Guilhermo del Toro é um cineasta famoso por filmes de fantasia, com uso intensivo de efeitos especiais (a exemplo de Hell Boy). Embora sempre tenha feito um sucesso relativo, em especial entre os fãs do gênero, nunca o vimos arrebatando prêmios, como no caso de A forma da água, sua mais recente película.
Por um lado, o óscar de melhor filme mostra que a academia está mais aberta a esse tipo de obra. Por outro lado, mostra uma evolução do diretor: A forma da água é muito mais que um filme de fantasia com ótimo uso de efeitos especiais. É uma fábula muito bem construída em que diversos elementos – da fotografia à trilha sonora.
Na história acompanhamos a rotina solitária de uma faxineira muda que trabalha em um laboratório do governo. Tudo muda com a chegada de uma criatura capturada no rio Amazonas, um ser meio homem – meio peixe, que era considerado um deus pelos indígenas. Em plena guerra fria, a criatura passa a ser disputada pelos dois lados do conflito – seu pulmão capaz de respirar na água e na superfície pode ser fundamental na corrida espacial. A trama gira em torno da relação da faxineira com a criatura e a inusitada história de amor que surge desse encontro.
A Forma da água é uma história sobre desajustados, seres que vivem à margem da sociedade. A história da criatura incompreendida e da faxineira muda são uma metáfora de outros excluídos (no filme há referências diretas aos negros e gays, ambos vítimas de forte preconceito, em uma época em que uma pessoa podia perder o emprego apenas por descobrirem que ela era homossexual).
Em suma: um filme bonito, sensível (que lembra, por exemplo, Edward Mãos de tesoura), em que tudo se encaixa inclusive nos pequenos detalhes, como na gelatinha verde servida pela esposa ao chefe de segurança.
Pena que uma história tão bem construída tenha uma falha de roteiro tão gritante: a criatura foi capturada no rio Amazonas, portanto em um rio de águas doces, distante centenas de quilômetros do mar – mas na história precisa ficar imerso em água salgada para não morrer.
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