe revelaram o segredo do universo — segredo que ele, gentilmente, compartilha com os leitores do livro. 

Não se espere isenção de Morrison. Ele alfineta desafetos (como Moore), antigos amigos (como Mark Millar) e simplesmente ignora quem é da turma de Alan Moore, como Neil Gaiman, que merece apenas uma pequena menção na obra. Além disso, embora a Marvel rivalize com a DC na criação de mitos, ele se concentra muito mais nos heróis da DC, provavelmente reflexo de sua traumática passagem pelo título X-men. 

Um ponto positivo da edição brasileira é que ela é traduzida por Érico Assis, jornalista especializado em quadrinhos, que sabe do que Morrison está falando. Isso evitou, por exemplo, que nomes de personagens fossem traduzidos de maneira diferente da usual no Brasil. 



Um ponto negativo é a capa nacional, um assunto que não poderia ser ignorado em qualquer resenha mais séria. A capa original emula uma sequência de quadrinhos, com um planeta sendo destruído, um foguete sendo enviado ao espaço e o pequeno Karl-El sendo achado pelos Kents. O título e o crédito são distribuídos de maneira elegante entre os quadros. A edição nacional deixou a elegância de fora. Ela é dominada por um título que surge de um rasgão, em letras garrafais, lembrando o cartaz do Superman da década de 1970, com um fundo de estrelas. A capa original é lembrada apenas pela parte de baixo, em que aparecem um homem e uma mulher. Sem a sequência é muito difícil deduzir que são Martha e Jonathan Kent e que eles estão achando o superbebê. Espera-se que a capa seja repensada para a próxima edição. Afinal, Superdeuses é leitura obrigatória para fãs de quadrinhos e pessoas que desejam entender o fenômeno de super-heróis.

quarta-feira, julho 26, 2017

Quem foi Varian Fry?



Varian Fry era um jornalista norte-americano, responsável por  salvar milhares de intelectuais da perseguição nazista. Era um jovem culto e refinado, conhecedor de vinhos e artes plásticas. Gostava de ler poesia e observar pássaros.
Fry era um “yuppie” de nossos dias. Vestido de forma impecável, com um cravo vermelho na lapela, ele parecia estar mais interessado em sua própria beleza do que nos bem-estar de outras pessoas. Seus amigos o descreviam como “um jovem exuberante e agradável, culto e bonito”.
Entretanto, se parecia um dandy na maneira de se vestir, Fry tinha outra característica que seria essencial em sua missão. Ele odiava injustiças e estava sempre pronto a combatê-las. Seus pais costumavam dizer que, ainda estudante, Fry abandonara a escola altamente conceituada que freqüentava por considerar humilhantes algumas de suas tradições.
Embora não tivesse nenhum treinamento militar ou de espionagem, ele se tornou uma figura-chave na fuga de milhares de intelectuais perseguidos pelo nazismo ao se oferecer como representante do Comitê de Resgate de Emergência, organização que providenciava a fuga de refugiados.


Experiências e livros

Monteiro Lobato já disse que um país se faz com homens e livros. Da mesma forma, um homem se faz de experiências e livros. Não há formação intelectual que não passe pela leitura.
O convite para integrar o especial "Biblioteca Básica" do site Digestivo Cultural me fez pensar em todos os livros que, de uma maneira ou de outra, ifluenciaram minha formação.
O mais remoto deles, parece-me, é pouco conhecido da geração atual. Mas fez as delícias de todos os jovens devoradores de livros da década de 80. Falo de Aventuras de Xisto, de Lúcia Machado de Almeida, publicado na época na coleção Vaga-lume.

Esse foi o primeiro livro que li (não estou contando os pequenos livros infantis dos quais guardo poucas lembranças). Devia ter algo em torno de 10 anos. Pode parecer uma discrepância eu ler meu primeiro livro aos 10 anos, mas há de se considerar que eu cresci em uma família pobre, na qual livros eram um luxo supérfluo.
Só consegui convencer minha avó a me dar o dinheiro para esse livro porque ele ia ser utilizado na escola. Na época vivíamos na pequena cidade de Mococa, no interior de São Paulo.
Eu mesmo fui à livraria, no outro lado da cidade e comprei o livro. Antes que o dia terminasse eu já o tinha lido inteiro. No dia seguinte, dia de frio, coloquei uma cadeira no quintal e, enquanto tomava um sol, li pela segunda vez.
Uma semana depois a professora iniciou a leitura em sala de aula, mas o rapaz responsável por ler o primeiro capítulo não havia nem mesmo aberto o livro. “Alguém já leu o livro?”, perguntou a professora. Eu levantei a mão: “Já li cinco vezes, professora”.
Aventuras de Xisto influenciou meu gosto pela história, especialmente pela história medieval. O clima sombrio e fantasioso também influenciou muito minha literatura. Minha novela O Anjo da Morte é uma espécie de Aventuras de Xisto para adultos. Gostaria de dar destaque também para as ilustrações do livro, de autoria de Mário Cafiero. Sempre imaginei ter uma história desenhada por ele.

Depois disso, eu não tinha mais como convencer minha avó a comprar outros livros e só fui voltar a ler uns quatro anos depois, quando descobri a biblioteca pública e os sebos. Foi época de conhecer Monteiro Lobato.
Não houve um livro específico que tenha me influenciado. Nessa época lia tudo que me chegava às mãos do autor paulista. Curiosamente, li primeiro sua literatura adulta, depois a infantil. Na literatura adulta, Urupês é sem dúvida a obra-prima. Lobato estava menos preocupado em fazer literatura e mais em causar uma impressão no leitor. Lembro que a primeira vez que li me pareceu um livro de terror... Da literatura infantil, História do mundo para crianças é, certamente, a obra que li mais vezes. Lobato era uma dessas inteligências enciclopédicas, que escreviam sobre tudo e em tudo deixavam um gosto delicioso.

Mais ou menos por essa época, tinha um amigo que colecionava a revista Heróis da TV e descobri um sebo que as vendia por um preço irrisório. Eu comprava as revistas e as vendia pelo dobro do preço, e assim conseguia dinheiro para comprar minhas próprias revistas. Antes de vender as revistas, eu passava o final de semana lendo. Só muito tempo depois fui perceber o quanto essas leituras me influenciaram, especialmente as histórias do Mestre do Kung Fu, de Dough Moench (roteiro), Paul Gullacy e Mike Zeck (desenhos).

1984, de George Orwell, foi a leitura que mais influenciou o período da universidade. Quando já estava no final do livro, fui comprar adubo para minha avó (que adora plantas). Como o troco demorasse, encostei no balcão e comecei a ler. Só sai de lá depois de ter lido a última palavra, para espanto dos balconistas. 1984 é um livro que deixa uma marca em quem o lê. É impossível sair dele o mesmo.
Também da época da Faculdade, O Nome da Rosa, de Umberto Eco foi um livro que prendeu minha atenção. Às vezes desconfio que só gostei tanto dele porque a ambientação era quase a mesma de Aventuras de Xisto. Em todo caso, li-o três vezes. Na primeira, o que mais me chamou atenção foram os detalhes sobre a história da Idade Média. Na segunda, os aspectos relacionados às teorias da comunicação (especialmente semiótica e teoria da informação). Na terceira, eu já estava mais interessado em detectar as influencias de Jorge Luís Borges sobre a obra.

Chegamos em Borges. O que mais me marcou no autor argentino não foi um livro, mas um conto: "O Aleph". O texto parecia uma versão literária de meus estudos sobre teoria do caos. A partir daí comecei a devorar tudo que me caía as mãos sobre o autor portenho. 
"O Aleph" me foi emprestado por um colega de redação na Folha de Londrina. Foi também ele quem me emprestou Crônicas Marcianas, de Ray Bradbury. Eu já havia lido Farenheith 451, mas esse parecia uma versão menor de 1984, de Orwell. Crônicas Marcianas tinha vida própria e fez com que eu me interessasse pela literatura de ficção científica norte-americana.
De Bradbury para Isaac Asimov foi um passo. Além das histórias de robôs, sempre me fascinaram seus textos de divulgação científica. Asimov produziu um verdadeiro tijolo, Cronologia das descobertas cientificas, que foi meu livro de cabeceira durante o mestrado.
Uma história em quadrinhos que mudou a minha forma de ver o mundo foi Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons. Moore virou de cabeça para baixo os comics norte-americanos ao mostrar os super-heróis de uma perspectiva realista. Histórias de heróis cuja vestimenta é uma fantasia sexual se misturam com casos de personagens que deixaram escapar bandidos porque precisavam ir ao banheiro. Pode parecer humorístico, mas a perspectiva não era essa. Moore realizou uma obra profunda sobre a condição humana em meio ao caos. O subtexto baseado na teoria do caos e na geometria fractal passou despercebido pela maioria dos leitores e só se tornou corrente no Brasil após o meu trabalho de conclusão de curso de graduação.

Já que falamos em teoria do caos, Caos: a criação de uma nova ciência, de James Gleick, é outro livro que exerceu grande influência sobre mim ao me mostrar o poder desse novo paradigma para explicar fenômenos não deterministas. Fenômenos deterministas são aqueles que seguem um padrão fixo, como um relógio. Para a ciência clássica, todo o universo era determinista. A teoria do caos demonstrou que esse modelo do universo como um relógio não corresponde à realidade. A maioria dos fenômenos, por mais determinados que pareçam, podem mudar de comportamento de uma hora para outra em decorrência de pequenas alterações, chamadas de efeito borboleta.
A teoria do caos foi uma das bases da teoria de Edgar Morin. Esse autor francês produz tanto que é quase impossível destacar um livro mais importante. Ciência com consciência, Sete saberes necessários à educação do futuro e A Cabeça bem-feita são alguns dos mais famosos. Morin defende uma nova visão de mundo, diversa daquela inaugurada por René Descartes, segundo a qual, para conhecer algo, é necessário dividir esse algo em pequenas partes e estudá-las um a uma.
Para Morin, as partes não podem ser vistas senão em sua relação com o todo. A teoria do caos demonstrou que tudo está relacionado. Uma pequena borboleta batendo suas asas na China pode desencadear uma série de eventos que redundam em uma tempestade em Nova York.
Morin critica a fragmentação dos saberes e defende uma ciência que vê as coisas em suas relações com outras coisas. Pensando bem, isso tem tudo a ver com a filosofia oriental que aparecia nas páginas das histórias em quadrinhos do Mestre do Kung Fu. Talvez tudo esteja mesmo interligado.

terça-feira, julho 25, 2017

O cão da meia-noite

No final do século XIX e início do século XX a literatura brasileira era dominada pelos parnasianos. Um dos princípios dessa corrente literária era a linguagem empolada, difícil, afastada do populacho. Monteiro Lobato foi o primeiro a se revoltar contra essa maneira de escrever - a ponto de se recusar a ser chamado de escritor, pois associava o nome à "alta literatura" e, por tabela, aos parnasianos. Para Lobato, a literatura devia falar a língua do povo, repetir suas gírias e modos de dizer. Posteriormente, essa proposta seria levada a cabo pelos modernistas, mas ninguém conseguiu encarnar a proposta de Lobato de maneira tão completa e perfeita como Marcos Rey. O grande autor de livros juvenis, cujo pai era encadernador na gráfica lobatiana, conseguiu como ninguém apanhar o jeito de falar de toda gente e transformá-lo em palavra impressa. Ótimo exemplo disso é o livro de contos O cão da meia-noite (Global editora, 216 páginas). 
No volume, Rey conta histórias de pessoas normais que acabam sendo envolvidas em algum tipo de drama. Algo em comum em todos eles é iniciar com um episódio cotidiano, pitoresco (como amigos que se encontram num bar, ou um homem que resolve adotar um cachorro), que vai se tornado mais e mais complexo ao correr das páginas. 

No primeiro conto, "Eu e meu fusca", vemos o que parece ser o relato apenas de um garoto viciado em seu carro, mas que logo se torna uma história policial no melhor estilo serial killer (provavelmente um dos primeiros textos ficcionais sobre o assunto escritos no Brasil). Todo narrado em primeira pessoa, o texto repete as gírias das ruas da década de 1960.

Em "O bar dos cento e tantos dias" um redator publicitário desempregado conhece um boêmio que lhe dá dicas de empregos (quase sempre furadas) enquanto lhe ensina a "observar o espetáculo da cidade" e seus personagens - um exercício que certamente o autor fez à exaustão, a se tirar pela fauna presente nesse livro. 

No conto que dá título ao livro vemos um homem que encontra um cachorro de rua e resolve leva-lo para casa e cuidar dele. Ocorre que se trata de um cão de rua, incapaz de viver preso. O que começa como um simples gesto de carinho acaba se tornando uma obsessão assassina e acabamos tendo mais uma história policial. Para entender "A escalação" é interessante saber que Marcos Rey foi roteirista de cinema, mais especificamente da pornochanchada, o que lhe permite falar com muita propriedade do assunto. No texto, um produtor cinematográfico reúne o elenco de seu novo filme, mas joga psicologicamente com cada um deles de modo a sempre ganhar. Ali temos desde o roteirista que aceita qualquer salário porque é perseguido pela ditadura e ninguém quer lhe dar emprego até a atriz decadente em busca de um papel que a traga de volta à cena. 

Muito difícil escolher o melhor conto num livro de pérolas como esse, mas se fosse necessário, eu escolheria "O adhemarista". O mote é simples, quase irrisório: um taxista que faz campanha para Adhemar de Barros num texto narrado por um amigo igualmente taxista. Nada demais. Mas Marcos Rey nos revela neste conto uma verve psicológica, um talento para coletar tipos e a capacidade de escrever como as pessoas de determinada época falavam de maneira ímpar. Saca só: 

"Aquela foi a semana mais quente que o Moa (Moacir) viveu na puta da vida. Nós, do ponto, é que sabíamos. Quente, digo, em toda parte. No carro, na rua, na sede do partido, na Lila, em casa. O homem estava envenenado, com fé em Deus e pé na tábua, dormindo só uma três horas por noite. Foi também a semana do papo, da lábia, da saliva, dia e noite de campanha, amarrando votos, aliciando os indecisos. Nunca vi na life um cabo eleitoral com tanta corda, tanta garra, tanto embalo".

Não bastasse a ótima análise do tipo fanático, que transforma política em torcida de futebol e coloca a eleição acima de tudo, Marcos Rey ainda constrói sua narrativa como um verdadeiro suspense policial, em que o mistério não é saber quem é o assassino, mas quem irá ganhar a eleição. 

"Soy loco por ti, América!", repete o tema de "A escalação". Nele, vemos uma festa de granfinos e estrelas do cinema e da televisão no dia anterior ao golpe militar. Regada a lança-perfumes, a festa, que começa tímida, torna-se um verdadeiro circo, com direito a gay enrustido, que de repente se interessa por uma atriz, para desespero de seu parceiro assumido, a atriz que humilha o produtor que a recusou antes da fama e anfitrião que filma tudo. 

Em "Traje de rigor" encontram-se no bar quatro homens muito diferentes: um publicitário (cujos slogans, como "Mil a vista e o resto a perder de vista", lhe renderam um ótimo salário), um jornalista decadente, que parece interessado unicamente em vender um revólver para qualquer um que encontre, um velho cantor igualmente decadente e um homem de família, com filho doente em casa, que quer apenas levar uma lata de leite em pó para casa. Esses quatro juntam-se numa inesperada jornada pela noite de São Paulo que a vai se revelando mais e mais surpreendente a capa página (o homem de família, por exemplo, acaba se mostrando o mais bôemio). 
Finalmente, em "Mustangue cor-de-sangue" acompanhamos o relato de um redator de um programa infantil estrelado por um anão que no dia-a-dia é um devasso e, na ocasião, resolve transar justamente com a vedete pela qual o escriba é apaixonado. O conto oscila entre as tentativas do anão e as fugas da moça, interessada em um contrato na TV e os planos do intelectual para salvá-la e, ao mesmo tempo, tirar sua casquinha da moça. Daria uma ótima pornochanchada, como muitas das que foram escritas por Marcos Rey para a boca do lixo na década de 1970. Aqueles que, quando crianças e adolescentes se deliciaram com as histórias de Marcos Rey para a coleção Vaga-lume irão se deliciar ao descobrir esse outro lado do escritor. 

segunda-feira, julho 24, 2017

O que era o Comitê de Resgate de Emergência?


Após a invasão da França, todos os intelectuais não alinhados ao regime nazista, em especial os judeus, corriam sério risco. Eram artistas, filósosofos e cientistas que haviam feito da Europa o centro intelectual do mundo. No verão de 1940, a França de Vichy concordou em prender e extraditar para a Alemanha todos os que se opunham ao regime nazista e que, nos anos anteriores à eclosão da Segunda Guerra Mundial, vindos de todas as partes da Europa, haviam-se refugiado na França.
Como a maioria dessas pessoas era notória, escondê-los era muito difícil. Assim, um grupo norte-americano auto-intitulado Comitê de Resgate de Emergência resolveu salvar essas pessoas.
Para viabilizar essa operação o grupo arrecadou a quantida de três mil dólares, uma pequena fortuna na época, e contou com o apoio de Eleanor Roosevelt, esposa do presidente norte-americano, que providenciou 200 vistos especiais.
Os escritores Thomas Mann e o diretor do Museu de Arte Moderna, Alfred H. Barr Jr fizeram uma lista com 200 nomes represententativos da intelectualidade européia e que corriam risco de serem mortos pelos nazistas.
Para levar em frente a operação, só um voluntário se apresentou: Varian Fry.

Indo para a França, Fry levou a operação muito além dos objetivos iniciais, salvando não apenas 200, mas milhares de pessoas. 

domingo, julho 23, 2017

Francavilla


Por que os EUA viraram o centro cultural do mundo?


Pode não parecer, mas a resposta a essa pergunta está diretamente ligada ao nazismo. Ao chegar ao poder, Hitler perseguira todos os intelectuais alemães não alinhados, fazendo com que muitos fugissem do país. Exemplo disso são os membros da Escola de Frankfurt, na maioria socialistas e judeus. Todos fugiram para os EUA. Além disso, a maioria dos artistas que haviam feito da Alemanha a capital da cultural durante a república Weimar, fugiram ou foram perseguidos. Nomes como o do diretor Billy Wilder, que fariam obras-primas nos Estados Unidos.
Quando Hitler invadiu a França, todos os intelectuais que haviam se refugiado ali foram obrigados a fugir e o local mais seguro que encontraram foi a América.
O Comitê de resgate de emergência teve papel essencial mudança de foco, ao ajudar artistas judeus a fugirem.
Mesmo depois da guerra, muitos judeus não se sentiam seguros na Europa e foram para os EUA. O cineasta judeu Roman Polanski, por exemplo, era um sobrevivente da Polônia sob jugo nazista.
Alguns dos mais importantes nomes do cinema, tanto na direção, roteiro quanto produção, são judeus. Muitos deles fugiram da Europa. Outros são filhos dessas pessoas.
Na área de quadrinhos, praticamente todos os nomes mais importante são judeus. São muitas as análises que apontam o quanto o surgimento dos super-heróis teve a ver com o medo que esses artistas sentiam da perseguição. Esse medo foi bem catalizado no personagem Capitão América.


sábado, julho 22, 2017

Quem foi Denise Madeleine Bloch?


Conhecida pelo codinome "Ambroise", Denise Madeleine Bloch foi uma das mais importantes agentes do SOE em solo francês.
Filha de pais judeus, ela iniciou suas atividades na resistência aos nazistas em 1942, com a identidade de Danielle Willams. Trabalhava como operadora de rádio e ajudava o agente Brian J. Stonehouse, codinome "Celestin", até ele ser preso, em 24 de outubro de 1942.
Ela foi em seguida para Marselha, onde um agente entregou-lhe documentos secretos. Muriel se ofereceu para levá-los para Lyon. Mas Jean Maxime Aron, receoso de deixá-la ir sozinha, insistiu em acompanhá-la, juntamente com outro membro da Resistência. A Gestapo os esperava na estação. Aron foi preso, mas Denise conseguiu escapar da prisão e se escondeu numa casa nos arredores de Lyon. Permaneceu inativa até janeiro de 1943, quando os agentes Philippe de Vonnécourt e George Reginald Starr a contatam. Por algum tempo trabalhou para a SOE na cidade de Agen, mas, em abril, após a prisão de 2 agentes, Denise foi enviada a Londres, levando mensagens e relatórios sobre a situação da Resistência, na França.
Ela tinha importantes informações aos seus superiores. Disse, por exemplo, que os agentes enviados à França não podiam ser muito jovens, pois os alemães costumavam prender rapazes aleatoriamente e enviá-los para trabalhar na Alemanha. Além disso, deveriam falar francês fluente, pois todas as pessoas com sotaque estrangeiro eram deportas para campos de concentração.
Madeleine não quis ficar na segurança na Inglaterra e insistiu em ir para a França, onde acabou sendo presa pela Gestapo. Foi mandada para a Alemanha onde seria torturada até a morte.

Denise tinha 29 anos, ao morrer. Sua memória é reverenciada com uma placa com seu nome, no Cemitério Militar de Brookwood Commonwealth, em Surrey. 

sexta-feira, julho 21, 2017

Xuxulu




Quem foi Muriel Tamara Byck?


Conhecida pelo codinome "Violette", Muriel foi uma das mais importantes agentes do SOE (Departamento de Operações Especiais), que fazia ações de sabotagem e espionagem na Europa sob controle nazista.
Filha de judeus franceses naturalizados britânicos, ela era uma jovem atraente, de longos cabelos negros. Era inteligente e dominava vários idiomas. Falava fluentemente francês, russo e alemão.
Quando eclodiu a guerra, ela se ofereceu como voluntária para trabalhar na cruz vermelha. Depois afiliou-se à Associação Feminina de Auxílio à Força aérea, sendo depois contratada pelo SOE em decorrência de seu ótimo francês.
Parecia tão jovem que os seus superiores exigiram que ela se maquiasse para aparentar mais idade. Relatos da época dizem que ela estava ansiosa para ser enviada a uma missão. Logo ela foi escalada para ir à França com o codinome de Benfeitora.
Ela recebeu três identidades falsas, a principal delas com o nome de Michele Bernier. Sua missão era recrutar agentes locais, treiná-los e avisar Londres para que fossem providenciados codinomes. Seu superior era o major Philippe de Vonnecourt.
Na propriedade de Vonnecourt, ela fazia transmissões para a Inglaterra, nunca no mesmo horário e nunca usando o mesmo transmissor. Um dia um alemão a viu pelos buracos do barracão que ela usava como base e saiu para avisar o superior. Muriel limpou o local, tirando de lá tudo que pudesse parecer suspeito. No final, o soldado acabou sendo preso por desperdiçar o tempo de seu superior dizendo que uma linda mulher estava fazendo transmissões radiofônicas.
Muriel acabou pegando minigite e morrendo em solo francês. Em Romorantin, o memorial em sua homenagem é muito visitado, não apenas por descendentes dos membros da Resistência, mas também pelos habitantes da região. Ainda em solo francês, sua memória é reverenciada com uma placa no memorial da "Seção F", em Valencay. Na Inglaterra, no memorial da Igreja de St. Paul, Wilton Place, Knightsbridge; e no memorial do Liceu Francês, de Kensington.


quinta-feira, julho 20, 2017

PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA - EDUARDO BUENO

O que era o SOE?


SOE era a sigla da Special Operations Executive (Departamento de Operações Especiais), um órgão do governo britânico cujo objetivo era infiltrar agentes na Europa ocupada pelos nazistas, ajudando a resistência, transmitindo informações e fazendo sabotagens.
Milhares de agentes da SOE foram infiltrados, especialmente na Polônia e na França ocupada.
Tais agentes mostraram imensa coragem, pois poderiam ser pegos a qualquer momento. Apesar disso, eles sabotavam ferrovias, equipamentos de transportes e qualquer outra estrutura que pudesse ser usada pelos nazistas.
Boa parte dos agentes da SOE eram judeus, dispostos a ajudar a derrotar Hitler. Também mulheres faziam parte dessa rede de resistência. Na França duas agentes judias, Muriel Tamara Byck e Daniele Bloch, se destacaram por suas ações ousadas.


Homens do amanhã

Homens do Amanhã, de Gerard Jones (ed. Conrad) é, desde já um dos melhores livros já escritos sobre quadrinhos, mas, mais ainda, um dos mais importantes obras sobre a cultura de massa norte-americana.
O livro conta a história dos criadores do personagem Super-homem, Jerry Siegel e Joe Shuster.
O título é uma referência ao apelido do herói antes dele ser chamado de Homem de Aço, mas é também uma referência aos homens que iniciaram a indústria dos gibis. Eram todos eles, desenhistas, roteiristas e editores, judeus ou filhos de judeus que haviam emigrado para a América fugindo da perseguição na Europa. Viviam em situação miserável, num ambiente hostil de gangues e exploração e morando em casas tão precárias que a maioria das pessoas tinha que dormir nos corredores. Eles não tinham presente, por isso as mães diziam que eles eram homens do amanhã. O futuro lhes reservaria a glória.


O livro é destaque não só pela história de Jerry Siegel e Joe Shuster, mas também pela forma detalhada com que conta a história dos personagens que transformaram sonhos em um negócio lucrativo. Vale destacar também as ótimas análises do ambiente histórico em que esses fatos se deram.


Na era de ouro dos quadrinhos, início dos anos 40, a demanda por gibis era tão grande que qualquer um que apresentasse qualquer projeto, por mais maluco que fosse, era aceito. Jones conta a história de um grupo de garotos que escreveu e desenhou uma revista inteira em um final de semana, comendo ovos cozidos na banheira e bebendo leite, porque o editor precisava colocar a revista na gráfica na Segunda-feira.


Lendo Homens do amanhã descobre-se, por exemplo, que Bob Kane, o criador de Batman, dificilmente escrevia ou desenhava suas histórias. O principal roteirista era Bill Finger e os desenhistas eram uma miríade de fantasmas, alguns dos quais ficaram famosos depois. Até mesmo uma coleção de quadros de palhaços que ele gostava de exibir para as garotas em seu apartamento era obra de outro desenhista.


Os desenhistas trabalhavam como loucos e os editores ficavam ricos. Certa vez Jerry Siegel escreveu para a DC pedindo parte dos direitos autorais e o, na época contador e posteriormente sócio, Jack Liebowitz, respondeu que a empresa estava tendo prejuízo e que portanto eles não tinha direito a nada. Mas mandou um cheque de 500 dólares como demonstração de boa-vontade. Isso numa época em que só a revista do Super-homem vendia um milhão de exemplares, fora as mochilas, lancheiras e programas de rádio.


O super-herói era o mito do judeu americano: "Histórias de identidade secreta sempre obviamente encontraram eco entre os filhos de judeus imigrantes, em virtude da necessidade de máscaras; máscaras que permitiam à pessoa tornar-se americano, moderno, consumidor das coisas do mundo. Mas ao mesmo tempo, permitem fazer parte de uma sociedade antiguíssima, ser um elo de uma velha cadeia sempre estivesse no seio seguro daqueles que conheciam seu segredo". O Capitão América corporificou ainda mais esse mito: "Ele é o garoto subnutrido do gueto que adquire uma força desmedida ao agarrar as oportunidades americanas". Não é à toa que quase todos os personagens de quadrinhos se engajaram na guerra contra os nazistas, e muitos de seus criadores participaram do esforço de guerra criando quadrinhos institucionais ou propagandas. Jack Kirby, o quadrinista mais durão que já existiu, foi para o front e recebeu uma barra de chocolate, um rifle M-1 e ordens de ir lá matar Hitler.


Para eles, portanto, deve ter sido muito doloroso quando, no início dos anos 50, o psicólogo judeu Fredrick Wertham acusou os super-heróis de serem nazistas.
Wertham era influenciado pela escola de Frankfurt, em especial pelo filósofo Theodor Adorno. Adorno era um crítico ferrenho da Indústria Cultural. Dizia que a cultura transformada em produto, tinha o objetivo de despertar paixões e depois fornecer uma resolução falsa e reconfortante, que deixava o consumidor com uma sensação de bem-estar incompatível com as realidades da vida. Para Adorno, isso afastava as pessoas da verdadeira arte, individualizada, que provocava desconforto e fazia pensar.
Muitos pensadores têm destacado o fato da Escola de Frankfurt revelar uma visão elitista da cultura, mas nem o maior crítico dessa corrente poderia imaginar o que Werthan provocou, a partir das idéias de Adorno. Em várias cidades houve queimas públicas de gibis. Voluntários passavam de casa em casa, perguntando para os pais se havia quadrinhos em casa e convencendo-os da periculosidade dos mesmos. O material recolhido era colocado em um caminhão e queimado em praça pública. Depois de Werthan, só o que sobrou foram os gibis mais inocentes e foram varridos completamente das bancas qualquer quadrinhos que provocassem inquietude ou que fizessem pensar.


Quando a comissão que investigava a deliquencia juvenil foi a Nova York e Wertham foi confrontado com Bill Gaines, editor da EC Comics (talvez a melhor editora de quadrinhos de todos os tempos), sua fala revelou como era seu método científico. Ele destacou uma história chamada O Açoitamento, em que um racista reúne os amigos para matar um garoto mexicano com quem sua filha está namorando. No final da história, o homem acaba matando a filha, ao invés do garoto. Era, obviamente, uma crítica ao racismo, mas Wertham só enxergou nela racismo: "Hitler era um principiante comparado à indústria de quadrinhos. Ela ensina aos jovens o ódio racial já desde os 4 anos de idade, antes que tenham aprendido a ler".
O método hipotético-dedutivo, o mais aceito pela comunidade acadêmica, diz que o cientista deve procurar provas de que sua hipótese está errada. Uma tese só era válida se passasse no teste do falseamento. Wertham fazia o oposto. Ele escolhia detalhadamente os exemplos que confirmavam suas idéias e ignorava todo o resto.

Mas o grande vilão do livro de Gerard Jones é mesmo Jack Liebowitz. Imigrante judeu e socialista, ele chegou aos EUA fugindo da perseguição na Rússia. No novo mundo, transformou-se em contador de sindicatos, sempre de olho na utopia socialista sonhada por sua família. Na época da depressão financeira, arranjou um emprego na editora DC como contador e foi responsável pelo equilíbrio financeiro da empresa (que então publicava pornografia e tinha ligações com a máfia) no período da Lei Seca. Com o tempo foi galgando poder e se tornou responsável por garantir os direitos do Superman para a DC, deixando Jerry Siegel e Joe Shuster à míngua. 
Na década de 1960, os principais artistas da casa (Gardner Fox, Curt Swan, Bill Finger e outros) fizeram um movimento por direitos autorais sobre as vendas, remuneração sobre impressões, planos de saúde e aposentadoria. "Sei como se sentem. Também já fui socialista quando era jovem", disse ele, e os despachou com as mãos abanando. Ninguém consegue ser um capitalista selvagem tão bem quanto um ex-comunista...