domingo, abril 30, 2017
Grafipar, a editora que saiu do eixo
No final da década de 1970, Curitiba se tornou a sede da principal editora de quadrinhos nacionais. A produção era tão grande que se formou até mesmo uma vila de quadrinistas. No livro Grafipar, a editora que saiu do eixo, eu conto em detalhes essa história. O livro inclui também algumas HQs publicadas na época e análise das mesmas.
Pedidos: profivancarlo@gmail.com.
sábado, abril 29, 2017
Os judeus mataram Jesus?
Um dos argumentos do anti-semitismo é de que os judeus
foram responsáveis pela morte de Jesus e, em decorrência disso, devem sofrer. No
Novo testamento é dito que Pilatos trouxe Jesus para a frente da multidão de judeus, colocando-o
ao lado de um rebelde violento, Barrabás, e perguntou quem deveria ser solto. A
multidão gritou Barrabás. Pilatos ainda tenta argumentar em vários momentos, em
favor de Jesus, mas seu destino é selado pelos judeus. Ocorre que esse é o
episódio mais contestado do Novo Testamento. Em nenhum outro caso registrado um
procurador romano indagou ao povo sobre o que deveria fazer.
Os historiadores acreditam que os evangelistas procuraram
poupar Pilatos como forma de conquistar a confiança dos romanos. O objetivo da
seita, na época, era agradar aos romanos, como forma de difundir religião
cristã.
Como era necessário culpar alguém, a culpa recaiu sobre
os judeus.
A referência a Barrabás também tem raízes históricas. Ao
mostrar a escolha do povo por um rebelde, o evangelista Marcos estaria
criticando a opção do povo pela luta armada em vez da salvação pacífica
representada por Jesus. Segundo Marcos, ao escolher Barrabás, a multidão de
judeus teria dito: “Que o Seu sangue caia sobre nós e nossos filhos”. A frase,
sem muito sentido para uma multidão que havia acabado de fazer uma escolha, é
na verdade uma referência à revolta judaica contra os romanos, na qual morreram
um milhão de judeus. Para os cristãos, que não haviam se envolvido no conflito,
era como se Deus estivesse penalizando os israelitas.
O uivo da górgona - parte 47
47
Zu acordou atônita. Tinha tido um
sonho estranho e aterrador. Se lhe perguntassem, não conseguiria se lembrar de
seu conteúdo. Mas sabia que havia algo errado. Algo terrível estava
acontecendo. Ao abrir os olhos, sentiu-se desorientada, sem saber onde estava e
foi só grande esforço que se lembrou da mansão, de Roberto, de tudo que
ocorrera até ali.
Olhou para o lado, preocupada. A
galinha tinha se empoleirado em cima do criado mudo, mas agora não estava mais
ali.
Zu levantou-se, esfregando os
olhos. Ainda estava com sono, mas não conseguiria voltar a dormir.
Ao sair no corredor, ouviu apenas
o silêncio. Nos outros quartos, os outros dormiam tranquilamente. Apenas do
dono da casa parecia não estar dormindo. Apenas Roberto e Sofia.
A menina, pensou, a menina!
A primeira coisa que Zu percebeu
ao descer, foi o som da televisão ligada.
Mas a sala estava vazia. Ela ficou
lá, parada, indecisa.
Quando deu dois passos na direção
ao banheiro social, pareceu vislumbrar algo, uma mancha negra na periferia de
seu olho. Ao firmar a vista, percebeu do que se tratava: era a galinha,
Pimpinela, entrando por uma porta.
Era exatamente a porta que Roberto
ordenara que ninguém entrasse.
Resoluta, ela desafiou a ordem. E
entrou.
Ken Parker
Em 1974 o gênero faroeste já
havia sido tão explorado que parecia praticamente impossível surgir alguma
abordagem diferenciada. Foi quando surgiu, na Itália, Ken Parker, criação do roteirista
Giancarlo Berardi e do desenhista Ivo Milazzo.
Uma primeira diferença
estava no traço de Milazzo, que destoava do desenho realista que se usava até
então no gênero. Seu estilo era simples, estilizado, mas altamente dinâmico e
expressivo. O fato do personagem ser baseado no ator Robert Redford também era
uma novidade na época (posteriormente, outros personagens dos fumetti
emprestaram rostos de atores e atrizes famosos: Dylan Dog era Rupert Everett e a criminóloga Júlia era Audrey Hepburn.
Mas o grande diferencial de Ken Parker estava mesmo nos
roteiros. Ken Parker é o mais humano dos cowboys. Berardi inovou logo nos
primeiros números fazendo com que o herói perdesse a memória e fosse morar com
os índios, sendo chamado de Chemako (aquele que não se lembra).
Durante décadas os índios foram retratados nos quadrinhos como
animais ferozes e bárbaros. Algumas histórias em quadrinhos, como Tex e
Blueberry já haviam começado a mostrar uma visão mais positiva dos índios, mas
seria apenas com Ken Parker que os nativos norte-americanos seriam retratados
de forma realista e como o que de fato eram: vítimas dos massacres dos homens
brancos que invadiam suas terras.
O episódio demonstrou bem alguns dos principais méritos da
série: o de mostrar o outro lado do velho Oeste. Ken Parker convive não só com
índios, mas com baleeiros e esquimós.
Os episódios Terras Brancas e a Nação dos Homens, em que o
personagem convive com os esquimós, é praticamente uma aula de roteiro de como
o roteirista deve pesquisar sobre o ambiente em que se passa a história para
escrevê-la. Os costumes e forma de vida dos esquimós são retratados com um
realismo impressionante para a época, elevando a série muito além do que era
feito com o gênero faroeste.
Não bastassem essas inovações, Ken Parker ainda brincava com
outros gêneros, experimentando outras possibilidades. No episódio 4, Homicídio
em Washington, Berardi introduziu uma trama policial, o que ocorreria em vários
outros volumes. Na história Boston, por exemplo, Ken Parker contracena com
grandes detetives literários, como Sherlock Holmes e Poirot e acaba sendo o
responsável pela solução de um crime em uma locomotiva.
Em outro episódio, Ken Parker delira e se vê como um cavaleiro
andante.
.
Outro grande diferencial de Ken Parker será a construção
detalhada dos personagens secundários, que muitas vezes parecem roubar a cena,
tornando-se a grande atração do gibi. É o caso da menina Pat O´Shane, uma
personagem tão carismática que, embora tenha aparecido em poucos números, é
lembrada com carinho por todos os fãs da série.
A única limitação do gibi parecia ser mesmo a imaginação do
roteirista. O público de faroeste, normalmente muito conservador, reagiu bem a
essas inovações e a revista Ken Parker se estabeleceu no gosto do público, ganhando
fãs fieis especialmente entre as pessoas com maior nível intelectual. A revista
durou dezenas de números e teve até mesmo álbuns de luxo.
Em uma das últimas histórias, Berardi e Millazzo voltaram a
inovar apelando para a metalinguagem. Na história A terra dos heróis, desenhista
e roteirista contracenam com o personagem numa história que inclui uma
verdadeira multidão de convidados especiais: de Pinóquio ao Zorro, passando
pelo ator Orson Welles.
Família Titã
No inicio da década de 1990, o desenhista Joe Bennett ainda não tinha iniciado sua vasta produção para o mercado norte-americano de super-heróis, no qual atuaria com personagens como Batman, Homem-Aranha, Thor e tantos outros. Ele ainda assinava seus trabalhos como Bené Nascimento.
Na época, um segmento que andava em alta era o de quadrinhos eróticos, e Bené tinha total liberdade de criação para realizar seus trabalhos para a Editora Sampa. Foi nessa fase que ele, em parceria com o escritor Gian Danton, produziu diversas HQs focadas no horror e na fantasia.
A Insólita Família Titã foi publicada nessa época em diversas revistas eróticas (numa tiragem total de mais de 150 mil exemplares), e ganhou muitos fãs, além de ter conquistado novos adeptos a partir do ano 2000, quando foi difundida na Internet.
Em 2014 a editora Opera Graphica relançou a história no formato de álbum de luxo, com textos sobre a importância da história e biografia dos autores, além de mais uma HQ, Powers, tornando-se um item de colecionador para os fãs dos super-heróis brasileiros.
Valor: 25 reais, frete incluso.
Pedidos: profivancarlo@gmail.com.
sexta-feira, abril 28, 2017
Quem era o pianista judeu que foi salvo por um nazista?
Foi Wladyslaw Szpilman,
um dos melhores músicos poloneses. Quando a Polônia foi invadida pelos
nazistas, ele ficou preso no gueto de Varsóvia, mas antes de ser enviado para
os campos de concentração, foi salvo por admiradores.
A história deu origem ao
filme O Pianista, de Roman Polanki, vencedor da Palma de Ouro no festival de
Cannes. Polanski, também ele judeu polonês, colocou muito de sua vida no filme.
"Há momentos específicos no filme tirados de minha vida. Como o pai que
recebe um tapa no meio da rua, a visão da construção do muro do gueto pela
janela do apartamento da família ou a mulher que recebe um tiro porque fez uma
pergunta.", afirma o diretor.
O filme é dividido em duas partes. Na primeira, Polanki retrata o cotidiano dos judeus no gueto de Varsóvia, com espancamentos e mortes mostrados de forma explícita.
O filme é dividido em duas partes. Na primeira, Polanki retrata o cotidiano dos judeus no gueto de Varsóvia, com espancamentos e mortes mostrados de forma explícita.
Na segunda parte, Szpilman é protegido de fãs, que o
escondem em um apartamento, até que esse é bombardeado por um panzer e o
pianista passa a viver nos escombros da cidade, sempre em busca de comida.
O filme mostra a perseguição aos judeus, que inicia com a
cassação de direitos civis e humilhações (os judeus não podiam, por exemplo,
entrar em praças ou andar nas calçadas), até a ida para os campos de
extermínio, passando pela revolta do beco de Varsóvia.
Mas o momento mais visceral da película é quando o
pianista, procurando comida, encontra um oficial nazista e toca para ele. Nesse
momento, surge algo em comum entre esses homens tão diferentes e Szpilman passa
a ser protegido do alemão, escondendo-se no quartel general nazista.
O Pianista é um dos melhores filmes sobre o período não
só por sua veracidade histórica, mas pela alta estética. Um elemento importante
é a ausência de trilha sonora, que só aparece nos momentos em que o
protagonista está tocando, ou imaginando que toca, como se a música o
libertasse.
O uivo da górgona - parte 46
46
Sofia recuou, horrorizada.
Era uma mulher, uma de verdade.
Sofia olhou, angustiada, para as facas na parede e compreendeu e a compressão
fez com que um calafrio arrepiasse seu corpo.
Era uma mulher de verdade e seus
braços e pernas tinham sido cortados e a pele costurada, provavelmente para que
ela não morresse sangrando. E não tinha sido só isso que havia sido costurado.
Quem fizera isso costurara também os lábios da mulher, de modo que ela não
conseguia falar.
Pelos movimentos do rosto, Sofia
imaginou que ela estivesse murmurando algo, numa tentativa vã de pedir ajuda.
Mas não era necessário ouvi-la. Bastava contemplar o desespero em seu olhar.
Era um pedido desesperado de ajuda.
O dono da casa fez isso com ela,
compreendeu Sofia. O dono da casa capturou essa mulher e cortou seus braços e
suas pernas, e costurou para que ela sobrevivesse e pudesse passar mais tempo
sendo torturada.
Talvez ele pretendesse fazer isso
com todos eles, pensou Sofia e a compreensão foi tão insuportável que pareceu
doer em seu peito.
Preciso avisar os adultos, preciso
trazê-los aqui, pensou ela.
Mas quando se virou o dono da casa
estava lá, olhando para ela, com uma faca na mão.
quinta-feira, abril 27, 2017
O que era a onda?
A Onda foi uma experiência realizada, em 1967, por um
professor de história em uma escola Palo Alto, nos EUA. Para demonstrar aos
alunos o clima que deu origem ao nazismo, o professor instituiu um movimento
chamado a Onda que tinha as mesma características do nazismo: uma saudação, um
slogan “Poder, disciplina, superioridade”, um símbolo gráfico (uma onda) e uma
estrita disciplina.
O professor Ross incentiva os alunos a adotarem a
disciplina que caracterizava os nazistas.
O resultado dessa arriscada experiência pedagógica foi um
movimento que saiu dos limites da sala de aula e do controle do professor. No
final, toda escola acaba envolvida com o fanatismo da Onda. Aqueles que não
aderem ao movimento são agredidos e segregados.
Um casal de estudantes percebe os
rumos que o movimento está tomando e alerta o professor, que convoca uma
reunião dos integrantes da Onda. Nela, ele mostra a figura de Hitler e diz que
aquele é o líder que eles seguiriam se continuassem naquele caminho e alerta
para o fato de que eles perderam o censo crítico ao aderir ao movimento: “Vocês
trocaram sua liberdade pelo luxo de se sentirem superiores. Todos vocês teriam
sido bons nazi-fascistas. Certamente iriam vestir uma farda, virar a cabeça e
permitir que seus amigos e vizinhos fossem perseguidos e destruídos. O fascismo
não é uma coisa que outras pessoas fizeram. Ele está aqui mesmo em todos nós.
Vocês perguntam: como que o povo alemão pode ficar impassível enquanto milhares
de inocentes seres humanos eram assassinados? Como alegar que não estavam
envolvidos. O que faz um povo renegar sua própria história? Pois é assim que a
história se repete. Vocês todos vão querer negar o que se passou em “A onda’. Nossa experiência foi um sucesso.
Terão ao menos aprendido que somos responsáveis pelos nossos atos. Vocês devem
se interrogar: o que fazer em vez de seguir cegamente um líder. E que pelo
resto de suas vidas nunca permitirão que a vontade de um grupo usurpe seus
direitos individuais. Como é difícil ter que suportar que tudo isso não passou
de uma grande vontade e de um sonho”, diz ele..
A experiência foi relatada em livro
e depois transformada em filme de 45 minutos, com formato reduzido para ser
adotado em escolas com o objetivo de discutir os riscos de sistemas
totalitários.
O interessante da experiência da Onda é que ela demonstrou
que o fanatismo do nazismo pode se reproduzir em qualquer lugar, mesmo em um
país democrático, desde unidos os elementos necessários (um líder carismático,
psicologia de massa, slogas, saudações etc).
A grande lição para quem assiste é que o fantasma do
nazismo está muito mais próximo de nós do que imaginamos.
Dylan Dog
Em
1986, a Itália viu surgir um personagem de quadrinhos que viraria uma
verdadeira febre, chegando a vender um milhão de exemplares mensais e sendo
republicado duas vezes, ao mesmo tempo que a edição normal. Era Dylan Dog, o
detetive do pesadelo.
Dylan
foi criação de Tiziano Sclavi, um jornalista e escritor italiano, fã de terror.
Sclavi dotou sua série de uma bem elaborada mitologia que conquistou os fãs.
Assim, Dylan é um ex-agente da Scotland
Yard, ex-alcoólatra, que vive de solucionar casos misteriosos envolvendo
vampiros, lobisomens, múmias e mais todo tipo de monstros e pesadelos. Ele usa
sempre calça jeans, camisa vermelha e blazer preto, mora em uma casa que tem uma
campainha que grita, toca clarinete quando precisa refletir sobre algum caso e
faz muito sucesso com as mulheres.
Dylan
tem como assistente o piadista Grouxo, baseado no comediante Grouxo Marx, que
dá o alívio cômico para a série. Mesmo nos piores momentos, Grouxo tem uma
piada na manga. Algumas delas:
“Ontem
salvei uma mulher que estava para ser violentada. Bastou eu me controlar.”
“As
mulheres são loucas por mim! Ontem à noite uma garota ficou batendo na minha
porta durante horas, mas eu não a deixei sair”.
“Sei
ficar em silêncio em quinze idiomas”.
“Este
papagaio é estraordinário, senhora! Bota ovos quadrados. E sabe falar? Bem,
sabe dizer ai”.
Quando
o desenhista perguntou a Sclavi como deveriam ser as feições do personagem,
este respondeu: “Como Rupert Everett”. Fazer personagens como feições de gente
famosa não é novidade nos comics italianos. Ken Parker, por exemplo, é a cara
de Robert Redford. Esse expediente parece aumentar ainda mais a aura pop dos
personagens.
Sclavi
juntou tudo num mesmo caldeirão: referências pop, romantismo, humor, terror e
até surrealismo. Sim, alguns das melhores histórias do personagem são aquelas
em que se perde a referência do real e parece que o leitor entrou num mundo
onírico em que qualquer coisa pode acontecer.
O
sucesso extraordinário de detetive do pesadelo fez com que a editora Sérgio
Bonelli, que publica o personagem, criasse o Dylan Dog Horror Festival, uma
exibição de filmes à qual comparecem milhares de pessoas vestidas de monstros
ou como personagens da série. Além do festival, Dylan serviu de inspiração para
agendas, adesivos, embalagens, jogos, vide-games, campanhas contra as drogas,
simpósios e teses acadêmicas. Nas palavras do jornalista Sidney Gusman, Sclavi
conseguiu criar uma história em quadrinhos de autor que, ao mesmo tempo, é
imensamente popular.
No
Brasil, Dylan Dog foi publicado primeiramente pela Record, no início dos anos
1990. Mas o personagem que sobrevivera a tantos monstros não conseguiu resistir
à crise e acabou sendo cancelado depois de poucos números. Em 2001, a editora
Conrad resolveu publicar o fumetti numa série de 6 números com um formato mais
alongado, papel de melhor qualidade e capas de Mike Mignola. As vendas não
foram as esperadas, e o personagem acabou passando para a Mythos, que já
publicava diversos outros quadrinhos da Bonelli, como Tex, Zagor, Ken Parker e
Júlia, durando até o número 40.
O uivo da górgona - parte 45
45
Sofia tentava acostumar-se com a
escuridão. A sala formava um L com o corredor e a luz que vinha dele era
incapaz de iluminar o que havia do outro lado. Com o tempo, a menina conseguiu
distinguir uma espécie de mesa. Não, não era uma mesa, era algo diferente.
Parecia de metal, mas era alta e estreito demais para ser uma mesa. A menina
teria pensado que se tratava de uma cama, mas nem mesmo isso se encaixava no
que seus olhos conseguiam vislumbrar.
Sofia sentiu o coração palpitar e
suas mãos agora estavam suando.
Havia algo em cima da mesa
estranha, como um saco de dormir, ou um amontoado de roupas. O que poderia ser?
Ela olhou à volta, em busca de um
interruptor e achou-o na quina do fim do corredor.
Então deu um passo cauteloso na
direção dele, seus tênis arrastando contra o chão.
A luz acendeu e a menina custou a
discernir o que via. Talvez porque seus olhos estivessem acostumados à
penumbra. Parecia um manequim humano, como aqueles que ela vira em várias
lojas, mas faltavam os braços e as pernas, sobrando apenas o tronco. Sofia
imaginou que fosse o manequim de uma mulher por causa dos cabelos negros com
corte feminino. O rosto estava virado para a parede.
A menina se aproximou e seus
olhos, agora acostumados à claridade, repararam em algo estranho. De onde
deveriam sair pernas e braços saiam linhas negras, como se alguém tivesse
costurado a pele.
Agora mais perto, a menina reparou
que o manequim não tinha textura de plástico, mas de pele. Pele humana. Que
tipo de pessoa faria um manequim tão realista? Por que razão? Ou talvez... ou
talvez fosse realmente uma mulher?
Foi nesse momento que a mulher se
virou e olhou para ela.
quarta-feira, abril 26, 2017
O nazismo existiu no Brasil?
Existiu. O partido nazista brasileiro chegou a ter 2.900
integrantes. Era o maior fora da Alemanha. Isso se deve à grande imigração
alemã, especialmente na região sul do Brasil. Alguns de seus líderes, como Otto
Braun, chegaram a ter treinamento em Munique para se tornarem agentes
políticos. Havia a Juventude Hitlerista, a Associação dos Professores Nazistas
e a Associação das Mulheres Nazistas. Na escola alemã da Vila Mariana, em São Paulo , os alunos
saudavam os professores com a saudação “Heil Hitler!”. Muitos dos professores
vinham da Alemanha especialmente para fazer propaganda do nazismo.
A defesa do nazismo era tão generalizada que um pai
chegou a escrever a Goebbels, denunciando o diretor do colégio Visconde de
Porto Seguro, por não ensinar o nazismo.
Os nazistas brasileiros não se interessavam pela política
local e não aceitava em seus quadros descendentes de alemães nascidos no
Brasil. Mas, de 1936 a 1939 os alemães radicaram no Brasil receberam a
incumbência de fazer a opinião pública brasileira apoiar Hitler.
Para isso eles contavam com 15 emissoras de rádio, que
transmitiam notícias escritas em Berlin. Além disso, havia panfletos, livros e
o jornal Deustscher Morgen (Aurora Alemã).
Em 1938, Getúlio Vargas proibiu diversos partidos, entre
eles o nazista, mas ele continuou operando normalmente. Em abril de 1952 uma
passeata no centro de Florianópolis reuniu duas mil pessoas vestidas com
uniformes nazis.
A perseguição aos nazistas só aconteceu de fato com a
entrada do Brasil na Guerra em favor dos Aliados. Nessa época muitos alemães
foram presos em campos de concentração acusados de espionagem. Há relatos de
vexames públicos, como obrigar alemães a beberem óleo de rícino com óleo diesel
e a defecarem em praça pública.
O uivo da górgona - parte 44
44
Quando terminaram, voltaram para
seus quartos. Estavam exaustos depois da longa noite insone. Apenas Sofia ficou
na sala, assistindo a um desenho na grande TV de plasma. Embora não pudesse
ouvir o som, em sua imaginação infantil conseguia entender a história.
Mas, com o tempo, foi perdendo o
interesse. Levantou-se e olhou à volta. Nenhum movimento. Nem mesmo a galinha
andava por ali.
Não estava com sono, mas o desenho
não lhe interessava mais. O que restava era andar pela casa, desbravando-a.
Sentia-se entre curiosa e tensa. Talvez porque sabia que estava fazendo uma
travessura. Os adultos esperavam que ela ficasse ali, na sala, mas aquele
espaço parecia agora pequeno e a menina queria saber o que havia além dele.
Pouco antes de entrar na cozinha
deparou-se com uma porta. Vira um dos adultos tentando entrar nela assim que
chegaram e o dono da casa o impedira.
Sofia forçou a fechadura e
descobriu que não estava trancada.
A porta abriu lentamente e a luz
da cozinha se esparramou como um leque pela superfície negra do cômodo. Sofia
deu um passo para frente, indecisa. Fez isso e levou a mão direita na direção
da parede, na busca de um interruptor. Seus dedos foram tateando lenta e cuidadosamente,
até se depararem com uma saliência de plástico no reboco.
Uma luz se acendeu iluminando o
que parecia um corredor curto. Lá no fim, o corredor parecia se abrir num
cômodo maior. Havia coisas penduradas pela parede, mas de onde estava, a menina
não conseguia identificar o que eram. Ela olhou para trás, esperando ver algum
adulto que a orientasse. Mas não havia ninguém. Era ela, sozinha e uma dúvida
terrível: entrava ou não entrava?
Por fim, deu mais um passo e olhou
à volta. Apenas a parede, dos dois lados.
Sofia deu mais um passo. E outro.
E outro. Enfim, estancou, intrigada e maravilhada com que seus olhos
vislumbravam. A parede era coberta de objetos pendurados. Havia um avental de
plástico branco. Havia diversas manchas nele e a menina pensou inicialmente que
era um avental de pintura, como aqueles que ela usava na escola, mas ao se
aproximar, sentiu um forte odor acre. Além disso, as manchas variavam do
vermelho ao roxo. Não havia nenhum amarelo, azul ou verde entre as várias e
pequenas manchas. Em uma sacola transparente viu pequenos frascos igualmente
transparentes, repletos de linhas e agulhas de costuras das mais diversas cores
e grossuras.
Mas o que mais a maravilhou foram
as coisas que brilhavam ao longe. Havia ali uma profusão incrível de facas das
mais variadas cores e tamanhos. Algumas eram pequenas, com a lâmina fina e
pequena, outras eram grandes e pesadas como cutelos.
Todas estavam devidamente limpas e
organizadas por tamanho e tipo. Quem quer que as guardara era meticuloso e organizado.
A limpeza das facas era algo quase
irreal naquele ambiente e contrastava fortemente com a sujeira abstrata do
avental.
Sofia ficou ali, admirando-as, até
perceber que havia algo do outro lado da sala.
terça-feira, abril 25, 2017
O que eram os protocolos dos sábios de Sião?
Os protocolos dos sábios de sião é um texto falso,
redigido na época da Rússia Czarista, que descrevia um projeto de dominação
mundial por parte dos judeus. Segundo o livro, o texto seria a ata de uma
reunião ocorrida a portas fechadas na Basiléia no ano de 1807, na qual vários
maçons, judeus, bolcheviques e rosacruzes teriam se reunido para elaborar um
plano de destruição do cristianismo.
Entre os planos estavam explosões em cidades européias e
inocular tifo em chefes de estado. Quando o mundo estivesse totalmente
dominado, esses grupos iriam estuprar as mulheres cristãs e escravizar seus
maridos.
Desde sua primeira publicação, várias investigações foram
feitas e todas demonstraram que se tratava de uma fraude. Um artigo no The Time
of London, de 16 a 18 de agosto de 1921 demonstrou que o texto era plágio de
vários outros textos, entre eles sátiras políticas, como O diálogo no inferno
entre Maquiavel e Montesquieu, de Maurice Joly. A inovação ficou por conta do
caráter anti-semita do texto.
O quadrinista Will Eisner realizou uma extensa pesquisa
sobre o assunto, publicada na graphic novel O complô. Na HQ, Eisner mostra que a origem do texto se
deve a uma intriga política na Rússia.
Os protocolos foram o principal argumento usado pelos
nazistas para justificar o extermínio de judeus.
Grafipar, a editora que saiu do eixo
No final da década de 1970, Curitiba se tornou a sede da principal editora de quadrinhos nacionais. A produção era tão grande que se formou até mesmo uma vila de quadrinistas. No livro Grafipar, a editora que saiu do eixo, eu conto em detalhes essa história. O livro inclui também algumas HQs publicadas na época e análise das mesmas.
Pedidos: profivancarlo@gmail.com.
segunda-feira, abril 24, 2017
Hitler gostava de futebol?
Aparentemente não. Ele não costumava ir aos estádios
assistir aos jogos, mas mesmo assim tentou usar o jogo como instrumento de
propaganda política. A crise mundial de 1929 quebrara a Federação Alemã de
Futebol (DFB) e o ditador se ofereceu para ajudar financeiramente à
instituição. A idéia era divulgar a superioridade da raça alemã através de
vitórias no futebol.
Um dos que mais colaboraram nesse processo Joseph
Herberger. Apesar de conhecer as atrocidade cometidas pelo regime nazista, eles
sempre defendeu o regime, pois queria tornar-se técnico da seleção, o que
conseguiu em 1937. Herberger continuou no cargo após a II Guerra e chegou a
ganhar a copa do mundo de 1964.
Outro exemplo de como o regime nazista tinha interesse no
futebol foi o caso do atacante austríaco de origem judia Matthias Sindelar. Ele
era tão magro que os austríacos o conheciam como Der Papiereme (Homem papel),
mas jogava um bolão. Quando Hitler anexou a Áustria, vários jogadores passaram
para o time alemão, mas Matthias se recusou. A recusa o colocou numa situação
difícil: ficava claro que, além de judeu, ele era uma adversário do nazismo.
No jogo comemorativo pela unificação da Áustria e a
Alemanha ele protestou errando vários gols até marcar um na vitória de 2 a 0 do
time austríaco Ostmark sobre o alemão Altreich.
Tal atrevimento não poderia ficar impune e ele logo foi
encontrado morto em um hotel, envenenado por monóxido de carbono. A maioria dos
historiadores acredita que ele foi morto pela polícia secreta nazista.
O uivo da górgona - parte 43
43
O grupo encontrou sabonete, xampu
e outros itens de higiene nos banheiros. Quando terminaram, desceram para a
sala de estar.
Roberto e Zulmira haviam cuidado
do almoço, que já estava pronto quando o grupo desceu.
Zulmira antipatizara totalmente
com Roberto e até mesmo o arroz fizera questão de preparar separadamente. Essa
separação se refletia na mesa: de um lado, um grande prato de carne assada,
sala de batatas, arroz e farofa; do outro, arroz e uma mistura de batata com
batata doce e salada.
O grupo simplesmente ignorou a
parte vegetariana e atacou a carne. Apenas a pequena Sofia, talvez por
solidariedade, se serviu da comida feita por Zu.
- Vocês têm ideia de quanto esses
animais sofreram que vocês comessem essa carne? – indagou Zulmira. Já ouviram
falar de pocilga de sequestro? Os porcos são colocados num mesmo ambiente. Eles
vêm os outros sendo mortos e tentam fugir.
- Eu já ouvi falar disso. Hoje em
dia se aplica um choque neles para que não sofram. – disse Roberto.
- O choque é insuficiente, porque
um choque maior queimaria a carne e isso diminuiu os lucros. A maioria recobra
a consciência quando estão sendo sangrados. É como se alguém entrasse nesta
sala e começasse a nos matar um a um...
Alan bufou:
- Você está ficando louca? Ninguém
vai nos matar um a um. O perigo está lá fora.
- Alguns de vocês viram zumbis
comendo pessoas. Qual a diferença de nós comendo animais?
- Zulmira, você está passando dos
limites. – decidiu Edgar. Estamos comendo.
Não é uma boa hora para falar desse tipo de coisa...
- Além disso, esses animais já
estavam mortos quando começou a coisa toda. – completou Alan. O melhor que
podemos fazer é comer essa carne deliciosa...
Zu silenciou e dedicou-se ao seu
prato de comida...
Esquadrão Atari
Em
1984, a editora DC lançou uma versão em quadrinhos baseada nos jogos de
vídeo-games da Atari. Não era a primeira adaptação de games da Atari, mas esse
estava destinado a entrar para a história como um dos melhores trabalhos da era
de bronze dos quadrinhos. A equipe criativa era composta por dois grandes nomes
dos comics: o roteirista Gerry Conway e o desenhista José Luis Garcia Lopes.
Gerry
Conway, nascido em 1952, começou a escrever quadrinhos ainda na juventude com
histórias para revistas de histórias curtas da DC Comics, como a House of
Secrets, mas seu grande sonho era trabalhar com um título de super-heróis.
Graças a um amigo, ele conheceu Roy Thomas, editor da Marvel, lhe entregou um
argumento e pediu que ele desenvolvesse. Roy gostou do resultado e, com 19
anos, Conway foi efetivado no cargo de roteirista oficial do Homem-aranha.
Apesar
de inseguro no início (as primeiras histórias eram co-escritas com o desenhista
do título, John Romita Senior), Conway logo se destacou e acabou escrevendo
algumas das mais importantes histórias do aracnídeo na década de 1970, entre
elas a controversa morte de Gwen Stacy. Conway foi também, junto com o
desenhista Ross Andru, responsável pela criação do Justiceiro, que surgiria
como personagem secundário na série do Aranha, mas se tornaria um dos mais
populares da Marvel na década de 1980.
Em
meados da década de 1970, ele foi contratado pela DC, onde faria o primeiro
crossover entre as duas maiores editoras do mercado norte-americano: o encontro
de Superman e homem-aranha.
José
Luis Garcia Lopez nasceu na Galícia, mas mudou para a Argentina ainda jovem,
onde leu muito quadrinho norte-americano, especialmente os trabalhos de Alex
Raymond e Roy Crane.
Indo para os EUA, Garcia Lopes
substituiu Joe Kubert na revista Tarzan, o que acrescentaria mais uma
influência seu traço, já que na época era comum um desenhista que entrava num
título imitar o anterior, para os leitores não sentirem o impacto da mudança.
Depois
de trabalhar para a Charlton, ele se fixou na DC Comics, onde desenvolveria um
dos traços mais dinâmicos e bonitos dos comics americanos. Seu visual do
Super-homem atlético praticamente redefiniu a imagem do Homem-de-aço. Uma das
imagens mais famosas, do personagem arrebentando correntes com a simples flexão
dos músculos do peito, é de autoria de Garcia Lopes.
Garcia Lopes foi responsável pelo traço do segundo grande encontro da
década de 1970: entre o Hulk e Batman, com roteiro de Len Wein.
Esquadrão Atari juntava, portanto, dois dos nomes mais importantes da
era de bronze dos quadrinhos americanos. E ambos não decepcionaram. A primeira
história mostrava personagens bastante originais: os mercenários Dart e
Blackjack, o gigante bebê, que é seqüestrado de seus planeta natal, a telepata
Morféa, vinda de uma civilização em que as crianças são criadas sem identidade
(e sempre se refere a si mesmo como “este ser”), o ladrão Paco Rato, o rapaz
Tormenta, que tem a capacidade de se
teleportar e seu pai, Martin Champion, um homem obcecado com a idéia de que o
universo está sendo ameaçado por uma força poderosíssima chamada Destruidor
Negro. Esse time improvável irá se juntar, alguns contra a vontade, para salvar
o universo.
Embora a primeira história fosse essencialmente uma apresentação de
personagens, ela já apresentava algumas das mais interessantes características
da série: a ação vertiginosa e o suspense muito bem trabalhado. A estrela dos
primeiros números é Dart, que junto com seu namorado Blackjack vão cobrar uma
dívida e são atacados por um exército, mas conseguem escapar. A sequência
inicial mostrava os dois lutando contra os soldados do general Ki numa página
dupla que é um dos momentos mais clássicos dos quadrinhos da era de bronze.
Dart e Blackjack estão no quadro maior, que é invadido por uma mão vinda de
fora do quadro, apontando uma arma para Dart. Na sequência lateral, a heroína
nocauteia o dono da mão. Ali estão os elementos que fariam de Garcia Lopes um
dos desenhistas mais requisitados para capas: a composição inovadora, o
dinamismo e o perfeito domínio da anatomia.
Se Garcia Lopes tinha perfeito domínio da parte visual, Gerry Conway se
revelou um mestre do roteiro, com uma ótima caracterização de personagens,
narrativas paralelas, e uma trama muito bem costurada. Os dois, inclusive,
voltariam a se encontrar anos mais tarde, na minissérie Cinder e Ash, com
grande sucesso.
A dupla foi responsável pelo título até o número 12. O número 13 contou
com roteiro de Conway e desenhos do estreante Eduardo Barreto, que emulava o
estilo de Garcia Lopes. No número 14 a equipe se modificou completamente com a
entrada de Mike Baron no texto. Ainda assim a revista continuou com um bom
nível de qualidade até o número 20, quando a trama finalmente fechou.
No Brasil, Esquadrão Atari era uma das principais atrações de revistas
como Herois em Ação e Superamigos. Infelizmente, questões de direitos autorais
com a Atari fizeram que com essa série não fosse republicada, razão pela qual
poucos leitores da nova geração conhecem essa obra-prima da ficção-científica.
domingo, abril 23, 2017
O que é o mito ariano?
O mito da
raça ariana surgiu no século XIX, quando etnológos propuseram que todos os
povos europeus brancos eram descendentes de um povo denominado ariano.
Essa
idéia foi usada por diversos teóricos do colonialismo, numa época em que era
interessante a idéia de um raça superior às outras. Entretanto, nenhuma dessas
correntes deu ao conceito o aspecto macabro do nazismo. Para os nazistas a raça
ariana não só era a superior, mas era também a única com direito à existência.
Raças indesejadas, como ciganos e judeus, deveriam ser eliminadas e pessoas
resultantes da mistura de raças deveriam ser escravas dos arianos.
O mito
ariano tem uma relação estreita com as idéias de Herbert Spencer de
sobrevivência do mais forte. Entretanto, esse conceito não se encaixa na idéia
original de Darwin que dizia não ser a mais forte ou melhor raça a sobreviver,
mas a mais adaptada ao seu meio naquele momento.
Um autor
importante para as idéias nazistas foi Huston Chamberlain, genro de Wagner. Em
sua obra "Fundamentos para o século XX", de 1899, ele disse que a
raça superior ariana ainda estava intacta na Alemanha e no Norte Europeu.
Tornou-se
popular a idéia de que os arianos germânicos, os mais puros, de acordo com a
propaganda nazista, deveriam ser loiros, de olhos azuis e testa alta.
Entretanto, muitos dos principais nazistas não se encaixavam nesse padrão.
Hitler era baixo e tinha cabelos escuros, embora seus olhos fossem claros.
Josef Mengele, possuía olhos e cabelos escuros e Joseph Goebbels, estava longe
de ser um exemplo de físico Nórdico em todos os sentidos.
O uivo da górgona - parte 42
42
O grupo passou por uma porta
fechada. Alan colocou a mão na fechadura, mas Roberto o impediu:
- Essa porta dá acesso ao porão,
que estava em reforma quando começou tudo isso. Peço que não entrem aí. Há
pregos e madeiras espalhadas e não tenho lâmpadas. Alguém pode se machucar.
- Desculpe-me. – disse Alan.
- Oh, não há nenhuma razão para se
desculpar. – garantiu Roberto, com um sorriso. Vamos subir para o segundo
andar? É lá que ficam os quartos. Não sei se tenho quartos para todo mundo.
Espero que não se importem de ficar dois em um quarto.
- Você diz isso porque não sabe o
que passamos. Depois de toda a confusão dos últimos dois dias eu dormiria até
num canil.
Roberto riu e foi acompanhado pelo
resto do grupo. Apenas Zu não riu.
- Isso deve ter custado uma
fortuna! – exclamou Alan.
Estavam num corredor no andar
superior. Havia dormitórios dos dois lados e um no final, o maior deles. Os
quartos eram amplos, tinha televisão com DVD e banheiros internos.
Roberto sorria.
- E o melhor é que todos os
quartos têm isolamento acústico. A não ser que um de vocês resolva passear lá
fora, estarão seguros aqui...
Zu chamou Edgar para um canto:
- Que razão um de nós teria para
passear lá fora sozinho?
Edgar olhou-a, severo:
- Zulmira, você está passando dos
limites.
Depois desceram para a cozinha.
Havia uma geladeira e dois freezers. Um deles estava repleto de carne.
- Como tenho energia elétrica,
assim que aconteceu a coisa, fui em mercados e peguei carne para estocar.
Zulmira e Jonas e aproximaram para
ver.
- Cadáveres. – comentou Zu.
Roberto pareceu desconcertado:
- Cadáveres? Como...?
- Ela é vegetariana. – esclareceu
Alan.
- Oh, sim. – suspirou Roberto.
Tenho também muitas verduras. Não é por isso que vão passar fome...
sábado, abril 22, 2017
O que aconteceu com os cientistas judeus na Alemanha?
A maioria
fugiu, a exemplo de Albert Einstein, que foi para os EUA em 10 de março de
1933, logo no início do regime nazista.
A
situação desses cientistas ficou bem clara em 6 de maio de 1933. Nesse dia, Max
Planck, um dos cientistas mais importantes da época e pai da física quântica,
teve uma reunião com Hitler. Ele queria evitar a demissão do químico Fritz
Haber, de origem judia. Haber havia sido um dos principais responsáveis pelo
uso de produtos químicos na I Guerra Mundial. Além disso, a técnica de fixação da
amônia a partir do nitrogênio, inventada por ele, permitiu a criação tanto de
explosivos quanto de fertilizantes baratos.
Planck
argumentou que existiam diversos tipos de judeus, alguns valiosos e outros
inúteis para a humanidade e que Haber estava entre os que eram valiosos. Hitler
ficou histérico e começou a berrar, tremendo de raiva: “Se a ciência não pode
passar sem os judeus, teremos que passar sem a ciência”.
Era a
sentença de morte para todos os cientistas de raças indesejáveis que
continuassem na Alemanha. Muitos do que fugiram para os EUA iriam contribuir
para que aquele país fosse o primeiro a desenvolver a bomba atômica.
O uivo da górgona - parte 41
41
Havia uma pessoa ali, um homem de
cerca de trinta e cinco anos. Vestia uma calça jeans e tênis e uma camisa gola
polo. Estava entrando em uma casa e o portão automático fechava-se. Era uma
pessoa normal e não tinha visto eles!
Jonas começou a gritar e Edgar
levou algum tempo para entender que o outro estava tentando chamar atenção do
desconhecido.
- A buzina! – gritou Alan, lá
atrás.
Edgar acelerou enquanto
pressionava a buzina. Mas quando pararam ao lado do portão, ele havia se
fechado, escondendo o interior
Olharam à volta: era um muro imenso,
de mais de três metros. Havia câmeras lá no alto. Olhos cegos, pensou Edgar.
Não funcionam sem energia. Mas espantou-se ao ver que elas se movimentavam.
Então o portão se abriu com um
estalo.
O enorme portão de metal foi se
abrindo lentamente, revelando um amplo quintal. O proprietário deveria ter
comprado dois terrenos para a casa. O chão da garagem era todo de granito.
Havia um carro branco ali, mas teria espaço para pelo menos dois outros
veículos. O homem estava lá, em pé, com o controle na mão e um sorriso no
rosto.
- Nossa, vocês não têm ideia de
como estou feliz de ver pessoas normais!
Edgar ficou lá, parado e abismado.
O portão abrindo, as câmeras se mexendo, as luzes acesas... aquela casa tinha
energia!
- Melhor vocês entrarem. É
perigoso deixar o portão aberto tanto tempo.
Edgar manobrou para dentro da
garagem e o homem fechou o portão o mais rápido possível. Quando os
sobreviventes saíram, ele estava lá, um sorriso radiante no rosto, as roupas
escrupulosamente levadas e passadas, os tênis brancos.
No meio de toda a confusão dos
últimos dias, Edgar sentia-se um trapo. Provavelmente sua roupa estava suja e
amarrotada e ele duvidava que seu rosto estivesse melhor. Assim, ver aquele
homem era quase como encontrar uma criatura dos sonhos.
- Sejam bem-vindos. – disse ele.
Eu sinceramente achei que todos tinham se transformado naquelas coisas. É muito
bom ver pessoas normais.
O grupo desembarcou e, ao ver a
menina, o homem se abaixou para cumprimentá-la:
- Uma criança! Qual é o seu nome,
menina?
Sofia não respondeu. Olhou para o
homem e depois para Edgar.
- Ela é surda. – explicou o
professor.
- Surda? – repetiu o homem. Isso
explica porque ela não se transformou...
O homem se levantou e fez um
carinho da cabeça de Sofia:
- Seja bem-vinda, menina. Aqui
você está segura.
Edgar adiantou-se e apertou a mão
do desconhecido:
- O nome dela é Sofia. O meu é
Edgar.
- Prazer em conhece-lo, Edgar. Meu
nome é Roberto.
Edgar apontou à volta:
- Estou impressionado. Achei que a
energia tivesse caído em toda a cidade.
- E caiu. – respondeu Roberto. Eu
tenho um gerador de energia movido a óleo diesel. Enquanto a cidade tiver
combustível, teremos energia. E ainda existem vários postos por aí, apesar de
um deles ter explodido ontem...
- Nós passamos pelo posto. Havia
muita gasolina derramada. O sol deve ter feito o resto...
-
Entendo.
O grupo foi apresentado e Roberto
convidou todos a entrarem em sua casa. Era uma casa limpa e asseada, elegante.
As paredes eram grossas:
- Toda a casa tem isolamento acústico.
Por isso eu não me transformei numa daquelas coisas quando soou o... que nome
dar para aquilo?
- Edgar chama de uivo da górgona.
– explicou Jonas.
- É justo. – disse o outro, após
alguns minutos de reflexão. Vamos, entrem.
O grupo foi entrando, meio
abismado com tudo. Sofia acercou-se, maravilhada, de uma televisão.
- Nenhum canal está pegando, mas
posso colocar desenhos animados e jogos. Ela gosta, não gosta?
Edgar deu de ombros:
- Eu realmente não sei.
- Vamos descobrir. Aqui tenho
tudo. Energia, comida, isolamento acústico. Aqui estarão seguros e alimentados.
Venham, vou lhes mostrar o resto da casa.
O grupo o seguiu, mas Zulmira
puxou Edgar na direção oposta:
- Tem alguma coisa errada nisso
tudo.
-
Como assim? – perguntou Edgar.
- Eu realmente não sei. Mas tudo
isso está bom demais. Perfeito demais. De repente achamos alguém que nos dá
tudo que precisamos. Não acha isso estranho?
- Eu ainda não vi motivos para
desconfiar de Roberto. Ele parece muito simpático e nitidamente está muito feliz
de ver pessoas que não se transformaram em zumbis.
- Esse é o problema. – garantiu
Zu. Ele é simpático demais. Parece um ator numa propaganda. E tem mais uma
coisa: por que ele fez isolamento acústico na casa toda? Você tem ideia de
quanto deve ter custado isso?
- Eu sei muito bem. Fazer apenas
no meu quarto já foi caro. Mas ele parece um homem rico e deve gostar de
silêncio. Eu e você não gostamos da barulheira. Deveríamos ser os primeiros da
dar razão a ele.
- Ainda assim...
Edgar virou-se na direção do
grupo:
- Começo a achar que você é
paranoica.
Zu deu um longo suspiro e seguiu o
professor, resmungando.
O Mestre do Kung Fu
Na década de 1970, a grande moda eram as artes marciais. No
cinema, os filmes de Bruce Lee eram sucesso de bilheteria. Na televisão, a
série Kung Fu, com David Carradine (o “pequeno gafanhoto”) ganhava cada vez
mais fãs. Não ia demorar muito, portanto, para que essa mania chegasse aos
quadrinhos.
A Marvel lançou o super-herói Punhos de Ferro, enquanto a
DC lançou O Dragão do Kung Fu, sem falar nas pequenas editoras, que também publicaram
revistas para aproveitar a febre. Mas o personagem mais famoso e mais
emblemático dessa onda seria Mestre do Kung Fu, criado por Steve Englehart
(roteiro) e Jim Starlin (desenhos).
Os dois procuraram o editor-chefe da Marvel, Roy Thomas,
com a proposta de adaptar para os quadrinhos o seriado de TV. Thomas lembrou
que a série pertencia à Warner Bros, dona da DC. Então, ao oferecer a proposta
para a Warner eles não só receberiam um não, como ainda dariam uma ótima idéia
à DC Comics. Mas a editora do Super-homem já estava pensando em adaptar o
seriado. Roberto Guedes, no livro A era de bronze dos super-heróis conta que
Denny O´Neil teria alertado o Publisher da DC, Carmine Infantino,sobre a
possibilidade da Marvel lançar esse material. “Não se preocupe. Se a Marvel
lançar o Kung Fu, nós fazemos o Fu Manchu”. Fu Manchu era um vilão clássico dos
pulp fiction (revistas baratas de contos, muito populares até a década de
1930). Roy Thomas ficou sabendo disso e resolveu comprar os direitos do
personagem, transformando Fu Manchu no pai do herói da série.
Assim, a revista em quadrinhos contava a história de
Shang-Chi, um jovem mestre nas artes marciais, criado como uma arma viva por
seu pai, Fu Manchu, que pretendia usá-lo para dominar o mundo. Ao descobrir as
intenções de seu pai, Shang-Chi foge e se alia à agência britânica de
espionagem, a MI-6, onde conhece aquela que seria sua namorada, Leiko Wu.
A história estreou na revista Special Marvel Edition, 15
que passou a se chamar Master of Kung Fu a partir do número 17 por conta da
popularidade do personagem.
Embora Shang-chi tenha sido criado por Steve Englehart,
foi Dough Moench que se estabeleceu no título, escrevendo as mais importantes
histórias. Com a entrada de Paul Gulacy, estava formada a dupla favorita dos
fãs.
Gulacy tinha um traço fotográfico que espantou os fãs. Para
tornar o trabalho mais realista, ele conseguiu uma cópia do filme Operação
Dragão, projetou numa tela e fotografou as cenas congeladas. Assim, o
personagem ficava com a cara de Bruce Lee.
Gulacy desenhou a revista até o número 50, quando foi
substituído por Jim Craig. Como este não conseguia cumprir os prazos, foi
substituído por Mike Zeck.
Mike Zeck costumava errar muito em anatomia e não tinha o
traço fotográfico de Paul Gulacy, mas trouxe outras qualidades para a série.
Seu desenho era fluido e elegante, e combinava muito bem com a nova fase do
personagem, mais introspectiva. Depois das sagas centradas nas aventuras de
espionagem, o gibi começou adentrar na filosofia zen budista e a explorar mais
as relações entre os personagens.
Esse foco ousado para um gibi de luta fez com que Mestre
do Kung-Fu se destacasse de todas as revistas do gênero e durasse até o número
125, superando em muito o modismo das artes marciais. O último número, seguindo
a linha introspectiva introduzida por Moench, mostrava o personagem se
aposentando para se dedicar à filosofia oriental.
Sem dúvida, a revista foi um dos grandes momentos da Era
de Bronze dos quadrinhos americanos.
sexta-feira, abril 21, 2017
Existiu uma oração a Hitler?
Sim. Na época do III Reich o culto a figura do fuhrer
chegou a tal ponto que era comum comparar Hitler com Jesus, vendo-o como
Messias enviado por Deus para salvar a Alemanha.
Essa comparação chegou ao seu cúmulo na criação da oração
a Hitler. Essa oração era rezada por crianças de orfanatos e consistia das
seguintes falas:
Führer, mein
Führer, von Gott mir gegeben, beschütz und erhalte noch lange mein Leben
Du hast
Deutschland errettet aus tiefster Not, Dir verdank ich mein täglich Brot
Führer, mein
Führer, mein Glaube, mein Licht
Führer mein Führer, verlasse mich nicht.
A tradução aproximada a reza seria algo como:
Führer, meu Führer, que me foste dado por Deus,
protege-me e mantém-me vivo por muito tempo.
Salvaste a Alemanha da mais profunda miséria, a ti te
devo o meu pão de cada dia
Führer, meu Führer, minha fé, a minha luz
Führer meu Führer, não me abandones.
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