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O grupo se aproximava cada vez
mais e agora andava muito, muito mais rápido. Tinham visto suas presas e não
queriam perdê-las.
-
Entre logo! – gritou Jonas.
- Só mais um pouco!
A menina bateu no vidro do carro,
aflita. O rapaz de tênis All Star parecia não se sentir íntimo o bastante para
reclamar, mas o medo era visível em seu rosto.
Então o tempo se alterou, como se
tudo acontecesse em outra dimensão, mais lenta.
Um dos zumbis começou a correr.
Edgar sabia que ele estava correndo, mas o via lentamente, como numa imagem em
câmera lenta. Outros o seguiram. Dentro do carro, os três gritavam, mas Edgar
não conseguia ouvi-los.
A mangueira foi retirada do tanque
e caiu no chão, soltando gasolina em espasmos, como uma cobra em frenesi de
morte.
O professor pegou a tampa sobre o
carro e tentou colocá-la, mas ela não encaixava. Olhou para trás e viu que o
zumbi estava apenas a alguns metros. Lá dentro, os três tentavam avisá-lo.
Quantos segundos? Quantos segundos
até que eles o alcançassem?
A tampa finalmente encaixou, com
um clique. Edgar pegou a chave e abriu a porta. Algo agarrou seu ombro. Dentro
do carro, os gritos de aviso haviam se transformado numa cacofonia
indistinguível. Mesmo com as garras segurando sua pele (dor, muita dor), ele se
abaixou e entrou no carro, ao mesmo tempo em que fechava a porta. O homem que o
segurava urrou, mas continuou apertando.
Edgar soltou a porta e voltou a
puxá-la, agora com mais força. Agora ela encontrou os dedos do zumbi, que se
afastou dali, olhando incrédulo para a própria mão.
- Vai, vai, vai! – gritava Jonas,
ao seu lado.
A chave deslizou em sua mão e
ameaçou cair (tremendo, minha mão está tremendo!), mas ele conseguiu segurá-la
e engatá-la na ignição. O carro ligou com um ronco leve, como um gato que
reclama ao ser acordado.
Nisso, já havia várias pessoas ao
redor do veículo. Algumas esmurravam, outras arranhavam o vidro. Não demoraria
muito para que uma delas desse o golpe certo.
Um passarinho aproximou-se voando
e soltou um longo pio. Apesar de tudo, quando mais tarde lhe perguntaram sobre
o ocorrido, era a única coisa que Edgar conseguiria se lembrar. Os zumbis
estavam lá fora, esmurrando e grasnando seu uivo uníssono de ódio e violência,
mas a sua mente se focara apenas no passarinho, talvez como uma forma de fuga.
De alguma forma, sua mão direita engatou a primeira marcha e o pé fez seu
trabalho. O carro saiu roncando e escabeceando como um touro, atropelando
pessoas em seu caminho, mas o professor não se lembrava de nada disso.
Jonas disse-lhe que a roda
dianteira havia passado por cima de alguém, mas era como dizer para um bêbado o
que ele fizera na noite anterior.
De alguma forma, o carro se livrou
da horda e se afastou.
- Edgar? Edgar?- perguntou Jonas.
O professor pareceu despertar de
um sonho, ou de um pesadelo:
- Sim?
- Como estamos de gasolina?
Edgar olhou o ponteiro. Tinham um
terço de combustível.
- Você deixou a mangueira
derramando. – disse o rapaz lá atrás.
- Quem é esse?
- Meu nome é Alan.
- Você nos colocou em apuros lá
atrás.
- Eu sei. – respondeu o rapaz,
encolhendo-se no banco. Mas eu não queria correr o risco de vocês irem embora.
- Melhor não fazer isso de novo. – avisou
Jonas. Ou da próxima vez você não estará dentro do carro...