sábado, abril 08, 2017

O uivo da górgona - parte 33


33
Pararam na frente da mercearia. Edgar ficou do lado de fora, com o motor ligado, pronto a sair caso acontecesse alguma coisa. Olhou para o medidor e viu que precisaria de mais gasolina. Mas não tinha coragem de sair e tentar achar outro posto. Além disso, já se aproximava a hora do almoço e ele se lembrou de que não tomara café da manhã.
Jonas e Zulmira haviam sumido dentro do mercadinho, mas logo voltaram com diversas sacolas.
- Abre o porta-malas! – pediu a mulher, enquanto Jonas fechava a grade da frente.
- Esqueça o porta-malas. Quanto mais tempo ficarmos na rua, maior o perigo. – sugeriu Jonas. 
A mulher bufou, mas entrou pela porta traseira.
- Pegue algumas sacolas! – disse para Alan, jogando alguns pacotes no colo do rapaz.
- Ela insistiu em trazer verduras. – informou Jonas, quando entrou no carro.
- Vou fazer um prato com batatas temperado com curry. – explicou a mulher.
- Preferia comer a galinha. – respondeu Alan, sob o olhar acusatório da senhora.
- Sabe, pensando bem, não me lembro de ter visto nenhum cachorro nas ruas...
- As coisas comeram a maioria. Eu vi. – disse Zulmira. Depois que a música fritou o cérebro deles, só conseguem comer carne quente. A maioria dos cachorros que não fugiu já deve ter sido devorado. Acho que até os gatos estão sendo exterminados...

Já na casa, Edgar surpreendeu-se ao descobrir que ainda havia água.
- Não faz sentido. A energia acabou. Não deveria também ter água na torneira.
- Talvez seja a água que sobrou nos reservatórios. – sugeriu Jonas.
- Hm hm. – fez Edgar. Em todo caso, se alguém quiser tomar banho, melhor economizar.
Estavam na cozinha. Zulmira pegara um porta-retratos sobre um armário e o examinara. Mostrava o professor ao lado de uma mulher e uma menina.
- São sua esposa e sua filha?
Edgar andou até ela, pegou o porta-retratos de sua mão e o colocou, virado para baixo, sobre a geladeira.
- A gente não pode nem mesmo fazer uma pergunta! – resmungou a mulher, abrindo a sacola com as batatas.
Alan, Jonas e Edgar foram tomar banho. A casa tinha dois banheiros: um social e um na suíte.
Enquanto isso, a pequena Sofia passou brincando com a galinha, que corria para cima e para baixo, cacarejando.
Quando voltou para a cozinha, Edgar sentiu um cheiro forte e confortador.
- Gostoso, não? É o curry. Vou fazer também arroz e pasteis de queijo.
Em pouco tempo estavam todos na cozinha, ao redor da mesa. Comeram em silêncio, enquanto Zulmira tratava da galinha, colocando milho e sementes em uma vasilha de plástico e água em outra.

Quando terminaram, foram para a sala. A menina se deitou sobre o colo de Edgar, no sofá e dormiu. Seu sono era pontuado por tremores e calafrios. 

sexta-feira, abril 07, 2017

Como Hitler conseguiu vencer a linha Maginot?

A linha Maginot era a maior linha de defesa já construída e parecia impossível invadir a França. No entanto, ela tinha uma falha.
A principal falha da linha era não se estender até o mar do norte. Por diversas razões, entre elas a falta de financiamento, a linha foi interrompida a 20 quilômetros a leste de Sedan, perto da fronteira franco-belga. Como a Bélgica era um país neutro, a maioria dos franceses se sentia seguro.
Hitler atacou justamente na região de Sedan, além da linha. Boa parte das tropas francesas, inglesas e belgas foram cercadas e empurradas até a praia de Dunquerque, para onde os ingleses haviam enviado centenas de embarcações para resgatar seus soldados presos nessa armadilha. As tropas do letes e regimentos dispostos atrás da linha ficaram presas entre a fronteira alemã e as divisões mecanizadas alemãs que vinha pela fronteira suíça.
Quando o governo francês assinou o armistício em 22 de junho de 1940, a linha Maginot ainda estava intacta e ocupada por um número considerável de soldados e oficiais querendo continuar a guerra. Ainda assim, a rendição foi assinada e as tropas foram feitas prisioneiras.

Em outras palavras, ao invés de enfrentar a linha de defesa francesa, Hitler simplesmente contornou-a, encurralando os franceses.  

O uivo da górgona - parte 32


32
A mulher indicou uma casa (Uma casa rosa!, espantou-se Edgar) e saiu rápido assim que o carro parou.
- Melhor virar o carro, caso precisemos sair urgente. – sugeriu Jonas.
- Você tá doido, cara? – reclamou Alan, lá atrás. Isso aqui parece uma ratoeira.
- Vamos manobrar. – respondeu Edgar.
Além de fechada, a rua era muito estreita. Os outros olhavam apreensivos enquanto ele virava e desvirava o carro, tentando colocá-lo na direção para sair. Quando finalmente conseguiu, colocou o carro próximo à casa rosa, mas do outro lado.
Foi quando a coisa apareceu, ao lado deles.

Foi tão rápido que ninguém teve tempo de pensar no que estava acontecendo. O homem apareceu ao lado deles, urrando, gritando e babando. Com o susto, Edgar bateu a cabeça no vidro lateral. Os outros estavam igualmente assustados, em especial Jonas, que estava do lado do vidro outro atacado. Só depois do que pareceu uma eternidade é que perceberam o que estava realmente acontecendo: o homem ficara preso dentro de casa, impossibilitado de sair pela grade da garagem. Mas isso não diminuíra seu instinto agressivo. Ele atravessara os braços pelas grades e abria e fechava as mãos, na tentativa vã de agarrar alguém. A barriga enorme saía da camiseta suja, suas banhas enormes extravasando entre as grades.
- Oh, vocês conheceram o meu vizinho! – disse Dona Zulmira, entrando no carro. Esse aí nunca prestou mesmo. Nem quando tinha cérebro, se é que um dia teve. Final de semana, cerveja e música alta... Não deve ter achado ruim quando a coisa aconteceu.
Edgar olhou para trás. A mulher trouxera para o carro duas sacolas grandes, abertas em cima. Uma delas estava cheia de roupas. Mas a outra... a outra tinha algo vivo!

Alan tentou abrir a sacola, mas a outra a fechou.
- O que tem aí, dentro?
Edgar franziu o cenho e olhou pelo retrovisor. Tudo que precisavam naquele momento era de mais um problema.
- O que tem aí dentro? – repetiu Alan.
- O que você trouxe na sacola? – indagou Jonas.
- Ninguém mexe na Pimpinela!
Edgar não conseguiu segurar o riso:
- Pimpinela? Que espécie de bicho é uma pimpinela?
- Pimpinela, é uma galinha. – respondeu a mulher, tirando algo preto de dentro da sacola.
A pequena Sofia deu um pulo de alegria. Era uma galinha preta com unhas pintadas de vermelho!
- Uma galinha! Você trouxe uma galinha com você?
- Mas não é para comer. A pimpinela é de estimação e eu... oh, não, vamos ter que voltar!
- Voltar, como assim, voltar?
- Não volte! – advertiu Jonas.
- Eu esqueci a comida da Pimpinela!
- Ah, não! – fizeram Edgar e Jonas, em uníssono.
- Esse bicho come milho, alpiste?
- Se for de boa qualidade...
Jonas suspirou:
- Podemos parar na mercearia. Tem comida de passarinho lá. E podemos pegar alguma comida para nós também...
- Já vou avisando que não como carne! – advertiu a mulher, enquanto a menina brincava com a galinha.
Edgar olhou pelo retrovisor. Era a primeira vez que via Sofia sorrindo desde que a conhecera.

quinta-feira, abril 06, 2017

O que era a linha Maginot?

Era uma linha de defesa construída pela França logo depois da I Guerra Mundial para evitar ataques vindos da Alemanha e da Itália.
Essa linha deve seu nome ao seu maior pomotor, André Maginot, um veterano mutilado na I Guerra. Os planos foram debatidos durante 10 anos no Conselho Superior de Guerra e aprovados definitivamente em 1929 por Paul Painlevé, Ministro da Guerra.
O Parlamento votou um financiamento de um bilhão de francos e os trabalhos começaram em 1930.
Maginot tornou-se ministro da guerra em 1929 e foi um ardente defensor da fortificação, mas morreu de intoxicação alimentar por ostras em 1932, antes portanto da finalização da linha.
Em 1936 a maioria dos trabalhos estava terminada e parecia oferecer uma defesa invencível contra a ameaça nazista, que se avizinhava. Seu custo total foi de cinco bilhões de francos e era a mais formidável defesa militar já construída no mundo. Era composta de 108 fortificações distantes 15 quilômetros uma da outra, além de casamatas e 100 quilômetros de galerias. Possuía baterias blindadas escalonadas em profundidade, postos de observação e paiois de munição a grande profundidade.

No entato, a linha Maginot não foi capaz de conter o avanço alemão. 

O uivo da górgona - parte 31


31
Edgar inicialmente achou que fosse mais um dos zumbis e acelerou.
- Não!  - gritou Jonas, ao seu lado, e o professor apertou o freio com toda a força.
O pneu saiu arrastando no asfalto e ganindo como um cachorro ferido. O carro parou a poucos metros da senhora. Não, não era um zumbi, mas era a pessoa mais estranha que o professor já vira. Usava uma saia roxa pouco abaixo do joelho e uma camisa azul com vários colares ao redor do pescoço. Na cabeça trazia um chapéu trançado com enfeites de flores e nas mãos uma sombrinha colorida e pequena, como de criança. Parecia uma figura de sonho.
- Pensei que fossem me atropelar! – gritou ela.
Ficaram todos dentro do carro olhando para aquela figura estranha, até que ela reclamasse:
- Não vai abrir a porta?
Alan apressou-se a abrir a porta traseira e a mulher entrou, empurrando-o, espaço:
- Dá licença! Meu nome é Zulmira. Com L. Z, U, L, M,I, R, A. Todo mundo escreve errado, então pode me chamar de Zu também.  Achei que fossem me matar. Já não bastasse ter de fugir dos sem cérebro, agora tenho que me preocupar com vocês?
- Sem cérebro? – perguntou Alan.
- Você é tapado? Não viu o que aconteceu? A música fritou o cérebro deles.
Edgar começou a rir. Foi como abrir uma comporta. Toda a tensão acumulada durante aquela última hora extravasou num único momento. Quando percebeu, todos estavam rindo com ele.
A mulher olhou à volta, desconfiada:
- Do que estão rindo?
Edgar teve que tirar as mãos do volante para enxugar as lágrimas:
- Nada. Você está certa. A música fritou o cérebro deles...

Edgar achou que a mulher nunca fosse parar de falar e temeu que isso pudesse chamar a atenção dos zumbis:
- Eu sempre digo que esse tipo de música que a juventude de ouve ia fritar o cérebro deles. E o pior é que ouvem sempre alto. Mesmo quando colocam fone de ouvido, no ônibus, todo mundo ouve. A impressão que dá é que querem ficar surdos, ou já estão surdos. Por isso que mandei fazer na minha casa um quartinho com isolamento acústico. É um quartinho pequeno, mas pelo menos lá tenho paz. E ainda durmo com tampões. Sempre ando com tampões de ouvido na bolsa. Ei, entre aqui!
O professor apertou o freio e olhou para trás:
- Como assim?
- Aqui fica a minha casa. Vou ficar com vocês, não vou? Se for, vou precisar pegar algumas coisas.
Edgar olhou para onde a mulher apontava. Era uma rua sem saída. Uma armadilha perfeita, caso os zumbis aparecessem.
Jonas trocou um olhar com o professor. Também tinha percebido o perigo da situação.
- Senhora, não seria mais seguro esperá-la aqui?
- E se aparecer alguma daquelas coisas? Vou ter que andar tudo isso para fugir? Deixem de ser medrosos. Vai ser rapidinho...
Houve um longo minuto de silêncio.
- Então, vão ou não vão?

Edgar balançou a cabeça, como se não acreditasse no que estava fazendo. E manobrou para entrar na rua sem saída. 

Xuxulu não quer estudar


quarta-feira, abril 05, 2017

O uivo da górgona - parte 30


30
O grupo espantou-se com o que via pela pequena janela do quarto. Se antes a multidão de pessoas invadindo o prédio como formigas havia impressionado, agora a imagem era igualmente impactante: um quarteirão inteiro tornara-se uma bola de fogo pontuada de explosões. Uma nuvem negra se elevava no céu como um cogumelo de morte.
- O posto de gasolina... – murmurou Edgar.
Jonas fez que sim:
- Todo aquele combustível espalhado... o calor do sol deve ter feito o resto.
Os zumbis agora saiam do prédio, como uma onda escoando na direção das explosões.
- O barulho está chamando atenção deles.
- Vamos ter que procurar outro caminho para voltar para casa. – decidiu Edgar.

O grupo desceu correndo as escadas, torcendo para que não tivesse sobrado nenhum dos zumbis no prédio. Aparentemente, todos haviam sido atraídos pelo barulho da explosão.
Já no carro, Alan se lembrou do celular:
- Podemos tentar ligar para alguém, descobrir se isso aconteceu em toda a cidade.
Edgar suspirou:
- Boa sorte. Já tentei isso. Tentei também do telefone fixo. Nem a polícia atende.
- Já tentou fazer uma ligação para fora da cidade?
Edgar e Jonas se entreolharam. O homem negro deu um tapa na testa:
- Nem pensamos nisso!
Alan colocou o telefone no viva voz e ligou o número de um amigo que morava em outro estado. Deu sem sinal. Tentou diversas vezes antes de se decidir um número aleatório. Na terceira tentativa, alguém atendeu:
- Alô? Tem alguém aí?
Era uma mulher. Se pudesse, Alan teria dado um salto de alegria.
- Alô. Estamos falando de...
A pessoa do outro lado cortou-o:
- Não posso falar muito alto. Eles são atraídos pelo barulho. E a bateria está acabando. Por favor, preciso de ajuda. Não sei o que fazer. Por favor, chame a polícia...
Depois disso a linha caiu.
- Ah, não! Ah, não! Não! Não! – gritou Alan, tentando desesperadamente ligar novamente, mas o celular nem mesmo dava sinal. 

Foi nesse momento que a mulher apareceu na frente do carro. 

O que foi a guerra russo-finlandesa?

Após a invasão da Polônia, Stalin decidiu reconquistar teritórios perdidos para a Finlândia, alargando as fronteiras de seu império para Oeste. Em 30 de novembro de 1939, 29 divisões russas invadiram o país. Os finlandeses contavam com a linha de defesa Mannerheim, que, embora não fosse tão grande ou dispendiosa quanto a linha Maginot francesa, acabou servindo para parar o avanço russo.
O sétimo e décimo-terceiro exércitos russos tentaram se apoderar do Istmo de Carélia e o décimo quarto exército atacou o porto de Petsamo, no mar Ártico, uma importante área de mineração. O nono exército atacou a região central, mas sofreu uma humilhante derrota, sendo totalmente cercado e aniquilado.
As patrulhas finlandesas equipadas com esquis e chamadas de Bielaia Smert (morte branca – uma referência a seus uniformes brancos) atacavam pelos flancos, vindos da floresta, e provocavam muitas baixas.

No final, a Finlândia foi obrigada a entregar o Istmo de Carélia, a cidade Viborg e uma base militar na penísula de Hanko. Mas o custo foi alto para os russos. De um milhão de soldados, 200 mil morreram na invasão do pequeno país. Essa batalha foi fundamental para os rumos da II Guerra, pois mostrou a Hitler que a URSS não ofereceria resistência a um ataque da poderosa Alemanha. 

terça-feira, abril 04, 2017

Os problemas de Xuxulu


O uivo da górgona - parte 29


29
O barulho lá fora já era como algazarra infernal e indistinguível. Um barulho ensurdecedor de dezenas, centenas de vozes. Então houve mais um estrondo.
- Entraram em outro apartamento. – constatou Jonas.
- Aqui do lado. – completou Alan.
Os próximos seriam eles. Edgar não sabia quanto tempo a barricada aguentaria.
Então começaram a forçar a porta do apartamento. Ela cedeu alguns centímetros e se vergou, como se sofresse sob o peso de dezenas de pessoas. O sofá resmungou contra a lajota barata e arredou um pouco.
(vão entrar! Vão entrar!)
Voltaram a empurrar e o sofá voltou a ranger. Jonas e Alan se aproximaram e o empurraram. Mas até eles sabiam que isso seria inútil. Logo o compensado iria ceder e os zumbis entrariam.
Foi quando aconteceu o estrondo.

Edgar sentiu o apartamento tremer. A princípio achou que fosse um terremoto e imaginou o quanto seria temerário estar dentro de um prédio como aquele durante um tremor de terra.
Mas então ouviu o barulho e percebeu que era outra coisa. Tinha que ser outra coisa. Lá fora, as coisas pareciam ter silenciado, como se o estrondo as tivesse assustado também.
O professor olhou para Jonas e Alan. Seus olhares eram igualmente assustados, como se não compreendessem o que tinha acontecido. Então houve outro estrondo, mais forte que o primeiro.
- Explosões. – concluiu Jonas.
Edgar acenou com a cabeça, em concordância. Explosões. O que estará explodindo? Lá fora, as coisas voltaram a fazer sua algazarra indecifrável, mas agora pareciam estar se distanciando.

- Vamos ver. – disse, levando a menina no colo e indo na direção do quarto. 

Grafipar, a editora que saiu do eixo


No final da década de 1970, Curitiba se tornou a sede da principal editora de quadrinhos nacionais. A produção era tão grande que se formou até mesmo uma vila de quadrinistas. No livro Grafipar, a editora que saiu do eixo, eu conto em detalhes essa história. O livro inclui também algumas HQs publicadas na época e análise das mesmas.
Pedidos: profivancarlo@gmail.com.

Propostas discordantes no jornalismo


Na história do jornalismo percebemos que nem todos leram pela cartilha da objetividade e da pirâmide invertida.

Alguns movimentos e publicações discordavam abertamente do atual modelo de reportagens e apresentavam propostas de mudanças.

Uns se contentaram em mudar a pauta, realizando publicações sobre assuntos pouco enfocados pela imprensa estabelecida. É o caso da imprensa alternativa.

Outros propuseram uma mudança radical até mesmo no jeito de fazer jornalismo. Eu as chamei de "propostas discordantes". Tais propostas colocaram em xeque nossa idéia de imprensa e nos fizeram perguntar o que realmente caracteriza o jornalismo.

New journalism

A proposta de aproximar o jornalismo da literatura não é nova. Muitos escritores transformaram reportagens em obras literárias. Exemplo disso é o livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, um verdadeiro marco tanto da imprensa quanto da literatura brasileira.

Mas o grande mentor dessa relação foi o norte-americano Truman Capote. Ele acreditava que a reportagem poderia ser uma arte tão requintada quanto qualquer outra forma de prosa, tais como o ensaio, o conto e a novela.

Para provar sua tese, ele procurou o tipo mais baixo de matéria jornalística: a entrevista com astros.

Os brasileiros sabem o quanto é descartável esse jornalismo praticado por revistas como Contigo, Caras e Quem.

Capote queria transformar esse tipo de matéria em uma arte autêntica, provando que o jornalismo poderia ser um gênero literário.

Para isso ele procurou o ator Marlon Brando, então no auge da fama. Capote passou uma noite com Brando em um apartamento em Kioto, no Japão, onde o astro estava filmando Sayonara, de Joshua Logan.

Os dois conversaram a noite inteira, sem que Capote gravasse ou fizesse anotações. Ele acreditava que esses recursos criam um clima artificial e destrói a naturalidade por parte do entrevistado.

O resultado foi publicado na revista New Yorker em 1956 com o título de "O Duque em seus domínios".

Estava criado o New Journalism.

O texto mostrava o ator de maneira até então inédita e antecipava até mesmo a gordura de Brando (que chegou a pesar, nos anos seguintes, 120 quilos). O ator admitiu, entre outras coisas, que se sentia ofuscado pelo sucesso: "Um excesso de êxito pode arruinar um homem tão irremediavelmente quanto um excesso de fracasso".

Brando aceitou seu perfil como fidedigno, mas disse que se sentiu traído: "Aquele pequeno canalha passou a metade da noite me contando seus problemas. Achei que o mínimo que poderia fazer era contar-lhe os meus".

Em 1959, ao saber que quatro membros de uma família de fazendeiros haviam sido assassinados brutalmente (eles foram amarrados, amordaçados e receberam tiros na cabeça), Capote rumou para a cidade em que havia acontecido o crime, Garden City, decidido a chegar ao ápice de seu projeto de narrar a realidade como ficção.

Passou cinco anos pesquisando. Entrevistou, perguntou, levantou os menores pormenores do caso, tornou-se amigo dos policiais e até dos criminosos, dois assaltantes de nome Perry Smith e Dick Hickock.

Antes de publicar o relato, ele passou o texto para checadora da revista, Sandy Campbell, que verificou todas as informações. A história foi publicada em capítulos no New Yorker e depois reunida no livro A Sangue Frio, um marco do Novo Jornalismo.

A idéia dessa proposta discordante era dar ao leitor algo mais do que os fatos: a vida subjetiva e emocional dos personagens. Isso fazia com que os autores incluíssem no texto até mesmo o pensamento dos personagens.

Outra técnica do new journalism era a composição: fundir a história de várias pessoas e apresentá-las em uma personagem só, fictício. Além disso, essa corrente defendia o jornalismo investigativo: as histórias deveriam ser exaustivamente pesquisadas e checadas nos mínimos detalhes.

No Brasil o auge do Novo Jornalismo foi a revista Realidade, da editora Abril, que dourou de meados da década de 60 a meados da década 70 e só acabou por causa da censura.

Embora raramente, alguns exemplos dessa proposta discordante pode ser encontra na revista Caros Amigos.

Jornalismo gonzo

O nome mais importante do gonzo jornalismo é o norte-americano Hunter S. Thompson.

Na década de 70 ele foi mandado pela revista Rolling Stone para cobrir uma corrida de motos. Gastou todo o dinheiro que haviam lhe dado com drogas, carros, fez contas em hotéis e saiu sem pagar, arranjou problemas com a polícia e, para piorar, só chegou na corrida de motos quando esta já havia acabado. Ao invés de ser demitido, virou celebridade e acabou criando uma nova forma de fazer jornalismo: o gonzo. O batismo foi feito pelo repórter Bill Cardoso. Ao ver os textos de Hunter, ele comentou: "Não sei o que está fazendo, mas você mudou tudo. Isso está totalmente gonzo".

Hunter continuou produzindo reportagens, sempre sob o lema: "Quando as coisas ficam bizarras, os bizarros viram profissionais".

O gonzo, por suas próprias características, não é uma fórmula que possa ser aplicada a um texto. É muito mais uma atitude diante do mundo e do jornalismo.

É possível, no entanto, perceber algumas características no gonzo jornalismo.

A primeira delas é um ataque radical à teoria da objetividade jornalística.

Para os adeptos do gonzo, o discurso da objetividade quer criar confiança, convencer o leitor de que é isenta, livre de desejos, ideologias, medos e interesses de quem escreve.

Ou seja, a objetividade é um discurso de mascaramento da ideologia que permeia o jornalismo. Não interessa ao gonzo se essa ideologia é neo-liberal ou marxista. O importante é o princípio da objetividade serve para esconder o fato de que nenhuma linguagem é neutra.

O gonzo tira essa máscara e daí surge sua primeira característica formal: os textos são sempre escritos em primeira pessoa. O objetivo não é apenas narrar fatos, mas relatar a experiência de um determinado indivíduo com eles.

O fator de haver um mediador entre a experiência e o leitor é destacada, e não escondida.

O gonzo também quer ir contra a imagem que os jornalistas fazem de si mesmos, de sérios e respeitáveis (exemplo disso é o âncora da Record, Boris Casoy).

Tal imagem contribui para transformar o jornalismo em "discurso autorizado". O jornal é a expressão da verdade, e não de "uma verdade".

Em contraste, os gonzo-jornalistas não pretendem ser nem sérios nem respeitáveis.

A carta de princípios da irmandade Rauol Duke (pseudônimo utilizado por Hunter para evitar problemas com a polícia) nos diz que o repórter "deve se envolver na história e alterar ao máximo os acontecimentos dentro da media do Impossível, de forma a transformá-la não em um mero RELATO do evento, mas sim em uma história ENGRAÇADA e CÁUSTICA".

Entretanto, a ficção pura e simples não serve ao gonzo. Ainda segundo a mesma carta, "o conteúdo dos textos deve ser JORNALÍSTICO, ou seja: um fato precisa estar acontecendo necessariamente".

Para fazer jornalismo gonzo não é necessário procurar fatos bizarros. Aliás, o ideal é abordar fatos normais, banais, sob ponto de vista bizarro e pessoal.

Exemplos de jornalismo gonzo estão se tornando cada vez mais freqüentes na imprensa brasileira. Arthur Veríssimo, da revista Trip, foi o primeiro a celebrizar esse estilo no Brasil. Em uma de suas matérias mais antológicas, ele passou um dia como animador de festas infantis.

A revista Zero, recentemente lançada pelas editora Pool e Lester, também traz características gonzo.

O número de estréia trouxe uma matéria sobre as deusas-vivas do Nepal. O título e subtítulo deixam claro o distanciamento que a procura manter do jornalismo convencional: "É DURO SER DEUSA - No Nepal, o dom divino já nasce com data de expiração. Luiz Cesar Pimentel passou uma tarde na casa de uma ex-deusa viva e mostra a realidade casca-grossa das divindades locais".

O texto é em primeira pessoa e não esconde o ponto de vista do repórter:

Por mais que eu tenha me esforçado no parágrafo anterior para dar a real dimensão da discrepância de uma deusa dormir em um sofá-cama e possuir um vira-lata (que parece uma mistura de poodle com nada) como campainha, a cena para quem passa um período no país não é tão assombroso assim. No Nepal, todas as situações têm uma forte tendência ou a não funcionar ou a funcionar de um jeito totalmente estapafúrdio. E, como você deve imaginar, dá tudo certo no final. Ou quase.

Até mesmo a grande imprensa tem se rendido à bizarrice do jornalismo gonzo, embora de maneira mais comportada.

É na, até pouco tempo sisuda, revista Superinteressante que encontramos um exemplo típico de jornalismo gonzo.

Na matéria "Puro Rock'n'roll", publicada na Superinteressante, número 8, ano 15 de agosto de 2001, o repórter Dagomir Marquezi se disfarçou de saxofonista do grupo Jota Quest e participou de show em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo. Como uma típica matéria gonzo, o jornalista também é personagem e o texto é em primeira pessoa:

Não bastava tocar: um trio de metais que se preze também dança. Lembrava-me dos muitos shows de James Brown que assistira. "Um passo para a direita, junta os pés. Um passo para a esquerda, junta os pés". Eu operava a coreografia e meus colegas de metais não se agüentavam de vontade de rir da minha picaretagem artística. O baixista PJ e o tecladista Márcio Buzelin, entre risadas disfarçadas, também faziam sinais de que estava me saindo bem.

Xuxulu não compartilha seus brinquedos


segunda-feira, abril 03, 2017

O uivo da górgona - parte 28

28
Os outros assomaram à janela.
- Caramba! – gritou Alan. Depois tampou a boca.
- Meu Deus! – murmurou Edgar.
Lá embaixo uma multidão se aproximava. Não era um grupo pequeno, de uma ou duas dezenas de pessoas, como os que haviam visto antes. Eram centenas, talvez milhares de pessoas, o andar arrastado, os braços pendentes. Vinham todas na direção do prédio e iam entrando pela portaria. Lá de cima, era como um formigueiro, uma massa monstruosa e irracional, absolutamente perigosa.
- Vieram atrás de nós. – concluiu Edgar.

- A porta. – alertou Jonas.
De fato, a porta seria um problema. O trinco tinha sido arrombado, provavelmente na confusão da noite anterior. Além disso, o compensado, usado em conjuntos populares, oferecia pouca resistência. Se o grupo de zumbis resolvesse arrombá-la, ela cairia.
- Vamos bloquear. – decidiu Edgar.
Gastaram os minutos seguintes procurando algo que pudesse ser amontoado para bloquear a porta. O sofá foi colocado junto a ela e, sobre ele, tudo mais que encontravam e que podia ser movimentado: o botijão de gás, o fogão, um criado-mudo. Estavam em uma sinuca de bico: Sabiam que quanto mais coisas colocassem ali, mais seguros estavam, mas sabiam que o barulho chamaria a atenção dos zumbis. Assim, quando acharam que já tinham o suficiente, pararam e ficaram lá, na sala, esperando.
O zunir veio se aproximando pelas escadas, como um enxame de abelhas.

Sofia segurou a mão de Edgar e apertou. Ele se abaixou e abraçou-a. A menina enterrou a cabeça em seu peito, como se não quisesse ver o que ia acontecer. Ele a confortou acariciando seus cabelos. Lá fora o som aumentava. Um grupo maior parecia ter subido as escadas, mas alguns haviam escoado pelo andar e, pelo som que faziam, eram muitos. Suas unhas arranhando as paredes misturavam-se aos gemidos irracionais.
Houve um barulho forte, de madeira quebrando.
- Estão arrombando um dos apartamentos. – murmurou Jonas.
Devia ser o apartamento mais próximo da escada, pois as vozes agora se dividiam e uma parte delas parecia abafada. Quando criança, Edgar tivera um pesadelo. Estava em um local escuro, perdido, sozinho, no silêncio da solidão. Então, alguma coisa começou a se arrastar no negrume da noite, algo terrível e nojento, aproximando-se dele. E então, outra coisa e outra e outra, como se o cercassem.

Era aquele mesmo pavor que sentia naquele momento. 

O que foi a revolta do Gueto de Varsóvia?

Em 22 de Julho de 1942 os alemães iniciaram a expulsão em massa dos habitantes do gueto de Varsóvia para os campos de extermínio. Nos 52 dias seguintes (até 21 de Setembro de 1942), cerca de 300.000 pessoas foram levadas para o campo de extermínio de Treblinka ou assassinadas mesmo em Varsóvia.
A situação dos que ficaram melhorou sensivelmente em virtude da maior quantidade de comida e das casas, antes superlotadas, que agora se tornaram vazias, mas os sobreviventes não tinham ilusões sobre seu futuro e decidiram que não tinham nada a perder se resistissem.
Dois grupos puxaram o movimento de revolta contra os alemães. O seu armamento consistia em pistolas, bombas caseiras e coquetéis molotov.
A revolta começou no dia 18 de Janeiro de 1943,  quando os alemães iniciavam a segunda onda de transporte para campos de extermínio. Os revoltosos tomaram conta do gueto, montando postos de combate e operando, inclusive contra os judeus que colaboravam com os nazistas.
Muitos se prepararam para a luta final cavando túneis por baixo das casas, ligados à rede de esgotos e de abastecimento de água e dando acesso a áreas mais seguras de Varsóvia.
O levante teve pouco apoio dos poloneses, mas unidades polacas da Armia Krajowa e GL atacavam de tempos em tempos posições alemãs perto do gueto. Uma unidade polonesa chegou a lutar ao lado dos judeus, dentro do gueto.
A batalha final aconteceu em 19 de abril de 1943. Os judeus se defendiam jogando granada e coquetéis molotov nos alemães, mas estes responderam detonando casa por casa, bloco, e matando todos os judeus que encontravam.
Entretanto, tiroteios podiam ser ouvidos no gueto durante todo o verão de 1943.

Depois da revolta, o gueto se tornou local de execução e, depois, um campo de concentração. 

Artigo analisando obra de Gian Danton e Edgar Franco é publicado em revista acadêmica


Print de tela do título e resumo do artigo.

O artigo de Danielle Barros e Edgar Franco foi publicado no v. 3, n. 1, da revista "De Letra em Letra", do Departamento de Letras da Universidade Federal de São Paulo, na qual foram incluídos os trabalhos apresentados durante a "I Jornada Temática de Histórias em Quadrinhos - Adaptações Literárias, organizada pelo Observatório de Histórias em Quadrinhos da ECA-USP e pelo Grupo de Estudos de Histórias em Quadrinhos da Unifesp. Nosso artigo, intitulado "A Caverna: A Alegoria de Platão em uma Adaptação para os Quadrinhos Poético-Filosóficos" apresenta o processo criativo de uma HQ do gênero poético-filosófico que toma como base o mito da caverna de Platão e foi desenvolvida pelos quadrinhistas Edgar Franco e Gian Danton, ele foi publicado nas páginas 85-96 do periódico acadêmico.

Print de tela de duas páginas internas do artigo.

A HQ "A Caverna" foi recentemente publicada no álbum em quadrinhos "Duetos Essenciais", que inclui 23 parcerias do Ciberpajé Edgar Franco com expoentes da cena alternativa de quadrinhos do Brasil, e um dos destaques é essa parceria com o notório roteirista Gian Danton. O álbum "Duetos Essenciais" pode ser adquirido diretamente no site da Editora Marca de Fantasia.

Capa do álbum em quadrinhos "Duetos Essenciais" que inclui a HQ "A Caverna", de Edgar Franco e Gian Danton. 

No mesmo número da revista "De Letra em Letra"  também foi publicado um outro artigo da IV Sacerdotisa e do Ciberpajé, intitulado "Da Canudos Sertaneja à Canudos Pós-Humana: Os Sertões e BioCyberdrama Saga", ele estabelece relações conceituais e estéticas entre o romance literário "Os Sertões", de Euclides da Cunha, e o álbum de histórias em quadrinhos "BioCyberdrama Saga", de Edgar Franco & Mozart Couto.

Acesse a revista e confira o artigo na íntegra aqui: https://issuu.com/revistadeletraemletra/docs/revistadeletraemletra_vol3_n1_2016

Fragmentado


Segundo o budismo - e boa parte da psicologia contemporânea - não temos uma personalidade única, mas somos a somatória de diversas personas, inclusive aquelas que já fomos (como nossos Eus criança, pré-adolescente etc). 
Fragmentado, o novo filme de M. Night Shyamalan aborda esse aspecto, indo muito além da abordagem do transtorno de múltiplas personalidades. 
Na história, um homem tem 23 personalidades, duas das quais sequestram três garotas. É uma história de suspense, com elas tentando escapar e, ao mesmo tempo, tentando lidar com o fato de que foram capturadas por alguém cuja personalidade se altera.
O filme tem forte influência dos quadrinhos (o sobrenome do homem é Crumb) e é como se víssemos um vilão se formando - não por acaso, o diretor faz uma ponte com outro de seus filmes sobre quadrinhos, Corpo Fechado.
Mas como é comum em Shyamalan, o que era apenas um simples suspense torna-se algo muito mais amplo, desde a discussão sobre as personalidades até a forma como a vida da protagonista influencia na resolução da trama (algo que o diretor já havia feito em outros de seus filmes, em especial Sinais e A visita).
Difícil sair do cinema sem refletir sobre a questão das personalidades e das diversas personas que assumimos .
Contribui em muito para isso a incrível interpretação de James McAvoy, que em questão de segundos muda para outra e outra persona, cada uma delas com sua postura corporal, seus tiques, seu modo de falar. Uma das interpretações mais incríveis que já tive oportunidade de ver nas telas.

domingo, abril 02, 2017

O uivo da górgona - parte 27


27
O cenário era de guerra. A sala se tornara uma miríade de desastre e caos. Havia uma televisão quebrada no centro dela. Era uma TV antiga, de tubo, e seus pedaços haviam se espalhado por toda a extensão do tapete central. Um telefone pendia, inútil, da parede, como uma cobra morta. O sangue no chão se misturava a restos de revistas de fofocas, as fotos de artistas recortadas em mil, o sangue se misturando aos sorrisos. Um elefante de porcelana jazia, destroçado, as patas que sobraram levantadas na direção do teto como numa súplica desastrada. As paredes nuas, com pedaços de reboco faltando, pareciam chorar os quadros caídos. Era praticamente impossível andar por ali sem pisar em algo.
Edgar e Sofia entraram primeiro. Foram andando devagar, na direção que a menina indicava.
Alan se abaixou e pegou algo no chão. Era um porta-retratos e mostrava a menina ao lado de um casal, em uma piscina. O homem e a mulher, muito jovens, sorriam para a câmera, mas a menina parecia triste, talvez porque o vidro se quebrara exatamente sobre seu rosto.

O lugar para onde a menina os levara era o seu próprio quarto. A destruição ali era menor, mas era igualmente assustadora: ursos de pelúcia rasgados, bonecas decapitadas, tinta escolar espalhada pelas paredes, livros infantis rasgados. Na parede o desenho de um palhaço rasgado.
A menina pegou uma mochila rosa, provavelmente a que usava na escola, e começou a enchê-la de roupas. Pegou também um cachorrinho de pelúcia, o único que havia escapado à fúria destruidora. Quando o encontrou, debaixo do guarda roupa, o rosto da menina se iluminou em um sorriso. Ela o agarrou junto ao peito e fechou os olhos por alguns segundos, como se o seu contato macio a fizesse esquecer todo o horror pelo qual passara.
- Vejam, encontrei um celular ainda com carga. – anunciou Alan, entrando no quarto. Podemos...
Mas não terminou. Jonas, que estava junto à janela, fez sinal de silêncio. Ele olhava para baixo, os olhos espantados, a face branca como um fantasma.

- Deus nos ajude! – murmurou. 

O que era o Gueto de Varsóvia?

O Gueto de Varsóvia foi o maior gueto no qual os alemães apinharam judeus após a invasão da Polônia. O local abrigava 380 mil pessoas, a maioria das quais pereceu graças à fome, doenças e deportações para campos de concentração.
A idéia de criar um gueto para aprisionar todos os judeus de Varsóvia e das imediações surgiu logo após a invasão da Polônia, mas discordâncias entre as várias instâncias do poder e os apelos do conselho judaico, que alegavam serem os judeus uma força de trabalho importante atrasaram a decisão.
Mas em 16 de outubro de 1940 o gueto foi finalmente estabelecido. Toda a população judaica das proximidades foi enviada para lá. Ao final, o gueto tinha 30% da população de Varsóvia, mas só ocupava 2,4% do território. Em 16 de novembro foi levantado um muro, isolando completamente o gueto do resto da cidade.
As rações para os judeus eram oficialmente limitadas a 184 calorias por dia. Em termos de comparação, um polonês em média consumia 1.800 calorias e uma alemão 2400 calorias. Especialistas aconselham consumir ao menos 2000 calorias por dia. A comida dos judeus no gueto era dez vezes menor que isso.
Apesar da desnutrição e das dificuldades, os judeus conseguiam manter uma vida social, estabelecendo escolas, orquestras e exposições, já que alguns dos mais importantes artistas intelectuais da Polônia estavam presos ali.
O historiador Emmanuel Ringelblum  fez um notável trabalho de preservação histórica, reunindo 50 mil documentos (ensaios, diários, memórias, jornais ilegais, posteres, bilhetes de teatro) e escondendo-os em três caixas, enterradas no gueto. Duas caixas já foram recuperadas e acredita-se que a terceira esteja embaixo das fundações da embaixa da China em Varsóvia.

Entre as personalidade que estiveram presas no gueto estão Władysław Szpilman cujo livro inspirou o filme O pianista, de Roman Polański, e Marcel Reich-Ranicki, o crítico literário alemão mais famoso da atualidade.  

sábado, abril 01, 2017

Quem foi Arhtur Nevile Chamberlain?

Foi o primeiro-ministro inglês no período da ascensão de Hitler como conquistador. Chamberlain negociou com Hitler uma parte da Tchecoslováquia pensando que com isso conseguiria diminuir a sede exapansionista do líder nazista.
Ele voltou para a Inglaterra com um tratado e foi recebido como um herói. Dizia ter assegurado a paz mundial. Na verdade, era um tolo manipulado por Hitler.
O fuhrer percebeu que os líderes mundiais já estavam intimidados e não mexeriam uma palha para salvar os aliados. Sem usar armas, ele anexou toda Tchecoslováquia. Papel importante nesse processo foi a propaganda de Goebbels, que incentivava o descontentamento entre as minorias tchecas. Isso forçou o governo a conceder autonomia a várias regiões. Finalmente foi a vez da Eslováquia se declarar independente.
Hitler pressionou o governo tcheco a permitir que as províncias da Boêmia e Morávia se tornassem protetorados alemães.

Seis meses depois de assinar um tratado com Chamberlein, declarando que pretendia apenas a região dos Sudetos, Hitler havia riscado completamente a Tchecoslováquia do mapa. 

Chamada de trabalhos para a revsita Imaginário 12


O uivo da górgona - parte 26


26
O carro manobrou para o estacionamento de um conjunto residencial. Pareciam estar entrando em um cenário de guerra. Havia pedaços de móveis, televisões e até um fogão caídos por ali.
- Acho que eles gostam de ver a destruição. – comentou Jonas.
Edgar fez que sim com a cabeça. A menina indicara que o apartamento em que morava ficava no quarto andar. O elevador provavelmente não devia estar funcionando e, mesmo se estivesse, seria arriscado pegá-lo.
Um pensamento atravessou rápido sua mente: e se o prédio ainda estivesse cheio daquelas coisas?
- Sabe, eu não suporto som alto. – disse Alan quando entraram no prédio. Eu moro com mais dois amigos da faculdade e durmo com tampões no ouvido. Também fiz um isolamento acústico improvisado, com caixas de ovos, no meu quarto.
Estavam entrando no prédio. Edgar ia à frente, a garotinha segurando em sua mão. Gostaria de ter algo na outra mão, talvez um porrete, para não se sentir tão desprotegido. Depois dele vinha Jonas e lá atrás o garoto, falando e falando e falando.
- Quando eu acordei de manhã, a casa tinha virado um inferno. Eu pensei: cara, o que esses caras tomaram ontem à noite? Então saí e vi que não tinha ninguém na rua...
- Quieto! – ordenou Jonas, o dedo na boca, em sinal de silêncio.
Era uma situação delicada. Não havia nenhum zumbi na entrada, mas teriam que subir as escadas e poderiam ficar encurralados ali.
- Silêncio agora! – ordenou Jonas. Vamos subir. Ao menor sinal de perigo, voltamos correndo. Vamos torcer para que caso eles apareçam, venham só de cima. Se vierem de cima e de baixo, estaremos em uma armadilha. Tentem não fazer barulho.
Edgar e Alan fizeram que sim com a cabeça. Então começaram a subir. O silêncio era total, quebrado apenas pelos estalar dos passos no piso de concreto. Edgar sentiu que a mão da menina estava molhada de suor. Não era calor. Era medo.
Não havia nada no andar de cima ou no seguinte. Mesmo assim, Edgar estava apreensivo. Finalmente chegaram ao andar certo. A menina indicou com um gesto seu apartamento. Como fizera da outra vez, Edgar aproximou o ouvido da porta, atento. Nada, silêncio total e absoluto. Então, algo o assustou. Olhou para Jonas e este respondeu com um olhar indicativo. Foi quando compreendeu. O barulho vinha de baixo, dos andares inferiores. Um ou mais zumbis estava subindo.
Não havia alternativa. Era arriscado abrir a porta e entrar no apartamento sem terem certeza de que estava tudo livre, mas era a única coisa que podiam fazer no momento.
A porta estava arrombada, o compensado quebrado à altura da fechadura, mas fechada. Bastou um leve toque para que se abrisse.

- Caramba! – exclamou Alan.